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6 - um sonho recorrente
Não sou o tipo de pessoa que tem sempre o mesmo sonho. Na verdade, é exatamente por isso que eu gosto de sonhar: minha mente sempre cria coisas novas e maravilhosas. Mas, a partir dos meus 17 anos, alguns tormentos têm voltado à minha cabeça, e é durante o sono que eles se manifestam.
Durante a minha infância, o marido da minha avó me molestava. Cresci com ele passando a mão em mim e, já como eu não sabia que aquilo era errado e ao mesmo tempo ele dizia que se eu contasse para a minha mãe qualquer coisa ele iria tirar fotos minhas e mostrar para todo mundo, eu não contava nada para ninguém. Era horrível e conforme os anos iam passando, as coisas ficavam cada vez piores.
Eu ganhei corpo muito rápido e, devido a isso, ele dizia que eu já era uma mulher aos oito anos. Eu não quero me prolongar, escrever sobre isso é bem difícil, mas foi com essa idade que ele me estuprou. Pela primeira vez.
Aos 13 anos eu parei de frequentar a casa da minha avó porque eu já não conseguia mais ficar perto daquele homem. Com o passar dos anos, eu não pensava nada sobre isso, minha mente tinha desenvolvido uma espécie de bloqueio. Essa questão simplesmente não vinha à tona. Foi quando eu comecei a sair e a namorar que essas coisas voltaram e, desde então, têm sido um tormento.
Eu contei para o primeiro menino com quem eu tive algo sério o que aconteceu comigo. Quando ele me deu um pé na bunda, ele disse que eu tinha mentido porque, quando eu contei, eu não chorei e, supostamente, “você deveria chorar ao contar uma coisa dessas”.
O segundo garoto para o qual eu contei essa situação fazia piada com a história. Quando minha avó ficou doente, ela e esse homem passaram um tempo aqui em casa. Eu mal conseguia sair do meu quarto. No momento eu conversava com esse garoto sobre isso e disse que paralelo à essa história toda eu estava feliz porque tinha começado a tomar anticoncepcional. Ele disse: “vai precisar, assim seu avô não engravida você”.
O terceiro rapaz para o qual eu contei essa história foi o meu atual namorado e, por mais que ele não tenha sido tão escroto quanto os anteriormente citados, ele deu os seus foras. Um dia a gente estava conversando e eu disse alguma coisa sobre ter perdido a minha virgindade com quinze anos. Ele me solta a seguinte frase: “mas não aconteceu aquilo com o seu avô?”. Eu fiquei um pouco abismada. Quero deixar claro aqui que eu fui molestada e estuprada. Gosto de pensar que eu realmente perdi a minha virgindade quando eu consenti com o ato sexual que a tirou. Aquilo que o marido da minha avó fez comigo se chama violência.
Enfim.
Aos 17 anos, comecei a namorar. Sexo (consentido) tornou-se algo recorrente como nunca antes tinha sido. Foi a partir daí que os sonhos começaram. São sempre eu tentando escapar dele e não conseguindo, ou tentando contar para os meus pais o que aconteceu e eles não acreditando em mim. Esses são os piores, porque são sempre muito realistas. É comum que eu acorde de um desses gritando, chorando e suando frio. Sempre tento não dormir de novo.
Hoje em dia esse homem tem Alzheimer. Ninguém fala abertamente sobre isso, mas ele tem. Eu meio que sempre soube que ele teria essa doença - ele era uma pessoa que vivia muito no passado. Creio que eu também terei, caso eu alcance uma idade avançada o suficiente para que aconteça. Só espero não ter que lidar com essas lembranças. Quero morrer em paz.
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5 - um objeto cotidiano
Digamos que essa questão está presente na minha vida desde muito cedo, tanto que eu nem me lembro exatamente qual foi a primeira neura. Sei lá como eu faço para simplesmente deixar de ser doidona, mas… Não sei se tem um mas.
A primeira vez que eu fiz dieta foi com oito anos. Passei a colocar bem pouca comida no prato - meus pais até estranharam -, tudo isso porque eu percebi que minha barriga estava crescendo demais. Eu olhava para o espelho de frente, depois virava de lado e procurava todos os defeitos possíveis em mim. Barriguinha proeminente sempre foi uma coisa, por mais que minha barriga fosse completamente normal para uma criança dessa idade.
Creio que eu ficava com essas paranoias já tão cedo por causa da televisão - que era e ainda é repleta de mulheres lindíssimas com zero barriga e muita bunda -, e também por causa da minha mãe, que estava (e ainda está) sempre depreciando o próprio corpo, recorrendo a dietas e métodos duvidosos para emagrecer.
Eu pensava que conforme eu crescesse eu começaria a me sentir mais confortável comigo mesma, com a minha própria imagem, mas, na verdade, as coisas só pioraram. Uma adolescência com o combo cabelo cacheado+espinhas me fizeram perceber que eu ainda teria que traçar um caminho muito longo para alcançar a autoaceitação.
Na verdade, tudo o que eu sempre quis mais que tudo nessa vida é estar bem com o meu rosto e o meu corpo. Cansa demais olhar para o espelho todos os dias e só sair da frente dele depois de achar cinco defeitos diferentes. Mas o dito cujo ainda vai ser meu amigo.
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4 - uma pessoa amada
O clássico dos clássicos: “a gente só passa a dar valor para algo depois que a gente perde”. Posso dizer que foi dessa forma que entendi a importância que a minha avó teve na minha vida.
Minha mãe não podia cuidar de mim durante a semana quando eu nasci, ela precisava trabalhar. Então, ela me deixava durante esse tempo na casa da minha avó. Dessa forma, eu cresci mais próxima da minha avó do que da minha própria mãe - inclusive, quando eu era bem pequena chamava a minha avó de mãe e brigava com a minha mãe quando ela me corrigia. Era engraçado, mas ao mesmo tempo sintomático.
Ela era uma mulher maravilhosa, e eu queria ter dito isso a ela enquanto ela ainda estava aqui. Acordava cedo todos os dias para cuidar da casa, fazer comida para o meu avô e para mim. A comida dela era a melhor do mundo, jamais pensei que ia sentir falta de algo como eu sinto da comida dela. Acho que é por causa dela que eu gosto tanto de arroz e feijão e não consigo ficar bem se eu não ingerir a minha dose diária desse clássico das casas brasileiras. Fazia comida para o meu pai também, quando ele ia me buscar a noite para me levar para casa.
Cuidava de todo mundo, se colocava sempre disposta a ajudar as pessoas, independente de como ou o porquê. Também era muito inocente, tinha a visão de mundo de alguém bom e sempre esperava pelo melhor. Tinha que esperar, até porque, não era possível que a vida fosse tão ruim assim.
Ela costurava. Costurou a vida inteira, trabalhou com isso e sustentou, praticamente sozinha, seus dois filhos com a costura. Não podia contar com o marido para muita coisa, ele era um cara que mais se preocupava com mulheres alheias do que com aquela a qual ele se casou.
Quando eu tinha 15 anos, ela ficou muito doente. Primeiramente foi diagnosticada com depressão, depois, com câncer no ovário, que se espalhou muito rápido e, apenas um mês depois, a levou da gente.
Lembro de ficar com ela no hospital; lembro de ficar com ela na minha casa - especificamente de um dia, que a gente via televisão juntas e eu reparei numa florzinha que ela tinha trago da casa dela para ficar aqui. Era uma florzinha pequena, rosinha e frágil, sozinha num vaso de plástico, perdida em meio a terra. Olhei para a minha avó e disse “que florzinha linda, eu não tinha reparado”. Ela, que até então focava na tv com um olhar perdido, olhou para a florzinha, abriu um sorriso e disse “lindinha, não é?”.
Alguns dias depois desse momento, ela se foi.
Queria ter tido mais tempo com você, vó. Queria ter te dito o quanto eu te amei e o quanto eu sou agradecida por você ter cuidado de mim. Eu te amo muito, e vou te levar para sempre comigo. Só espero me tornar ⅓ da mulher que você foi.
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3 - um momento de coragem
Carnaval de 2017. Uma garrafa de Askov sabor morango. A companhia de um velho amigo. Bom, só amigo não era. Um amigo colorido.
A gente tinha se conhecido na metade do ano anterior, através de um app de encontros instantâneos. Eu tava ali só por brincadeira, a maioria das pessoas daquele app eram todas doidas; era comum que depois de trinta minutos de conversa já perguntassem sobre namoro e casamento. Um cara foi especialmente engraçado: ele disse que tinha conhecido várias mulheres incríveis ali, que muitas delas já eram mães e que por isso não se importaria de assumir o filho delas caso elas quisessem - na verdade ele sempre quis ser pai. No dia eu achei engraçado, mas agora escrevendo sobre isso percebo que as intenções desse cara talvez não fossem tão boas assim. Enfim.
Com esse meu amigo colorido foi diferente. Ele já chegou falando do meu cabelo e o quanto ele era lindo. Tudo bem, achei legal. As primeiras conversas foram para um lado bem sexual, e por causa disso eu pensei que a gente não ia nem se conhecer pessoalmente, mas ele insistiu. E lá vou eu me encontrar com ele num local marcado perto da minha escola (um perigo, eu reconheço. E se fosse um doido? Eu não pensei direito), horas antes do sinal tocar. Vale mencionar que ele chegou atrasado - o que eu descobri, depois de alguns encontros, que infelizmente era um hábito - e me trouxe um chocolatinho; achei uma gracinha, confesso. Depois de algumas palavras trocadas, a gente se beijou pela primeira vez e ficamos nessa durante todo o encontro.
Lembro de olhar para o rosto dele e achar ele tão lindo… Nunca tinha visto alguém tão bonito. As feições dele eram simétricas; ele era alto e magro. Eu sempre insisti que ele deveria seguir a carreira de modelo, mas ele nunca me ouviu. Dizia que não era isso o que queria para si mesmo. Nobre.
Nos encontramos quase toda semana por mais de seis meses, e sempre nos beijávamos mais do que conversávamos. Até que chegaram as férias e o ato de nos encontrarmos era mais difícil
Em um dia decidimos ir ao cinema - ele tinha me convidado para ver um filme infantil. A gente não ia ver o filme, na verdade, então tudo bem. No caminho de volta para casa as coisas desandaram. Papo vai, papo vem, e no final das contas ele me disse que não me conhecia e, dessa forma, não sabia o que achar de mim. Eu fiquei bem chateada e fechei a cara involuntariamente, o que fez ele ir embora mais cedo.
Quando eu cheguei em casa fiquei mais triste do que pensei que ficaria. Foi estranho, eu não sabia que gostava tanto dele a ponto de ficar do jeito que eu fiquei. Mais tarde, ele me mandou uma mensagem e perguntou quais eram os meus sentimentos por ele. Eu disse que não sentia nada - mentira, sentia até demais, só não ia me entregar e correr o risco de me machucar. Cortamos o contato.
Passam-se os dias e chega o tão esperado Carnaval. Eu estava bem empolgada naquele ano, queria ir em todos os bloquinhos possíveis; até que chega uma notificação de mensagem dele me chamando para ir a um bloquinho no centro. Aceitei meio sem jeito, curiosa para saber o que aconteceria.
Aquele dia foi um pouco estranho. A tensão sexual estava ali, mas eu não ia ceder, sou orgulhosa demais - ele parecia não querer ceder pelos mesmos motivos. Até que a bebida entrou e os beijos saíram. Aquele começo de ano estava sendo bem difícil para mim, a ficha de que a minha avó tinha morrido só caíra um ano depois, bem naquela época, então eu chorava com muita facilidade, a qualquer momento. Mas ele foi um amor e me disse que não queria se afastar de mim, que queria ficar ao meu lado e eu podia contar com ele para qualquer coisa. Aceitei aquilo e lembro de chorar nos braços dele. Me senti tão acolhida… Também senti alguma coisa no meu estômago. Seriam as famosas borboletas? Creio que sim.
Depois de alguns dias fomos a outro bloquinho, na Augusta. A mesma regra: a Askov entra e os beijos saem. Mas naquele dia entrou Askov demais, então saíram algumas verdades também. Ele me disse que não queria se afastar de mim, pediu para eu ficar sempre por perto e mais um monte de coisas.
Só lembro do meu cérebro parando por cinco segundos e meu coração tomando as rédeas - juro que não sei de onde veio o ímpeto de dizer “Porque a gente não namora então?”. Assim que eu perguntei, me arrependi. E se eu levasse um fora?
Ele ficou sem palavras. Ficamos o resto do dia argumentando os prós e os contras de namorarmos. No final das contas decidimos que sim, namoraríamos.
E cá estamos desde então.
Tive que me acostumar com os atrasos. E com o fato de amá-lo demais. Ah, e os Carnavais são especiais para nós dois, inclusive nesse ano vamos de fantasia de casal. Quem diria.
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2 - um lugar querido
Parques sempre me fizeram muito bem - renovavam/renovam a minha alma. E foram três que tiveram um grande significado pra mim. Vamos por ordem cronológica: em primeiro lugar não poderia estar outro a não ser o Parque da Independência, no bairro do Ipiranga, em frente ao Museu da Independência - e que ficava ao lado da minha escola.
Naquela época, eu tinha acabado de ser transferida para lá, tinha 13 anos e aquele lugar tinha toda uma aura misteriosa por trás. Os alunos costumavam ir ali depois da aula para fazer todo mundo sabia o quê, mas ninguém falava com todas as palavras: fumar maconha e realizar atos sexuais de toda a natureza. Bom, normal, adolescentes fazem isso.
As minhas questões com esse parque não foram bem essas - na verdade, de longe não foram. Na época eu queria avidamente aprender a andar de skate, e aquele parque era um point de skatistas na cidade, então, não havia lugar melhor. Se eu pudesse contar quantas vezes eu caí, ralei os joelhos e me superei ali, nossa, que número enorme seria. Mas eu acho que isso é bom. Levo lembranças tão bonitas de lá, de todas as vezes que eu vi o pôr do sol e senti o calor da tarde, respirei ar puro no meio das árvores e brinquei com os cachorrinhos dos moradores do bairro. Bons tempos.
Em segundo, o Jardim Botânico de São Paulo. Que lugar lindo. Como toda boa leitora, tive meu momento dos livros de fantasia, e aquele lugar fazia com que eu me sentisse dentro das paisagens mais mágicas. Houve uma época que eu ia ali toda vez que tinha cinco reais sobrando - que era o preço da entrada - e ficava andando sem parar admirando tudo como se fosse a primeira vez, imaginando mil e uma histórias se passando ali. Vale mencionar que o parque também é uma reserva ecológica e eu, que durante muito tempo quis ser botânica, adorava esse quesito também. Ah, e lá também tem um restaurante ótimo.
E o último, mas não menos importante: o Parque da Vila Prudente. Eu não sei o nome dele, então vamos chamá-lo dessa forma mesmo. Não tão perto da minha casa mas, como eu sempre gostei de caminhar, gostava de ir até lá depois da escola andando e ouvindo música, percebendo tudo ao meu redor e, ao chegar no parque, deitar na grama e observar o céu. Fiz isso durante tanto tempo e acho que é um costume que eu deveria retomar. Ah, e no ano passado descobri que também é um ótimo lugar para se tirar um cochilo - deveria ter feito isso antes. Mas foi bom esperar, só no ano passado pude contar com a melhor companhia possível para realizar tal empreitada.
Não consegui elencar um lugar só. Mas acho que tudo bem, não teria como eu escolher apenas um dentre esses três. Bom, pelo menos conseguimos perceber a minha predileção por ambientes naturais e etc. Uma hippie enrustida, só não conte para ninguém.
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1 - uma memória feliz
Quando eu tinha meus 14 anos, era uma leitora voraz e, devido a isso, passava as minhas férias na biblioteca do meu bairro - que não era tão perto assim da minha casa, mas era a mais próxima de lá.
Nessas férias específicas eu devo ter lido uns 10 livros. Não me lembro de todos, mas aqueles que me marcaram foram O Apanhador no Campo de Centeio e Carrie, A Estranha. Tenho lembranças de ler esse último jogada na sacada do apartamento, de biquíni - porque o sol estava queimando -, tomando muita água e pensando no quanto esse livro era assustador mas ao mesmo tempo cativante. Adoraria escrever daquele jeito um dia. Não exatamente como o Stephen King, mas conseguir entreter um leitor da mesma forma que ele me entretia.
Foi uma época boa. Eu não me importava muito com as coisas ao meu redor, vivia um dia de cada vez. De vez em quando, antes de dormir, me lembro dessas férias e me concentro no cheiro do livro alugado e da piscina agitada pelos outros moradores do prédio. Como eu queria poder voltar e aproveitar tudo aquilo mais uma vez.
Em um dia específico, perto das férias acabarem, eu fui uma última vez até à biblioteca devolver meus livros e, infelizmente, não consegui encontrar nada para alugar daquela vez. Mas não foi uma caminhada desperdiçada, o pôr do sol estava lindo e eu me sentia feliz e renovada.
Começa a chover. E, pela primeira vez, eu não corro da chuva. Eu sorrio e agradeço pelas gotas depois de um dia tão quente de verão. Volto pra casa caminhando, me sentindo tão feliz e sorrindo apaixonadamente, as pessoas que passavam por mim debaixo dos seus guarda-chuvas certamente me achando uma doida.
Quando chego em casa, olho o arco-íris da sacada. Era lindo, e eu tenho certeza que nunca mais vi nada igual.
Realmente não me lembro o que fiz depois de chegar em casa. Mas não tem problema. As memórias que eu tenho desse dia são tão bonitas que gosto de tê-las só até aqui.
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Considerações pós TCC
Ontem apresentei meu TCC e foi daquele jeito: um grupo que não estava nem um pouco a fim de apresentar e que já tinha brigado tanto entre si não apresentaria nada com vontade ou com confiança, o que é compreensível. Minha vontade era a de não ir, devido a tudo o que aquele trabalho representava para mim: hipocrisia e um meio que ainda tinha muito o que amadurecer. No final das contas eu fui, apresentei o que estava sob minha responsabilidade e saí antes que todo aquele ritual de falsidade que bem conhecemos (“te desejo tudo de bom/ foi ótimo trabalhar com você/ esse curso foi ótimo/ aprendi muito com você”) começasse.
No caminho de volta para casa, pensei demais - como sempre. Pensei que tudo poderia ter sido diferente.
Esses dias eu vi um documentário que começava com a seguinte pergunta: “E se?”. E se isso tivesse acontecido não comigo, mas com outra pessoa? E se aquela pessoa não estivesse ali naquele momento? E se eu tivesse conversado mais com os outros, será que eu teria passado pelo o que passei? E se eu só tivesse abaixado a cabeça? E se eu tivesse fingido que estava tudo bem?
Não cheguei à conclusão nenhuma.
Sabe, a vida é uma coisa doida. Conheci cada figura nesse curso. Cada pessoa que quanto mais eu conhecia, mais eu pensava “como consegue?”. E essa pergunta não era no bom sentido. Não quero ser tão negativa, mas já sendo, eram pessoas ruins. Mas eu posso dizer que aprendi muito com elas, até mais do que eu jamais imaginei que aprenderia.
Acho que a vida segue a partir daqui. Sem muito drama. O que mais me chateia é o fato de saber que, sem a minha presença, a experiência desse curso e desse último semestre teria sido mil vezes melhor para a pessoa que eu mais amo. Acho que isso ensina também. Magoa, mas ensina. E acho que tudo bem, também.
Não quero me culpar nem me martirizar. Devaneios me fazem mal por causa disso. Só queria desabafar, colocar tudo o que eu estou pensando para fora…
Bom, já o fiz. Do que esse texto falou? Considerações sobre um curso ruim, uma experiência não das melhores? Acho que sim.
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Começo?
Sempre quis ser escritora. Lembro quando tinha 6 anos de idade e já escrevia pequenas histórias - foi nessa idade que eu aprendi a escrever. Eu assistia a filmes, desenhos e transcrevia as histórias do meu jeito, dando desde cedo meu toque dramático e exagerado. Minha mãe adorava.
Quando eu tinha 12, 13 anos, ficava o dia inteiro na frente do computador escrevendo o perfil psicológico de personagens que nunca teriam uma história, procurando o significado de nomes aleatórios na internet e escolhendo os mais legais para dar vida.
E hoje cá estamos. Acho que eu sempre tive essa vontade de viver uma realidade mais colorida e mais mágica que a minha. Não me refiro a elfos, fadas e duendes, me refiro a poder ter uma música tocando toda vez que eu fizesse alguma coisa legal, uma trilha sonora.
Creio que todos nós temos essa vontade - talvez seja por isso que tantas pessoas andam na rua de fones de ouvidos divagando pelos pensamentos.
A história que eu quero contar? Ainda não sei. Mas a única certeza que eu tenho é que quero falar de mulheres, para todos. Todos precisam saber das nossas inseguranças e nossos tabus, medos e imposições que sofremos. Somos tantas, tão plurais e únicas, que não podemos cair nas suposições de contadores de histórias homens que se sentem no direito de nos usar para enriquecer e conquistar fama. Estou farta disso. É nós por nós.
Desejem-me sorte. Não sei quanto tempo vou demorar para estudar e finalmente escrever alguma coisa - acho que muito, até porque sou insegura e nunca sei quando algo está realmente bom - talvez eu possa usar isso em alguma personagem. Vamos ver.
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Socorro
Eu não gosto mais do meu cabelo.
Não sei se você, leitor, já se sentiu assim em algum momento, mas eu não gosto mais do meu cabelo. Quero mudar.
Mas não sei se eu quero só pintar ou dar uma aparadinha nas pontas - acho que eu quero cortar tudo fora, raspar mesmo.
Não sei se eu ficaria bonita, tenho medo de raspar tudo e ficar muito ruim, me olhar num espelho, me arrepender, chorar, não querer me olhar no espelho nunca mais ou querer me matar.
Ai, que horror.
Não gosto de me sentir indecisa dessa forma, parece que eu vou explodir. Tenho vontade de fugir de mim mesma, sair correndo, pedir pra minha cabeça parar de pensar só um pouquinho - mas toda vez que eu faço tal pedido, parece que minha ela piora e começa a pensar cada vez mais que EU NÃO GOSTO MAIS DO MEU CABELO e não sei o que fazer com ele.
Alguém me ajuda, por favor.
Na verdade, eu não deveria precisar da ajuda de ninguém, eu sou autossuficiente, uma garota independente, que não dá a mínima para a opinião alheia, EU FAÇO O QUE EU QUISER COM O MEU CABELO, INCLUSIVE RASPAR, VOU RASPAR.
Não sei se eu quero raspar. Acho que eu deveria dar um tempinho pra minha cabeça pra ver se ela vai mudar de ideia ou se a insaciável vontade de raspar vai continuar aí por mais de cinco minutos.
Se bem que eu gosto dele longo.
Acho que vou deixar crescer.
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(quase uma) carta aberta ao homem que eu amo
Bom, cá estamos. Você disse que eu deveria voltar a escrever e eu segui o seu conselho, cá estamos. Não faço a mínima ideia se você vai ler ou não, eu realmente espero que sim e, acima de tudo, espero que te toque.
Ontem eu errei e errei feio. E eu sei que não foi só ontem, e eu peço desculpas por todos os dias que eu errei. Não sei muito o que dizer nesse texto, só sei que eu queria poder voltar no tempo e mudar minhas atitudes.
É engraçado como os últimos textos que eu escrevi foram sobre você. Mais engraçado ainda é pensar que toda vez que eu paro pra escrever, eu escrevo sobre você. É mais forte que eu.
No momento eu choro. Choro de arrependimento de não ter tido palavras no momento que conversamos hoje de manhã, e choro quando lembro de você esperando o trem longe de mim, me ignorando. Isso me doeu. Nesse momento eu imaginei como seria não ter mais você na minha vida, como seria te encontrar por acaso numa estação de metrô da vida, você ser só mais um e, cara, isso me doeu. Peguei o trem chorando, engoli o choro durante o caminho e quando desci, te procurei e não te achei, então chorei de novo.
Eu sei que você quer seu tempo. E tudo bem. Me desculpa por ontem. Tenta não esquecer que eu te amo, por favor. Se você quiser ir embora, eu entendo, mas saiba que eu tentei e te amei muito durante esse tempo que nós ficamos juntos. Saiba que eu também vou te levar pra sempre no meu coração.
Tentei escrever uma carta, mas como podemos ver, não deu muito certo.
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2018
as coisas estão tão confusas ultimamente. dentro de mim. quero dizer, sempre foram, mas acho que nesse ano tudo se acentuou um pouquinho.
esse ano passou rápido. lembro do começo como se fosse ontem. e foi tão intenso que pareceu três anos em um só, eu tô exausta nesses últimos dias.
eu terminei o ensino médio no ano passado, mas não quis começar uma faculdade logo em seguida, então esse ano comecei um curso de Produção Audiovisual. eu me descobri ali. sempre gostei de cinema, mas não pensei que eu verdadeiramente gostava tanto assim. é um curso que eu gosto demais - não muito das pessoas, mas sim do conhecimento e universo.
comecei a estudar com o meu namorado também, a gente decidiu fazer esse curso juntos. isso significa que nos vimos quase todos os dias do ano. quando a gente começou a namorar a gente se via só aos finais de semana. eu me descobri tanto com essa experiência. certas coisas a gente só imagina sobre nós mesmos, mas a gente só tem certeza do nosso sentimento quando a gente vive na prática. aprendi demais sobre ciúmes e tolerância, mas muito mais sobre amor.
aprendi que, quando a gente realmente gosta de uma pessoa, é diferente. fiquei impressionada com o fato de que meu namorado conseguia ficar cada vez mais bonito com o passar dos dias. e também me impressionei com o meu ciúmes e minha insegurança com relação a mim mesma. é claro que muita coisa a gente releva, mas nesse ano eu aprendi que posso relevar muito mais, desse jeito todo mundo sai ganhando. aprendi que ciúmes é muito sobre mim. sobre meus problemas. sobre o jeito que eu me vejo no espelho. aprendi que tenho que me entender, acima de tudo, só desse jeito vou conseguir entender um sentimento que vai além de mim.
comecei a trabalhar nesse ano também. cara, isso foi surreal. eu nunca tive que assumir tanta responsabilidades na minha vida. É ASSUSTADOR, mas foi só aprendizado. fiz várias bostas, mas sinto que estou mais crescida, mais adulta, e por isso só tenho que agradecer.
acho que vou fazer uma sériezinha de textos sobre tudo o que aprendi nesse ano de três anos. só para você, caro leitor que não me conhece e que eu também não conheço - e que provavelmente nem existe.
eu nem sei como terminar, na verdade eu nem iria falar sobre isso. enfim. vamos continuar conversando com o passar do tempo, caro leitor.
até já.
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você
no dia de ontem conversamos. como sempre, você não conseguiu esperar e rendeu-se à sua curiosidade: leu meus escritos, mesmo com o meu pedido de um pouquinho de tempo.
essas coisas são estranhas - digo, eu não costumo falar muito, prefiro manter meus sentimentos pra mim, e quando decido escrever sobre, me sinto invadida quando alguém lê. mas com você é sempre diferente.
jamais pensei que amaria alguém assim. desde pequena, mesmo com todas as comédias românticas ou com todos os contos de fadas, eu não imaginava que o amor poderia ser tão intenso. imagino que você deva sentir o mesmo - digo, é estranho, é mais do que uma simples atração, é algo físico. meu estômago sempre se revira, meus olhos dizem mais do que eu gostaria, não consigo conter o meu sorriso.
isso tudo é tão clichê. se eu lesse um romance com essa descrição, com certeza largaria na metade.
mas com você todos os clichês fazem sentido.
e pode ler o que eu escrevo - quando escrevo sobre amor, é sempre sobre você.
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Revanche, Mario Feijó - capítulo 1
Logo no primeiro encontro ela citou as palavras de William Blake, de onde Jim Morrison e sua rapaziada tiraram a inspiração para o nome da banda. When the doors of perception are cleansed, man will see things as they truly are, infinite. Você não conhecia nada de The Doors, nunca ouvira falar da voz de Morrison, sequer conhecia seu nome; portanto, na sua santa ignorância, entendeu tudo errado. Inês sorriu divertida de você pensar que Blake fosse integrante da banda. Foi o primeiro sorriso dela pra você. E quando, pela primeira vez, apagou as luzes, ela encostou a boca no seu ouvido, foi pra sussurrar:
- Come on, baby, light my fire.
As portas da sua percepção se abriram. Não deu pra vislumbrar o infinito, mas você aprendeu a curtir The Doors.
Mário Feijó nasceu em Florianópolis e hoje mora em Capão da Canoa. Sempre esteve envolvido com a escrita: publicou em 1987 seu primeiro livro de poemas, Encontros e Emoções.
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a·pro·vei·tar | vtd, vint, vpr
Não faço nem ideia de como começar a escrever, só sinto as frases tomando forma dentro de mim - algum caminho elas têm que escolher. E o único que pode não causar estragos tão momentâneos é o da escrita.
Nesse momento meus olhos marejam. O fazem porque eu sinto falta de um tempo que eu não soube aproveitar. Talvez essa seja a grande questão de viver: Não saber quais momentos valem a pena.
É engraçado como eu dei tanta importância pra coisas que não me fizeram bem. Digo, eu me lembro de situações que me fizeram tão mal, é impressionante como o mal me marcou. só queria poder lembrar plenamente daquilo que eu realmente sinto falta.
Sinto falta das risadas, do apoio, da presença, do carinho. Risadas não só de piadas bobas, mas de gestos desengonçados. Do apoio não por conveniência, mas daquele singelo, por amor. Da presença não física, mas espiritual. Do carinho não físico, mas amoroso, que um dia eu recebi, mas não dei tanta atenção.
Sinto vontade de voltar no tempo, de refazer minhas frases e meus gestos. De guardar cada cheiro, cada textura, que um dia me fizeram feliz e eu não tinha noção do quanto.
Mas eu sei que momentos ruins vêm e vão, e este pode ser só mais um pelo qual eu passo sem saber o que fazer. Só espero sair daqui resiliente e sabendo reconhecer todo segundo bom que há de chegar.
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