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Gostaria de ter me subvertido em tuas dissuasões como quem julga horas modestas, e proferir em preces auspiciosas que é concebível eternizar aquilo que é belo. Você naufraga o rosto no vão do meu colo e discorre sobre como é plausível pesar em lamentações quando nossos corações insistem em bater em sintonia. Eu dedilho serenamente teus fios de cabelo, e hospedo essa cena em memória.
Gostaria de confessar-te a taquicardia que teu toque me provoca, da linha impalpável que liga o teu coração ao meu, e o resquício teu que cola na minha pele quando você se vai, tudo torna-se nada entre a cobiça desmarcada. Digo que pertenço-me no tempo em que no âmago clamo ser tua, posto que toda poesia gargalha no ritimo exato quando deriva da lembrança dos seus olhos que viram intensamente. Por consequência murmuro em silêncio , o quanto é gracioso permitir-se sentir sem grilhões.
Nesse ponto, tenho em mim o sútil sentimento do coração ardendo em nostalgia. Permito-me sentir por instantes como se não houvessem consequências alem disso, o teu beijo quente em minha testa e minhas pernas desgovernadas por fim. Minhas incertezas em tempo algum se fizeram tão presentes, quanto nesse restrito momento em que te vejo fazer morada nesse descaminho que fez de mim. Porém qualquer incerteza triste sobre rascunhar o amor se desfaz quando recordo você.
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A sagacidade desnubla o coração enquanto deduzo teus passos aproximando-se à porta, e maturo por mais um momento que avia na cadência do nosso dia. O deleite que me alcança quando fito teu olhar e vivencio um ponto que por fim rendeu-se à mormaceira. Eu habituava esquadrinhar amores idôneos, aptos à lacerar cada feixe de sentimento incólume, até constatar que só apetecia tranquilizar meu peito ao teu sem presunção.
Me felicito em nos observar em dias amenos, olhares ternos de quem tem o que dizer, mas acovarda-se em palavras. Quiçá eu tenha finalmente atinado que opor-se ao amor é insano, então te guardo em instantes vividos.
Escordo meneios teus e gozo de minh'alma em brandura. Eu cobicei guarnecer teu toque em minha pele, e segredar ao nada que você é peça tangível, e minha.
Ilusão.
São palpáveis reminiscência nossas. Seus braços me trançaram como quem tensionasse ficar. Eu me divisei como quem reencontra o lar. Fomos um fato exímio, ao meu ver, dado que assentou precendente ao teu primeiro beijo. Uma fábula talhada.
Lamento com a brisa da janela, o som das ondas no mar, os dedos suportando o rosto. Talvez seja sobre você, desde o tempo em que seu cheiro não zanzava por aqui. Sussurro ao breu sobre a mágoa de sentir que me transborda o peito: “porque era ele, porque era eu, porque eu o pertencia, mas ele pertencia a outro alguém.”
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Veja bem, meu bem, o tempo é volátil, e poucos dias são suficientemente necessários para entender que o tudo e o nada são a mesma coisa.
Semana passada meu eu era casa de chama, euforia e esperança, sem a ideia ilusória de que o presente seria futuro, e que surpresa, o futuro é hoje, e no hoje meu eu é nada.
Não me julgue pelos sentimentos, são eles que sempre me trazem aqui, havíamos conversado sobre isso tempos atrás, lembra? Há muita beleza na soturnidade, nisso concordamos muito bem.
Há dias em que os ponteiros do relógio me pregam peças, o tique-taque não incomoda, mas a incerteza de não saber até quando terei que lidar com eles me angústia. São 24, 48, 72, é o segundo mais tarde, o próximo, o seguinte, e na verdade, nada muda.
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Bem do lado interior do coração,
Ainda mora um forte afeto por você.
Bem atrás da casa havia uma linda flor,
Você nem viu.
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De onde surgem os loucos? Quando somos matéria sangrenta inofensiva dentro de abrigos uterinos, não somos nada além de um lindo e exaustivo tic-tac. Nove meses depois, seremos jogadores de futebol ou bailarinas. Quinze anos depois, isso não dá dinheiro. Médicos, advogados, arquitetos, engenheiros… Cinco anos depois e todas aquelas inúmeras, porém contáveis opções resumem-se em duas: sucesso e fracasso. Antes de nascer, tenha o melhor berço. Depois de nascer, tenha as melhores notas. Depois de crescer, tenha o melhor emprego, o melhor salário, a melhor cara de pau. Depois de ter filhos, tire as melhores fotos deles para mostrar aos piores amigos na mesa do bar. Depois de envelhecer, tenha a melhor casa, o melhor cachorro, a pior solidão. Depois de morrer, seja amado. Loucos? Loucos são aqueles artistas miseráveis que mendigam por um mínimo de reconhecimento. Meu filho? Brilhante! A arma disparou por acidente. Minha filha? Só me dá orgulho. Será solta em um mês por bom comportamento. Se não são filhos de ninguém, de onde surgem os loucos, então? Aqueles desequilibrados, os sensíveis, os genuinamente apaixonados? Aqueles ratos escondidos em meio a poeira da sociedade, escrevendo seus livros com o próprio sangue por não terem dinheiro para a tinta da caneta? Brotos da solidão, da tristeza, da loucura própria que temos escondida no peito, mas escondemos com estetoscópios e antibióticos. Humanos são extremamente falhos. Corte uma fatia pequena, estou de dieta. Eu e minhas duas pernas esqueléticas estamos. Não é nada, só estou com frio. Eu sei, eu sei bem que estou suando, mas não ouse levantar a manga da minha blusa. Depressivo? Eu? Homem não chora. Derramei água no travesseiro ontem a noite. Suicida? Quanta bobagem. Você ainda tem aquelas aspirinas escondidas na gaveta, mãe? Só curiosidade… Só drama, tristeza, paranoia, segredos, loucura. Eu nunca, eu sempre. Quem assume a própria melancolia? Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três… Hipocrisia vendida para o senhor de mãos lavadas, para a senhora que expulsou o filho músico de casa, mas tem a coleção completa de Elvis Presley na estante. Se somos máquinas, há aqueles computadores com vírus que contaminam toda a fábrica de corações programados. Levando para o lado pessoal, é a loucura que nos difere daquele pedaço de carne ensanguentado no supermercado. E de onde surgem os loucos? Da loucura de se dizer humano. "
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Eu não tenho certezas, absolutamente. Não me entenda com olhos de ignorância e pilhérias fúteis, é certo que após a segunda será terça e que canções natalinas serão entoadas até a exaustão dos ouvidos no mês de dezembro. Disserto sobre certezas utópicas, ideias sobre o universo e a natureza humana. Até as tenho - ideologias temporárias jamais me faltaram -, mas certamente nada capaz de me persuadir por mais do que algumas horas. A base é tão fraca que cai por terra ou são esquecidas antes do próximo alvorecer, que dirá do mês. Admitir me soa tolo, as definições básicas me contradizem enquanto rascunho. Ideais políticos e religiosos, se fossem pessoas, estariam agora mesmo de braços cruzados me olhando como se eu houvesse blasfemado de forma inaceitável. Não, não falo disso. É algo além de crença, é aquela certeza absoluta sobre todas as atitudes que procuro compreender, incluindo as minhas. Tenho dúvidas sobre porque tenho ganas de desaparecer por completo, a mania de observar incessantemente até encontrar algum erro incalculável capaz de justificar minha partida. Digo que sou efêmera mas a verdade - temporária - é a imposição. Mesmices me enojam. Tenho ânsia por mudanças, apesar de temê-las como qualquer pessoa com o mínimo de sanidade. Não que eu a tenha, é claro. Penso incessantemente sobre essa menina que fita o céu como se visse além das nuvens, a cor anil, estrelas, galáxias, imensidão. “Um grão de areia no universo”, pensaria para logo depois discordar, “não, menos, muito menos”. O cabelo espalhado sob a grama, as folhas recém caídas como se o enfeitassem para a análise soar poética. E essa mania estética na cena, por quê? o que acrescenta além de um belo cenário? me parece que só é passível de seriedade cenas analíticas belas. Devaneio como se fosse ela, talvez seja. Talvez dentro de nós exista um ser alheio que impedimos a liberdade por temer que nossa real natureza se sobreponha ao resto. Talvez eu tenha exagerado no licor do jantar. Mas veja, veja quão bonito seria se essa menina nesse parque em pleno verão contradizendo a felicidade imposta pela brisa quente, se deita nas cores e indaga absurdos inexplicáveis que Freud explicaria de bom grado, quem sabe?, mas ele não a agrada, respostas não a agradam porque assim a charada teria fim e não haveria mais motivo para deitar-se na grama, sujar os dedos mergulhados na terra e - Deus a ajudasse - deixar de escrever. As explicações estariam ali para dissolver qualquer utopia tola e satisfatória, o céu seria apenas imensidão bela feita para florear um dia cheio. É assim que ela via o verão, cheio. Cores tomando todos os lugares disponíveis, não havia espaço para nada além de gargalhadas e o barulho da água sendo jogada de um lado para o outro num ritmo inconstante. Até a noite parece ser mais clara, mais, mais. A palavra é mais. E então tudo partia (e se partia também, por que não?) e era como se não mudassem diante dos meses. Os dias passavam lentos e ágeis, tudo de uma vez. E o ciclo recomeçava. Enquanto ela continuava ali, com devaneios incansáveis e inacabados. O pensamento sempre seguia para outro rumo, como se a mente não permitisse respostas, fugisse delas. O céu se pintava de laranja e ela continuava. Olhos fixos no nada, cabelos contrastando com o verde da grama. Ela só queria continuar. Até o próximo verão, como se não houvesse pausa, como se não houvesse fim, ainda que no fundo ansiava desesperadamente por um ponto final, como anseio nesse rascunho. Os dedos tem muito a escrever e os dias não admitem controle.
Se pudesse adivinhar pensamentos, diria que se pergunta quem sou e o motivo de tamanha aflição sobre a personagem. Veja bem, sou aquela que ainda sente os dedos marcarem a grama. Ainda tenho as unhas sujas de terra.
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Nas ultimas semanas tudo se tornou nada e virce-versa.
Estava acostumada com a rotina dos dias, o teu olhar sempre me encontrava.
No estopim, na explosão de o meu sentimento, no teu momento de fraquesa- eu fui covarde e me esquivei.
Toda rotina, o encontro, seus olhos... mi'alma clama, e minha voz cala.
Não sei se o meu viver é o mesmo.
Antes existia um sentimento, hoje ele deu lugar ao desespero de se questionar sobre o amanhã.
VAZIO.
Fechei os olhos, imaginação, elevanção do pensar- não estava nos meus planos.
Presa em um calabouço.
Recluso em um mundo preparado, calculado, onde apenas um pode ver o outro lado da porta.
Há um mundo atras dela, há velhas novidades e pessoas com compartilhar.. e eu a te esperar.
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E sempre que as flores abrem, a guarda baixa, os fios secam, volta a chuva para destroçar. Retornam os pingos, raios e berros, erros de quem muito olha para os lados e esquece-se de onde pisa. São sempre os escorregões que me presenteiam, as pétalas que caem no travesseiro, o passado que exprime os sentimentos amargos e há tanto jogados na lixeira. Vêm e vão, todos esses aperreios, todos esses imprevistos, todas essas confusões. Por que simplesmente não poderia eu ser lagoa sem agitação, calçada sem poeira, guarda-chuva sem destino de proteção - não aos cabelos, mas à alma e ao coração que não suportam mais tanta tempestade? Por que não me sobram as calmarias certas, os travesseiros macios, os raios de sol e passarinhos em orquestra? Porque sempre que desperto, abro os olhos e penso ter deixado o pesadelo no colchão, abrem-se as cortinas desse teatro sem fundamentos no qual sou mocinha e vilã, doçura de flor e amargura de cravo, buquês meus largados ao palco dos astros opacos. Me desfaço, me desprendo, me largo pelos ares numa entrega ao invisível. Me deixo, me imploro, me ausento e retorno sem nem ao menos possuir um porquê no bolso. E ainda que os pés doam, as mãos se cansem, a cabeça aqueça e esfrie e desande em choques térmicos, a rotina bate no relógio e vivo nesse ser-e-não-ser, balança que não equilibra, encaixe que não serve. Entre a realidade e a plena inconsciência, faço-me a dama das palavras desajustadas, pêndulo sem nexo que baila entre curas e cortes, dia após dia, suspiro após suspiro, porções de lágrimas e sorrisos. Porque me sussurraram que não há noite densa que não volte à claridade do dia, e sozinha descobri que não há dia sereno que não chegue ao fim.
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O que despertou em mim foi uma sede de felicidade. Ainda não ousava chamá-la pelo nome - mas era felicidade, uma felicidade que sacia - era isso o que eu queria, era por isso que eu ansiava..."
- Assia.
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“ – Oh! Console-se – continuou ela rindo. – Por menor que seja o tempo que me resta viver, viverei por mais tempo do que irá me amar. “
- Marguerite Gautier
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É quase um ataque, só que te grito assim, sem dizer, te chamo assim, sem pedir, te amo assim, sem implorar. Murchei ao perceber, tão aleatoriamente quanto numa revelação santa, que meu cheiro está ao teu alcance e o meu corpo, este aqui, mastigado, magro, igualmente sacro, não. O dedilhar das canções também me maltrata, e enquanto o toque me desconjunta eu abro ainda mais qualquer ferida, qualquer entrada, qualquer porta que possa te servir, te dizer “sê bem-vindo”, “sê bem vívido”, “sê, bem, vida”.
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Eppure, a chi dona amore, l'amore torna. Può darsi che compia il percorso a ritroso con passo lento e che porti per questo un discreto ritardo.
Può darsi che torni sotto una forma diversa da quella con cui è stato profuso, ma nessuno mi convincerà del contrario: a chi dona amore, l'amore torna.
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L'amore adulto non si cerca,
Non c'è.
Non lo compri.
Non si conquista.
L'amore adulto cresce e si espande tra due cuori presenti e disponibili.
Ecco un evento magico.
Due persone disponibili
non si trovano per necessità.
Non vengono a coprire nessun posto vacante.
Non sostituiscono nessuno.
Non prendono il posto di qualcuno che c'era prima.
Due anime disponibili si guardano con rispetto e si dicono:
"Tu con te e poi con me.
Io con me e poi con te."
Alejandro Jodorowsky
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Dias que dormem no pé de nossas camas. Se alojam em lugares inacessíveis, no canto danificado da parede cor de pérola, por exemplo, e a tinta não consegue chegar lá. Formam enormes fendas no calçamento porco e organizam petições, acordos e contratos para nos manterem longe do que queremos acarinhar. Nas praias, fiscalizam cada buraquinho feito pelas conchas e pelos mais diversos objetos vindos das sacolas de supermercado. Nas ruas atabalhoadas, cheias de pessoas cheias de saudade, contas, atrasos, vontades, sapatos encardidos, olheiras gritantes, pressas, medos, inexperiência profissional na área em que atuam, corações mais encardidos que os sapatos e indignações trancadas em armários monitorados, os dias perambulam, determinados, ávidos e pálidos. Seus rostos são mais pálidos do que a palidez. Seus pés sangram, gotas vermelhas escorrem em linha reta, obedientemente. Formam as figuras mais assombrosas quando concentradas. São mortas quando escorrem para o esconso das fendas. São nadas ao se diluírem na água do mar e ao correrem, apressadas, pelas paredes pérola. Dias de comida enlatada e fedorenta. De ouvidos machucados, fígados doloridos, palmas das mãos em carne viva. Dias de nuvens que não cessam de chorar, de borboletas com asas fartas e descoloridas pela ausência de um propósito. Dias de pontes em ruínas. Dias em que o ar cheira a limão e a perfume barato. Em que as portas estão trancadas e a rede elétrica jamais existiu. Dias em que corremos pelo espaço, nos chocamos com os astros e cumprimentamos, com apertos de mão, as estrelas. Dias de vagar, devagar, beijar o rosto dos parentes que sempre moraram longe e que nunca gostamos de beijar. De tocar no cabelo e na pele do zelador, que quebrou alguns galhos quando as escadarias não eram uma boa. De encostar o livro, que nos salvou naquele mês, no bombeador de sangue eficiente que nos faz mais nós. De jogar a cabeça para trás e saber que não existe gravidade, e se sentir ignorante e ridículo e voando. Os dias sentam ao lado do homem bem vestido, que carrega uma mochila provavelmente pesada, e que tem seus olhos fixos na foto de uma mulher que já foi sua. Vestem-se de árvores, e são derrubados. Viram cadeiras rústicas e roupeiros repletos de coisas não usadas. São mandados para lavanderias, e lá são misturados e esquecidos. E eles não voltam. Jamais. Nem que seja uma pinta na bochecha esquerda, uma sobrancelha arqueada levemente ou um nariz marcado. Alguma coisa, qualquer uma, os difere. São únicos e estão sempre com pressa. E nossas mãos trêmulas assinam, frequentemente, as petições e os acordos e os contratos.
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