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ciberteologia · 5 years
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6. Matrizes Referenciais
Conceito: Matrizes Referenciais
Matrizes Referenciais são tudo aquilo que se usa como referência na formação de valores, personalidade e crenças. Referências podem ser mártires, lugares, livros, filmes, pessoas, entre outros, e são tomadas como ideais e modelos.
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O cristianismo sempre manteve um papel de referência e influência na sociedade. Tempos atrás, não era apenas uma referência religiosa mas também política, cultural e social. Hoje, ainda que em menor escala e influência, o cristianismo ainda é referência no âmbito religioso, além de ser considerada a maior religião do mundo em que uma em cada três pessoas no mundo é cristã.
Não só a religião é considerada uma matriz referencial, mas todos os seus representantes e valores. O maior mártir de todos os tempos, Jesus Cristo, é referências de sacrifício, compaixão, salvação e fé. Enquanto pastores, padres e médiuns são referências regionais, o papa, por sua vez, é um produto midiático totalmente globalizado. Os 10 mandamentos no catolicismo também são matrizes que os fiéis aderem como referência para uma vida (e pós-vida) melhor.
A mímese, caracterizada pela imitação e representação de algo de forma autoral, é um exemplo clássico da relação criador e criatura. Ao ser imagem e semelhança de Deus, seguir seus valores e atitudes, o fiel se caracteriza como mímese não só de deus, mas de toda uma religião. Entretanto, nos últimos anos, tais referências presentes no cristianismo estão se modificando perante o universo digital. Um exemplo disso é a Bíblia Sagrada. Sabe-se que a forma como escrituras religiosas são lidas pode influenciar no modo como são interpretadas. Através disso, foi analisado que textos lidos pela tela são geralmente assumidos mais literalmente do que nos livros e, consequentemente, se torna uma modalidade achatada da leitura para qual a Bíblia não foi escrita.
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Com isso, surge um cristianismo específico da era digital chamado “Deísmo Terapêutico Moralista” - DTM. Ele é caracterizado por uma crença direcionada ao lado caritativo e moral da Bíblia, seguindo a ética do mundo secular. Assim, as pessoas buscam cada vez mais por já experiência espiritual mais individualizada e personalizada, já que as interpretações bíblicas se tornam mais subjetivas e personificadas.
Os versículos da Bíblia, que também são matrizes referenciais, apresentam um certo de popularidade dependendo da citação. Os mais populares são aqueles que refletem os ideais seculares do DTM e referências a lutas pessoais, em vez de promover a glória de Deus.
Já os jovens constroem suas identidades e comunidades principalmente através das relações na rede. É nelas também que os jovens geralmente fazem suas experiências religiosas e têm contato com seus modelos de referência, como o testemunho vocacional de leigos e religiosos que comunicam a própria vocação, principalmente quando não o fazem deliberadamente, mas pelo simples fato de estarem em rede.
Por: Giovanna Moura | PP2B
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ciberteologia · 5 years
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5. Cultura da Mídia
Conceito: Cultura da Mídia
É caracterizada pela construção e circulação de signos e significados em determinado grupo social. Ela acontece em múltiplas plataformas em diferentes linguagens e dois processos: tradicional e prosumption. Essa sociedade também pode ser denominada como Sociedade do Espetáculo, que torna o ordinário extraordinário e banaliza o mal.
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Ao alegar a afirmação “Deus está morto”, Nietzsche já se referia ao aumento da secularização na época da modernidade. Atualmente, na contemporaneidade, a perda da influência do cristianismo e, consequentemente, o aumento do ceticismo são características de uma sociedade cada vez mais incrédula e com valores morais efêmeros.
A ascensão de tal sociedade ateísta fez com que o âmbito religioso realizasse uma restauração do evangelho, alterando o foco da mensagem que se comunica para como comunicar. Com isso, nessa relação entre mídia e religião, diversos conteúdos eclesiais se tornaram espetacularizados para atrair (novamente) a atenção dos fiéis; caracterizando, assim, a sociedade do espetáculo.
Um exemplo desses espetáculos religiosos é o projeto Sunday Service do rapper Kanye West. Tal projeto baseia-se em cultos dominicais que se alternam entre o canto do coral Sunday Service e do próprio cantor Kanye West, apresentados de forma grandiosa e extraordinária. Através desses espetáculos, West vende sua palavra, assim como a igreja sempre vendeu seu evangelho, porém a forma ordinária com que ela faz isso já não é suficiente para manter os fiéis fascinados pelo divino. O verdadeiro risco, na verdade, é perder o real significado da palavra ao torná-la tão massificada e literal.
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Além disso, o rapper lançou recentemente um álbum totalmente com a temática gospel com o título: ”Jesus is King” (Jesus é Rei, na tradução livre). Entretanto, os diversos shows eclesiais juntamente com o álbum recém lançado do cantor, trouxeram diversos questionamentos à respeito da ‘veracidade’ de sua fé: até que ponto é conversão e quando se torna interesse mercadológico? É correto comercializar a fé? Se por um lado, o cantor já possuía algumas canções com referências gospel e o álbum não foi surpreendente dentro do seu repertório, por outro, o interesse repentino no mercado musical gospel nunca foi tão claro e objetivo para Kanye antes.
O ‘espetáculo do sagrado’ não atinge apenas o âmbito musical, mas também programas de tv, filmes, jornais, entre muitos outros. A tele-evangelização, por exemplo, consiste em verdadeiros shows de líderes de grande carisma, principalmente da igreja neopentecostal, atraindo os crentes para o extraordinário. Esse tipo de evangelização, entretanto, geralmente garante recompensas fora do plano metafísico, como as pregações tradicionais monoteístas prometem, projetadas para o campo material. Aqueles que ‘consomem’ o produto da fé, portanto, são retribuídos com promessas de oportunidade de emprego, dinheiro e até o retorno da pessoa amada.
Os pastores se transformaram em verdadeiros apresentadores que, a toda momento, utilizam do poder da comunicação em massa para vender sua palavra. Através de diferentes expressões corporais e tons de voz, o “mestre de cerimônias” difunde seus discursos que reiteram a espetacularização da fé de forma dramatizante. Os casos de cura e exorcismo, por exemplo, dão um toque sensacionalista aos programas cristãos e formam um consenso de que aquela igreja e seus representantes são capazes de interceder junto ao indivíduo.
O cristianismo tem se reinventado há mais de 2 mil anos com o intuito de manter sua influência perante a sociedade, e nos meios digitais isso não é diferente. A criação de aplicativos de confissão, de velas virtuais, missas online, plataformas de sacerdotes, entre outros, nada mais é do que a tentativa de tornar a experiência eclesial mais extraordinária e única.
Por: Giovanna Moura | PP2B
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ciberteologia · 5 years
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4. Contrato de Comunicação
Conceito: Contrato de Comunicação
O Contrato de Comunicação é um contrato simbólico estabelecido entre audiência e produto midiático. Esse tipo de contrato é efêmero, duradouro e flexível. O nível  de devoção é diretamente proporcional à firmeza do contrato.
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A promessa dita do altar de que os problemas do ouvinte serão solucionados; a afirmação conclusiva de que Deus está naquele lugar; o anúncio de que Deus é poderoso e suficientemente misericordioso para dar fim ao sofrimento enfrentado pelo ouvinte, prenuncia um tipo de obrigação de prestação de serviços de intermediação, melhor dizendo, promessa de fato de terceiro. O pastor se tornar o juiz e testemunha do contrato simbólico entre Criador e criatura. Entretanto, por ser um contrato com o incerto e sem qualquer garantia de cumprimento, o fiel, além de criar uma enorme expectativa mediante o seu deus, se frustra constantemente quando não recebe ‘sinais’ ou quando o esperado não sai como planejado.
Quando há a quebra desse contrato, automaticamente a fé daquele crente se abala junto com ele. Sem receber o que espera do contratado ou quando passa por momentos de dor e sofrimento, o fiel se vê em um súbito abandono do ser divino e, consequentemente, algumas vezes se encontra na beira de um penhasco niilista. Entretanto, o nível da fé é inversamente proporcional ao nível de frustração de um crente. Quanto maior sua devoção e fé menor será sua decepção, pois ele tem mais entendimento e esperança sobre o papel de seu deus, e o mesmo acontece de forma contrária. Com a secularização da sociedade, os fiéis estão cada vez mais impacientes com seus contratos, tratando-os com certa efemeridade.
Nesse contrato, tratando-se de um objeto místico, seria duvidosa a afirmação de que o objeto desse contrato consensual, teria ou não a intermediação visando intervenção Divina em favor daquele que o invoca. Entretanto, se a intervenção divina fosse tida por inexistente, não haveria nem mesmo razão de existir a igreja pois se cientificamente não se pode dizer que o milagre seja possível, do contrário, não poderá dizer que seja impossível.
Por: Giovanna Moura | PP2B
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ciberteologia · 5 years
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3. Sociedade de Consumo
Conceito: Sociedade de Consumo
O termo é utilizado para designar o tipo de sociedade que se encontra em um patamar elevado de desenvolvimento industrial. Devido a elevada produção, esse tipo de sociedade é caracteriza pelo consumo intenso de bens e serviços, produção em série, alto nível de oferta e, consequentemente, uma tendência ao consumismo.
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O consumismo se tornou o evangelho secular do mundo atual, todo dia ele muda prometendo benefícios e alegria aos consumidores ‘fiéis’. Ele promete o bem-estar por meio da aquisição de bens materiais e atividades que se concentra, principalmente, no prazer que as pessoas sentem ao realizar algo relacionado ao pessoal.
O consumo é muito mais do que uma atividade econômica para a aquisição de bens ou serviços, hoje ele se tornou uma forma de expressão, um ato político. Entretanto, a consumação desenfreada e o desejo incessante do que é mais novo é melhor, pode se tornar um verdadeiro ‘culto’ ao consumo. Segundo o escritor W. Benjamin, a sociedade vive hoje em uma condição de escravidão em relação à ideologia do acúmulo de bens a qualquer custo, comparando até o capitalismo à religião.Com o alto nível de consumo, por exemplo, os consumidores idolatram marcas e lojas da mesma forma que os fiéis adoram seus deus. O que o consumismo tem de historicamente inédito é que ele, como religião, não é mais reforma mas sim ruína.
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Em outra vertigem, ao se analisar o consumo do culto identifica-se a potência que a religião se tornou: R$ 15 bilhões já são movimentados, apenas com festas e romarias (segundo o Instituto Data Popular). Hoje, o mercado gospel cresce 14% ao ano e esse tipo de música sempre está entre os 20 álbuns mais vendidos no Brasil. Entretanto, uma das atividades econômicas que as igrejas ainda realizam, principalmente as neopentecostais,  é a simonia. Essa prática consiste na venda de favores divinos, bençãos, cargos eclesiásticos, objetos sagrados, entre outros.
Em contrapartida, acaba-se confundindo a ação evangelizadora com práticas de um mercado de bens religiosos, marcado pela concorrência religiosa, pela fidelização de novos adeptos e pela busca do aumento de popularidade da Igreja e das suas lideranças. Quando, na verdade, a venda da palavra e do evangelho sempre foram vendidas, porém de formas diversas.
Com os avanços das tecnologias, vive-se hoje na chamada ciberteologia, que consiste em (re)pensar o cristianismo nos tempos da rede. Nada mais necessário que, a partir das mudanças no âmbito econômico e o intenso papel do capitalismo nos dias atuais, reavaliar o papel da igreja e sua influência nos dias atuais.
Por: Giovanna Moura | PP2B
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ciberteologia · 5 years
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2. Sociedade de Controle
Conceito: Sociedade de Controle
Enquanto a modernidade é representada pela Sociedade Disciplinar, hoje, na contemporaneidade, é a Sociedade de Controle que representa os dispositivos disciplinares atuais. O conceito, criado por Gilles Deleuze (1992), nasce da combinação entre disciplina e biopolítica sendo caracterizado pela vigilância contínua e rastreamento de comportamentos pelos próprios integrantes da sociedade. Entretanto, as instituições ainda possuem um papel significante da normatização social, como por exemplo a religião.
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As origens medievais das atuais nações europeias são essencialmente cristãs, e isso está longe de ser uma coincidência. O cristianismo se tornou a religião oficial de muitos governos com a conversão de seus líderes, em meados do século V. A ideia do monoteísmo e a hierarquização da Igreja Católica foram os principais fatores que favoreceram a ascensão dessa religião dentro dos governos e, consequentemente, o imbricamento entre religião e Estado. Esse Estado confessional fez com que o Cristianismo exercesse não apenas seu posto de misticismo e fé, mas também de um dispositivo de punição e ordem social.
Há de se destacar, portanto, o panóptico de Michel Foucault e seu papel na vigia social. A estrutura, em forma de arranjo circular, é constituída por uma torre no ponto central que observa todas as células em sua volta. Entretanto, por não se ver o interior a torre, os indivíduos nunca saberiam quem os vigia ou quando são vigiados. A teoria panóptica de Foucault corresponde à observação total e a tomada integral por parte do poder disciplinador da vida de um indivíduo.
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Portanto, o panóptico pode ser diretamente comparado com a vigília constante presente no cristianismo. No lugar da torre central, quem vigia a sociedade é Deus, porém sem a certeza de que ele realmente existe e observa. Dessa forma, um cristão caracterizar Deus como uma figura onipresente, onisciente e onipotente se torna igualmente temeroso, já que religiões, assim como prisões e manicômios, contam com sistemas de punições e recompensas.
Porém, nem sempre a igreja teve essa grande e notória influência. Na época da inquisição, por exemplo, a igreja atuava diretamente no controle da sociedade impedindo qualquer desenvolvimento de ideias que ameaçassem seus dogmas. Em compensação, o Iluminismo, que defendia a razão em detrimento da fé e da religião, foi um período que o cristianismo perdeu parte de sua influência, porém se manteve forte no âmbito cultural já que estava, e ainda está, enraizado nos valores mais fundamentais da sociedade.
Além de exercer um papel de dispositivo de controle como no panóptico, o cristianismo também utiliza de outros sistemas para a manutenção dessa vigilância, como o confessionário. Enquanto antigamente a igreja utilizava esse método para controlar os fiéis e seus atos, hoje ela ainda o faz mas em outro patamar: através de plataformas digitais como os aplicativos de confissão.
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Há de se destacar o papel político e organizacional que a Igreja assumiu durante esses anos e que os infiéis se vêem sujeitos moralmente a acatar em suas ações cotidianas. Assim, o cristianismo funciona, de certa forma, como organizador do espaço-tempo dos fiéis que a ele recorrem para firmar seus comportamentos. Além dos dias e horários das celebrações eclesiais presenciais, tais cultos também ocorrem pela televisão e configura-se, assim, um “panóptico invertido”, permitindo aos vigiados verem sem serem vistos, mas sem perder as funções de organização e controle estabelecidas pelo cristianismo.
Por: Giovanna Moura | PP2B
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ciberteologia · 5 years
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1. Teorias da Contemporaneidade
Conceito: Modernidade Líquida
Termo criado por Zygmunt Bauman (1925-2017) retrata a transição da modernidade para a pós-modernidade. A modernidade líquida é caracterizada pela efemeridade das identidades, relações, valores e ideais. A sociedade líquida é pautada pelo individualismo e desapego. Tudo se transforma de forma imprevisível e, exatamente por ser tão volúvel, se torna rapidamente obsoleto.
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A Incredulidade de São Tomé - Caravaggio
Na modernidade líquida, a fluidez e a instabilidade são as principais características das relações, instituições e valores do mundo contemporâneo. E com a fé não é diferente. O ato de crer ainda existe, porém com o risco de ser desvinculado do contexto “sagrado”, com um tom de fundamentalismo. Através da arte é possível resumir toda a profissão de fé presente na modernidade líquida com a obra de Caravaggio.
A obra pintada há mais de 400 anos retrata com perfeição o ceticismo e a secularização que a sociedade vive atualmente. Os indivíduos põe em xeque as questões religiosas ao questionarem as crenças e valores estabelecidos, vivendo em inquirição constante. Entretanto, colocar o dedo na ferida como São Tomé, em tempo de modernidade líquida, ainda é um referencial para se acreditar.
Se por um lado esse gesto revela uma desconfiança, por outro auxilia a evitar um ‘crença cega’, pois se confirmará que o crucificado é o ressuscitado. Tal fato representa essencialmente o que Santo Anselmo de Cantuária quis dizer com “fides quaerens intellectum”: a fé que busca a intelecção. As pessoas estão em buscas constantes pela verdade e por aquilo que ainda não tem explicação, utilizando da razão para explicar a religião, como é o caso do espiritismo.
Assim, a divindade flui junto com a modernidade, porém, em uma época em que os valores são tão efêmeros quanto os significados, a sociedade se torna cada vez mais niilista e sem perspectivas. Segundo dados do IBGE, a população brasileira está se tornando cada vez mais secularizada. Desde de 1970, o índice de ateus no Brasil cresceu mais de 10%. Já entre os cristãos, o número de católicos caiu de 91,8% para 64,6% e os evangélicos subiram 17%.
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A modernidade líquida, então, forma indivíduos com identidades fluídas, reunidas em torno de uma religiosidade midiatizada formada por um conjunto de práticas cômodas e personalizadas. Assim, há o risco de se equivocar ao pensar que o sagrado/religioso estão ao alcance do mouse, ou seja, de que está ‘à disposição de um ‘consumidor’ no momento da necessidade.
Por: Giovanna Moura | PP2B
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