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Sobre O Último Duelo. De Ridley Scott, 2021.
“O Último Duelo”, de Ridley Scott, é um filme que me deixou um tanto quanto inquieto, durante e após o fim. Essa inquietação, contudo, certamente não me é evocada por razões técnicas, visto que praticamente pouco tenho a dizer em desfavor da qualidade do filme. Embora eu possa afirmar, seguramente, que não foi um filme que eu tenha terminado me sentindo pleno ou “satisfeito”, o que pode parcialmente explicar essa minha inquietude, também posso afirmar, igualmente seguro, de que gostei do longa de Scott.
Particularmente, aprecio, com gosto, o fato de que “O Último Duelo” não é apenas mais um maldito “filme de guerra contextualizado no medievo”, como tantos por aí. Afinal, nem só de guerra e violência se conta uma história situada na Idade Média. Por isso, fico contente quando outras dimensões da realidade humana também recebem atenção, ainda que, em “O Último Duelo”, a “realidade” que foi dada atenção e contada esteja imersa em um infeliz e angustiante caso de estupro, circunstância tratada de maneira singular por Scott.
Digo isso pois, diferentemente de outras histórias tristes que envolvem tragédias e violências como estupros, e que recebem, de seus roteiristas, pelos mais variados motivos, finais relativamente felizes, o longa de Scott, apesar das saudações, dos aplausos e dos risos após “o último duelo” e o desfecho desfavorável ao vilão, termina, para mim, com um grande tom de infelicidade. Apesar do julgamento por combate, praticamente, confirmar, por meios divinos, a denúncia de estupro feita pela protagonista, a real vítima, o fato ocorrido definitivamente não é a questão relevante levantada no fim do combate. O cavaleiro é exaltado, saudado e aplaudido. À esposa, a vítima, destina-se um cavalo para que possa acompanhar o vencedor pela cidade, mesmo que, antes, ela tenha sido a verdadeira derrotada e, mesmo agora, não consiga, verdadeiramente, compartilhar da “vitória”.
Pergunto-me se Scott intencionalmente quis dar essa sensação de “vitória infeliz”, fazendo uma crítica à indiferença perante a violência sexual contra a mulher, perante a desigualdade de gênero, coisa tão comum no medievo, mas também existente no presente. Sustento essa dúvida e não uma certeza pois, sinceramente, embora, aos meus olhos, exista essa “vitória infeliz”, esse é um aspecto trabalhado de maneira bastante sutil, de forma que, confesso, não considero difícil a possível interpretação, vinda de um homem, de que as cenas finais mostram, na verdade, um cavaleiro honrando, em combate, a dignidade de sua esposa. Embora não seja uma imagem tão feia, ela é incoerente com o restante do filme e, sem a menor dúvida, imensamente mais rasa.
De qualquer forma, quem assiste “O Último Duelo” pode ter diferentes interpretações das nuances da história, até mesmo por conta do próprio formato singular do filme, que decide dividir a narrativa em três capítulos, expondo em cada um deles a perspectiva de um dos três personagens, algo que também me evoca comentários.
Antes de tudo, preciso reconhecer que é um recurso que, por ser pouco usual, considero ousado. Longe de mim, no entanto, reclamar, já que, no longa de Scott, foi um formato muito bem adequado. Todavia, preciso dizer que, em uma caso de estupro, a possibilidade de considerar legítima a perspectiva do violentador, como se ele tivesse suas razões emocionais, faz parecer que é razoável simpatizar com as atitudes de um agressor, o que definitivamente não me agrada. Tal situação infelizmente abre margem para interpretações que considerem válidas eventuais dúvidas sobre a veracidade do caráter não consensual do estupro, uma incerteza inexistente à mente sensata.
Assim, se, por um lado, “O Último Duelo” pode ser exemplo de exposição da violência sexual contra mulheres e crítica à indiferença a ela, por outro, é um filme que abre brecha para intepretações inconvenientes sobre “perspectivas conflitantes” em um caso explícito de estupro, um problema, ainda atual, cuja denúncia é pertinente e necessária.
05 de dezembro de 2021.
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Sobre Stalker. De Andrei Tarkovski, 1979.
Com “Stalker”, de Andrei Tarkovski, eu fiz o meu primeiro contato consciente com o cinema russo/soviético. Acho que já era hora, pois, sendo sincero, com a exceção de “O Encouraçado Potemkin”, eu nem consigo citar outro longa-metragem que tenha vindo do Leste Europeu. Eu deveria lamentar tal situação, já que nutro bastante curiosidade sobre a região. Todavia, prefiro usar a contestável justificativa de que, por viver do outro lado da Terra, onde não consigo notar a influência desse cantinho do mundo, simplesmente não houve oportunidade nem incentivo para que eu consumisse o que é feito por lá. De qualquer forma, o que eu não posso deixar de registrar é que, após assistir o longa de Tarkovski, essa minha curiosidade adquiriu concretude em um exemplo extremamente persuasivo.
Mesmo que seja perigoso cultivar essa expectativa e fundamentar o meu interesse em razão de uma obra só, acho que vale a pena o risco, mesmo que a próxima experiência acabe me desapontando. Digo isso pois "Stalker" foi um dos filmes mais fascinantes que vi, senão na vida, pelo menos nos últimos meses. Para mim, é até intrigante a maneira como o filme consegue suprir carências, seja emocionais ou de narrativa, que eu nem notei que eu reuni ao longo do tempo. Parece que "Stalker" era um daqueles filmes que eu tanto esperava para assistir e só não sabia que existia. Eis um dos motivos para a minha atual significativa expectativa com o cinema russo.
Embora eu ainda não compreenda plenamente todas as razões que sustentam esse meu apreço por "Stalker", coisa que pode muito bem ser melhor esclarecida em uma eventual, e já esperada, segunda sessão, existem elementos no longa que me impressionaram profundamente e que, sendo assim, acho interessante destacá-los.
O mais direto deles talvez seja a presença ativa de diálogos, arrisco dizer, “profundos”. Em "Stalker", eu não encontro a frequente “simulação de interações sociais", esse fingimento de comunicação que roteiristas criam simplesmente para mostrar que “as pessoas falam umas com as outras”, como se fosse preciso cumprir uma cota de falas para que as coisas não fiquem estranhas. O que existe em "Stalker", por outro lado, são personagens vivos, com histórias e personalidades convincentes, que usam o diálogo para expor, ao interagirem com os outros, o que "querem" falar. E "o que querem falar" também merece menção, pois os personagens, em seus diálogos, não se limitam ao comum ou apenas reagem ao exterior, mas pesam suas falas em reflexões bastante introspectivas, havendo sempre a exposição dos traços da subjetividade de cada um deles. E como isso é feito muito bem, reflexões subjetivas, como as que versam sobre esperança, desejo ou medo, adquirem materialidade humana e, contrariando o que é comum, conseguem convencer, pelo menos a mim, que os personagens realmente pensam sobre aquilo, que não é uma fabricação do roteirista. No caso de “Stalker”, são os personagens que exteriorizam suas neuroses, e não as neuroses que, criadas de antemão por roteiristas, procuram os personagens para serem expressadas.
Além disso, essa dimensão da subjetividade dos personagens se relaciona com um outro elemento da narrativa do filme: o sobrenatural. Particularmente, embora não haja nenhum problema em centralizar a narrativa da história no “fantástico”, como muitos títulos fazem, acho muito mais interessantes as obras literárias e cinematográficas que usam os elementos sobrenaturais para enfatizar a existência e a manifestação propriamente humana. “Stalker” é um exemplo muito bom disso. O misterioso e o fantástico em “Stalker” não são o centro das atenções e a razão do filme, sendo muito mais apenas o potencializador das problemáticas humanas. Acho muito interessante como, ao mesmo tempo que o sobrenatural é um tema discutido, as grandes preocupações dos personagens são, na realidade, as internas.
Isso, somada à admirável e particular direção de Tarkovski, torna “Stalker” uma das melhores escolhas que já fiz em uma madrugada que, a princípio, considerei não ter muito potencial. Se antes eu não tinha ideia do que esperar, agora possuo uma notável referência que muito provavelmente me fará me aventurar não só na filmografia de Tarkovsky, mas também no quintal do cinema russo.
04 de novembro de 2021.
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Sobre Três Homens em Conflito. De Sergio Leone, 1966.
Não posso negar que Faroeste é um gênero que me atrai muito pouco. Raras são as vezes que eu me pego assistindo algo desse tipo. Quando o faço, eu estou normalmente acompanhado do meu pai, alguém que sempre tece comentários sobre a beleza dos cavalos ou a mira certeira (ou não) dos pistoleiros. Embora eu também faça os meus comentários, eu não participo plenamente do entusiasmo que ele tem com o gênero.
Acho que isso se deve, principalmente, porque eu não me interesso tanto pela ideia de "ação pela ação", como a maior parte das pessoas, meu pai incluso. Para mim, isso simplesmente não basta. Essa saturada fixação pelo conflito armado que o coloca não como mais um elemento da narrativa, mas como tema, assunto, nó central e razão da existência do próprio filme é algo que não me satisfaz mais. Como o gênero Faroeste tem uma certa dose disso, com essa ênfase no "bang, bang", resumindo-se muitas vezes a esse aspecto, eu acabo não criando fácil simpatia.
No entanto, apesar desse peso contra na balança, eu não abomino o gênero. Não poderia, já que até mesmo eu reconheço que um bom filme de faroeste articula elementos muito interessantes, dos quais eu não poderia negligenciar e deixar de apreciar também. É o caso do longa-metragem "Três Homens em Conflito", de Sergio Leone, um filme que, não bastando ser a exceção a esse meu preconceito com Faroeste, fez-me refletir sobre as qualidades do gênero.
Particularmente, gosto bastante do fato de que a feiura e a aridez típica do contexto do Velho Oeste não são traços desprezados. Seres humanos da vida real não se parecem com modelos de capa de revista, onde a rudeza, seja ela do ambiente ou do tempo, é inexistente. Felizmente, a rudeza é uma dimensão que possui seu destaque nos filmes de faroeste. Se representada de maneira adequada, faz-nos umedecer os lábios, engolir a saliva e, nos casos mais intensos, ir buscar um necessário copo d'água.
O filme de Leone tem um pouco disso. De qualquer forma, não é esse o ponto forte dele. Eu diria que um dos principais pilares, se não o mais fundamental, da qualidade de “Três Homens em Conflito” é o “desenvolvimento de personagem”. Embora haja, como em praticamente todos os filmes de faroeste, uma idealização do “cowboy das antiga”, que acaba se apoiando em um característico moralismo que define, de maneira simplória, o “mocinho” e o “vilão”, existe, nesse filme, uma construção bem interessante dos três grandes personagens principais, que, honestamente, convencem-me mesmo. E, tendo em vista de que falo de um filme da década de sessenta, quando, em minha talvez inocente opinião, as atuações dos atores tinham, sob a perspectiva dos dias de hoje, um estilo mais caricatural, isso é ainda mais impressionante.
De qualquer forma, fico feliz que a minha hesitação com certos gêneros seja abalada por exemplos concretos de bons filmes. Talvez isso seja o que realmente importa.
26 de outubro de 2021.
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Sobre Free Guy: Assumindo o controle. De Shawn Levy, 2021.
Eu deveria criar gêneros pessoais para colocar os filmes que assisto. Algo arbitrário e subjetivo, como os títulos que as pessoas, eu incluso, dão para as playlists que criam. Assim, eu poderia criar um gênero que abarcasse todos os filmes que me fizeram dormir no meio. Ou, quem sabe, um que enquadra todos aqueles filmes que eu assistiria na sessão da tarde, quando eu fosse pego desprevenido em uma tarde preguiçosa pela programação da TV aberta, mas que, no entanto, eu jamais cogitaria escolher quando estivesse realmente afim de assistir “alguma coisa”. Inclusive, acho que este gênero se adequa perfeitamente ao caso de “Free Guy: Assumindo o controle”.
É claro que muitos filmes se adequariam aos critérios desse mesmo gênero, afinal, se eu ficasse reassistindo os filmes que já vi, eu jamais teria oportunidade de assistir algo novo. Apesar de ser uma ideia atraente, renascer (o que solucionaria o problema desse ciclo hipotético) ainda é impossível, pelo que eu sei. De qualquer forma, há mais razões para que eu coloque “Free Guy: Assumindo o controle” nesse gênero.
Não se trata simplesmente de falta de momento oportuno para ver mais uma vez. Acontece que, na realidade, o longa de Levy não me evoca nada muito substancial do que insatisfação pelo desperdício de potencial, algo que, convenhamos, é quase tão comum quanto filmes medianos, o que “Free Guy: Assumindo o controle” é. Dizendo isso, até parece que eu tinha uma considerável expectativa com o filme, o que certamente não foi o caso, já que, desde o trailer, eu previa que muito possivelmente seria o que foi. No entanto, a oportunidade deve ser dada e a escolha deve ser feita, e assim se deu.
O que acontece é que, em meio ao padrão estadunidense de narrativa de filme comum que eu já esperava, “Free Guy: Assumindo o controle” aborda umas questões que, particularmente, acho muito interessantes, como realidade virtual, inteligência artificial e “o que é ser humano”. Mas o filme mistura superficialmente tudo isso com um pouco de caos e Ryan Reynolds, entregando, no fim, quase nada sobre os elementos que realmente me despertaram interesse genuíno. Se esses elementos não fossem abordados, talvez eu pudesse digerir o longa com muito menos preocupação, como faço e já fiz várias vezes, até porque o filme não é exatamente ruim, só me gera, agora, um profundo desinteresse.
20 de outubro de 2021.
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Sobre Os Sete Samurais. De Akira Kurosawa, 1954.
Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa, é um filme que eu certamente deveria ter assistido antes, quando, há uns anos atrás, eu tomei conhecimento de sua existência. Preocupado com o fato de se tratar de um filme antigo, japonês e em preto e branco, fui deixando para depois, até que o tempo se passasse e eu finalmente resolvesse dar uma chance ao longa que, embora eu nutrisse bastante curiosidade, posterguei por tanto tempo. Comento isso pois existem outros filmes na mesma situação que muito provavelmente acabarei lidando da mesmíssima forma, o que para mim é, podemos dizer, lamentável, já que, depois assistir o longa do Kurosawa e gostar tanto dele, antecipo esse mesmo sentimento de “que deveria ter assistido antes” com todos esses outros filmes que espero ansiosamente para assistir, mesmo que eu saiba que isso não vai acontecer tão cedo.
Apesar de eu achar que eu lido melhor com o estranhamento do que muita gente por aí, eu também sofro de hesitação quando me encontro perante algo diferente. Querendo ou não, existe, sim, a necessidade da alteridade nessas situações, e, se ela não vem de espontânea vontade, muitas vezes ela é provocada de forma arbitrária pelo próprio conteúdo, com a permissão ou não de quem assiste. E isso exige esforço, de forma que se torna cansativo algumas vezes realizar o simples ato de assistir um filme. Por isso, não julgo quem evita e fica no comodismo, a razão, talvez, por eu demorar tanto para assistir alguns filmes.
De qualquer maneira, procuro rejeitar esse comodismo. Por mais que eu também adie e evite o meu encontro com tantos filmes distintos, sinto-me feliz também por assistir coisas diferentes e experienciar perspectivas ou narrativas das quais eu não estou acostumado. De certa forma, essa é uma dimensão que a gente encontra em todos filmes, afinal, por mais parecido ou padronizado que um filme seja, sempre há, para o bem ou para o mal, certa identidade própria em cada um deles. O que acontece com os exemplos tidos como excêntricos, aqueles que nos fazem hesitar e refletir se vale a pena ou não começar a assistir por conta desse esforço adicional que colocamos no uso da alteridade, é apenas que estes quebram com muito mais facilidade as nossas expectativas e, em boa parte das vezes, oferecem-nos perspectivas, na medida do possível, “mais originais”.
É por buscar experienciar esse diferente, que, confesso, gosto bastante, que eu resolvi, enfim, assistir Os Sete Samurais. E, como eu disse, gostaria que eu tivesse assistido antes. Todas as minhas preocupações em relação ao filme que comentei anteriormente, o fato de ser antigo, japonês e em preto e branco, são pontos que, ao contrário do que supus, ressaltam o estilo próprio da obra de Kurosawa, saciando essa minha vontade de entrar em contato com o não convencional. Porém, não é apenas no contraste com o que eu usualmente mais assisto que eu me impressiono com Os Sete Samurais. Assim, não posso deixar de mencionar a excelência do enredo e da narrativa do longa de Kurosawa. Convenhamos, para encarar três horas de filme em uma madrugada sem perder a atenção, uma história muito bem contada se faz necessária. Quanto a isso, posso afirmar que estou muitíssimo satisfeito. E é dessa satisfação que tiro a motivação para desnutrir essa hesitação que tenho com outros filmes. Os Sete Samurais é aquele exemplo de filme que, não bastando me entreter por si só, faz-me querer assistir mais.
15 de outubro de 2021.

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Sobre Assalto ao Banco da Espanha. De Jaume Balagueró, 2021.
Narrativas que se baseiam na solução de uma tarefa impossível, ou em uma entendida assim, são normalmente cheias de gatilhos provocadores de aflição, ansiedade e tensão. "Assalto ao Banco da Espanha", de Jaume Balagueró, é uma dessas estórias. Nela temos um desafio que, apesar de não ser original, afinal, como o próprio título sugere, trata-se de um assalto a um banco, acaba conseguindo, com legitimidade, evocar em quem assiste essas mesmas emoções de maneira satisfatória.
Eu particularmente acredito que tal feito merece elogios pois, apesar da proposta do longa ser claramente muito pouco original e, portanto, um tanto quanto previsível, o filme ainda entrega um enredo que induz quem assiste a esperar pelo desenvolvimento e, em muitas das vezes, torcer para que uma determinada coisa aconteça ou deixe de acontecer, o que é uma coisa boa.
No entanto, como enfatizado antes, "Assalto ao Banco da Espanha" é, para mim, apenas mais um filme de "assalto ao banco" que não consegue se distinguir de outros longas similares. Não bastando ter uma problemática muito recorrente, todos os personagens da estória são estereótipos sem muita personalidade própria. Em vez de humanos palpáveis, temos tipos ideais.
Além disso, não gosto que me lembrem da Copa do Mundo de 2010, pois o meu primeiro choro genuíno como torcedor da seleção foi nessa época. Portanto, achei bastante inconveniente que a trama do filme esteja situada nesse momento.
Gracejo (ou não) à parte, "Assalto ao Banco da Espanha" é um filme que eu gostei, digamos, o suficiente para, caso eu me deparasse com ele na televisão, assistir tranquilamente uma segunda vez. Sua proposta, apesar de simples e conhecida, é executada de maneira adequada.
18 de Setembro de 2021.

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Sobre Homem-Aranha. De Sam Raimi, 2002.
Eu não lembro quando foi a primeira vez que assisti "Homem-Aranha", de Sam Raimi, e não pretendo, em busca de uma data aproximada do período, pensar muito sobre, até porque, sinceramente, a minha primeira impressão a respeito do longa pouco importa nesse caso. Digo isso pois "Homem-Aranha" é um daqueles poucos filmes dos quais eu assisti inúmeras vezes, muitas destas antes mesmo de eu completar os meus dez anos de idade.
A nostalgia, portanto, é algo que estará presente em qualquer comentário que eu eventualmente venha a fazer sobre o filme que me apresentou pela primeira vez o “amigo da vizinhança” mais bacana que, muito provavelmente, uma criança, como eu há um tempo, poderia conhecer. Nem procurarei suprimir esse sentimento que, confesso, faz-me um bem danado quando eu retorno, mesmo que não plena e concretamente, ao que havia de melhor em minha infância.
Apesar de achar que eu ainda não deixei de ser, ou ter dentro de mim, a criança que um dia já fui integralmente, o tempo passou e eu amadureci. A minha relação atual com “Homem-Aranha” certamente é diferente da que eu formei e tinha quando eu era mais novo. Hoje eu até mesmo tenho que lidar com a existência de mais de um “Aranha”, não só nos quadrinhos mas na própria dimensão cinematográfica também, o que, aliás, nunca foi, para mim, uma coisa ruim, sendo, na realidade, uma situação que sempre me deixou contente.
Acredito que a existência de diferentes “teiosos”, assim como seus respectivos “universos”, possibilitou-me lidar com diferentes lados e possibilidades do mesmo personagem que sempre fantasiei. Embora eu nunca tenha procurado dar o meu veredicto sobre qual dos Parker é o melhor, aquele que eu prefiro, sempre achei conveniente as inevitáveis comparações entre as diferentes versões que a existência múltipla do mesmo personagem possibilita e induz. É tendo em consideração a sombra das outras versões que é possível, pelo menos para mim, valorizar o que há de melhor no filme de Sam Raimi, embora, é claro, muito da qualidade de sua obra possa ser notada por ela mesma.
Uma das principais diferenças entre a versão de Raimi e as demais está no direcionamento da tensão pela qual Parker necessariamente deve passar. É nela que temos a melhor execução da moral “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades", que fundamenta boa parte da razão que leva o Homem-Aranha a ser o que ele é, como pensa e se comporta. É sob a perspectiva e o toque de Raimi que o Teioso expressa com maior intensidade a ameaça que sua vida de super-herói representa para aqueles que o cercam e ele ama. O dilema entre ser alguém normal e ser o Homem-Aranha é, sob Raimi, uma questão central.
De qualquer forma, nem só de moral se baseia a obra de Raimi, que também apresenta excelência em seus aspectos visuais. Quanto a isso, talvez a nostalgia esteja tomando as rédeas do que digo. No entanto, se me concedem a liberdade de usá-la, digo, com a provável aprovação das minhas variantes do futuro, que é sempre um prazer reassistir "Homem-Aranha". A mesma criança que se surpreendeu anos atrás ainda sente a adrenalina e a emoção que "Homem-Aranha", de Sam Raimi, procura transmitir.
Domingo, 29 de agosto de 2021.
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Sobre Retrato de uma jovem em chamas. De Céline Sciamma, 2019.
A decisão de assistir “Retrato de uma jovem em chamas”, de Céline Sciamma, não foi motivada por nenhum interesse específico. Eu não vi o trailer, e a breve olhada que dei na sinopse não me despertou qualquer tipo de curiosidade. Assim sendo, entrei em contato com o filme apenas tendo a noção de que muito provavelmente se tratava de um longa de romance, gênero que, há um bom tempo, eu não assistia e, portanto, obrigava-me a controlar as minhas inevitáveis expectativas.
Embora as mais simples delas tenham sido satisfeitas logo no início devido ao ótimo trabalho de direção de Sciamma, a progressão lenta que se verifica durante a primeira metade do filme, a princípio, gerou-me certa insatisfação, tendo em vista que a história não é composta por muitos personagens ou problemáticas diversas e complexas. No entanto, com a aproximação do ápice do enredo, essa insatisfação se dispersa e cede lugar ao contentamento. O que antes eu descrevi como progressão lenta servia, na verdade, como fundamento para que a relação entre as duas protagonistas, a real questão do filme, fosse transmitida posteriormente com impressionante intensidade.
Em “Retrato de uma jovem em chamas”, nós temos a representação de uma genuína paixão que, como toda paixão, carrega consigo a aflição da possibilidade de não se consumar plenamente. É mais um caso de amor proibido que, enquanto um, não desperdiça, durante o tempo que pode, oportunidade e intensidade para sentir e expressar aquilo que há de mais profundo no amor. E, sob a admirável perspectiva narrativa de Sciamma, pude sentir tudo isso e muito mais.
sexta-feira, 20 de agosto de 2021.
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Sobre O Poderoso Chefão. De Francis Ford Coppola, 1972.
“O Poderoso Chefão”, de Francis Ford Coppola, é o tipo de filme que eu certamente indicaria ao meu pai, alguém que aprecia com bom gosto ótimas histórias que envolvem mafiosos, seus problemas familiares e as inevitáveis demonstrações de violência e poder que normalmente compõem narrativas sobre gângsteres.
Depois de adiar por muito tempo, dei uma chance à criação de Coppola já sabendo de todo o prestígio que sua obra continha. Eu estava convencido, por conta dos elogios e das aprovações, de que se tratava de uma obra, no mínimo, singular. No fim, eu estava certo. O que eu não imaginava, motivo de tanto adiamento, é que eu eventualmente acabaria endossando, como faço agora, a sua qualidade.
Não foi preciso esperar o desenrolar do filme inteiro, que, por sinal, é relativamente longo, para constatar o valor do que eu assistia. Logo nos primeiros dez minutos, eu já estava dentro da história, sentindo, como se pertencesse à família de Don Corleone, como as coisas funcionavam no mundo da máfia. Tenho por mim que tamanha facilidade para me envolver diretamente na narrativa já é condição suficiente para afirmar o que digo.
No entanto, se existe a necessidade de dizer mais, destaco, tendo noção da limitação da minha descrição, que “O Poderoso Chefão”, além de possuir um enredo original e estimulante, conta com a presença de personagens extremamente marcantes, e tudo isso sob uma extraordinária trilha sonora que, por mais vergonhoso que seja registrar, fez-me sentir como um mafioso siciliano.
quarta-feira, 18 de agosto de 2021.
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Sobre 2021: uma odisseia no espaço. De Stanley Kubrick, 1968.
Assistir pela primeira vez "2001: uma odisseia no espaço", de Stanley Kubrick, foi para mim uma experiência singular. Iniciei o filme já sabendo que se tratava de uma obra muito cultuada por cinéfilos do mundo todo, o que me levou, confesso, a aumentar as expectativas que eu tinha em relação ao filme. Afinal, tendo tanto prestígio, ele certamente tinha um enorme potencial para me entregar algo interessante.
De certa forma, eu diria que as minhas expectativas foram satisfeitas, embora, devo dizer, apenas parcialmente. Digo isso não pensando na qualidade da obra, mas porque, tratando-se de um longa com tanta consideração, me surpreendi assistindo as mais de duas horas que "2001: uma odisseia no espaço" tem.
De fato, eu consigo entender as razões que levaram, e ainda levam, muita gente a gostar do filme. Primeiro, ele é visualmente magnífico. Confesso que, por ser um lançamento de 1968, fiquei receoso que o espaço não fosse, para os padrões atuais, ambientado adequadamente. Não foi o que aconteceu. Em minha opinião, este aspecto não só foi executado com perfeição, como se revelou uma das melhores representações que já vi. De qualquer maneira, o espaço não é o único ponto forte do visual, sendo possível, na obra de Kubrick, pontuar diversas outras excelências cinematográficas.
Segundo, a trama é realmente intrigante. Apesar da sucessão dos eventos significativos se dar de maneira relativamente lenta devido ao privilégio de tempo de tela que foi dado à contemplação da beleza do espaço sideral, o filme apresenta um desenvolvimento peculiar que acaba prendendo quem assiste até os estranhos últimos minutos de conteúdo.
No entanto, se eu não estiver enganado, toda intriga nasce destinada à extinção, ou pelo menos assim se espera. Não é isso que acontece no filme, que, em minha perspectiva, acaba não respondendo às principais perguntas que cria, seja as do início ou as do fim. Assim sendo, entendo que terminei a tão aclamada obra de Kubrick impressionado com o visual e seduzido pela trama, embora, sinceramente, sem saber a razão da existência da própria obra que assisti.
quarta-feira, 18 de agosto de 2021.

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