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RENATA SCHNEIDER

entre 2016 e 2019, nós éramos aquelas duas de sempre: o par inseparável no corredor, a dupla que sentava junto, que dividia lanche, segredos, e até o fone de ouvido com a música no volume baixo pra ninguém perceber. você confiava em mim, eu confiava em você. não tinha manual, mas a gente sabia cuidar uma da outra.

até que um dia você começou a falar menos, não porque faltassem palavras, mas porque sobrou silêncio. vieram as novas pessoas, os convites de lugares onde eu não cabia, as histórias que você contava pela metade. eu notei quando o nosso “depois eu te conto” virou “depois” e acabou ficando só isso: um depois que nunca vinha. você mudou de vida, de ritmo, de círculo. e, de algum lugar dentro de você, parece que decidiu que eu não saberia andar no seu passo novo.

sabe o que dói reconhecer em voz alta? que eu teria sabido. eu teria aprendido o compasso, teria errado e acertado, teria ficado quieta quando fosse preciso e te puxado de volta quando o mundo puxasse demais. eu nunca falei com você em tom de julgamento. não era sobre quem você devia ser pra caber no meu mundo; era sobre eu continuar ao seu lado enquanto você descobria o seu. eu amava você - não a pessoa que você representava pros outros, não a versão editada. eu amava quem você era quando éramos só nós duas e o riso que vinha fácil, sem público, sem plateia, sem filtro. e, acredite, isso não teria mudado. não mudou quando você bateu seus 700 mil seguidores no instagram aquela época, não mudaria hoje em dia que você tem quase 2 milhões. eu amava quem você era fora do feed, fora da performance.

por anos eu corri atrás. mensagens engolidas pelo visto, recados indiretos, “vamos marcar” que nunca viravam data. eu queria voltar praquilo que a gente tinha, e talvez eu quisesse tanto que confundi o passado com promessa. até que um dia eu aceitei. eu parei de esperar por mensagens suas, pelas nossas horas assistindo filmes juntas. encontrei outros amigos para ler o que eu escrevia, encontrei outra parceira na aula de dança.

passaram-se dois anos desde essa aceitação miúda, difícil, libertadora. e então você apareceu de novo. em 2023. com a voz conhecida, as lembranças certas, uma gentileza quase igual à de antes, quase. você disse que sentiu minha falta, que não sabe como deixou tudo escorrer, que queria tentar. eu ouvi. e, de um jeito que me surpreendeu, foi a minha vez de não caber.

não é vingança, não é orgulho. eu poderia ter acompanhado sua mudança, eu queria ter acompanhado. eu teria aplaudido cada conquista, segurado sua mão nos tropeços, celebrado as versões novas sem esquecer da menina que dormia comigo em dias de chuva só porque eu tinha medo e ajeitava meu cabelo antes da foto da turma. eu nunca precisei que você coubesse na minha vida do mesmo jeito pra continuar te amando. eu só precisava que você me deixasse ficar. você escolheu ir sem me olhar nos olhos, e isso foi uma decisão. doeu reconhecer, mas foi sua.

ainda assim, e é aqui que as pessoas acham contraditório, eu torço por você. de verdade. sim, eu ouvi sua música nova e sim, eu vejo alguns posts seus de vez em quando, eu dou like em todos pela minha conta secundária. eu te desejo todo sucesso do mundo. eu espero que você esteja comendo bem, encontrando gente que te veja com a mesma gentileza com que eu via. desejo que você esteja segura, que o palco não te exija mais do que você tem pra dar, que os aplausos não tapem os espaços onde as palavras precisam entrar.

mas pra mim, esse capítulo acabou. você me enviou mensagem novamente esse ano, e eu nem consegui responder. eu guardo as páginas que me fizeram bem, deixo as outras em branco sem raiva. a gente foi uma história bonita num tempo específico. e beleza também é saber parar. eu sigo finalmente em frente, não porque você voltou tarde, mas porque eu encontrei o meu caminho enquanto você se encontrava no seu.

obrigada por ter sido minha melhor amiga naquele período.

com amor, para sempre,

mari.

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𖦹

eu tenho medo de tudo. tenho medo do meu gato morrer e da minha mãe ficar ressentida comigo e da minha irmã desejar que eu tivesse estado por perto mais vezes. tenho medo de me apaixonar e do oceano à meia-noite e dos fantasmas do meu passado que parecem sussurrar meu nome no espaço vazio do meu coração de quando eles partiram.

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JAQUELINE SOUZA

eu ainda tenho a playlist que você fez pra mim em novembro de 2017. não a ouço, mas sempre que estou organizando passo meus olhos por ela. e eu abandonei você. te abandonei depois de um domingo com nossos amigos naquela praça de cascavel que não me lembro o nome. você andava pra lá e pra cá com meu 5panel com a aba emborcada pra cima, porque você sabia que eu não gostava. eu te puxava nos canto de vez em quando e te dava uns beijos, você saia bobinha porque ninguém sabia. você tava com uma camisa do bob esponja esse dia que você mesma customizou, cê curtia demais essas parada. te abandonei depois desse mesmo dia, quando eu te beijei em cima de você, na área da sua casa, na sala de costura da sua mãe, em cima da sua cama. e você sofreu muito, porque eu fui sua primeira garota. mas jaque, tá aqui meu lado que você nunca soube. eu tive medo. não do amor romântico, mas da nossa amizade. porque nós ficamos muito próximas e íamos ficar mais, e isso me apavorou. depois de sair da sua casa ainda com seu gosto na minha boca, não demorou muito para eu ter uma crise de pânico. eu te bloqueei sem ao menos dizer que cheguei em casa bem. você teve que contar para os seus amigos que era lésbica junto com o fato de que eu era uma filha da puta que te deixou. foram semanas de indiretas nas redes sociais. eu te dei o meu mais profundo silêncio. você abandonou o cursinho e sua mãe me xingou de vagabunda. eu nunca reagi publicamente a nada mas eu estava toda noite lá jaque, nos seus perfis, lendo o que você dizia e chorando sem forças de me defender. torcendo para o tempo passar, você me superar e seguir em frente. não faço ideia de como você esteja hoje e não vou ir atrás, ultima noticia que tive sua foi através de um amigo em comum, no ano passado, que me disse que você perguntou de mim. você disse para ele que eu era maluca mas hoje me entendia, e faz sentido, perdão jaque, eu só me entendo agora também.

com amor,

mari.

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enquanto o mundo desmorona

no final do dia eu procuro você. eu queria o calor que só sua voz consegue me trazer. o conforto que só seu timbre me trás. eu sinto absurdamente sua falta. eu sinto sua falta como uma criança sente falta do seu cobertor. você era toda minha segurança. me dói que para você, eu não fui o mesmo. eu me agarro na certeza incerta de que você viria para mim. de que, se eu estivesse no leito de morte, você viria me ver. de que, se meu emocional definhasse, você iria querer me confortar. me agarro na certeza de que se você precisasse chorar, você compartilharia esse íntimo momento comigo. de que se você estivesse com problemas para dormir, você pediria para me ouvir. eu torço para que todos os seus dias estejam sendo bons e quentes, e digo para mim mesma: esse é o motivo para ele não me procurar. você está sorrindo por aí? conquistando o mundo como sempre quis? se divertindo infinitamente diferente de quando passava os dias se preocupando comigo? você fica satisfeito com seus amigos e pessoas estranhas fingindo que gostam de você por status? eu me pergunto se você pelo menos percebe que nada disso é palpável. eu me preocupo se você tem quem te olhe além de dinheiro. se tem quem te admira quando você diz sobre teorias do mundo, ou se percebem como sua voz fica grave com a fumaça do cigarro. existe alguém que te enxerga nas entrelinhas? se você precisasse você viria, certo? eu preciso acreditar. eu me lembro fielmente de ser segurada pelos seus braços, como se isso já tivesse acontecido. eu pedi para cartas de tarô, para simpatias, para Deus. às vezes eu queria que fosse o fim do mundo só pra você me amar. eu respiro fundo e sinto minhas lágrimas descendo pela minha bochecha, te escrevo uma dúzia de textos que você não vai ler. seu silêncio tem me embargado pra dormir. digo eu te amo para o nada torcendo para que ele te entregue. balanço eu mesma na cama. afago meu próprio cabelo. sem você, é difícil me sentir inteira.

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GABRIEL MADEIRO

nosso problema nunca foi eu te perdoar ou continuar próxima de você. é sua forma de lidar com suas frustrações e eu não saber me impor.

mas maria, você está tentando tirar sua responsabilidade da reta?

não. tô tentando te mostrar como eu vejo o mundo. apesar de não ter sido protegida, eu sempre fui uma filha colocada em uma bolha pelos meus pais, e eu cresci com essa visão de que os outros sabem mais - e melhor - do que eu. então eu acredito nas pessoas que eu acredito que me amam. acredito que elas sabem o que é o melhor, acredito que elas sabem e querem e prezam pelo meu bem, de forma até que tola. isso me faz ter uma visão diferente dependendo de quem eu estou por perto. por isso você me fez tão mal. por isso você me faz mal. porque você me fez ter raiva de coisas que eu não tinha, porque eram reflexos da sua forma de lidar com as coisas. por isso eu mantenho essa linha, porque eu tô tentando manter as coisas claras para mim. eu tô tentando ser sincera comigo mesma. seus gatilhos não são meus gatilhos, seus problemas não são meus problemas e tudo teve um zoom enorme pela sua boca, que não precisava ter. de novo, porque é sua forma de lidar. mas eu não sou igual você. eu não machuco quando sou machucada e eu te defendi até quando você tava até errado. te defendi na frente daqueles que se diziam seus grandes amigos, te defendi brigando com quem eu amo, para no fim você não pensar e só me machucar porque, de novo, é assim que você sabe lidar com as coisas. porque você sabe que eu não sou uma pessoa ruim mas você me fez sentir. você queria que eu me sentisse machucada e eu nunca quis, independente de qualquer coisa. e é isso que me quebra. esse seu lado me machuca. porque você poderia ter me feito qualquer coisa, eu não sou uma pessoa ruim, eu perdoaria. mas minha alma fica se questionando, por que alguém pode por um momento ter feito algo para querer que eu sofresse, quando sabe que eu já sofro o bastante?

com amor,

mari.

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11/08/25

essa noite eu passei muito mal, faz alguns dias que estou muito mal. pior do que já estive antes. eu estou realmente me sentindo uma vítima dos dementadores de azkaban. durante a madrugada tive uma crise de choro devido a intensa dor que eu estava sentindo, ele me levou as pressas para o hospital. tomei reposição de sangue, soro anti inflamatório e soro nanomicelas. tomei duas injeções para dor, recebi massagens com hormônios. eu estava sentindo muita dor no estômago e muita vontade de vomitar. quando o médico viu o resultado da minha endoscopia ele me perguntou como eu estava aguentando ficar de pé nos ultimos dias. "não estou", pensei. e ele me disse que meu esôfago está igualmente ao de um idoso que bebeu durante 60 anos seguidos. e eu nem encosto num álcool faz meses, e mesmo quando bebia, era apenas socialmente. fiz uma piadinha que agora eu iria beber para compensar o já existente estrago, mas ninguém riu. também estou com pangastrite e uma desgraça de h. pylori. meu deus, como posso juntar tantos diagnósticos? minha médica disse que é normal, dado aos meus diagnósticos principais: estou muito fragilizada da saúde. exatamente por isso não posso viajar, também devo evitar locais com muitas pessoas e sem ventilação, não devo comer comidas que não conheço a procedência. posso conviver com isso, eram as mesmas regras que me imputaram em setembro do ano passado, mas é patético o sentimento de sempre regredir. mais tarde, eu comecei surtar. não conseguia parar de chorar, acho que os "bip bip bip" do hospital pareciam exageradamente altos. meu corpo estava extremamente dolorido, eu sentia que estava perto da morte. comecei ter pensamentos de que eu deveria ligar para várias pessoas e pedir perdão, eu deveria me despedir. eu me senti tão, tão encoberta pela morte. mais tarde eu descobri que eu estava delirando graças aos 41 graus de febre. mesmo em meio esse momento, eu apenas chorei quietinha e imaginei que eu estava dizendo o que eu queria dizer, para as pessoas que eu queria dizer.