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O Rio Mondego é o maior rio com o curso totalmente em território português. São 258km de extensão, desde a Serra da Estrela, no concelho de Gouveia e segue até o Oceano Atlântico, na Figueira da Foz.

É um rio com um importante trecho que, tal como o Sena e o Tâmisa, divide uma grande cidade em duas margens, no presente caso, a cidade de Coimbra, separando as freguesias de Santa Cruz e Santa Clara.

Este presente trabalho quer identificar algumas das paisagens sonoras de um considerável trecho do rio Mondego, mais precisamente o que corta considerável parte do concelho de Coimbra que ao dividí-lo, recebe uma atuação humana considerável e irresistível e faz este rio adquirir características urbanas diferentes de outros trechos de sua extensão.

Um rio urbano

O Mondego, com um considerável trecho urbano, divide sua imponência e serenidade com a influência humana, na sua utilização, transformação e sensível alteração não apenas na sua forma, mas em toda a sua ecologia e em sua paisagem sonora.

O rio e a humanidade

As imagens desse trabalho foram registradas por meio de um telemóvel de marca Samsung, modelo SM-J400M colocado em um pequeno tripé e cada registro captou em média 11 minutos de acontecimentos livres.Após, na fase de edição, essas imagens foram aceleradas, ao esilo "time lapse", para conferir uma experiência de rapidez, simbolizando como a atuação humana e seus progressos tecnológicos dão a impressão do tempo passar mais depressa.

O áudio foi captado por meio de um microfone condensador unidirecional, da marca MXL, modelo 990, de captação na banda de frequência entre 30 Hz - 20 kHz. Fora os processos de mixagem e edições, o áudio não sofreu nenhum tipo de alteração em relação à velocidade, em contraste com o vídeo.

Esse contraste de sons em velocidade normal e vídeo acelerado tem a intenção de provocar uma experiência onde se sugere que vemos o nosso dia-a-dia acelerado demais e é interessante que paremos e ouçamos e percebamos as histórias que os sons de uma cidade tem a nos contar.

Foram escolhidos 5 pontos do trecho onde o rio Mondego atravessa o concelho de Coimbra.Estes locais foram captados todos no dia 10 de janeiro de 2021, entre às 10h e 13h30 e foram escolhidos por serem locais onde a intervenção humana, seja arquitectónica ou individual, é mesclada consideravelmente com os eventos naturais.

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(HUM)ONDEGO

A interferência humana nos sons do Rio Mondego

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PARQUE VERDE DO MONDEGO

Data:10/01/2021

Hora:10h55

Geolocalização:40.202779353759425, -8.426489946022013

Duração:2'30"

Equipamento: Vídeo: Telemóvel Samsumg SM-J400M | Áudio: Microfone MXL 990 - Condenser

Em uma manhã de domingo, mais precisamente no dia 10 de janeiro de 2020, Portugal passava por um período de meio-lockdown, devido à pandemia do COVID-19. As regras vigentes eram semi-confinamentos, onde à partir das 13h, a orientação era que todos se recolhessem às suas casas, o comércio fechasse e apenas os locais de extrema necessidade permanecessem abertos.

Antes da recolha, me encaminhei ao deque do Parque Verde do Mondego, que se localiza perto de um parque infantil onde pessoas passeavam com suas crianças ao meio de uma boa quantidade de gaivotas que se posicionavam em uma estrutura de metal, observando o curso do rio e algumas delas partiam em direção às águas para pescar.

Os sons captados revelam a atividade dos passeios das pessoas em direção à ponte Pedro e Inês, ou a caminhar pelo deque para ver o rio ou as gaivotas, que também fazem parte desta paisagem sonora com seus grasnares e bater de asas.

Um momento que considero importante a ser percebido é como o som do rádio a tocar uma música é claramente percebido em um trecho do vídeo, quase que tomando conta de todo o ambiente. Este rádio estava localizado na outra margem do rio, a muitos metros de distância. Leva-nos a refletir como a tecnologia pode alterar sensivelmente os sons de uma paisagem natural.

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PONTE PEDONAL PEDRO E INÊS

Data:10/01/2021

Hora:11h22

Geolocalização:40.20098570468481, -8.428886698429155

Duração:1'56"

Equipamento: Vídeo: Telemóvel Samsumg SM-J400M | Áudio: Microfone MXL 990 - Condenser

Ao sair da margem da freguesia de Santa Cruz, atravesso a Ponte Pedonal Pedro e Inês e posiciono-me próximo a um pequeno rio artificial onde patos, gaivotas, cães e, claro, pessoas interagem em um quadro magnífico de se ver.

Uma sorte de seres a conviver de maneira simbiótica e construindo uma paisagem sonora ímpar. No entanto, a música mecânica ao longe ainda parece intermediar toda a simbiose detalhada de sons de espécies diferentes junto ao som de vozes, bicicletas, passos e muito mais.

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PONTE DE SANTA CLARA

Data:10/01/2021

Hora:11h51

Geolocalização:40.20522321937281, -8.431139010418628

Duração:3'26"

Equipamento: Vídeo: Telemóvel Samsumg SM-J400M | Áudio: Microfone MXL 990 - Condenser

A ponte de Santa Clara não é algo recente na história da cidade: uma ponte de pedra no mesmo local é datada de 1513, sendo substituída por uma de ferro por volta de 1873, até a actual ser inaugurada em 1954.

Este trecho foi o que mais se percebeu a atividade humana dentre todas as outras paisagens sonoras gravadas. Carros, transeuntes e até barcos nas águas do rio são claramente percebidos nessa paisagem. Sons como o sino da Igreja de Santa Clara são outros exemplos de sons gerados por humanos. Os sons da natureza ainda são audíveis, mas sem efeito de comparação.

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AÇUDE-PONTE DE COIMBRA

Data:10/01/2021

Hora:12h38

Geolocalização:40.215917845295415, -8.439267169008382

Duração:2'40"

Equipamento: Vídeo: Telemóvel Samsumg SM-J400M | Áudio: Microfone MXL 990 - Condenser

O Açude-Ponte de Coimbra foi inagurada em 1981 para fins de abastecimento de água e usos industriais e agrícolas e em 2011, foi atualizada a Passagem Para Peixes para facilitar a circulação das espécies piscícolas migradoras que ocorrem no rio Mondego. Neste trecho, o som intermitente das águas se mistura com os sons dos carros no viaduto, onde é a principal entrada Norte da cidade. O sons dos corredores cicloviários são audíveis também.

Arrisco-me a dizer que foi ao ver o espelho d'água que o Açude-Ponte formou na entrada da cidade que encantou-me e ajudou-me na decisão de viver em Coimbra. Observá-lo com o som do açude ao fundo é uma experiência fascinante.

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PRAIA FLUVIAL DO CHOUPAL

Data:10/01/2021

Hora:13h12

Geolocalização:40.217212462635636, -8.441320471457727

Duração:2'42"

Equipamento: Vídeo: Telemóvel Samsumg SM-J400M | Áudio: Microfone MXL 990 - Condenser

A mansidão do rio Mondego ao passar pelo açude da ponte revela uma praia fluvial de águas calmas, claras, tal como se refere seu próprio nome: "Mondego" deriva de "Munda", como os romanos chamavam o rio que banhava a cidade romana de Aeminium. Por curiosidade, a rua da margem da freguesia de Santa Cruz que beira o rio chama-se "Avenida Cidade Aeminium".

Sobre a praia, chamada de Praia Fluvial do Choupal, percebe-se na paisagem sonora uma quietude e um descanso nas suas areias, com o som similar a uma cachoeira vinda do açude, com o som dos carros e eventuais pássaros que vivem na Mata Nacional do Choupal. Descanso para os ouvidos.

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BIBLIOGRAFIA

Agência Portuguesa do Ambiente. s.d. "Passagem Para Peixes do Açude-Ponte de Coimbra". Acedido a 15 de janeiro de 2021. https://apambiente.pt/index.php?ref=19&subref=138&sub2ref=766&sub3ref=1307#.

Casa Comum. s.d. "A Ponte de Santa Clara". Diário de Lisbôa, 30 de outubro de 1954. Acedido a 15 de janeiro de 2021. http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06523.061.14246#!9.

Lobo, Rui, Paulo Peixoto, Eduardo Mota, Nancy Duxbury, e Pedro Caiado. 2016. "Mondego: o surdo murmúrio do rio". Em A água como património: experiências de requalificação das cidades com água e das paisagens fluviais, por Paulo Peixoto e João Paulo Cardielos, 1.ª ed., 95–112. Imprensa da Universidade de Coimbra. https://doi.org/10.14195/978-989-26-1025-2_6.

RTP Arquivos. 1985. "Rio Mondego". Acedido a 15 de janeiro de 2021. https://arquivos.rtp.pt/conteudos/rio-mondego/.

"The Project Gutenberg eBook of Os Lusíadas, by Luís de Camões". s.d. Acedido 15 de Janeiro de 2021. http://www.gutenberg.org/files/3333/3333-h/3333-h.htm.