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meu pensamento anda vago demais
me distraio com a folha maior que meu pé atravesso a rua sem olhar os dois lados enquanto sou atravessada pelo olhar daquele senhor que fica o dia inteiro olhando o movimento da rua do alto de sua sacada e já deve ter rastreado meus passos perdidos pelo bairro todo
tento entender o que se passa em meu coração e porque as vezes parece que ele vai explodir pelas veias elétricas do meu corpo que insistem em não me deixar esquecer que o vírus ainda caminha em nossas veias companheiro mas que ainda contudo ainda te quero amar assim mesmo no meio desse caos da cidade debaixo da blusa o meu peito congelado arrepia e se exalta e eu fricciono minhas mãos para aquecer você que mora dentro dele
não passa frio meu bem
você nasceu para brilhar
você nasceu para incendiar o mundo com seus olhos de quem sabe exatamente o que quer
e onde quer chegar
mesmo que seja logo ali
naquela esquina onde prometemos tudo sem dizer absolutamente nada
o tudo e o nada andam lado a lado nesse caminho que muda de rota todos os dias e nada mais me fará mudar de ideia
a não ser que eu mude
ai tudo bem
seguimos pelo atalho com um facão na mão sete pedras no bolso e muitos amigos pra testemunhar as minhas palavras que não me deixam mentir nunca
esse personagem foi bem construído
você não entenderia
nem eu entendo muito de construção
me encontro em estado de demolição
na verdade
era só isso que eu queria te dizer
nos escombros da minha memória ainda resta um terreno baldio que você pode construir sua casa
sua família
e guardar todas as suas coisas
pode confiar
eu cuido delas pra você
da sua esposa
dos seus filhos
de todas as suas coisas
guardo também seu sorriso de quem não deve nada a ninguém
aqui é seguro
eu prometo.
talvez o vírus acabe com muitas coisas que a gente ama
mas não quero terminar esse escrito de nenhuma forma verbal construída
tem vezes que a palavra falha.
termino faltando, pois não consigo terminar algo que ainda está acontecendo aqui e agora.
se você chegou até aqui provavelmente você entenda.
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dá pra atravessar um apartamento com duas janelas abertas apenas olhando pra ele
gatinho preto gosta de carinho na cabeça
gatinho branco gosta de carinho no pescoço
ontem comprei duas coxinhas na casa da coxinha ouvindo gula num fone que não era meu
queria entender melhor o que acontece entre eu e você
o que contempla nossas existências e quantos prédios de distância eu terei que andar com meus olhos pra te atravessar novamente
o que nos separa enquanto matéria nos une enquanto espírito
aquela nuvem de calor que sobe do asfalto no sol é o primeiro momento que uma pessoa vê a energia se dissolvendo no vento invisível
eu penso nisso toda vez que penso no meu pensamento tocando todas as coisas do mundo
ter fé é acreditar na nuvem de calor que sobe do corpo como no asfalto
feromônio saindo intensamente de nossos corpos quando permanecido sob custódia de incentivadores de fogo e afeto
subindo e descendo
trazendo contigo a fé
movimentando a fé
conduzindo a fé por terrenos férteis
para que se salve um pouco do que ainda resta
tento entender melhor o que acontece entre eu e você
mas a grande verdade é que só existem prédios entre nós.
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durante isso: 2020
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eu te amo, Lygia.
se você
desbloqueia a tela
você está usando os dados de internet
a partir daí
começa uma busca por alguma coisa
alguma informação
um meme pela manhã
aquela notificação daquela pessoa
tudo pode acontecer
inclusive nada
você abre o Instagram
que é a janela digital do mundo nesse atual momento
e assiste os acontecimentos
que muito cuidadosamente (ou talvez nem tanto)
foram encaixados na sua tela por outra pessoa
que sente
que tem uma pele
um cheiro
e talvez cabeça
e talvez coração
mas está ali
e posta
e você está ali
assistindo tudo acontecendo
captando algumas mensagens
perdendo outras
seleção natural das coisas
e se você decide
gravar um stories
tirar uma selfie
postar aquele meme
que viu mais cedo
deixa de ser expectador
e passa a ser participante
e não adianta
dizer que esqueceu
porque estava tentando conciliar o café da manhã a roupa pra lavar o vazio existencial ou a dor de ser brasileiro
porque nada disso
foi filmado.
você está on-line.
as mensagens daquele estranho desconhecido viraram tentáculos
a sua cabeça esquecida
foi puxada pra dentro
e a janela-guilhotina
mostrou que você
visualizou e
não respondeu.
eram laços frouxos?
perdeu se no espaço-tempo virtual que apenas simula nossas realidades.
que gostoso ficar observando a vida acontecer aqui desse lado da tela
sem postar nada
como chupar escondida
um cacho de uvas
e a máquina do tempo
essa coisa com cada vez mais tato
e menos técnica
igualmente
perdeu porquês.
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17 de setembro de 2020 - 22:35
água que corre não mata afogado
chore sempre que puder
durma antes das onze
se não será tarde demais
tarde demais pra regular o sono
tarde demais até que seja cedo
e cedo é hora de dizer que
posso gostar de você
e então pode ser cedo demais
sentir não é coisa pra principiantes
principiantes se precipitam
e precipitar-se é atirar de cabeça
e rezar pro chão nunca chegar.
reze.
reze cedo pra se proteger.
reze tarde pra se curar.
ninguém é melhor que você
e isso não te faz melhor do que ninguém.
acorde pra ver o sol que ainda não nasceu nessa cidade inventada.
invente um jeito de sair daqui antes que não exista mais um jeito pra você se salvar.
salve-se quem quiser.
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hipnose descrita
começo por fechar os meus olhos.
mergulho numa cachoeira negra
sou a espuma branca no final.
desço escorrendo num looping abismal até conseguir encontrar um peito de terra para desaguar
consigo caminhar agora,
já não sou mais aquela coisa frágil e diluída
tenho pernas
sempre tive
mãos que me seguram
ainda que as minhas próprias,
me botando sempre de ponta cabeça a fim de ver o outro lado da linha horizontal que conecta
eu
a
você
e todos os lugares que a partir de certa altura sempre se parecem.
não estamos mais sábios
não temos melhores razões
o amor, esse passageiro difícil, seria sempre a aurora solar que cai sob nossos edifícios cobrindo os por inteiro antes de desaparecer completamente
dando espaço para essa nova escuridão circunstancial
e aqueles olhos que ainda estão fechados veem por de baixo da pálpebra a única luz presente desenhar de forma involuntária e independente as formas mais precisas do seu áspero lugar
do seu rosto que me mete medo
do reflexo das tuas córneas mexendo como um passarinho selvagem numa gaiola pequena tentando interpretar de forma lógica algo que desprende-se da razão.
você existe.
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a esquina do desejo é o toque
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encontros e despedidas
tem gente que sai às duas
que sai às nove
que nem sai do quarto antes das doze
tem gente que escuta
tem gente que fala
tem gente que passa ritualisticamente o primeiro café da casa
tem gente que desce pelo cheiro
tem quem precise água na cabeça pra abrir os olhos antes
alguns já acordam com roda no pé
todos tomam café
mesmo aqueles que não tomam café
o dia segue, mas finalmente começa
cada um segue precisamente os impulsos de se estar vivendo a mesma rotina que virou essa coisa toda de não termos mais certeza de nada
onde a única certeza é a incerteza de termos apenas rotinas temporárias
cada um na sua particular peculiaridade que compõe um corpo
um sonho
uma vida ou mais
outras até
a escrita caótica é o resultado de dentro e fora
mas há também a paz terrível de poder se ser quem se é
de ser amigo de seus ídolos
com a segurança de ter em cada pessoa um bom lugar pra revisitar sempre que que der saudade ou história
a egrégora do espaço-tempo desse crucial momento histórico acometeu a todos os justos de coração que puderam viver isso
o mesmo medo nos assola
mas sinto que tudo não passa de uma fiel realidade construída em busca da minha mais profunda verdade.
assovios que quebram o silêncio da noite
velas acesas
súplica a todos os santos que protejam a mim
e a minha família.
coisa que gosto é poder partir sem ter planos
melhor ainda é poder voltar quando quero.
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uma odisseia no tempo
dormindo de luz apagada pra não enxergar a realidade que tem me perturbado mais que o oculto escrevendo de olhos fechados pra me desprender das coisas da razão enquanto coloco em um lugar visível aquilo que antes só ocupava o abstrato
as palavras, mesmo as que são imagens vão tomando forma de modo muito natural conforme eu desisto de encontrar alguma lógica pra tudo que existe se desprender das significâncias é tão difícil mas há um certo glamour em escolher vivê-las.
grandes passos
grandes quedas.
tudo pode estar acontecendo nesse exato momento de agora enquanto você pensa que nada acontece, importante também reconhecer que o nada contém todas as coisas do mundo.
as palavras não precisam de você, quem disse que eu tinha que precisar?
deixo que saiam, não tenho nada a ver com isso
(lembrando que o nada é todas as coisas do mundo).
não guardo dinheiro pro banco não tomar
não guardo minhas roupas nas malas do meu próximo destino
não guardo rancor
não guardo números (não guardo, não consigo)
nem palavras
só algumas
tem sempre aquelas que a gente guarda com carinho nos cadernos da memória
e tem você
que eu guardo e depois devolvo á mercê do eterno, do real lá onde estão todas as coisas do mundo.
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tratar da paixão, como um bicho selvagem
cuidar do afeto, como um animal doméstico
ainda tem uma chama acesa
uma chaminha só
que antes era um fogo barulhento estalando tudo dentro do quarto
matando os seres com asas que se arriscam
fogo que queima demorado
protege meu corpo do mau, amém
poderia orar de joelhos pra você todos os dias
e ascender uma vela pra bendizer seu santo homem
uma chama só
que ainda se mexe
que dança no vento
morre na chuva
queima o dedo
que clareia seu rosto
e entra pra dentro da gente através da fumaça que dividimos.
que a paz do escuro guarde a noite
que o fogo do sol faça os dias morrerem abertos em mim
e a chama
queime tempo suficiente pra me guiar no Safari.
essa chaminha
que apaga gradativamente
suave
sem pressa de queimar
a euforia em ser aceso já passou
restou a faísca
que sustenta a iluminação por mais alguns minutos
até que eu resolva fechar meus olhos
e te amar no segredo da escuridão.
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eu sou uma árvore bonita
a minha energia tem vários critérios pra se dispersar pra fora do meu corpo
enquanto isso
sou uma fábrica que funciona 24h e ilumina uma cidade inteira
quando encosto no meu pé que é a extremidade
da minha mão?
ou da minha cabeça?
o que será que é mais importante?
qual das duas é mais fácil de perder?
qual das duas é mais honesta comigo na hora de me contar quem é essa pessoa parada na minha frente?
o meu pé é essa extremidade que liga o chão que chega no Japão a alguma qualquer outra coisa que capta mais fielmente os seres que passam pela minha visão ou pelo toque dos meus dedos
talvez os olhos
os olhos são a extremidade dos pés
porque são o primeiro contato
encostar é sempre mais difícil
mais seletivo
a gente subestima o poder do toque
o pé ainda mais, tá mais longe
da minha cabeça
e mais perto do Japão
já que o corpo é muito maior do que o planeta
e os olhos são só uma impressora que desenham com luzes solares e artificiais
resta os pés
que são a ponte da minha cabeça
com todas as coisas até a outra extremidade do mundo.
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FERIDA ABERTA
esteja atento na descida.
cuidado pra não tropeçar
cuidado pra não tropeçar e cair
cuidado pra não tropeçar, cair e bater a cabeça
cuidado pra não tropeçar, cair, bater a cabeça e se esquecer para onde está indo
num desses tropeços algumas feridas são abertas na cidade de São Paulo
não faça curativo
tome sol em cima pra calcificar aquela marquinha e lembrar todo dia do tombo
lembrar que dói
que é bom as vezes doer
que mesmo com dor, consegue andar a cidade inteira com essas pernas que sempre foram suas
pernas que sempre teve
que o sangue escorrendo não faz mais chorar como fazia naquelas primeiras quedas lá do começo da tua saga
que beijar o asfalto pode ser uma boa solução pra entender o chão que pisa
e talvez o único jeito de abaixar a cabeça
e aceitar a queda inevitável.
olhar pros lados
limpar as mãos na calça
levantar sozinha
e continuar até chegar em casa.
chegar em casa é sempre um consolo
chegar em casa é sempre um motivo.
motivo pra olhar nos olhos do escuro enquanto lava os joelhos e reza pra aprender a rezar.
agradeça por te deixarem cair.
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YOUTH [cover art for lost mixtapes] | RPC | 2016
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