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O invisível me toca. Eu não o vejo. (Ainda) não o compreendo, mas sinto todos os dias. No aprofundar da respiração, no toque da água em minha pele no primeiro banho do dia, no esforço do corpo que sua e invoca o silêncio através do movimento.
Eu tinha medo. Ainda sinto às vezes, mas agora pareço aguardar, desejosa, a sua chegada lenta e intensa.
Mas o que é o invisível?
Que parte da infinita existência daquilo que não vemos vem me visitar? O que me falta para que eu sinta com mais consciência e clareza este toque celestial?
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Meu jardim
Me encontro nessa tarefa de imaginar como seria a forma material desse jardim que floresce dentro de mim.
Lhe digo que num é fácil quando ainda não se aprendeu o direito de enxergar e comunicar a beleza do que aqui cresceu.
Sei que tem flor, bicho, passarim, borboleta. Tem água e tem vento. E semente germinando na força do intento.
Qual é a cor dessas flores? Não sei... Porque é por demais abundante e diverso aquilo que em mim desperta o amor.
Mas sei que devo saber dizer. Porque essa indefinição parece que na verdade me escancara que não querer escolher revela a dúvida sobre a origem e o destino do nosso ser.
Pois então vamo: Nesse jardim tem margaridão, a flor de mel que dá o cheirinho doce pros bichim chegar. Amarela como o Sol, vem avisando que o alimento da vida lá do céu nunca para de jorrar. Junto dela tem todas essas árvores com flores de cores bem vivas: flamboyant, bouganville, jacarandá, ora pro nobis. Tudo enquanto! E nos seus galhos habitam os beija-flores, bem-te-vis, sanhaçus, periquitos e corrupiões.
Acho que nesse jardim tá faltando comida.
Pois então planto: frutas, ervas, raízes, legumes, grãos e sementes comestíveis. Se desse pra plantar um pé de chocolate, eu ia querer também!
Agora, depois de semear esse éden em minha mente, acho que entendi qual era o nutriente que estava ausente: a lealdade.
A firmeza de plantar e esperar crescer. A perseverança de não ficar o tempo todo imaginando a próxima paisagem a se conhecer.
Girar é bom também, mas já me angustia essa inquietude de um coração que pensa a lugar nenhum pertencer.
Pertenço sim, e já encontrei sete gerações pra trás, de onde eu vim.
Num quero mais deixar vaso com galho seco do que foi plantado mas não regado.
Toda e qualquer pessoa do mundo pode te abandonar, mas a mata... essa nunca. E pra ter certeza disso é só olhar pro chão, é quem tá todo dia sustentando o teu pisão.
Já fez carinho no chão hoje?
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"O brilho do sol, do lado de dentro da gente, se chama sonho"
Pois num é que calhei de nascer logo na terra do Sol? A quintura é torando em cima da cabeça e os raios chegam tinindo na pele da cidadã que é capaz que até do próprio nome se esqueça.
Esse mesmo Sol que às vezes aguneia e aperreia é o que alimenta e desbloqueia a energia necessária pra costurar essa teia.
E você num creia que são os mesmos elementos desse Sol o que corre em minhas veias?
Mas mais do que o calor, o que me aguneia mesmo é a figura que sonha se lamentando, que antes de analisar a viabilidade de seu desejo já vem chorando dizendo de tudo que é difícil, pesado, impossível, distante sem tá nem ao menos tentando.
Olhe, primeira vez que vi meu mestre, lhe falei: "Eu queria treinar capoeira". No que ele me respondeu: "Você queria, num quer mais não?" Pois desde esse dia, é uma concentração danada no pensamento pra num escorregar nessa mania de já levar pro passado o que nem teve tempo de se manifestar no presente dia.
A gente tem que aprender a sonhar e parar de limitar os nossos sonhos à dimensão da utopia. Porque num tem a menor serventia a gente limitar o nosso querer a uma inalcançável valentia.
Tu quer mais valente do que a mulher e o homem desse sertão que a despeito da sem vergonhice do governo e do patrão num abre mão de cultivar o carinho e a pertença ao seu chão? Pra que maior coragem do que a dessa gente que um dia acorda com um caminhão em sua frente chegando sem aviso pra derrubar casa e gente, prometendo que vai fazer obra pra controlar enchente, passando por cima de tudo que é vivente, e no fim a gente sabe que o resultado só deixa a gente é descontente?
Coisa que estraga o nosso sonho é o "quando". A outra é o "se". "Quando eu tiver". "Se eu fosse".
Essas duas palavrinhas são o que te afastam do que tu quer. Porque o "quando" é infinito e o "se" já aniquila a possibilidade de ser verdade a tua miragem.
Abre a janela e deixa o brilho do Sol de fora iluminar o Sol de dentro. Alimentar com esse calor gostoso a força do teu intento.
E não se avexe: mesmo quando parece que tá escuro, uma certeza a gente tem: que o Sol sempre nasce no dia seguinte. E igual no céu, a gente faz do lado de dentro quando sonha: Amanhece.
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Quando me senti aceita
Eu sempre me senti um peixe fora do ninho. É errado assim mesmo que quero dizer, que é pra gente aceitar de vez que existe muito mais do que o certo e errado que a gente crê. Se deixar de besteira tu vai ver muito mais claro por onde é o caminho.
Eu não me sentia aceita e por isso não conseguia me abrir. Mas como é que eu ia ser aceita se a abertura verdadeira de meu coração tu num conseguia sentir? Com tanta insegurança, como é que eu ia te convencer que eu sou feliz assim?
Foi aí que eu compreendi que muito mais responsabilidade eu tinha de expressar com firmeza pra ti quem eu sou e pra onde quero ir. Que é pra num dar espaço pra aquele tipo de questionamento que é muito mais destrutivo do que construtivo e põe abaixo todo nosso poder criativo.
Pois só agora depois de muita peleja - que nós sabe muito bem que é só o começo - tô entendo que é só se expressando que as almas vão se encontrando. E aceitando as diferenças, botando fé nas potências, entendendo a variação das frequências, e espalhando um monte de bem querença.
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Não sou mais criança
Nem faz muito tempo que nasci. Mas vez em quando me pego lamentando o tempo que passa e me faz achar que tô me atrasando. Fico me comparando com gente até mais nova do que eu, que parece que no caminho nem se perdeu. Outras vezes eu mesma me dou sermão pra deixar de ser abestada e aprender a prestar atenção. Sou nova, mas num sou mais criança. Vou riscando na parede todas as experiências e conquistas que me vêm na lembrança. Me formei, escrevi um livro, andei um monte de sertão, dei palestra e até mestre virei com uma dissertação. Assinei carteira, fiz hora extra e aprendi o que é direito e obrigação. Perdi o emprego, fiquei sem salário, e só pra rimar, sofri na mão de um presidente salafrário. Não sou mais criança. Tenho minha própria casa, pago meus boletos e até cachorro cuido. Mas tem uma coisa que eu num quero nunca deixar de ser criança. É esse encantamento abestalhado pela vida, a teimosia de inventar palavra, imaginar floresta encantada. Sonhar, inventar, pular e gritar. O saldo na conta do banco me diz: Tu num é mais criança. Mas lá dentro tem um passarim que canta assim: Se quero ir longe, nunca deixar morrer a criança em mim.
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Eu num sei como é possível traduzir em palavra esse negócio que atravessa tão fundo a alma e o corpo. Só sei que equilibra dentro de mim água, vento, terra e fogo. E alinha de novo tudo aquilo que parecia torto.
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A mulher consciente de estar no colo da Grande Mãe aceita com humildade e nobreza a sua pequenina natureza. Por sua sabedoria diante dos ensinamentos divinos, é presenteada com abundância e fertilidade.
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Inauguro neste noite O meu saber de versar. O que acho, na verdade É que o verso é que me sabe. Por isso tomou seu tempo Para até aqui chegar.
E o que é que o verso me diz? O que é que me diz o verso? Desta feita, escuto Para me entender completa. Foi então que assim eu disse E nem falar precisei.
Cheguei por caminho da boca Que antes passa ao coração. Em todo o meu percurso Escorreguei, mas caí não.
Agora acho que sei Onde encontro meu quinhão.
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Ruminante
Pois te digo: se pudesse vir pra terra em forma de animal, jamais escolheria a vaca. Mas dia desse me pus a pensar ser parecida com ela, uma vez que chego a ruminar o mesmo assunto por tanto tempo, que só pode ser de muita nutrição o esterco produzido por esse processamento lento e minucioso. Como sou bicho nascido em cidade, nunca fiquei muito tempo do lado duma vaca vendo ela ruminar a comida. Mas estou há quase 3 décadas comigo, assistindo as coisas girando, retornando insistentemente pra dentro de mim. Acho até que nem é mais possível conceber algo que só fique do lado de fora, seja antes de entrar ou antes de sair. A merda é muita, mas assim como a da vaca, me aduba. Ainda me vejo tao ignorante pra riqueza nutricional de toda essa merda. Me afeta o mau cheiro e o cansaço de tanta mastigação. Ainda sou bezerro... Mas, bem, dizia que sou ruminante. Mastigo, engulo, elimino. Mastigo, engulo, elimino. Será mesmo que elimino? Quanto espaço em mim ocupa o fétido apego ao sofrimento? Ruminando, estou conseguindo aproveitar a máxima absorção de nutrientes ou obstruindo caminho ao alimento renovador? Não consigo saber... Ruminar é bom ou ruim? Afinal, não sou uma vaca. Do que se trata essa insistência nas lamentações repetidas? Sim, me sinto como bezerro, a versão infantil e imatura deste ser que, com tanta sabedoria, se alimenta tantas vezes da mesma matéria, evitando qualquer desperdício e ainda presenteando o mundo com sua merda fértil. O bezerro ainda está aprendendo. Eu não aprendi. Será? Talvez só esteja no meio do caminho, entre o sem fim de mordidas que trituram o alimento... Onde chegarei?
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O amor da terra nutre a minha alma
Com os pés no chão de areia me sinto como um ponto no infinito. Sob mim, incontáveis grãos microscópicos de diversas cores, tamanhos e formas, que meu olho capta apenas como um manto arenoso homogêneo.
Meus sentidos limitadamente humanos não são capazes de alcançar nem o infinito nem o ínfimo. Com meus olhos, não consigo ver os gigantes astros pairando no universo nem a real dimensão e forma de um grão de areia. Com os meus ouvidos, não sou capaz de escutar os sons simultâneos da floresta. Com meu olfato, não capturo todos os seus odores. Meus sentidos não são capazes, ou é meu cérebro que não processa a tempo?
Talvez o meu corpo não alcance, mas a minha alma flutua leve no meio de tudo. Passeia por cheiros, sabores, texturas, desfrutando da diversidade de sensações, conhecendo o bom e o ruim, o gostoso e o desagradável, e passando por cada experiência com mais velocidade do que o meu corpo é capaz de processar.
O amor da terra nutre a minha alma. Essas vitaminas chegam na forma de luz do sol, de textura de fruta, de força de tronco, de fluidez de água, de toque do vento, de canto de passarinho. Nutrientes pro corpo e pra alma que se expande, cresce, amadurece... Através de um enraizamento, de uma sustentação forte porque bebe de todas essas fontes múltiplas e disponíveis para todos. Que devo eu retribuir a esta nutrição?
Nos ecossistemas, a matéria e a energia fluem entre seus elementos. Não seria equilibrado, então, que eu apenas recebesse essa nutrição da terra. Como eu nutro a terra? O que tenho para oferecer? Que nutrientes tenho em mim? Que vitaminas possuo pra dar? A minha oferta é nutritiva, fortalecedora, regeneradora?
Eu e a terra nos nutrindo mutuamente, num círculo dentro de um círculo sem começo e sem fim.
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Tataravó
Faz tempo, filha... que eu te chamo... Minha voz já quase não sai mais. Por isso eu escrevo. Mas eu vejo que as letras também começam a ficar confusas. Já não tinha mais como gritar por ti... Porque faz muito tempo que você me ignora. É por isso que você tá tão ansiosa. Porque eu tô te chamando. E eu tive que chamar todas essas pessoas pra chamar tua atenção, e agora elas pesam sobre as tuas costas. Simplesmente porque você é teimosa. Teimosa... De onde vem essa teimosia?
Agora que você me escuta, eu posso deitar... Eu posso falar baixo... Eu não preciso mais gritar. Mas meu coração ainda acelera, porque é tanta tanta tanta, tanta coisa que eu preciso te dizer. Que eu não sei por onde começar. Mas eu preciso fazer esse corpo respirar... porque se você não respira, eu não consigo falar e trazer todas as mensagens de tanto tempo atrás.
Sim... Sim, eu sou ela. Eu sou essa outra também. Eu sou elas. Eu preciso respirar muito, muito ar, porque todas elas sufocaram, sucumbiram. E faz muito tempo que eu grito... E você me escutou agora, minha filha. Graças a deus. Eu precisei caminhar muito. Tanto... Por isso eu tô fraca, com fome, porque eu caminhei muito sobre terra arrasada... Terra arrasada. Eu arrasei o seu útero pra que você me olhasse.
Você é dessas que precisa ferir a pele do cavalo lá no fundo pra que ele grite, relinche, dê coice. Porque faz muito tempo que eu grito... Agora eu só sussurro. Porque não tenho mais força... Mas graças a deus você me ouviu. Chegou finalmente o momento que eu vou conseguir passar as mensagens pra alguém continuar o meu calvário...
Não precisa mais ser calvário, Vó. Não precisa... Essa história de calvário já passou. O sacrifício já foi feito, não é eterno... Agora quem pede passagem é o Amor. O Amor, vó... Ele existe. Ele é lindo. E ele não se enraivece. Ele aceita e segue o seu caminho quando lhe fazem mal... Mas ele não se enraivece. Porque é isso o que acontece quando o amor se enraivece: ele some, ele vira grosseiro, entende? E é difícil de entender o grosseiro.
A alma não tem pressa. A alma tem muitos vazios. Muitos silêncios... Porque ela é eterna. Não tem pressa. Não tem hoje, amanha, depois. Não tem relógio. Não tem boleto... A tua alma não tem boleto, filha... Mas o teu corpo tem. Mas eu to gritando há tanto tempo. Você precisa me ouvir. E pra honrar o boleto do teu corpo, filha, você precisa entender o tempo que é necessário aqui. É daqui que você vai tirar o valor do seu trabalho, da sua existência. Não se diminua, filha. Você é diferente, sim. Você é diferente. Mas não é porque você é menor. Não... Você é diferente porque você escutou. Nesse aqui e agora, tem muitas outras gritando como eu. E quem elas chamam não vai ouvir... porque não é hora. Talvez na próxima geração, ou na seguinte... A surdez é muito maior, filha... A surdez do mundo é muito maior do que aquela de onde você veio. Eu te mostrei a surdez pra que você aprendesse a ouvir. Pra que você me escutasse.
Faz tempo que eu falo... Faz tempo que eu ajo... Na esperança de te encontrar. Eu sabia que estava chegando a hora. É o espírito que cria a matéria, filha. É o espírito que cria a matéria.. Se você ficar muito na matéria você vai ficar ansiosa como você tava. Ainda bem que você me ouviu, mas você é muito teimosa... É preciso tanto pra que você me ouça. É o espírito que cria a matéria. Não é a matéria que alimenta o espírito. A matéria honra o espírito. Mas a matéria não cria o espírito. Você já tem tudo o que precisa pra escutar o espírito... Você já sabe o caminho. Confia! Confia, filha... Confia porque sou eu que to te dizendo, entende? O caminho já tá aberto, eu já abri ele há muito tempo... Só que tá tão seco. Eu preciso que você molhe. Confia no caminho porque ele já tá aberto. Você já tá vendo. Olha só.... Que sorte, que privilegio. O caminho já tá aberto, filha, basta você olhar. Basta você molhar. Basta você parar de ser teimosa... Não precisa abrir outro caminho. Deixa a mata fechada... A gente precisa da mata fechada também, filha. Vem por esse caminho aqui, ó... Mesmo que seja pra descobrir que não é o teu... Porque é isso que você vai descobrir. Que é um caminho bonito, antigo, que vale a pena caminhar porque ele é teu também. Porque ele te foi dado, presenteado por mim que vim antes. Eu to soprando, filha... to soprando pra você me sentir. Porque é aí onde eu me manifesto. Eu tô aqui... Eu preciso que você venha por esse caminho pra molhar ele pra mim, entendeu? Porque eu não tenho mais como... Se você não molhar, eu vou desaparecer de vez. E eu não posso desaparecer ainda, porque eu ainda preciso te contar tudo... Eu tô há séculos te esperando, filha. Porque eu sabia que você vinha. Vó... Vó? Vó... Vóó... Como foi que você abriu o caminho? Como é que eu abro o meu? Eu pareço mais cansada do que você, vó. Mas é porque eu ainda tô trabalhando. Você já tá descansando. Descansa... descansa que a gente tá aqui... continuando o trabalho. Vó?
Eu preciso ir, filha...
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