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Aqui está o resultado do que escrevi no Tumblr em 2024. Nunca divulguei esse blog, espero que vocês curtam o livro e mantenham o nosso segredo.

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Não é urgente não, não é urgente. eu sei que disse inúmeras vezes que desejo muito. mas eu-não-preciso, só quero, e não tem que ser agora. tô faz um tempo nessa, sério, se tiver que esperar mais alguns anos, não tem problema. é tranquilo, tem dias que me divirto, até vivo uns amores de verdade, que depois descubro serem de mentira, mas até eu descobrir são de verdade, claro que são. sim, eu espero. dez anos? dez está bom, não vou exigir muito, mas se pudesse ser em oito, hein? é que em dez eu posso já ter decidido que vou seguir assim mesmo, sozinho, pois já me acostumei assim. é, sou desses que se acostuma e quando vê não muda mais. oito, rola? então, oito. tá vendo, fica bom pra todo mundo. agora, deus livre quem topar comigo nesse período, carente, pedindo colo pra tudo, uma galera me dando a mão sem saber que já tô com um amor programado pra daqui oito anos, coisa combinada, promessa feita. como eu disse, não é urgente. quer dizer, não é agora, mas tem noite que é, tem noite que um amorzinho é tudo que eu quero, pra não precisar sair, gastar e beber horrores, falar de amor com sabe-se lá quem. depois acordar de ressaca, comer mal e ainda tentar correr cedo, pois amor nenhum tá querendo quem não corre cedo, mas, assim, se é daqui a oito anos, fico mais tranquilo, vou sair e correr menos, vou beber menos também, falar e escrever menos, vou só esperar, é isso, essa grande espera. e você acha que não dá pra melhorar nada? uns quatro aninhos, alguma coisa passageira-porém-imensa, algo bem filme de sessão da tarde, de rir no meio e chorar no final. não? então, tudo bem. eu-não-preciso. como eu te disse, só quero muito.

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Quando me perguntam se eu leio muito, respondo: “leio sempre que não estou fazendo outra coisa”. O problema é que tem sido cada dia mais as outras coisas. Não é que eu não goste de ler, ainda que seja parte do meu trabalho, se me convidarem para um samba no centro, uma cervejinha na varanda, ou um carinho na madrugada, para nenhum desses convites digo que não posso, que preciso ler. Ler fica para depois. Como eu disse, não é que eu não goste, é que prefiro um carinho.

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Sonho de hoje deitar no sofá um minuto depois você chegar e perguntar quase-que-por-amor como foi o meu dia

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Às vezes eu choro de repente e vou até o espelho do banheiro entender o que está rolando. Nunca entendo. Me contento em jogar água no rosto e seguir o dia como se nada tivesse acontecido. É isso, talvez chorar seja uma ação tão cotidiana quanto lavar a louça e passear com o cachorro. Se a gente pode sorrir sem motivo, choramingar também pode. Deve ser saudade. De quem? Eu que não sou doido de investigar. Choro e finjo que cortei cebolas, e têm sido muitas as cebolas.

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Posso entrar?

conheço apenas o amor avassalador: não pede licença, pula o muro, invade os telhados, pisa sobre as plantas, sequestra o pensamento. o amor que eu sonho para mim é outro, este vai limpar os pés na porta de casa, antes de tudo, perguntar, “posso entrar?”. ficarei encantado e direi que não, “não pode”. eu me conheço. assim como os outros, terá que quebrar as janelas.

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Você chega para encontrar um grupo de amigos, no grupo tem uma nova pessoa, uma pessoa que parece ser o que você procurava, você passa a querer informações sobre ela, e só consegue fazer piadas sem graça, nem gesticula a boca como antes, performando como um jovem bêbado, e no fim, assiste à pessoa, que parecia ser o que você procurava, indo embora sem saber quem é você, e sente como se naquela noite tivesse perdido a pessoa, que você achava que procurava, pois você não soube olhar nos olhos, dar tempo para as palavras, testou arrepios, ou, ao menos, perguntou: alguém já disse, que à primeira vista, você é incrível?

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Morei um tempo num lugar que o acesso à praia era feito por um cemitério. Primeiro andava ao lado de uma capela amarela e simpática, depois por um corredor entre a vegetação e as lápides, ainda uma pequena passarela e, no final, o mar imenso. Era um trajeto de paz: o silêncio dos mortos, a discrição dos pássaros e as ondas quebrando ao fundo. Nos finais de semana, o cenário mudava, não sei se por conta dos velórios ou missas de sétimo dia, mas lembro de passar entre enlutados, com a tristeza ainda no corpo, enquanto carregava a minha ecobag com uma canga, um boné e dois livros. Aconteceu durante os meses que antecederam a minha cirurgia. Durante esses momentos, contrastando colorido entre pessoas em preto e branco, pensava se quando eu estivesse no hospital internado, estariam eles brincando com os filhos na areia. Não quero comparar a minha doença a qualquer morte, seja ela trágica ou não, é que me fez refletir sobre quantas vezes foram os meus dias de praia, e quantos serão os meus dias de morte. Talvez por isso, passou a ser diferente me encontrar com o mar.

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Tudo bem se eu deixar de acreditar? Quero dizer, não vou desistir, não é isso, só não quero ficar carregando esperança nenhuma, é um peso desnecessário. Eu vou continuar, direi sim pra tudo, porém desacreditado, sabe? É um jeito novo de tentar as coisas, menos sonhador. Acho que me sairei melhor. Posso? É importante que você entenda: quero ser feliz. Isso nunca foi uma negociação para deixar de ser feliz. Mesmo que eu pense que a felicidade é diferente do que andam vendendo por aí. Eu quero é parar de acreditar na coisa toda, no sonho geral, aquilo que estão me ensinando, desde o início, como o melhor pra mim. Vou do meu jeito, tá? Meio bagunçado, com um samba no meio da semana, encontros mal programados, uma cervejinha na segunda-feira, paixões erradíssimas e promessas desfeitas. No fim do dia, nenhuma expectativa nos ombros. De qualquer forma, estarei preparado caso o mundo resolva fazer essa grande surpresa, direi com toda a honestidade que me couber, “eu não esperava por isso, assim, você chegar”.

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Recado recado para o meu amor do futuro: antes de mais nada, desculpa por tudo.

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Às vezes a gente manda uma mensagem para não enlouquecer.

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Uma hora ou outra alguém te pega de um jeito diferente e você esquece o caminho de casa, esquece até o que passou os últimos anos tentando esquecer. Estou sempre com essa esperança nas mãos, por mais que tenha corrido um bom tempo em que só vejo solidão, ainda penso (sério, não me olhem assim) que no meio de uma festa, dessas que eu me arrependo de ir, alguém pode pular na minha frente de repente, lançar palavras e movimentos certeiros, dançar duas ou três músicas, e depois, mané, a vida inteira. É, isso mesmo, a-vida-inteira. Uma loucura de tomar o desejo para sempre. Dividir manhãs e trocar mensagens e atravessar países e assistir a juventude abandonando o corpo. Imagina só, beijar uma pessoa por toda a eternidade porque estavam todos bêbados demais para entender, gargalhando sem qualquer motivo. Riram tanto que pensaram ser melhor repetir no dia seguinte, e depois no outro dia, e no outro. Até que alguém disse, numa tarde que não combinava em nada que uma verdade dessa fosse dita, pois era uma puta tarde linda, com um céu rosa alaranjado, que “pra sempre” é um exagero, muito tempo, melhor não. Depois, a saudade.

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Nos próximos meses não seguirei o meu coração, muito menos o meu cérebro ou os meus pulmões. Também não serei levado pelos meus dedos dos pés e das mãos. Vendarei os meus olhos e não darei qualquer atenção aos meus ouvidos. O cheiro de alguém não me arrastará para lugar algum. Tomarei apenas uma decisão: vou saltar pela janela de casa na primeira tempestade de verão e a natureza poderá decidir por mim. Tenho certeza de que ela fará um trabalho muito melhor do que eu tenho feito. O carinho não fez a sua parte, a astrologia não fez, a esperança e a coragem não fizeram. Eu me lanço agora para o mundo, e o mundo, esse mesmo, redondinho e sofrido, que se vire. Agora, é com ele. Torço para que ele tenha cuidado, assim, consigo aceitar o que vier. Preciso, de verdade, que seja particularmente gentil, e se me enviar alguém, deixe avisado que meus olhos estão vendados e que deixei de seguir o coração faz pouco tempo, é bom alertar.

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Não que eu me importe será que num jantar depois do trabalho, com as amigas da faculdade, após algumas cervejas, no meio de uma rodada de confissões, você diz, quase sem querer, que ainda pensa em mim e ontem mesmo sentiu a minha falta? ok, seria muita pretensão, vou diminuir um pouco a minha exigência: será que alguém, qualquer pessoa, num jantar depois do trabalho, sente a minha falta?

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É um dia de sol, mas não de praia. O sol é pouco para me levar tão longe, talvez o bastante para eu me sentar na varanda com um livro nas mãos. É sábado, não tenho planos, também não tenho alguém que eu queira enviar uma mensagem para saber dos planos. Não estou apaixonado, nem amando, nem querendo. O vento sacode as cortinas. Tenho que buscar o meu cachorro na creche (não encontrei outro nome, deve ser uma creche mesmo) às 17:00, e prometi que escreveria o dia todo. Sei agora que não vou escrever, quando prometi ainda achei que seria possível. Pode ser que seja um sábado em que nada vai acontecer, ou posso dar uma chance para ele, talvez uma cerveja quando a lua der as caras. No fim, sou grato por esse dia sem graça, e me jogarei na cama pedindo, se possível, para que ele se repita. Como é bom não esperar nada da vida, deitando-se no meio de uma tarde como se tivesse dinheiro no bolso, um amor no pescoço e um deus para me perdoar.

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Coincidência ela disse que sempre gosta sozinha. eu disse, “que coincidência, eu sempre gosto sozinho”. e decidimos, naquela noite, fazer diferente.

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Passagem demônios passaram por aqui. tempestades e dias de praia passaram por aqui, alguns anjos também. passaram por aqui muitos sonhos não realizados. passou um único sonho realizado, esse era incrível, mas não era meu. passaram dois amigos e o filho recém-nascido. passaram mais uma vez os demônios. logo passam os anjos e os dias de praia. antes, a tempestade.