bananabanal
1 post
Don't wanna be here? Send us removal request.
Text
Banana Banal.
Alx.
1.
A chuva era uma conversa de vento. O chão
foi ficção, sepultura
para as vértebras do sapato.
Cresceu capim no casaco da flor.
Eu fiquei por fora
do encontro dos retângulos,
com meu pacote de bocejos
e rimas sem rumo.
Eu era o resumo
das entranhas,
maquinaria estranha
sob o trânsito dos astros.
A noite fechada
no cofre dos quadríceps
onde o poema descansava
como lagarto.
2.
Então você passou
e eu pulei
das pernas e cai
no buraco das palavras.
Eu vi
com o chumbo dos olhos,
os cílios, as frases
piscando lilases.
Fiquei doente
das tripas o coração ficou quente
até perder o passarinho da voz,
engolir as montanhas da garganta.
Virou tudo
farinha fóssil, o dia
diagonal e a fria
geografia.
O mármore do mar
virou
pó
de poesia.
3.
Meu endereço onde o silêncio
opera seus tratores, erguendo
volumes no chão do violão, paredes
dentro da lâmpada.
Como um bicho inventado pelo sol,
preso ao cadeado dos domingos,
cansado de mim, de sorrir
nessa caveira, eu sigo
sendo o meu próprio inimigo,
mordendo as correntes do poema
que esperou um milhão de anos
para ser escrito.
4.
O nada
é insuperável.
O peso se levanta
e o vazio
vaza
antes das palavras, antes
que pudéssemos inventar
o inevitável ou mover
os dínamos na sombra azul
dos azulejos.
5.
Fui um peixe
fora da palavra.
Salvei o dia
num feixe de luz.
O dia era o diabo,
era o diabo na cruz.
Fiquei na fila
do contrafilé, atônito
com a disparada no preço dos tomates.
Eu pagava as contas
e segurava as pontas.
Um fio de fumaça
e eu assoprava o fogo
na madeira do rosto. Acordava
sem dormir, trancado
nos tijolos da barba.
As pessoas pareciam poemas
e eu não tinha tempo.
A morte me queria.
6.
Minha sina
era a sua vagina. Só você
me desinfectava. Somente
tua presença
roxa, somente
tua coxa.
A madrugada
era a minha
jangada, meu
colchão.
O amor
era uma arma,
uma armadura,
uma armadilha.
O amor
foi nosso caixão.
Só morrerei
para você.
7.
Junto
ao meu defunto, adjunto
à lama dos halos
e hologramas.
O quadrado da lua
empilhando fótons,
entupindo os tubos da retina
com a massa extinta
pelo plástico solar.
Eu pertenci ao espaço,
terminarei inacabado.
Nunca mais vou parar
de cair.
8.
Eu nunca soube inventar
uma estrela pendurada
como brincos. Só sofri
o suficiente.
Eu não cabia
no escuro.
Continuei até
o nada interminável.
Até o invisível
desaparecer.
Minha ignorância
era toda a imensidão.
Acumulava
incertezas e desassossegos
desnecessários.
Então chegou o tempo
de te encontrar.
9.
Teu olho
abre a boca. O sol bate
na perna da formiga.
Você me chama
e eu viro areia.
Tua voz de sereia
abrindo galerias, túneis
no tom, no estralo
da garganta, tragando
estrelas na respiração.
Pulando entre um pensamento
e outro, emitindo pulsos, impulsos
elétricos, (Guitarras para dormir,
cigarros para tossir.) dobrando
faíscas na unha.
10.
A lua era um helicóptero girando
hélices, hemisférios, esferas,
átomos na atmosfera.
Imagens na imaginação.
1.999.
Que foi my love?
A madrugada ficava aberta
na cartilha dos cometas.
Você conspirava com distâncias,
com ímãs na sombra,
com poemas de gaveta.
As palavras
sem as travas
dos trovões.
Eu te acordava
dentro de um sonho.
11.
Deixei meu coração
sobre a tábua de carnes
e me fechei na jaula do teu rosto
com meu diabo dentro.
Fiz ninhos
no aquário do nariz,
um caderno de areia
para o vento ler
as letras do teu queixo.
Venci a treva
com sorrisos.
A casa inteira fiz caber
numa sacola.
Aranhas saltavam,
vermelhas,
pelas catacumbas
das orelhas.
Você era o meu açougue
com poemas pendurados.
O peso metálico de uma lâmina
enterrada na costela.
12.
Planeta de anéis.
Onde o sol expulsa
cascavéis.
A febre de um olho
aberto na faca.
Nada sobra
que não seja
processado
pelo vento.
A lua estica
o limiar
da dor, aumenta
o tamanho
da gota.
Levanta
a noite
com morcegos.
13.
Foi por amor,
minha banana banal,
meu motor mortal,
meu invento de ser feliz ao lado dela
onde o universo se esfacela
no verniz das aparências.
Teu corpo era uma cela
onde eu conquistava
impérios. O poema falava
pela vala da língua.
14.
Ela foi
a minha última distância,
minha saudade
intransponível.
Minha sarna
de amor e bolor,
meu pensamento
impuro, o passado
do meu futuro.
15.
O dia começava
no sol do cigarro.
Teu nome pesando
como volume inerte
sobre o plasma das palavras.
Enquanto o universo acontecia
(e a louça na pia
aumentava a entropia),
eu estudava o quadrado
de tua desaparição.
Sempre compreendi a morte
como um exercício de existir.
Sempre tropecei
nos pensamentos.
16.
Árvores
avançam
andorinhas.
Passam
pássaros, passam
nuvens
de algodão.
Pela praia
os hematomas
caídos
acumulam o sangue
onde as gaivotas bebem.
O mar e seu martelo
na construção
do ar. O sol
e seu vitral de ouro
sobre o couro
das cabeças,
jogando areia
no abstrato.
17.
Eu tinha pressa para o travesseiro.
Tudo era feito de açúcar
e meu cadáver não tinha fim.
Nada garantia
a fidelidade das imagens.
Eu respirava
por aparelhos, arrastando
correntes no meu olho fundo.
Não havia espaço em mim o suficiente
onde montar o poliedro dos dentes.
Eu calculava distâncias
até o centro de gravidade mais próximo
onde finalmente eu poderia arrancar a cabeça
desse monstro que me pensa
desde a pré-história.
18.
Comigo fui
o mais cruel.
Domingo
não tinha céu.
A noite
não dormia.
Eu seguia juntando
meus braços
e pedaços, distraído
com os demônios
do teu batom.
A barba crescia
como planta.
Ficaram dançando
atrás de mim
teus esqueletos de memória.
19.
Desde 1.666.
Desde o tempo em que éramos
dois golfinhos.
As montanhas
empurrando
as escamas
da neblina. O mar
e seu pomar
de espuma.
A vela da lua
respirando
insetos. O sol
e sua caravela
amarela, abrindo
janelas no céu
da boca, portas
para o nome
das flores.
20.
O ovo da lua
não desaparece.
Havia um tigre rondando
os números do teu nome,
esperando na agulha
do eclipse.
Eu te adorava
com o ouro dos olhos.
A metáfora metálica
era fluído de flores,
teorias de teu movimento
e fotografia.
Mesmo o teu gesto mais insignificante
eu tomava como chão
onde o poema pisa.
Teu seio foi a máquina viva
dos meus devaneios.
Onde a aurora jorrava
leite, num espiral
de gradientes.
A caverna secreta do poeta.
21.
Esperei o suficiente.
A realidade era rara,
difícil de alcançar.
Real era também
o que não acontecia.
A manhã foi meu campo
de ímãs. Átomos à toa,
girando como girinos
na lagoa, no embrião
da gíria.
Eu preservando
a coerência
dos pronomes,
a lógica
de uma língua
colada
nos ouvidos
de um óvulo.
22.
Fechada a cortina da noite
vem o silêncio de uma cidade
emprestada pelas montanhas.
O mar vai penteando
os cabelos da pedra,
dividindo corredores
no pulmão de um passarinho.
A paisagem fica espremida
na esponja dos olhos,
a lua congelada
na sombra torta.
Não há como
melhorar a morte,
tirar a trava da palavra
ou desaparecer
num imprevisto em chamas.
As ondas batem apertando
o alicate do meu peito.
23.
A esfera
se repete
onde tudo
se derrete.
Melhor
dois pássaros voando
e nenhum na mão.
Antes sol
do que mal acompanhado.
A vida é curta
mas a morte
é larga.
Escape pelo becape.
A vala nos iguala.
Nada ensina mais
que a escuridão profunda.
Não tem mistério.
O planeta nos afunda
em seu grande cemitério.
A cova é a prova.
Nada que uma bunda
não distraia
esse desastre iminente,
essa chuva persistente.
24.
Meu vício funcional,
ser útil
no fútil, patético,
como qualquer mortal,
girando na espiral,
aos trancos e barrancos,
Explicado pelo vórtice
dos nervos.
Ando
me levando
nas costas, trazendo
o vazio para perto
da vista.
25.
Eu te desejava matematicamente.
Não sabia sepultar teu rosto
nem vestir palavras com roupas de frio.
Não te enterrei o suficiente.
Colinas em colisão,
cólica de colibris,
coliformes colados
ao colapso
do pêndulo dos eventos
como tesoura nos olhos.
26.
A manhã é
tosca, cheia
de moscas.
A noite é
longa, ceia
dos pernilongos.
27.
A cada passo
uma estrela explode.
O nada se acumula
esquecido de acontecer.
Nenhum gesto ou movimento
acrescentaria dimensão
ao vácuo da caveira.
Morrer se resolve.
28.
Beijando cigarros, riscando
os últimos fósforos.
Não percebo, vejo e não faço
juízo.
Trabalho o ovo
tudo de novo.
Todo o sêmen e semântica
da mecânica quântica.
Tudo jorrando do sol
e contornando a córnea.
Os grãos
de realidade.
As gotas
de sede.
29.
Palavras,
meu lar
entre as larvas.
As mesmas
lesmas
da primeira
primavera.
Seus inúmeros
números.
O absurdo
absoluto
com seus olhos
e miolos.
Com violentas
violetas.
E uma escada
para cada
cadáver.
30.
Tão linda
ela por aqui
nos calcanhares do planeta.
Entre cambalhotas e
piruetas,
pendurando
pendulicários, fazendo
peri
pécias
perfeitas, rodando no roda
pé, com o tra
pézio do
pé.
Colorida com colares,
balançando seus balangandãs
e toda a lã
do pescoço.
31.
O preto e branco do sol.
Tua calda
de probabilidades
escapando
do núcleo. Satélites
sobre a catástrofe.
A distância
perde sentido
no comprimento
dos segundos,
inventa teus cabelos,
degraus entre os dedos
até a cachoeira onde caem
tuas sobrancelhas.
32.
Eu não tenho alma.
Só conheço a palma
de minha mão.
Minha aventura
é o caminho da sepultura,
minha cara no chão.
Por isso não insisto.
Entre o agora e o hoje
apenas me assisto.
Não há nada
que eu mereça. Esqueço
o endereço
da cabeça e finjo
que enlouqueço.
33.
Eu fico nas salas de espera
do rosto,
entre o zumbido dos zumbis, medindo
os laços da respiração.
A realidade
se rasga
ao meio, não se enxerga mais
com os olhos. É mais real
do que o real.
Impossíveis
geometrias. Arestas
e quinas
ficam coladas
no tecido do cérebro,
em túneis de identificação.
No segundo sólido.
Músicas
de encolher o mundo. Coisas
sem nome, antes
inseparáveis, agora usadas
como técnica de esquecimento.
34.
Meu brinquedo de premissas.
A ideia era aprender a perder,
a perder identidade.
Atravessar o tempo
sem sentir a casca,
o mal estar das dimensões.
Ficar maciço por dentro
até não poder mais
cair em si mesmo.
A princípio morrer
não tinha princípios.
Ser não tinha fundo
ou fundamento.
35.
Eu sempre sou
o parasita que me cogita.
Meu futuro
é um holograma cósmico.
O tempo passou
levando cruzes
e compromissos.
O tempo passou
em segredo.
Na triagem dos instantes,
passado e futuro viram asas
de um mesmo passarinho.
36.
Pequenas borboletas pousando
no aeroporto da flor.
Do outro lado do sol
o caracol é uma ponte
entre as galáxias.
Nuvens de bolso.
Sustos. Sustos
parecidos com soluços.
Sustos como solução.
Um trem de átomos
em desequilíbrio.
A planta passa fax
com suas cifras
para a chuva.
37.
Ela abria vagas na fumaça do cigarro
preparando os canhões para a febre.
Apontava seu revólver na cabeça da flor
e depois se arrependia com desculpas esfarrapadas.
Me acordava com tapas na cara, me puxando
pelos cabelos até o centro dos compromissos.
Eu me trancava com triângulos e cadeados,
desviando de seus tiros, de sua tirania.
Meu silêncio foi legítima defesa
perante a violência de seu mundo imaginário.
38.
Aqui é
Guantánamo.
Eu não amo.
Aqui é
a Faixa de Gaza.
Eu não gozo.
39.
Somos
nossos
cromossomos.
Humano
vira
húmus.
Só vemos
pelo avesso,
com o gesso
da visão.
Somente
a miniatura
do minuto.
Somente
o oco
dos equívocos.
Somente
nosso
ventríloquo.
40.
Eu adorava o seu lado negro,
seu jeito de ser menos.
- Passa o bong King Kong.
Ela era
uma metralhadora de probabilidades.
Meu aquário quântico. Toda cheia
de lua cheia. Cheia de rendas
e lingeries. Abrindo fendas
com seus lábios de chocolate.
Duplicando as cópias da boca.
Costurando meu vudu com vetores,
com a linha da língua.
A realidade secava
enquanto ela passava
alinhando os tijolos dos quadris.
41.
Ela escolhia o vestido
pelos caminhos da cintura.
Sua voz tomava distância
com passos azuis.
Ia andando pela casa,
levando sua nuvem
com grandes quantidades
de vazio.
Ela sofria
toda a miséria do mundo,
chupando o meu câncer
até a perda do controle motor.
O sutiã dividindo
o meridiano do seio,
partia a manhã
ao meio.
42.
Só morto
eu me comporto.
A morte
é o meu porto
seguro, a porta
aberta
no escuro.
Somente
torto
eu faço a festa,
eu pulo
o muro.
Não ser
é o que me resta.
O estado
puro.
43.
No mais,
menos.
O horror
das coisas mesmas,
das coisas entre coisas.
Todas as forças
para mover
um grão
e a eternidade se dobrar
sem horizontes.
44.
Então
ela me iça,
desse fosso,
dessa areia
movediça,
todo o osso
e preguiça,
a treva
do travesseiro,
a matéria
maciça
do meu sono,
ela me leva
a miséria,
me tira
o abandono,
a bactéria,
me vira
a carniça,
me quebra
a clavícula,
me parte
em partículas,
ela me gira
no sol
com seu carrossel,
no céu
com seu girassol,
todo o mel,
a melancolia
dos meus planos,
a agonia
dos meus enganos,
meu manual
de marés,
meu menu
de minuanos.
45.
Um poema levava
tempo, o tempo
do mundo. Em seus atalhos
foram anos de trabalho.
Apertar suas porcas
e parafusos, doar silêncio
ao incêndio da voz.
Levava tempo sustentá-lo
no vazio, como uma bolha
prestes a explodir
seus números em pânico.
Livrá-lo de toda lógica utilitária,
do caminho das reminiscências.
Custava desamarrá-lo do nada,
sem para-choques,
paraquedas,
paraísos,
parasitas.
Sem sobras
ou sombra de dúvidas.
46.
Nuvens de pé
sob os telhados.
Ela me acena
de longe e pulam
os elétrons do meu coração.
Seu cabelo vai até
a linha da cintura
e depois faz uma curva,
como uma onda subindo as grades
da gravidade.
As pernas não acabam
no veludo do vestido.
Quando cruzadas viram contrapesos
amarrados ao silêncio.
Não há movimento
na molécula da palavra.
Ela sorri
com o esboço da boca
enquanto passa com sua bicicleta
em direção ao apocalipse.
47.
Poeta vagabundo.
Poesia não tem fundo.
Poema moribundo.
Poeta chinfrim.
Poesia não tem fim.
Poema ruim.
Poeta de araque.
Poesia não é boutique.
Poema chique.
Poeta tosco.
Poesia não é convosco.
Poema fosco.
48.
Dia desses
quase, quase
um Quasar.
O ar não
respirava,
o sono não
acordava.
A vala
abrindo as mandalas
no meio da sala.
Fósseis na fala.
Fragmentos de frases
na fratura do fractal.
Por pouco
eu não vi
a estrela perto
do oco.
49.
Foram os poemas, meu amor.
Eles brotavam do meu coração
partido ao meio como fruta
onde os passarinhos bicavam
as células do sol.
50.
O espaço não se repete.
Quebrada a simetria
o quartzo vibra
na gelatina dos olhos.
O dia diagrama seus dramas.
Cresce mato na monotonia
quando a nuvem se derrama
nos gomos da grama.
O cobre do sol
descobre o girassol.
A cobra da lua
na dobra da rua.
51.
Ex-eu,
morto e enterrado,
porque tudo é inútil.
O osso agora
é alvoroço em decomposição,
oásis galáctico dos vertebrados,
algazarra mineral
para os vermes liberados
até o centro do estômago.
Morrer é coisa
séria. Há caminhos
nos esgotos da costela, passarelas
na medula. A carga nula
avança
sobre si mesma.
52.
Contra o exército do mundo.
Criando um plano-piloto
para as coisas imagéticas,
domos no céu da boca.
Tirando meus cavalinhos da chuva.
Eu me aborreço facilmente,
é meu modus operanti.
As impossibilidades me cercam.
Uma arrogância impertinente
não me deixa amar.
As sombras não desviam
o caminho das formigas.
O acaso vira necessidade,
cataclismos de brinquedo.
Esquecer desacontece.
53.
Tem um oco
que circunda,
tem um laço.
Pouco a pouco
o pensamento
afunda, o vento
funda o tempo
espaço. Eu passo,
fui feito
de tocos,
com o cimento
dos loucos.
É meu único
universo,
meu último
verso
tecido nas teias
da testa.
É o meu tédio
terminal. Tétano
pingando
do teto. Um caracol
levando o farol
da tempestade.
54.
Pelos pelos,
pela pele,
na malha
dos cabelos,
na falha
das tranças,
na calha
onde caio
em teu colo
de criança.
Onde a realidade
se recolhe
nos restos
da respiração
e o pensamento
faz um risco
no disco
do vento.
Lá vem ela
atravessando
paredes,
levantando
a âncora
do pescoço,
anunciando
as últimas notícias
do fim do universo.
Seu jeito de falar
quase enterrando
as palavras, dá curtos
no circuito da voz,
enquanto abre os grãos
no grau da letra.
Tudo cai constantemente
enquanto ela revela
novos modos
de ser,
novos moldes
para a dobradura
das pernas.
55.
Do nada, o DNA. Um ovo
de OVNI. Pilares
de poemas e sistemas
solares. Ondas
nas ilhas das orelhas,
ondas vermelhas,
acumulando curvas,
cristais no gritos
da metáfora.
O conteúdo do universo
na dimensão mínima
de um olho. Versos
sem mar ou margaridas.
Inventário de feridas.
O laser do ser.
Meu buquê de nervos
e lombrigas carregado
pelas formigas.
56.
A idéia do vôo.
(A palavra mais bela
fez vaca amarela
e cagou na panela.)
O voo da ideia.
57.
Fernando Pessoas. Ferreira Singullar. Murilo Mentes. Astro
Alves. Cecilha Meireles. Leminskaratê. Jorge de Rima. Os sapatos
de Drummond. Quanto de Kant? Atchim! Nietzsche. Wally
Salomão, as asas do cão. Seu ofício, a fábrica de Fabrício. Lêdo
Ivo lendo o livro. Moacir Felixcidade. Thommas SuperMan. O
mínimo Marximo. Helena Colori. Manual de Barros. Arbusto dos
Anjos. João Guimarães e Rosas. O Machado de Assis. Alexei,
Bueno. Buk-osw-ski? Roberto Viva. Cabeça de Queiroz. Feérico
Veríssimo. Miguel, chances de um soneto?
58.
Lâminas de prata
nos omoplatas das batatas.
Misturas de sal
e salsa, bolas
de cebolas, pedaços
do olho
do repolho.
Membranas
desmembradas
nas chamas
do metal.
A panela
em pane.
Cheiro de memória
no colo do brócolis.
Fios
de fogo
amarrando o macarrão,
nós
na língua
da linguiça.
O feijão
cresce
o caldo,
nervos
nos fósforos
fervidos.
A face
da alface
ouve a couve-flor
falando abobrinhas.
59.
Sua voz veloz
em meus ouvidos lentos,
anunciando as últimas notícias
do fim do universo.
Os pensamentos
pulsam,
pulverizam
cianureto.
Eu prometo
seguir a curva
da chuva
1 note
·
View note