colwrfulbw - Tumblr blog

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25-09

descobri esses dias que gosto de fotografia, de foto de gente. menos porque é de se mostrar e mais porque é de se ter pra si. fico emocionada vendo, acho a vida muito bonita. acho as pessoas muito engraçadas, acho os lugares muito encaixados. acho tudo coisa de filme.

tenho prazer individual, quase do espírito, em não compartilhar meus segredos com ninguém, em conversar sozinha. sou a única pessoa que eu conheço.

todos os dias fico pensando nos caminhos que tomei, fico repassando em retrospectiva. ainda não consegui decidir se me arrependi de algum deles. caio na armadilha de achar que de outro jeito não seria, tudo sendo o que só poderia. fico pensando nas escolhas pro futuro, brincando de poder, mais uma vez, escolher a dedo o que comer e por onde andar. sinto uma quase escolha subindo por cima de outra quase escolha, não gosto de figos.

tenho passeado ao lado do eterno movimento dos barcos.

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19-09

eu gosto muito de pessoas muito espirituais e não me importo em encarnar uma por uma e em estar bem viva porque é engraçado demais é horrível. fixação oral, cinco marcos do desenvolvimento infantil. o eterno movimento e a psicossexualidade dos barcos se pisam por cima. eu não consigo não olhar o que se existe, fica passeando por mim em aberto, clama.

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02-09

tenho rido do tempo, tenho ouvido o eterno movimento, tenho agora os olhos mais baixos, tenho estado muito espiritual, na insistente conversação quieta do mundo, tenho tido a doença do ambiente, tenho amado de novo e de novo.

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09-01

não tenho outra escolha, parece que me é impossível fugir do que carrego. hesito entre os vivos e vivo dos sonhos. olhando o tapete de bolinhas que se enroscam, pensei que o cinema é o melhor, talvez o único, jeito de se estar em silêncio. acho que no fundo eu tenho medo de falar até o final, paro quando sei que vou quase terminar. é desconfortável ter certeza perto das outras pessoas, morrer assim.

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parte de mim tenta atingir o absurdo, o secreto. parte porque vejo o valor estético-escondido-depravado-pessoal. parte porque gosto do susto nos outros, porque gosto de sentir o susto, porque existe algum resto eriçado no imoral. mas escrevo melhor com as mãos.

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07-01

só sinto um aperto e uma curiosidade parece que vou ter que procurar muita coisa não faço a menor ideia de quem eu seja só sei da boca e de um aperto e da merda parece que vou ter que procurar muita sede não faço a menor ideia da coisa só sinto uma merda e um aperto só sinto uma boca e uma sede e uma ideia de quem eu seja parece que vou ter que procurar muita curiosidade não faço a menor ideia do aperto só sei de uma coisa por debaixo da merda parece que vou ter que procurar muita sede parece que vou ter que procurar muita sede

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"They can either paint it, or draw it, or write it down and then pass it on to somebody. They read what you're saying, and then they reexperience. That's the only connection you have with that, man. So you can't rewrite, 'cause to rewrite is to deceive and lie, and you betray your own thoughts. To rethink the flow and the rhythm and the tumbling out of the words is a betrayal. And it's a sin, Martin. It's a sin.

I don't accept your catholic interpretation of my compulsive necessity to rewrite every single word at least 50 times. Guilt is -Thanks. Guilt is the key, not the sin. Guilt is not writing the best that I can. Guilt is not considering everything from every possible angle. Balancing everything.

Well, how about guilt recensoring your best thoughts? Your most honest, primitive, real thought because that's what your laborious rewriting amounts do, Martin.

Is rewriting really censorship, Bill? Because I'm completely fucked if it is.

Exterminate all rational thought. That is the conclusion I have come to.

What is the man talking about? I'm being serious.

So is he." (naked lunch, cronenberg)

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28-11

todas as vezes que o coração quase sai fora pela boca. cidade vazia substância suficiente reconciliação bicho palito higiene de dente. de olho fechado, groselha parece morango, cachorra parece comigo, fulano parece com gente. a alma dos outros, me contaram, é segredo.

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na semana do natal

as vezes consigo ver a influencia de uma vida acabada na minha. o jeito como, inevitavelmente, lembro quem eu tanto tentei nao lembrar. apesar de me considerar uma melhor versao de voce, pai, te reconheço. consigo perceber o tamanho dos meus pés, o jeito ansioso com os dedos, a forma como voce pensa, o ego. consigo quase entender a mim mesma chegando mais perto. acho que pela primeira vez consigo entender o que significa nao conseguir decidir. não consigo decidir se consigo gostar de voce, só continuo como alguém que se percebe. continuo sozinha mas enxergo.

quanto mais tempo eu passo longe de casa e longe de mim, mais percebo meus vícios, mais me sinto isolada, mais fico em paz. as pessoas tem uma noção bonita de paz, a tranquilidade do espírito, mas aqui sinto como se fosse só a ausência dos grandes barulhos. passo o tempo não sentindo nada. só acordo, conto os dias, me pergunto das horas e leio. penso muito sobre o passado, esses dias sonhei que todas as pessoas próximas estavam juntas. acho que as minhas relações não familiares são reflexos das familiares. acho que carrego o meu pai comigo, mas acabo sendo a minha mãe.

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quase indo embora, queria lembrar de algumas coisas que eu aprendi. o ego é o que determina a maioria das ações. a paz pode ser tédio, pode ser nada. a vida em sao paulo gira em samsara, em vício. é importante estar presente, mesmo que nao seja divertido ou facil, é importante. apesar dos mistérios, das individualidades, da solidão, observar também é agente. o jeito como voce repetia “a sua mãe” se referindo a outras pessoas, sem querer, te denunciava. as perguntas, os gestos, te denunciavam em intenção. acho que eu me entendo melhor pensando sozinha.

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(o eu e o inconsciente, jung)

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12-09

é preciso estar de peito aberto.

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04-09

em março, eu escrevi fico esperando pelas coisas bonitas pra, no final, te ver com elas na sua mão. porque voce carrega de dentro o que toca. todas as coisas bonitas, as feias, as invisíveis. você costuma se divertir percebendo. faz dos dias cadentes, geleia. brinca entre as frestas e coleciona. e eu tenho que me esforçar pra rir tambem, nao vem de mim, voce quem mostra. você é a graça da minha vida.

acho que nunca me prepararam pra dor que é nao poder voltar atras, acordar arrependida, doendo. eu desgastei até o cerne coisa linda, quis ter todos os dias o que eu já tinha, e perdi.

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“a infância está perdida, a mocidade está perdida, mas a vida não se perdeu. o primeiro amor passou, o segundo amor passou, o terceiro amor passou, mas o coração continua. perdeste o melhor amigo, não tentaste qualquer viagem, não possuis carro, navio, terra, mas tens um cão. algumas palavras duras, em voz mansa, te golpearam. nunca, nunca cicatrizam. mas e o humor? a injustiça não se resolve, à sombra do mundo errado, murmuraste um protesto tímido, e virão outros. tudo somado, devias precipitar-te, de vez, nas águas. estás nu na areia, no vento.” (consolo na praia, drummond)

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“Já está na hora de ser razoável. O senhor tem de viver e aprender a rir. Tem de aprender a escutar a maldita música de rádio da vida, tem de reverenciar o espírito que existe por trás dela e rir-se da algaravia que há na frente. É tudo o que exigimos do senhor.

(…) Agora compreendia tudo: compreendia Pablo, compreendia Mozart, ouvia algures atrás de mim seu riso espantoso, sabia ter em meu bolso centenas de milhares de figurinhas do jogo da vida, suspeitava emocionado o sentido, tinha a intenção de iniciar de novo o jogo, de voltar a estremecer diante de meus desatinos, de voltar a percorrer o inferno do meu interior, não uma vez, mas sempre. Da próxima vez, saberia jogar melhor.” (O Lobo da Estepe, Hesse)

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“With an amazing regularity I keep seeing one and the same dream. It seems to make me return to the place, poignantly dear to my heart, where my grandfather's house used to be, in which I was born 40 years ago right on the dinner table. Each time I try to enter it, something prevents me from doing that. I see this dream again and again and again. And when I see those walls made of logs and the dark entrance, even in my dream I become aware that I'm only dreaming it. And the overwhelming joy is clouded by anticipation of awakening.” (Mirror, Tarkovsky)

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31-05

eu quis fumar um cigarro, minha mãe não deixa. fumei um escondido, comprei um maço ontem. não tenho muito dinheiro. tenho um monte de ideias. queria tomar chuva e fumar mais 3 cigarros porque cinco sao muitos mas passei mal com esse um. queria tomar coragem. escrevi que queria tomar alcool, mas queria tomar coragem. as pessoas nunca querem tomar bebida, eu acho. querem ser corajosas, igual eu que pelo menos fumei um cigarro. porque quis. eu quis escrever um texto, mas a minha mão não deixa. escrever um escondido, falei que tinha um monte de ideias. escrever porque só assim da pra inventar alguma coisa que sai ali sozinho, que nao olha. se alguma coisa acontece, tomara que tome coragem, chuva.

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19-05

mesmo quando me coço ate machucar, mesmo quando não bebo tudo o que fui eu que pus, mesmo. tenho carinho pelos idiomas. me contaram sobre assistir filho andar, mora na filosofia/e dai? repito: proibição inútil. na cabeça: e ilegal.

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05-04

é um alívio poder escrever em silêncio, nao sei mais rir. em algum momento eu soube. toda vez paro exatamente onde me deixaram e continuo sabendo que fiquei, esqueci de inventar.

24-04

fico por culpa da criação escorregadia. querendo sou o que nao consigo ser.