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Narrativa de versões de mim
Que as palavras redigem as turbulentas ondas do meu pensamento.
Há, na Língua portuguesa e em seus estudos linguísticos, dentro do gênero narrativa, 3 tipos diferentes de narradores. O narrador-personagem é aquele que participa da narrativa, do enredo. mas, por estar imerso demais, dispenso-o. Não me serve, está contaminado demais, imerso demais, carregado de subjetividade, de discurso não confiável e pouco verídico, incapaz de se ater aos fatos concretos. Há também o narrador onisciente, esse sabe demais e por deter tanto, é confuso, mal articulado, torduoso. Levaria muito tempo para desvendar os dizeres, organizar as ideias, investigar cada personagem. Não me serve, afinal, tenho pressa.
Sobra-me então a escolha mais adequada - o narrador observador. Esse se afasta da narrativa, senta-se em uma cadeira confortável e acompanhado de uma xícara de, suponho eu, chá, nada faz. Apenas observa, acompanha cada detalhe da progressão da narrativa, se aflita, impacienta, se compadece dos personagens e de suas escolhas, às vezes, desastrosas, descompensadas e destrutivas.
Hoje me sento ao seu lado, faço companhia a sua presença silenciosa e com uma xícara de bebida quente aqueço meu corpo... Que comece o desdobramentos dos fatos:
A Carol claramente não consegue lidar de forma saudável com as suas questões. E é por isso que tem tanto medo. O medo não reside na falta de coragem em realizar as experiências em si, reside na obscuridade que reside dentro dela. A transgressão da ética, a falta de moral, escrúpulos e bom senso residem dentro de si. Ela romperia todas as barreiras facilmente. Não há nada que a impediria e por isso ela tem medo, primeiramente em admitir que isso existe, seria desastroso demais simplesmente aceitar o seu eu. Não existe equilíbrio para ela. Ela é feroz, insaciável e completamente inescrupulosa e facilmente manipuladora para satisfazer os seus desejos mais egoístas, não há ninguém que a impediria, e se alguém ouse atravessar o seu caminho, ela o destrói. Ela sabe que é assim, mas não admite pra si mesma e sempre procura uma alternativa socialmente mais aceita para camuflar a sua persona maliciosa. Nenhuma questão é passível de ponderação. ela quer, ela vai, ela faz. Simples e transparente como a água.
A Ana valoriza cada pedacinho do que de fato completa a sua vida. Ela se doa completamente para o amor. Ela aceita, compreende, vive e se sacrifica constantimente para as pessoas que ama e que estão na sua vida, não há nada que seja grande demais, difícil demais. Tudo é possível para ela, ela é capaz, forte, amorosa e carinhosa, facilmente empática, disposta imediatamente a suprir, cuidar e amar, possui a compaixão quase religiosa, de todos que ela julga serem seus no mundo, um amor tão indescritível e puro que se sacrifica diariamente sem isso a definhar, ou prejudicar, é tão grande que na mesma medida que se entrega, se empodera e fortalece em cada garantia de completude da entrega, quanto mais de si entrega, mais de si se preenche tornando-a imparável, poderosa e indestrutível.
Porém, essas duas personagens inacreditavelmente opostas competem diariamente por sua garantia de lugar no mundo, já que ambas residem no mesmo espaço que comporta somente uma pessoa por vez, não há a possibilidade de ambas coexistirem, não é essa a natureza dessa narrativa, e contra esse fato não há o que se fazer, apenas aceitar as imparcialidades cruéis da vida.
No momento, Carol detém a vez, e ameaça desfazer tudo que Ana construiu até agora. Impiedosa e má, não compreende que seus desejos e anseios deveriam ser tratados de maneira mais saudáveis e não enxerga ou se nega a enxergar a periculosidade das situações que se coloca. Mas sempre que o suas atitudes ameaçam por destruição a existência de seu mundo, Ana surge implacável e poderosa e feroz e ambas entram em uma luta sangrenta e dolorosa, uma luta que nunca acaba por completo e acompanha essas suas personagens a eras e eras, sempre recomeçando e repetindo.
Ambas nunca conseguiram estabelecer a diplomacia, discutir acordos que visem a contemplação de suas duas existências. Durante eras e eras, a única resposta foi o conflito e o combate. Não existe paz! Essa palavra ou ao menos o seu conceito não existe, não se construiu e não dá nenhum vislumbre de existência.
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O PESO DE SUSTENTAR
Hoje você invadiu os meus sonhos novamente. Esse seu péssimo hábito de aparecer repentinamente e me desestabilizar sempre me causa desequilíbrio.
Sempre me ocorre de ficar o dia todo revendo a decisão de ter te mantido afastado de mim.
E é sobre isso que eu tive que escrever hoje.
Acredito que as piores decisões são aquelas onde uma das partes não pende a balança pra nenhum lado, e simplesmente é jogado no colo de quem decide qualquer consequência ou desdobramento de uma decisão.
Eu decidi te manter longe de mim. Não sei se me arrependo ou não disso, mas fato é que sinto sua falta e constatemente me lembro de você. Quando esses sentimentos aparecem, consigo lidar com todos eles, afinal, tem que ter peito e ser uma adulta, e acima de tudo não incomoda-lo injustamente com as minhas reflexões nostálgicas.
Geralmente faço isso e faço bem.
Porém, frequentemente você aparece nos meus sonhos.
E eu acho isso um absurdo tamanho. Porque me pega desprevenida e vulnerável, não tenho controle algum e tudo o que me resta é esperar que passe a avalanche de sentimentos que insistem em ficar mais tempo do que eu gostaria.
Quando isso acontece, eu escrevo, afinal, como eu sempre fiz, é assim eu lido comigo mesma e com tudo que aflinge.
Mas, diferente de tudo o que eu escrevo, nunca é suficiente pra eu lidar com a sua invasão noturna.
Me perturbo constantemente com a insistência repentina que bota a prova qualquer decisão que eu tenha racionalmente tomado.
Que me mergulha em dúvidas. Fiz a melhor escolha? Vou me arrepender dela usando for tarde demais? É tarde demais? Me comunico ? Guardo pra mim? Como faz pra tirar isso do meu peito? Por quê não consigo ficar em paz!?
Já pedi conselhos. Mas nenhum foi capaz de me tranquilizar completamente, já que sempre volta. Queria respostas. Aquelas do tipo: olha, é assim mesmo, qualquer decisão tomada ou não tomada vai te assombrar pra sempre. Talvez assim, eu tivesse alguma chance contra as suas visitas noturnas.
Essas visitas surpresas me causam angústia que preciso dissolver aos poucos até que suma já que me pegam com a guarda baixa.
Hoje eu vou fazer o que sempre faço. Nada. Absorver e digerir aos poucos até que seja pequeno e menos novamente.
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RIO
Eu queria me livrar da sensação de que um dia eu vou me livrar de todas as minhas questões mal-resolvidas, que vou viver a plenitude dos meus findos dias.
Que alcançarei sei lá o quê, que subirei o degrau do sucesso do não sei o quê, que chegarei ao fim do caminho não sei pra onde, que encontrarei a vida perfeita não sei qual.
Queria eu mesma rascunhar o desenrolar dos dias meus ou ao menos ter o conhecimento prévio do roteiro.
Só que não.
A gente vive, porém, descendo a correnteza de um rio feroz e incompreensível que desce rápido demais pra apreciar a vista, no caso, eu sendo a água, que me vire para acompanhar, eu que sambe nesse embaraço, lide com as pedras afiadas, eu que absorva cada impacto, me esforce para não levar comigo muito entulho.
Eu que lide com as fortes chuvas que tornem turbulento o meu percurso ou com secas que ameacem minha existência. Eu que me defenda de quem em mim tenta criar barreiras, me poluir ou me contaminar.
Que eu enxergue, portanto, beleza na rapidez descida, que saiba desfrutar da findeza dos meus dias. Que flua sem entraves a minha ida. Que eu viva mesmo sem entender esse rio chamado vida.
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FAÍSCA
E quando seus olhos cruzam os meus, meu eu fala, a mão treme. O corpo posturado e atraente. Você me excita, me molha, me agita. Mapeio todo o seu corpo em segundos, imagino você puxando o meu cabelo pra trás enquanto a outra mãe segura atrás e sem dor mete com força.
Em segundos eu desperto, me escondo na realidade. Só deixo escapar faíscas desse calor, que você fareja e absorve. Observa e observa, a dança dos olhos não é pra todos, não se observa quem não observa. E você sabe que eu te olho, que te desejo dentro de mim. Então, olha pra mim e me veja molhar desejando todo o seu cheiro, provar todo o seu sabor. A vontade é de tirar você daí e trazer pra cá, pra dentro de mim. Eu sei que você quer, seus olhos me cobiçam e me desejam, te molho, te excito e te levanto, desço subo e me viro te convidando pra fuder, você mal controla as mãos, mal controla os seus movimentos e eu te cruzo a casa instante com olhar penetrante que te corta a moral te desestabelece você sabe que eu ficaria dada, de quatro safada você sente exalar de mim. Eu sei que você quer meu gosto na sua boca eu sei eu vi porque eu vejo eu vejo o que você faz como você faz e o que quer fazer com essa que te observa também entre os corpos andantes no meio da multidão viventes, você sabe que te olho e te fuzilo até você quebrar e precisar lutar contra a realidade pra não se render ao meu poder, tenho o poder, não poder de quem manipula o poder de quem atrai tão forte que você se quebra se não tem a força moral pra resistir. Vem, vem pra mim, chega em mim me deixa te dar o que lembrar de mim todas as vezes que me vir. Escolhe ficar com a lembrança minha de joelhos em cima de você chupando todo o seu ser te fazendo gozar em mim e por segundos deixe essa imagem surgir e enquanto me olha de longe detrás da sua vida moralmente perfeita.
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COR
tive a coragem de quem entra num mar sem remo, a ousadia de investidas irreiais. Tive as asas de um pássaro planando num céu brilhante e deserto e o calor de vapor de água quente no inverno, quando saí de casa sem calcinha.
E assim frenética, embora liberta,
bilhei num mar de multidões universais e entre elas, a minha cor se evadiu potente e descontrolada, me deixando energizada, confusa e envergonhada. Fui buscar um copo d'água.
Te toquei na velocidade em que meus olhos te viram, não me dei eu mesma, tempo de reação,
nunca se houve tanta exposição, tentei ficar com os pés no chão, mas minha cor atraiu a sua, e de repente, a sua mão na minha nuca, numa crescente absoluta de calor, molhou meu corpo que pedia o teu sabor.
Agora tua cor, misturada à minha, compõe e pinta mosaico da minha vida.
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Eu finjo que aqui é um lugar do meu. Tão meu, tão meu. Tão único, solitário e meu. Despejo tudo bem do peito, sem articular, medir ou calcular. Quando começo a escrever, as palavras se ordenam num vômito descontrolado e feroz. Vômito das palavras que não digeri. Que não pude. Que não consegui. Um processo indigesto que se misturam aos pensamentos mais insanos. Sobre mim, sobre os outros, sobre todos. Sobre ninguém. Saem de mim, a dor de muito custo, saem passíveis dos julgamentos mais ferrenhos, vítimas da moral e ética. Tudo o que me sobra é a limpeza por fazer, e o milagre em tentar me desfazer da repulsa que sinto toda vez que releio.
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Desaprendi a ser só
Ou talvez eu só seja só pra coisas mais poucas,
Talvez eu admire vozes roucas, me esquente em peças frouxas,
Me sinta mais livre com a pele solta,
Assuma a conveniente persona louca e metade o fodasse nessa gente toda.
Talvez eu não sirva pra ser pouca, pra ser só.
Talvez eu sirva pra ser banquete, de fartura e bucho cheio de dar dó e por isso me infesso com essa gente cheia de nó
Não que os meus eu tenha todos desatado, longe disso. Só acordei para alguns inevitáveis: não há certezas muitas, e há verdades poucas
e uma delas é que quando desaprendi a ser só nunca mais estive sozinha.
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Colocam-me em cativeiro. Reduzam-me a pó. Minam minha essência. Atam-me as mãos. Apertam os nós.
Calam-me a voz. Tornam-me invisível Invalidam-me as ideias. Proibem-me o pensar
Reduzam-me os acessos. Restringem-me os espaços e quando não, os horários.
Sexualizam-me o corpo, mas se por ventura ouso a mim mesma sexualiazá-lo, julgam-me
Julgam-me frequentemente, constantemente, diariamente, injustamente, compulsoriamente.
Dizem-me o que devo vestir, em que idade devo vestir. Dizem-me como devo me comportar, o quem devo agradar, e se por audácia me rebelo, me revolto punição também há.
Levarei a mim mesma ao brinde da desordem. Que a cada não eu me rebele, que a cada regra eu me escape, que eu mesma subverta a ordem decidida, defina o toque, conduza ao meu tom a trágica comédia da minha existência.
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DESASSOSSEGO
Teço novas linhas
com o embaraço do meu peito
Todo dia que me deito,
Grito pelo meu direito:
De ser poetisa.
De olhar além de cá,
De olhar sensualmente
De olhar profundamente.
De desejar o caos,
de transcender a disciplina,
ignorar qualquer regra,
me fazer felina.
Deixar que se falte ética
que se corrompa a moral
ser...
no mais atrelado significado do termo.
Ser no singular, no particular
no íntimo individual,
desprovida de dizeres, aquém de qualquer verdade
Desprendida de correntes,
extremamente indecente, porém condizente,
absurdamente incoerente.
Ser na mais fiel expressão do termo,
sem julgamento de razão, sentido, lógica e análise.
a própria babel,
assustadoramente impetuosa.
Ser na sua mais transparente definição,
tomada de emoção, inevitável colisão.
Dizer, fazer, pensar, falar,
tocar beijar, apertar, possuir,
deixar sair e aceitar perder
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LISTAS
Mesmo que me encubra de esforço, permaneço.
Lugar de paz não exploro, não conheço.
Erguem-se os muros, desconstruo conceitos, mas na constante presença, desfaleço.
Quem dera eu poder me perder, sem cep, sem rumo, sem endereço.
Determinaria, como rei de mim mesmo:
Não às demandas! Não às insistências,
Cancelem os roteiros, as constâncias.
Derrubem os relógios, a rotina, cancelem a esteria desenfreada.
Não que em mim não exista esforços, tão pouco eficiência. É que só de performances baseiam minha existência.
Me fadiga gritar que existo. Existo além do todo, além das tarefas, das obrigações.
Aceitaria de bom grado um momento agradável, interminável incronometrável que me favorecesse meu resgate dessa lama infinda de "tem que"
Eu! Me leve e me salve de mim mesma.
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DE REPENTE GRANDE SE É
De repente grande se é.
Perrengues complexos se encara,
Energia se preserva,
de doido se faz, se veste.
Tristeza vira companheira,
não há quem acolhe,
há ainda mais poucos com quem compartilhar
não há salvador.
você mesmo se levanta,
você mesmo se consola.
Banca a sonsa, a desinibida,
finge que vê, finge que se importa, finge que nota. Você sabe como se comporta
Enfim entende o jogo, larga o osso, despreza desaforo.
Você mescla suas muitas versões e busca o arranjo de paz entre todas elas.
Aceita as derrotas, comemora as vitórias, aceita o ócio, corre frenético e desenfreado, se acalma, se revolta, se namora, se isola, você ama, você releva, acata, menospreza.
Você vive.
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