Sou estudante de Museologia pela UFRGS e aqui irei compartilhar sobre meus processos de aprendizagem dentro do curso.
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Museu Paulista e o poder da narrativa.



Em 1890 era finalizada a obra do monumento que homenageava a independência do Brasil, que quando vira museu em 1894 seu acervo era de história natural com coleções de plantas, animais e pedras, mas com a chegada do Diretor Afonso Taunay em 1917 o museu mudou de rumo pois ele considerava o espaço um potente lugar para abrigar um museu histórico com o propósito de organizar uma exposição histórica brasileira, que abrangesse a colonização, o movimento dos bandeirantes e a independência. O que é apenas um recorte da história, mas na perspectiva do Diretor os paulistas foram agentes protagonistas na formação da nação brasileira.
Taunay tinha uma visão positivista dessa história e principalmente dos Bandeirantes, retratando eles como heróis da nação pelas suas expedições aventurosas ao interior do Brasil. Para a entrada do museu, Taunay encomenda imensas estátuas de Raposo Tavares e Fernando Dias Paes, para passar a mensagem de grandes homens que fizeram muito pela expansão do território brasileiro e os descobridores de riquezas, quase justificando as atrocidades que esses expedicionários fizeram a comunidades indígenas e quilombolas.
Na escadaria central há esferas com águas dos principais rios brasileiros que foram explorados durante as expedições, são as chamadas Ânforas. A ideia de Taunay era aproximar o visitante o máximo possível com a história que ele queria passar e pinturas desses rios não seriam suficiente, então trazer os as águas de cada rio foi a solução para a sua narrativa.
Aqui já podemos perceber o empenho que o Diretor da época tinha em afirmar a história brasileira na perspectiva dele e dos paulistas, durante essa transformação do museu ele encomendou inúmeros quadros para ilustrar cada passo dessa história, Benedito Calisto foi o pintor dos projetos de Taunay, digo isso pois o diretor interferia diretamente em como os quadros deveriam ser, baseando-se principalmente em documentos históricos.
A exposição da história brasileira culmina no Salão Nobre, onde está exposto o quadro "Independência ou Morte" de Pedro Américo, uma obra monumental que fecha brilhantemente a narrativa do museu.
Hoje em dia podemos ver com outros olhos essa história, não tão heroica e benfeitora, trazendo questionamentos pertinentes à nossa contemporâniedade e as lutas pela afirmação de narrativas mais diversas e inclusivas. Não há dúvidas que o projeto de Taunay para o Museu do Ipiranga glamurizava essa história e apagava tantas outras, acredito que é nosso papel como sociedade utilizar dessas mesmas ferramentas para afirmarmos o que achamos importante.
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Museu Paraense Emílio Goeldi
Fundado em 1866, originalmente como Gabinete da Sociedade Filomática, fez parte do Movimento dos Museus, que foi um movimento intelectual centrado na ciência no final do século XIX. No auge das expedições naturalista na Amazônia que atraia muitos cientistas europeus o Museu servia como apoio a essas atividade científica.
Até 1893 o Museu mantinha acervo tanto histórico quanto etnográfico, além do de ciências naturais, mas com a chegada do Zoólogo Suíço Emílio Goeldi o Museu passou a ser estritamente de ciências naturais e se tornou uma potência científica inclusive internacionalmente.
Através das publicações do Boletim do Museu Paraense o museu difundia suas pesquisas na área da ciência principalmente no campo das pesquisas de território. Devido a sua localizacao (e até hoje o museu mantém em seu Parque Zoobotânico fauna e flora Amazônica nativa e preservada) sua principal missão era o estudo dessa área.
Nelson Sanjad escreveu em 2005 sua tese intitulada " A Coruja de Minerva: O museu paraense entre o império e a república: 1866-1907" que comenta sobre os impactos que o museu sofreu durante as mudanças políticas desse período.

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Visita técnica ao Museu Anchieta e uma educação de oportunidades.
Imagine poder ver na sua frente tudo aquilo que durante as aulas expositivas, seja na escola ou na faculdade, ficou apenas no mundo das ideias. Ter esse tipo de experiência é enriquecedor para o aprendizado de fato. É isso que eu sinto nesses primeiros meses cursando Museologia, a constância de saídas de campo em que visitamos museus torma tudo que foi dito em aula mais palpável e esclarecido. E estou muito feliz de estar tendo essa oportunidade durante a graduação, mas não deixo de pensar em como teria sido meus anos escolares se eu tivesse tido essa experiência antes.
Durante a visita que fizemos ao Museu do Colégio Anchieta de Porto Alegre, me pegava pensando a todo momento "Imagina poder estudar em uma escola que tem um museu de ciências naturais"
Isso porquê a riqueza do acervo do museu me surpreendeu e eu podia imaginar direitinho as crianças e jovens aprendendo sobre história e biologia naquelas salas. Fósseis, ossadas, taxidermia, uma coleção incrível entomologica (coleção de insetos), esses são apenas alguns exemplos do que o acervo do museu guarda e expõe para a utilização pedagógica da escola e também para quem queira visitar.


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Os primeiros museus Brasileiros
Em setembro de 2022 vai fazer 4 anos do incêndio que atingiu o Museu Nacional, um incêndio que durou 6 horas e que levou consigo muito do patrimônio cultural brasileiro.
O Museu Nacional foi o primeiro museu que o Brasil teve, na época foi criado sob decreto de Dom João VI com o nome de Museu Real. Ele fazia parte de uma série de instituições que foram criadas para promover o progresso cultural e econômico do país.
Durante seus anos de monarquia ele seguia padrões trazidos da Europa, era um Museu metropolitano de caráter universal ou seja continha coleções da Ásia e África. Também promoveu coleções para museus europeus, já que alguns naturalistas de Viena vieram ao Brasil para fazer pesquisas com a promessa que deixariam seus achados para o Museu, mas nada ficou aqui.
Já nos seus tempos de República, agora chamado de Museu Nacional foi também palco do cientificismo, quando a ciência começou a ser super valorizada e teve grande espaço nas discussões da época. Assim podemos dizer que os museus foram os primos espaços de produção científica no nosso país.

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Museus na Revolução Francesa.
"Os bárbaros e os escravos detestam as ciências e destroem os monumentos das artes, os homens livres as amam e as conservam." Quem disse isso foi o abade Gregório Schaer em uma tentativa de convencer o povo revolucionário que os monumentos atrelados aos monarcas não deveriam ser depredados, mas sim conservados, pois os iluministas amam a arte, ainda não com um fim educativo, mas por serem belas.
Esse é um ótimo exemplo do movimento que se teve durante a revolução francesa para preservar obras de arte. Foram confiscadas várias coleções dos monarcas e de instituições atreladas a monarquia para que fossem expostas para o público posteriormente. O então Palácio do Louvre virou um grande depósito para esse fim, de conservar a arte durante a revolução.

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Direito de Olhar: abertura das galerias.
Em salas especiais, era possível ver apenas poucos respiros de parede pura, pois todo o restante estava tomado por quadros exposto uns grudados nos outros do teto ao chão. Essas eram as galerias da burguesia, que começaram a se afirmar também através de grandes coleções de artes onde esculturas e pinturas eram as estrelas.
Antes essas obras estariam fechadas apenas para o deleite visual dos monarcas, mas agora os colecionadores se apropriaram delas para que elas fossem debatidas, estudadas junto às academias.
Começa aqui um debate que o povo deve ter o direito de ver as obras, que elas são patrimônio de todos e não devem ficar fechadas em espaços que as pessoas não podem circular, elas devem estar em lugares que há sociabilidade.

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Coleção
Na última postagem eu trouxe uma foto da minha pequena coleção de cavalinhos, eu os coleciono desde 2019 quando meu namorado me presenteou com um busto feito em madeira esculpida. Ele tomou a iniciativa para me dar esse presente depois que contei a ele sobre os meus tantos cavalos de brinquedo que eu guardava desde pequena com muito carinho, mas não os tinha mais comigo devido a uma abrupta mudança de cidade.
Me lembrei dessa história no meio da última aula que tive na disciplina de Histórias dos Museus e dos Processos Museológicos, onde discutimos o texto do Historiador Polonês Krzysztof Pomian "Coleção".
Pomian fala em seu texto que uma coleção se define por ser um conjunto de objetos mantidos temporária ou definitivamente fora da circulação mercantil e expostos em um lugar especial apenas para o olhar público, o que os torna preciosos.
E não se chegou nessa definição apenas com base em coleções contemporâneas, mas também por perceber que o ser humano tem essa prática desde muito tempo, como em mobiliário funerário em tumbas na Anatólia (6500 e 5700 a.C.) ou então na tumba da princesa Tong-T'ai na China. Em oferendas para deuses nos templos Gregos e Romanos ou nos grandes inventários medievais de monarcas. Esses e mais outros exemplos são trazidos por Pomian no texto para embasar seu ponto.
Porém o que mais me chamou atenção no texto foi quando ele começa a falar sobre o visível e o invisível, sendo o visível o objeto que é guardado com tanto apreço e o invisível o valor simbólico que ele tem e para um estar atrelado ao outro só é possível por meio de um observador instruído.
Isso quer dizer que meu cavalinho de madeira (objeto visível) representa minhas vivências (invisível simbólico) por causa do meu ponto de vista em relação a ele (observador). Para qualquer outra pessoa que não sabe dessa particularidade dele poderia enumerar infinitas outras simbologias ao cavalinho como força, trabalho, beleza, etc e todas elas estariam no campo do invisível segundo este outro observador.
Isso acontece em objetos expostos em museus, ao visível eles são apenas objetos, mas no invisível são cheios de atribuições, histórias, significados e valores, segundo o que o museu sabe sobre eles e nos ensina.
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Olá, meu nome é Antonia Segalla, sou artista plástica e atualmente estudante de museologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Tenho formação técnica em desenho a grafite e pintura a óleo, mas também me aventuro na aquarela. E ingressei no curso de museologia pela vontade de entender dos processos de conservação de obras e objetos, pelo interesse em gestão cultural e também por gostar muito de arte e história.
Completei três semanas de aula e por mais que seja pouco tempo, comparado aos quatro anos de graduação que tenho pela frente, posso afirmar que já estou encantada pelo curso, estou gostando muito das aulas, das professoras, da instituição e dos colegas.
E particularmente estou curiosa de como será o decorrer do semestre da cadeira de História dos Museus e dos Processos Museológicos com a Profa. Zita Possamai, na primeira aula ela comentou que teremos que escolher um dentre alguns livros por ela sugeridos para a apresentação de um seminário.
Eu escolhi o livro " A Fabricação do Imortal" da Doutora em Antropologia Regina Abreu. Ele é um estudo sobre uma coleção particular de um ex-senador doada ao Museu Histórico Nacional pela sua esposa. A premissa do livro me instigou muito e estou ansiosa para ler e preparar o seminário junto com mais alguns colegas.
Ao longo dos meus estudos dentro dessa cadeira e outras, pretendo compartilhar meus aprendizados aqui nesse espaço.
Espero que gostem.
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