Assim é minha vida
Meus deveres
caminham com meu canto.
Sou e não sou:
é esse o meu destino.
Não sou,
se não acompanho as dores
dos que sofrem:
são dores minhas.
Porque não posso ser
sem ser de todos,
de todos os calados.
Minha poesia
é cântico e castigo.
Me dizem:
“Pertences à sombra”.
Talvez, talvez,
porém na luz caminho.
Sou o homem
do pão e do peixe,
e não me encontrarão
entre os livros,
mas com as mulheres
e os homens:
eles me ensinaram o infinito.
Pablo Neruda
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Ô mãe,
Porque a gente ainda se utiliza
De limpar os sonhos na manga da camisa
De cortar os pés nos cacos de ilusão
Ô mãe,
Cuidaste bem da minha catapora
Hoje sou homem forte e agora
Posso seguir na minha solidão
Kleber Albuquerque
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Sinto que sou um bosque
que há rios dentro de mim,
montanhas,
ar fresco, ralinho
e parece-me que vou espirrar flores
e que, se abro a boca,
provocarei um furacão com todo o vento
que tenho contido nos pulmões.
Gioconda Belli
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Canção do vento e da minha vida
O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos,
O vento varria as flores...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.
O vento varria as luzes,
O vento varria as músicas,
O vento varria os aromas...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De aromas, de estrelas, de cânticos.
O vento varria os sonhos
E as amizades...
O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos...
O vento varria tudo!
E minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De tudo.
Manuel Bandeira
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Vestido
de sentimento
sou tecido
por um olhar.
Truck Tumleh
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Sou uma mulher madura
Que às vezes anda de balanço
Sou uma criança insegura
Que às vezes usa salto alto
Sou uma mulher que balança
Sou uma criança que atura
Martha Medeiros
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Eu sou o medo da lucidez
Choveu na palavra onde eu estava.
Eu via a natureza como quem a veste.
Eu me fechava com espumas.
Manoel de Barros
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Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa
há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.
Pablo Neruda
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Me viu
Te vi
Corei
Gostei
Olhei
Cheguei
Teus olhos
Teu sorriso
Senta
Garçom!
Amor
Pra dois.
Martha Medeiros
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Repouso
Dá-me tua mão
E eu te levarei aos campos musicados pela canção das colheitas
Cheguemos antes que os pássaros nos disputem os frutos,
Antes que os insetos se alimentem das folhas entreabertas.
Dá-me tua mão
E eu te levarei a gozar a alegria do solo agradecido,
Te darei por leito a terra amiga
E repousarei tua cabeça envelhecida
Na relva silenciosa dos campos.
Nada te perguntarei,
Apenas ouvirás o cantar das águas adolescentes
E as palavras do meu olhar sobre tua face muito amada.
Adalgisa Nery
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Poesia
Se todo o ser ao vento abandonamos
E sem medo nem dó nos destruímos,
Se morremos em tudo o que sentimos
E podemos cantar, é porque estamos
Nus em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugadas do amor.
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma possuirá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos.
Aqui, desposta enfim a minha imagem,
Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem.
No interior das coisas canto nua.
Aqui livre sou eu - eco da lua
E dos jardins, os gestos recebidos
E o tumulto dos gestos pressentidos
Aqui sou eu em tudo quanto amei.
Não pelo meu ser que só atravessei,
Não pelo meu rumor que só perdi,
Não pelos incertos atos que vivi,
Mas por tudo de quanto ressoei
E em cujo de amor me eternizei.
Sophia de Mello
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Porque cantamos
Se estamos longe como um horizonte
se lá ficaram as árvores e céu
se cada noite é sempre alguma ausência
você perguntará porque cantamos
cantamos porque o grito só não basta
e já não basta o pranto nem a raiva
cantamos porque cremos nessa gente
e porque venceremos a derrota
cantamos porque o sol nos reconhece
e porque o campo cheira a primavera
e porque nesse talo e lá no fruto
cada pergunta tem a sua resposta
cantamos porque chove sobre o sulco
e somos militantes desta vida
e porque não podemos nem queremos
deixar que a canção se torne cinzas.
Mario Benedetti
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Não há guarda-chuva
Não há guarda-chuva
contra o poema
subindo das regiões onde tudo é surpresa
como uma flor mesmo no canteiro.
Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer
boca,
que tritura como um desastre.
Não há guarda-chuva
contra o tédio:
o tédio das quatro paredes, das quatro
estações, dos quatro pontos cardeais.
Não há guarda-chuva
contra o mundo
cada dia devorado nos jornais
sob as espécies de papel e tinta.
Não há guarda-chuva
contra o tempo,
rio fluindo sob a casa, correnteza
carregando os dias, os cabelos.
João Cabral de Melo Neto
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O verbo no infinito
Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar
Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar para poder chorar.
E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito
E esquecer de tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...
Vinicius de Moraes
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Eu não caibo mais nos meus próprios textos.
E deixo tudo aqui calado,
mesmo que no íntimo as coisas nunca achem seu lugar.
dm.
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hoje eu não quero falar do que machuca, porque isso sempre está aqui. eu quero me lembrar que também sou feita de dias quentes e que não os vivi sozinha. que na inconsequência de uma risada, por um algum momento, nada doía.
dm.
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