cartas de amor ao meu céu - naomi
gerar uma mulher
é a prova viva
de que tudo que eu vi
e vivi
morri e renasci
fará dessa outra mulher
(ainda menina, na barriga)
uma fortaleza
protegida pelas deusas
unidas
então
aqueles que diziam que se fosse menina
seria mais difícil
me fizeram notar
que é por ser menina
que será bem mais resistente
pois está sendo gerada por uma mulher
constituída de resistência
que irá lhe instruir
e explicar
que o mundo pode ser cruel
às vezes
mas que ela pode
e irá
mesmo com peso nos ombros
dividir a carga com sua mãe
suas avós
sua tia
suas madrinhas
mulheres tão fortes
quanto ela
e
por ser mulher
justamente por ser mulher
que ela será ensinada
desde sempre
não carregar esse fardo sozinha
e a abraça-lo com a sutileza de um bater de asas
pois ela pode ser livre
e será
porque suas mulheres estarão com ela
e as que vieram antes dela
estarão reunidas
com todas as outras bruxas
num uníssono
vibrante
de mãos dadas
defendendo sua liberdade
exatamente por ser mulher.
para Naomi,
novembro de 2019.
24 semanas atrás.
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cartas de amor ao meu céu - naomi
ah, filha
se tu soubesse
que esse
dois mil
e dezenove
que tu foi gerada
há tanto
acontecimento
que me faz pensar
que tu em formação
num ano tão insano
não seria
um indício
de que tu vem
assim
num aviso prévio
dizendo pra gente
que tu é
furacão
que não faz
desastre ambiental,
mas fortalece
o ambiente
quando chega.
que não queima
as florestas,
mas incendeia
a nossa alma.
que não mancha
os mares de óleo,
mas marca
o coração da gente.
ah, minha naomi
se tu soubesse
o quanto eu
temo
que o mundo
que te espera
não esteja
pronto pra você
ou esteja
tão poluído
que tu não possa
aproveita-lo
ou não esteja a altura
da sua majestade
ao mesmo tempo
em que
acredito
que a tua graça
há de
ultrapassar
todo esse caos
e
melhorar o mundo
o meu mundo
do seu pai
que é
só nosso,
todavia
inteiramente
seu
tão seu
que
dois mil
e dezenove
se transformará
num
lembrete
que diz
nesse ano
foi concebida
toda a luz
do nosso
universo.
para Naomi,
dezembro de 2019.
20 semanas atrás
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Eu nunca planejei ser mãe, embora ao longo da minha vida assumi esse papel incontáveis vezes antes de vir a ser. Um pouco mãe de amiga, dos meus irmãos e por vezes até mãe de minha própria mãe (e até de meu pai). Nessa confusão de papéis, eu era mãe antes de ser. Pra ser psicóloga eu tracei metas. Desde a minha adolescência eu tinha certeza de que seria uma boa psicóloga. Eu achava que era meu lado psicóloga, mas ali também era meu lado mãe. Tentando proteger o coração de quem eu amava e aconselhando o que eu achava que era certo. Entretanto, meu lado psicóloga foi construído com muito estudo, longe (e muito) do que eu achava que era ser psicóloga durante a adolescência (gratidão aos professores). Ser mãe não foi uma escolha feita por mim, a maternidade me escolheu no momento em que eu estava pronta para ela (gratidão a vida). Não é como se eu agora deixasse de ser eu para ser apenas a mãe de alguém, é que agora ser a mãe de alguém é o que complementa tudo aquilo que eu já era (gratidão a quem eu sou). Eu não acredito que todas as mulheres devem ser mães, porque isso lhes trará completude. Eu acredito que cada mulher pode encontrar a sua completude da maneira que lhe achar pertinente e saudável, dentro de suas crenças e dentro de suas vontades, sozinhas ou não (gratidão a liberdade e ao feminismo). Quando decidi iniciar um relacionamento com Moisés, a sensação que eu tive foi de certeza. E eu sempre fui uma mulher insegura em relação a relacionamentos.
De alguma forma, com ele eu senti que era pra ser e ninguém tirou isso da minha cabeça ou do meu coração. Eu sentia que ele seria o pai dos meus filhos, que seria o amor que eu não estava esperando, mas estava pronta para receber e dar porque era exatamente o que eu queria (gratidão ao amor). No dia que eu descobri que estava grávida, a sensação foi de certeza outra vez, apesar do medo. Certeza de que eu já sabia que isso iria acontecer naquele momento e que tudo bem.
Houveram oscilações, não minto. Chorei diversas vezes por medo. Medo de que fosse uma menina, porque eu penso em como é difícil criar uma menina diante de um mundo que muitas vezes pode ser cruel com as mulheres. Me senti frustrada em meio as alterações em meu corpo, ainda que Moisés sempre me diga todos os dias o quanto eu sou linda (gratidão a cumplicidade). Hoje, tenho a mesma sensação de certeza de que eu nasci pra ser mãe. Que o fato de ser uma menina é um bônus para que eu não reproduza na educação dela um ciclo patriarcal que deve ser quebrado para que exista equidade nas relações. Que ela pode ser o que ela quiser. Que ela não é um produto das minhas expectativas. Que ela, ainda que seja uma extensão de mim, é independente enquanto mulher para decidir sobre si, após ser instruída. Porque, mesmo que o mundo ainda não seja o ideal para ser mulher, eu sei que meu esposo e eu daremos a ela todos os lembretes para que ela nunca esqueça que apesar de não ser o ideal, o mundo real pode ser mudado pela extraordinária existência dela.
Para Naomi, janeiro de 2020.
14 semanas atrás
Cartas de amor ao meu céu - Naomi
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Quando eu descobri que estava grávida de você, eu tive medo. Eu temi como toda mulher que não planejou uma gravidez. Tive medo de não estar pronta, de não ser uma mãe boa o suficiente pra você. Fiquei assustada por semanas, e me achava diferente por isso. Quando eu ouvi seu coração bater pela primeira vez, meu coração teve uma arritmia que me ocasionou o pensamento "eu realmente tenho alguém dentro de mim?" Lembro de como seu pai estava radiante, emocionado e soluçava de emoção. Eu não entendia como era possível que realmente tivesse uma pessoa dentro de mim. Fiquei com tanto medo, que não chorei. Fiquei incrédula como se estivesse acontecendo algo surreal que eu jamais saberia se não estivesse realmente vivenciando. Eu estava de 6 semanas. Já desconfiava que estava grávida, mas ouvir seu coração me fez ter certeza absoluta. Eu me vi mãe naquele momento. O dia que eu ouvi seu coração pela primeira vez.
Cartas de amor ao meu céu - Naomi
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