Criador de um mundo fictício, arquiteto de ações, aprisionado nas grades verossímeis paralelas ao real, gerador do fabrico de sonhos e belezas imutáveis e mutantes, acende a chama que, rapidamente, transforma o papel em cinzas.
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Apaguei as luzes. Acendi um cigarro. Entre uma tragada e outra, um gole do vinho barato que havia comprado no mercadinho da esquina. A voz rouca que se ouvia pela casa me deixava extremamente excitada. Sabia que ao ouvi-la cairia no encanto de qualquer um que quisesse meter bem fundo ali na sala mesmo. Mas estava sozinha em casa. 1h43 da manhã. Lá fora, o silencia. Dentro da casa, além da voz rouca que saía das caixas de som, algo pulsante. Uma respiração ofegante. Comecei a me tocar e logo, logo chegaria ao clímax perfeito. O nirvana que fazia me contorcer por inteiro e implorar por um pau entrando até o fundo de todo o meu corpo. Tremia e tremia. Mas estava só.
Anne Gomez
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A sensação era nova. Parecia que não precisava mais dizer que naquele momento eu precisava de algo. Eu não precisava. Eu estava feliz. Eu havia encontrado a felicidade. A minha tão sonhada felicidade. Não era uma sensação diferente da que eu esperava. Não. Era simplesmente o que havia almejado. Eu tinha tudo. Família. Amigos. Companheiros para a vida. Trabalhava com que gostava. Tinha minha casa. Tinha meu lugar no mundo. E tinha um ser que me acompanhava seja onde eu fosse. Desde tomar banho, até ir dormir. Não, eu não deixava de precisar daquele remedinho sublingual que me fazia sentir 0,1% de sensação não natural de bem estar. Mas a sensação geral era diferente. Eu continuava tendo que encarar meu desafios. Meus pesadelos. Minhas dúvidas. Meus medos. Minha falta de coragem em certos momentos. Mas eu sorria fazendo isso. A sensação era nova. Parece que finalmente eu caminhava para frente. Sempre em frente. Com os olhos mirando o futuro. Sem pensar em desistir, como antes insistia em fazer. Eu estava mega cansada. Toda mudança requer energia. Mas era um cansaço que valia a pena sentir. Eu respirava melhor. Profunda e naturalmente. Eu sentia cada célula do meu ser. Eu havia dito: depois da tempestade, o arco íris. Ele chegou. Aqui estou nele. No final, eu achei meu pote de ouro. E eu fiz isso sendo eu mesma. Sendo a Tatiane. E não a Ana. A Ana foi muito e sempre será quem eu sei que vai me ensinar a voar quando necessário. Mas eu sou eu a partir de agora, nesse instante e no futuro que almejo.
TG
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Eu nunca aprendi a dizer abertamente o quanto sou fraca, ou pelo menos o quanto me sinto fraca nesse momento. Sempre tive medo das pessoas acharem que eu sou mais uma vítima. Acontece que através das palavras escritas eu sempre soube me expressar melhor. O médico disse que eu não tenho culpa. Acho que não tenho mesmo. Mesmo assim, de que adianta eu não ter culpa se algo me consome e estou prestes a sucumbir? É que... bem, é difícil explicar, mas entendam: eu estou sem forças para viver. Ora quero viver, ora quero apenas desistir de tudo. Ser o lençol que forra minha cama e ficar sendo ele pro resto dos meus dias. Acham que sempre quis isso? Não, não quis. Vez ou outra vinha esse pensamento na minha cabeça, mas eu tratava de ser útil e tentar fazer a vida da forma que as pessoas sempre esperavam de mim. Até queria agora que isso acontecesse, mas não tenho conseguido. Eu não me formei, não sou a melhor filha pra minha mãe, não sou a melhor amiga pros meus amigos, sou uma trabalhadora mediana que tenta fazer as coisas, mas acaba fazendo tudo errado. Ainda não entendo porque eles não desistem de mim. Porque, pelo que me parece, eu já desisti faz tempo. Eu abri aquele poço que deixei fechado durante muito tempo. Tirei aquela tampa, e mergulhei pra dentro dele. Eu estou caindo. E dessa vez quem poderá me estender a mão e me puxar? Se eu não consigo nem falar pra eles que eu estou chegando ao fundo desse poço sem fim. A qualquer momento eu não vou aguentar. Por ora, não passa pela minha cabeça acabar com tudo, nem pedir a quem quer que esteja observando toda a minha dor, suplicar e orar para que isso acabe. Mas eu vivo com pensamentos insanos. Eu desgosto tanto de mim que não sei até quando vou suportar não cometer algo que, pelas inúmeras tentativas que não sucederam da melhor forma, eu já sei fazer. Eu não estou aguentando mais. É triste você não querer ser você, não se amar, não querer mais nada. Eu finjo sorrir porque sei que eles querem isso. Eu finjo prestar atenção, mas só faço o que estou acostumada a fazer, qualquer coisa fora do meu comum, é difícil concretizar. Tenho me dedicado bastante a falar, usar todos os músculos para que não fique atrofiada, mas eu detesto falar. Detesto ter que ter o contato com as pessoas. Queria ficar como o lençol mesmo, calado, jogado, sendo usado vez ou outra. Eu sou a pior pessoa que poderiam ter em suas vidas. Às vezes, tenho medo que percebam isso, mas às vezes quero que percebam. Assim não estaria na vida de ninguém. Eu desisti de mim. Como eu sei? Eu não vejo mais o brilho nos meus olhos. Eu gostava dos meus olhos. Sempre gostei. Não tem mais nada lá. Se fosse para tentar explicar o que sinto, seria mais ou menos assim: eu tento andar, tento abrir os olhos, tento fazer a mente funcionar, mas uma força (digamos força por falta de palavra que explique isso melhor) me tira toda a energia de que preciso para fazer essas coisas. A minha primeira batalha, todos os dias, há mais de cinco meses, é levantar da cama. Existem dias que são piores e dias que são mais fáceis. Mas a batalha é contínua. Meu cérebro ordena que meu corpo se levante e, em meio a lágrimas, ele reluta. Eu fico nessa durante muito tempo. Mas, se quer saber, tenho levantado todos os dias. Todos os dias eu venço essa batalha. Então, meu cérebro insiste em funcionar. Mas o mundo lá fora não ajuda. Porque todo o barulho das pessoas falando, os carros passando, as crianças rindo ou chorando, o ventilador na cozinha da agência, o filtro de água, o próprio ar-condicionado da sala onde fico, tudo isso não deixa mais meu cérebro continuar a me falar o que preciso fazer para vencer a batalha no resto do dia. Tenho perdido inúmeras delas. Eu não suporto mais a dor de perder. Perder pra mim mesma. Eu sinto que uma faca está sendo enfiada aos poucos no meu peito. Reparei que estou andando devagar. Esperando que algo acontecesse. Eu quero que algo aconteça. Seja bom ou ruim, que aconteça. Eu não quero mais viver assim. Não acho certo comigo porque eu tentei muito a vida toda ser uma boa pessoa e agora tudo está desmoronando. Eu me olhei no espelho ontem e não vi vida. Sabe aquelas pessoas que conseguem ver a aura dos outros? Bem, eu nunca havia visto, mas eu vi algo ruim ali na pessoa refletida. Olhos sem vida, pele amarela, eu não consegui sorrir. Antes, todas as vezes que eu me via no espelho, eu sorria pra mim. Era um exercício que criei para que eu mesma me desse um sorriso de: “está tudo bem”. Não teve sorriso. Não tem tido. Não sei como sair dessa. Não sei como irei ser eu, ou talvez eu sempre tenha sido assim, mas eu não quero. Eu odeio a mim por ser assim ou estar assim. Eu só estou bem cansada. Tão cansada que não sei mais como prosseguir.
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-Ana, como você está? - ele perguntou num tom mais sério. Eu ri. -Eu estou ótima! Ele continuava me fitando. Virei meu rosto para a mesa seguinte, que também estava vazia. -O fim é intragável. Sabe? Términos dão enjoo, dor no estômago, crises de choro, saudades em todas as suas formas de mal estar. -Bem, no seu caso, o Lucas te dava enjoo e dor no estômago sem precisarem terminar. Eu gargalhei. Isso era bem verdade. Nossa situação chegou ao limite e quando pensava muito tempo no fundo do poço que chegamos eu ficava enjoada. -Eram os remédios que o Marcelo me obrigou a tomar – brinquei. - Ok, você está certo. Eu o amei. E o amor dá enjoo. O amor é tão enjoativo que nos deixa nauseados – fiz uma careta. - Eu cheguei a conclusão de que amar as pessoas não é essa coisa legal que todo mundo pensa. Sabe? Envolve preocupação com o outro, raiva, saudade, tédio, sono depois do sexo, choro, fome e uma vontade enorme de possuir o que não se pode possuir – eu listava com os dedos das mãos. - Por isso, eu desisti de ter um bicho de estimação. Eu parei pra pensar nisso ontem em casa. E lembrei o quanto não estou preparada para amar. -Nenhum de nós está. Acredite.
Não se apaixone!
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Precisamos falar sobre isso!
Eu gostaria de falar de um tema que anda recorrente em minha vida. Depressão. A gente engole seco quando fala isso, não é? Chega sente que não tem saliva depois de falar isso, seja em voz alta ou em pensamento. Fica um tipo de gosto amargo na boca. Algo que faz seu estômago embrulhar um pouco. Mas depois passa. Porque nós precisamos falar sobre isso. Eu preciso porque falando começo a tentar me entender. E se tem uma coisa que me aterroriza na depressão é não conseguir entender o que realmente acontece. Se irei chegar a uma conclusão ou não, pouco importa. Porque, enquanto fico na minha sem tentar nada, a amargura da boca se espalha por todo o corpo.
Passei anos tentando esconder do mundo – e de mim – o quanto minha fragilidade psicoemocional (isso existe?) me tornava uma pessoa menor, menor do que eu realmente sou. Tenho menos do que 1,60m, mas minha pequenez se faz a partir dessa incrível inabilidade de parar de sofrer por algo que nem sei de onde vem ou o que é de verdade.
A primeira vez que sentei para conversar com um médico sobre isso – 10 anos depois de sentir todo meu fracasso/sofrimento humano, minha inutilidade no mundo, meu ódio de mim, minha frustração de não fazer nada, minha falta de amor próprio, minha recorrente falta de amor aos outros, minha falta de habilidade para viver sem achar que a cada movimento respiratório eu estava fazendo errado, tudo misturado e mil outras coisas mais – eu não fazia a menor noção de que estava a ponto de me perder pelo mundo. E estava. A gente conhece as coisas, sabe que está mal, que está fazendo mal aos outros, sabe que a tristeza existe, mas não sabe que isso pode mudar. Eu nunca acreditei que poderia mudar isso em mim. Acostumei a ser assim, embora soubesse que não era desse jeito antes (antes de quê? Não faço a menor ideia).
Aos 15 anos, comecei a ver a vida através de um filtro. Eu expliquei a ele que tudo era cinza. E ainda o é. Alguns dias são mais cinzas do que outros. E acho que para muita gente. Mas eu passei a descolorir todos os outros dias que ainda conseguiam ter a cor real da vida, o sol batendo na pele e transformando tudo em luz. Tem dias que a gente olha para uma coisa boa, e quer sorrir, mas nós mesmos não deixamos. Porque pensamos que devemos ser tristes, devemos ser castigados pelo mundo por não sermos bons, não merecermos nada. Virei a cara para outro lado para não ver felicidade. Endureci. Com outros e comigo.
Teve dias que eu só queria ser o lençol da cama. Não ser um nada realmente. E teve dias que eu queria morrer. E tentei. Mas não queria realmente. Mas pedi. Implorei a qualquer ser espiritual que pudesse me ouvir. Todas as noites. Um ano de súplicas. Dormia chorando e implorando para que no dia seguinte eu não existisse. Depois tentei não existir fazendo aquilo de novo. Passei a me machucar fisicamente. Cortava, arranhava, xingava no espelho. Dormia com uma faca escondida no lençol que me cobria. Quem sabe o dia que teria coragem de sangrar até morrer. 10 anos disso. Ia e vinha. Ora bem, ora mal. Mas sempre cinza. Até que, indo para o trabalho, eu passei a querer ser assaltada e ser assassinada, querer sofrer um acidente e não resistir aos ferimentos. Eu não merecia essa vida. Nunca mereci. Eu dizia “aconteça o que tiver que acontecer”. Mas nunca aconteceu.
Eu conversava com a psicóloga umas semanas atrás. Eu contei o quanto eu sempre me agredi psicologicamente, desde meus 6-7 anos, reafirmando para mim o quanto eu era uma pessoa má. Isso dá uns mais de 20 anos de automutilação. Aí, há dez anos, meu avô tocou meus seios durante 1h54min do filme americano “Três reis�� (nunca mais voltei a assistir), me beijou de língua e eu não reagi. Acontece que eu era adulta. Virgem ainda, mas adulta. E por que eu não fiz nada? Eu não entendi ainda isso. Eu realmente sou uma pessoa confusa e terrível. Se alguém fizesse algo assim com qualquer outra pessoa eu voava em cima e dava uns bons tapas e gritava ao mundo o quanto a pessoa era doente, mas eu não fiz nada. Dias depois, ele me chamou para um motel e disse que como meu avô tinha o direito de me ensinar coisas. Eu fiz pior: “Não quero falar sobre isso”, apenas disse. E me calei. Por mais alguns meses. E, se minha irmã mais velha não tivesse sentado minha mãe para falar de algo que aconteceu com ela, talvez tivesse guardado aquilo para mim até hoje. Por quê? Porque eu gosto de me fazer sofrer. Eu não mereço nada além de sofrer.
Mas, aí, depois de alguns anos sentindo isso, comecei a querer que isso acabe. Acho que por isso espero que alguma coisa aconteça, boa ou ruim – algo bem relativo na vida de cada um que for ler esse relato. Ora, morrer seria bom/ruim, nesse caso. Mas eu procurei o médico. Ele me passou para a terapia e um medicamente, que parei de tomar. E digo para a psicóloga que estou tomando. E se alguém me perguntar, talvez diga que estou tomando também. Tem uma coisa de mim: eu preciso mentir. Eu sempre minto. Sabe quando perguntam se a gente está bem? A gente vai logo para a resposta “tô bem, sim. E você?”. Então, eu minto todas as vezes. Posso contar nos dedos de uma mão quando fui sincera e disse: “eu não estou bem”. Eu me arrumo para ir à terapia. E reafirmo da hora que chego a hora que saio que “ESTOU BEM” com o sorriso estampado no rosto. Eu quero ficar bem, mas é que eu quero desistir de tentar. Eu queria uma solução e parece que eu não consigo solucionar.
Então, vamos falar sobre depressão. Você sabia que eu tenho 25 anos, estudo jornalismo, já trabalho na área há três anos, quase me casei, tenho 3 irmãs, meus pais separados (e isso é bom!), tenho um sobrinho lindo que eu tenho muito orgulho de cada coisa dele, tenho amigos maravilhosos que nunca me abandonaram (mesmo eu sendo taciturna, sendo egoísta, sendo triste ou feliz), amo meu trabalho, amo escrever, amo ler, amo escutar música, amo séries, amo a Netflix, eu amo fazer sexo, amo comer bacon, amo torta de morango (com uma bola de sorvete), amo barras de chocolate, amo café, sei sorrir encantadoramente, sei ser chata encantadoramente (2)? E sabia que eu tenho depressão? Que tenho pensamentos suicidas pelo menos duas vezes ao dia (quando pego ônibus indo e voltando do trabalho), tenho ódio de mim, raiva dos outros, tenho tendência a autodestruição e automutilação (física e psicológica)? Que tenho dias bons também, como hoje que fui trabalhar em pleno sábado e me senti muito bem, olhei a praia de manhã e estava tudo lindo e colorido? “Uma coisa de cada vez”, minha irmã disse meses atrás. Comece fazendo uma coisa no seu dia: levantar da cama. No dia seguinte levante da cama e coma. No outro, levante da cama, coma, escove os dentes. Depois, levante da cama, coma, escove os dentes, tome banho. E siga colocando uma coisa de cada vez na sua lista. A primeira coisa que faço todos os dias é: “Ei, Tatiane, você não é o lençol. Você precisa levantar. Você precisa”. E sigo sorrindo para mim mesma a cada vez que me olho no espelho, como se dissesse: “Você vai ficar bem”. Alguns dias, eu minto. Mas isso me faz permanecer por aqui.
Depressão. A gente engole seco quando fala isso, não é? Chega sente que não tem saliva depois de falar isso, seja em voz alta ou em pensamento. Fica um tipo de gosto amargo na boca. Algo que faz seu estômago embrulhar um pouco. Mas depois passa. Porque nós precisamos falar sobre isso.
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De todas as pessoas no mundo, eu tinha que me envolver com a mais complicada, chata, egoísta, complexa, o senhor da razão, o cara mais molenga do universo. Eu, paciente em saber minha posição, e mesmo assim totalmente entregue à algo que não vale absolutamente nem faz o menor sentido. Existia, ele disse uma vez, a porta de uma escada. Eu continuo na metáfora adicionando a porra de algo que foi construído. Um absurdo dos grandes! Construir algo com alguém tão detestável não faz, realmente, o menor sentido. Mas eu segui ali, meio que aos trancos e solavancos. E ele confortavelmente indo no seu berço de ouro, sendo carregado por mais e braços tão cansados de carregar algo sozinha. Sozinha. A sensação de estar só parece ruim, mas no fundo ainda era melhor do que isso, nisso, neste lugar que empacamos. Uma linha tênue separava a realidade de uma ficçãozinha qualquer hollywoodiana. Eu gosto mais de filmes europeus. Suecos, franceses, britânicos, alemães, nada americano além daquele humor besteirol. Os dramas europeus pareciam mais cheios de trama. Pareciam mais com aquilo que esperava da minha vida. Mas cá estou eu numa trama à la Hollywood. E, sim, de todas as pessoas do mundo, eu tinha que me envolver com a mais complicada.
Tatiane Gomes, a idiota sensível
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Meu caro amigo
Apesar de tudo, permaneci aqui. Apesar das incertezas – ou quase certezas – de que nada seria como eu planejava – desejava – permanece aqui. Apesar de saber – mesmo com aquele pontinha de 0,0000001% de positividade a qual me agarrava – que tudo iria ser assim como está agora, eu permaneci. Não sei ao certo o motivo que me deixou permanecer por tanto tempo por aqui. Mas estive. Estou. Estarei. Quem sabe? Nem eu posso sequer pensar. Aliás, ando não pensando em nada. Ando confusa. Ando apenas caminhando como se fosse a algum lugar, mas não saindo do canto. Estou aqui observando o mundo dar a volta nele mesmo e dar a volta ao redor do sol. Eu não sei de absolutamente nada. Apenas essa dor (?), melhor aflição, que me persegue vez ou outra em busca de respostas a perguntas que nunca fiz, nem farei. Eu gostaria que tudo fosse algo completamente diferente. Mas não é. Tudo é como está sendo. Seja lá o que for isso. Mas eu juro que faria qualquer coisa – qualquer coisa mesmo – para que fosse diferente. Eu queria que fosse diferente. "Nós temos nós / Duros como dominós / Ninguém entende os nós de nós" Queria entender mais, queria saber explicar, queria saber colocar em palavras ditas ou escritas. E, principalmente, gostaria de tê-lo ao meu lado. Não para sempre. Não por anos a fio. Mas por hora. E ir deixando de gostar aos pouquinhos. E ir falando de vez em quando o quanto você é chato. E o quanto eu sou chata. E o quanto somos uma chatice só. Mas aos poucos. Já dizia o poeta "esquece-me bem devagarinho". "Não me dê nada além / Desses braços que são / O melhor lugar do mundo". De uma amiga que apenas hoje está conseguindo realmente ser uma pessoa completamente sincera com você. Espero que esteja bem – apesar de saber que você sempre fica bem. Um abraço apertado. Estou com saudades. TG.
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Tinha um mundo pela frente e não sabia como prosseguir. Enquanto todos iam com os olhos bem abertos, desbravava, decidira, com uma venda nos olhos. Preferiu dar espaço para sentir o que o mundo tinha a oferecer. Sentia através do toque, da fragrância que a brisa leve trazia, da música que escutava bem ao pé do seu ouvido, do sabor, ora doce ora amargo, da vida.
Anne Gomez
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Sou puta, sim. E daí?
Levantei da cama só de calcinha e caminhei pela casa. Cheguei na varanda e acendi um cigarro. O dia acabava de começar. A brisa leve da manhã fazia meu corpo todo se arrepiar. Entre um trago e outro, lembrava de todas as coisas que havia feito na noite passada. No corpo, algumas marcas ainda roxas. Sorri ao lembrar da sensação gostosa de ser chupada, dos pés a cabeça. Não deixei ninguém ficar a noite toda. Depois da festa, fizemos sexo loucamente e, tão logo me saciei, mandei pular fora. Aquela não era a primeira vez que fazia isso. Uma pessoa por noite, duas por dia, muitas na semana. Homem. Mulher. A ideia era fazer a minha vontade, na hora que eu quisesse. Sem me preocupar com qualquer pensamento retrógrado, daqueles que acham que o corpo tem que ser fechado, coberto, sem nenhuma marca da vida. Decidi que enquanto vivesse seria do meu jeito. Puta? Santa? Puritana? Vagabunda? Piranha? Gostosa? Mulher! O mundo não poderia me impedir de ter vontade de trepar, de comer e ser comida, de levantar minha voz na hora que o gozo chega. Isso não me deixava burra, não diminuía minha inteligência, nem mesmo minha feminilidade. Sabia que meu grito de independência ainda era visto como algo errado, mas, mesmo que todos me olhassem torto, e daí? O prazer não ia escorrer entre meus dedos. Queria que escorregar entre minhas pernas. Queria que ele me arrepiasse todos os pelos do corpo, como aquela brisa leve da manhã. O cigarro acabou. O vizinho do prédio em frente também estava na varanda. Olhava meu corpo exposto aos primeiros raios de sol do dia. Gritava “safada!”. Eu sorri, ergui minha mão, abaixei quatro dedos e mandei ele se fuder sem dizer uma só palavra. E que ele se foda mesmo. E que possa foder alguém. E que possa gozar. E que seja gostoso pra ele. Voltei pra cama. Macia. Gostosa. E ali ficaria o resto do dia, me preparando para mais uma noite.
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Depois de um banho relaxante, Ana pegou a revista e sentou na poltrona com uma xícara de cappuccino de chocolate nas mãos. Estava com a calça do pijama e uma blusa de alça que deixava as tatuagens livres para sentirem a brisa leve e fresca da noite daquela sexta-feira. Lembrava das metáforas de cada desenho sobre a pele. A cada nova marca um significado especial da sua história. Como as asas no ombro esquerdo, da vez em que lançou-se da ponta de um precipício e aprendeu a voar. Desde então, tem alçado voos longos e procurado onde e como pousar. Sua vida estava confusa. A conversa com Alê não havia mudado muita coisa. As dúvidas com relação ao que tinham continuava. Ela sabia que mesmo ele tendo ido embora, como ela pediu, aquilo não era um fim. E nem podia ser. Ele sempre estivera ali por perto. Nas noites frias e nas noites quentes. Mas em nenhum momento falavam abertamente do seu relacionamento. O que tinham, Alê deixava claro, era uma amizade longa e diferente. Para Ana, a amizade já havia se transformado há muito. Aliás, desde que começaram a transar. Se perguntassem a ela se doía fazer aquilo, ela diria que sim. Tomar aquela decisão era o mesmo que arrancar dela a força de seguir em frente. Ana e Alê haviam se cercado tanto um do outro que só podiam seguir juntos. Tentar dar um tempo na relação já não adiantava mais, nem podiam. Estavam emocionalmente ligados e fisicamente atraídos, num redemoinho de emoções e razão. Ele dava força a ela e vice-versa. Sabiam tudo um do outro. Só não sabiam como prosseguir. Poucas pessoas ao redor deles sabiam que aquilo que tinham existia. Por um tempo, ela pensava, ficariam em silêncio. A vida ansiava em continuar. Ana havia passado várias vezes por aquilo. Bem mais do que poderia suportar. No peito, um coração fraco, mas sabia que teria que ter coragem para dizer "Não" nas horas certas. "Não", ela disse, "existe mais do que essas migalhas as quais já estou acostumada. E sei que você não será capaz de me fazer melhor do que faz a qualquer outra". Alê era complicado. Desde sempre, aliás. Sempre tentava não magoá-la, mas às vezes era impossível. O tanto que ele era complicado, Ana também o era. Transbordavam sentimentos. "Com outros é mais fácil de lidar", ele pensava. "Não há como mudar o que temos. Nem sei o que temos, nem sei como começou. Não sei nem o que sinto". - Existíamos desde que começamos a existir, meu caro amigo – ela havia dito uma vez. E então perceberam que nunca haviam existido. O mundo não os aceitava nem podia saber que eles existiam. Foi aí que deixaram de ser o que pensavam que eram.
Ana e Alê - Tatiane Gomes
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Alê não fumava, mas sabia que aquele momento seria perfeito para um trago. Sua intenção não era machucar Ana, mas sabia que fazia aquilo com perfeição a cada novo desentendimento. Decidiu ir para casa naquela noite. E, quem sabe quando, desculpar-se outra hora. De religião a sabor do sorvete, eles discutiam. Mas o tema da noite era o preferido dela. Não tinham um relacionamento declarado o que dificultava ter aquele tipo de conversa. Ela chegava aos seus 28 anos, ele aos 30. Ana queria planejar uma vida. - Não é assim, Ana. Não podemos complicar as coisas – ele argumentava. - Complicar? Isso – ela gesticulava com as mãos, mas tentava dar um tom de firmeza sem alterar a voz – já é complicado há anos! Estou tentando conceituar, denominar, tornar palpável para então saber como descomplicar. Apenas isso! - Não vamos namorar, Ana. Nós nem podemos cogitar isso – ele era seco. Ela estava de costas para ele. Fechou os olhos e respirou fundo. Sentia todo aroma de frutas silvestres vindo do banheiro do quarto. - Alexandre, o que nós temos? - Mas que pergunta capciosa... - Não, não responda – ela o interrompeu e o encarou. – Você vem todo o dia para minha casa. Tem roupas no armário. Dorme aqui. Come aqui. Assiste filme e joga games comigo aqui – começava a tirar os sapatos de salto alto e o blazer bege que escolheu para uma reunião importante no trabalho. – Fazemos compras juntos. Escolhemos móveis para a minha biblioteca juntos. O que nós temos, Alexandre? O que você quer? – sua voz começou a falhar. Ela parecia cansada. Ela sabia que se aquilo fosse uma disputa, acabava de vencer a competição. - Eu não vou responder. Não dá para tentar imaginar o que você quer ou o que você espera que eu responda... - A verdade, Alexandre – e aquele foi o ultimato. - Não vamos namorar, Ana. Eu já disse que nós nem podemos – ele tentava articular alguma explicação. - Por favor, sai da minha casa. - Como é que é? – ele se enfureceu. – Mas que porra é essa? Então você só me quer aqui se eu disser que vamos, sim, namorar, casar e ter filhos? - Da mesma forma que você só está aqui para me comer pela noite e pela manhã – ela foi seca. - E bem que você gosta. - Gosto. - E porque diabos você quer mudar isso? - Não quero mudar. Preciso entender. Preciso saber o que somos... - Somos amigos, porra! – e então ele gritou. - Eu já pedi para que fosse embora. Saia – ele não se moveu. – SAIA! Ele pegou a jaqueta, saiu do quarto e correu para fora batendo a porta.
Ana e Ale - Tatiane Gomes
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Não era a primeira vez que tinham aquela discussão. Nem seria a última. Há mais de dez anos eles compartilhavam incertezas e decepções. Eram amigos apesar de tudo. Estavam sempre rindo das perdas e, principalmente, dos ganhos um do outro. Mas a vida acabou os entrelaçando de tal forma que não sabiam dar explicações. Na verdade, para quem conhecia a verdadeira afinidade entre os dois, eles eram o que eram e nada mais do que o esperado. Talvez fossem os únicos que não admitiam que sempre tiveram a pretensão de estar ali, juntos. O barulho da porta de entrada do apartamento fez com que ela se irritasse ainda mais. Pegou o porta retrato, com a foto do seu sobrinho, e jogou no chão com raiva. Na sua mente, relembrava cada palavra dita para ter a certeza de que daquela vez tinha dito tudo o que queria. Uma lágrima despontou do seu olho direito. Rolou lentamente por sua face até chegar no declive que separa o rosto do pescoço. Fechou as mãos com tanta força que suas unhas cortaram sua pele. Aquele era o momento em que corria para o armário do banheiro e procurava o remédio, mas decidiu encarar o momento de angústia e de certa impotência. Ela se olhava no espelho e podia ver mais lágrimas surgindo. Não conseguia controlar os soluços que traziam uma dor antiga, que vivia escondida em algum baú da memória. - Ana, o que você está fazendo? – perguntava ao reflexo.
Ana e Alê - Tatiane Gomes
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Me embriaguei morrendo vinte e nove vezes. Estou aprendendo a viver sem você.
Legião Urbana (via thiaramacedo)
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Assim que subi as escadas, deitei na cama e comecei a chorar. Lá fora, do outro lado da janela, o barulho dos carros passando e, a cada novo soluço, pingos de chuva molhavam o chão. É preciso saber encerrar ciclos, pensava. Mas como aquilo machucava. Doía como bater o dedinho na quina da cama, ou mais que isso. Ninguém explica a você como ser adulto. Como a vida é difícil nessa determinado ponto. Você vai errando a aprendendo a lidar, apenas. Se tomar decisões o torna apto para ter um ano a mais do que sua idade aparenta, então cá estou eu com mais de 200 anos. Mais um ciclo finalizado. Mais uma sensação de que aquilo vai machucar tanto que em determinado momento irei pensar "que mancada!" e meter o dedinho na quina da cama de novo. Mas, pelos anos adquiridos com a experiência de tomar decisões, sei que isso passa. E passará. A chuva agora atormenta com seu barulho e parece que vai durar bastante, mas se tem uma coisa da qual eu sei é que depois da tempestade vem sempre o arco-íris.
Tatiane Gomes.
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Eu me despi pra vc. Tirei toda minha roupa. Tirei os brincos, as pulseiras, o anel da mão direita. Tirei minha vergonha de ser magra (deixei as costelas à mostra). Tirei o batom vermelho sangue dos lábios. Tirei toda minha vontade de querer a qualquer outro. Estava completamente nua. Ali. Na sua frente. O objetivo era fazer com que me enxergasse na imensidão que sou. Despi minha alma para você. E aguardava você fazer o mesmo. Foram dias, semanas, meses, anos. Aos poucos, você ia retirando peça por peça. Mostrando cada vez mais quem é, quem poderia ser. Acontece que seu tempo não passa da mesma forma que o meu. Ele corre devagar. Enquanto que, pra mim, ele é rápido, um raio e... e passou. É. Passou. O tanto que esperei você se despir foi o tempo que também tive para refletir. Ao invés das roupas que outrora vestia, agora uso uma armadura, algo que me fortaleça e que me dê coragem de lutar por mim.
Anne Gomez.
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