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nº 4

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Meus autoretratos estão se multiplicando pelo meu quarto. Quarto, local íntimo suficiente para não ser dividido com ninguém. Não, eu não quero dividir meu quarto com alguém por um longo tempo.

Meu pequeno simulacro fica sempre sob minha cabeça, sentado em minha cabeceira de couro. Ele fica ali zelando pelo meu sono e observando minhas noites mal dormidas, onde sou acometido por insistentes paralisias do sono. Sua presença é um conforto estranho, mas necessário.

Ela é um reflexo de quem fui. A costurei com minhas próprias mãos entre 2020 e 2021, uma criatura parida da pandemia. Estava confinada, esgotada, buscando alívio do tédio bordando milhares tipos de linhas. E assim ela surgiu.

Se ela me representa e é uma versão minha, um autoretrato em 3D, feito de um amaranhado de linhas, quem melhor para responder ao meu oceano de questões sobre nós duas do que ela mesma?

Espera, e se eu a criei tão confusa quanto eu?

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nº 3

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Ilha de Itamaracá. 1996 ou 1997. Verão. Seguro meu balde de areia que tinha formato de um peixe de cor alaranjada e rodinhas amarelas. Com certeza que era minha mãe clicando essa fotografia em sua câmera analógica da Kodak. Ela mandou revelar este registro, mesmo que eu tenha saído com os olhinhos fechados, talvez devido ao sal do mar ou passei a mão com areia os olhos.

Este mês eu retornei a ilha de minha infância, buscando uma essência de alegria que um dia fez parte de mim.

E encontrei.

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nº 2

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A minha câmera analógica que fica sempre me encarando em cima da escrivaninha do meu quarto, ainda se encontra vestígios da areia vermelha que aquela cidade nos deixou.

Vestígios de uma aventura mal executada que custou a nossa sanidade.

Atrás desta lente se encontra um velho rolo de filme da kodak de 36 poses. Coloquei e fotografei em 2017. Nunca revelamos. Mas eu sei que tem vestígios de um fantasma que amei um dia e rastros de uma eu irreconhecível que ainda sorria para fotos. Uma jovem cheia de tolices e planos, quase nunca quer se deparar encurralada e sendo encarada por uma mulher ferida que conhece muito mais sobre a vida do que a garota. Hoje eu já não sei quem correria primeiro, eu ou ela.

Quem revela quem?

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nº 1

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Já é novembro e tudo continua embaçado.

Era agosto e eu coloquei a 3x4 em um pires e afoguei a minha pequena imagem na água sanitária. Assisti ela corroer por alguns longos minutos. Foi curiosamente um novo prazer que descobrir naquilo. Minha pele foi a primeira coisa a desbotar do retrato feito do meu rosto e isso mexeu com dores guardadas em partes mais intimas.

Já em janeiro eu fui sozinha até o centro da cidade que eu morava na época, pedi para fazer uma 3x4 em uma pequena loja estreita e mal arrumada. O dia estava quente e eu pedi um pedaço de papel para enxugar o rosto. Quando o flash disparou, eu parecia pressenti que aquele momento abriria um grande portal de despedida. Minha e a nossa.

E foi assim que eu mesma me desbotei. Igual a essa 3x4.