Don't wanna be here? Send us removal request.
Text
Hoje não teve amor próprio - EDIT: Deveria ser proibido falta de amor próprio
Acordei com as memórias do sonho que tive com ele ou pesadelo, não sei dizer. Lembrei também da conversa no dia anterior que tivemos ou de mais um dos nossos monólogos, também não sei dizer ao certo. É que eu falo, falo, falo e ele parece que nem me escuta. Torci para que fosse a última. Não tenho nem mais forças para me despedir, mas difícil mesmo é lidar com o vazio que permanentemente me deixa.
A sensação constante que sinto é que ele não entra e nem sai da minha porta, fica ali parado, fazendo sombra e batendo. No início eu hesito em atender a porta, com o passar do tempo me sinto florescer novamente e me aproximo. Convido-o para entrar, nem ofereço café porque sei que não toma. Ofereço tanto mais, por isso é ainda tão difícil lidar com a verdade: nunca foi suficiente para ele entrar. Não importava o quanto eu tivesse disposta a oferecer. Mas também não removia o pé, algumas vezes se esquivava e deixava só a sombra próxima da porta. Queria tirar uma dúvida, será que alguma vez, nem que seja por uma fração de segundos ao menos cogitou entrar? Sei lá, gostaria de saber e nem sei o porquê.
Mais um convite, mais uma aposta, mais um monólogo, mais uma porção de frustrações minhas e duvidas as quais sei a resposta simples: isso é um jogo para ele. Ora, acho sádico por isso, ora acho que ele é apenas um menino perdido. Me diz sobre egoísmo, reconhece o erro e se desculpa. O que não sabe, é que o desculpei faz tanto tempo, tantas repetidas vezes. Só implorei para dessa ver ser a última, acho que mereço ao menos isso, e em sentido afirmativo diz ele que concorda. Agora só está mais difícil é eu me perdoar e me amar.
Ao preparar o café da manhã não me sentia tão vazia como me senti por meses, me sentia cheia de culpa por estar tão despida de amor próprio. Já não sofria por ele não ter tido interesse recíproco e dele no fim ter se recusado a entrar. Também não mais sofria pela sombra e pelo toc toc na minha porta que faz por meses. Me recusava a me olhar nos olhos, na minha garganta havia um espinho na diagonal mesmo inexistente fisicamente, era o suficiente para me deixar engasgada. Não era capaz de me perdoar.
Havia um auto martírio, me condenava por ter me colocado tantas vezes nessa situação ingrata. Era o orgulho ferido berrando e dando eco nas paredes da minha cozinha, me questionando quantas vezes mais eu queria escutar que não fui capaz de fazê-lo apenas me querer.
Hoje não teve amor próprio, mas amanhã tenho fé que terá.
Edit :
Crônica escrita meses atrás. Reler hoje para edição aqui me fez repensar o quanto sou pouco empática comigo mesma. Acho que muitos de nós somos, principalmente se forem mulheres como eu (a Ruth Manus tem uma crônica ótima que fala sobre essa culpa feminina que carregamos em algum de seus livros, recomendo todos). Lembrei perfeitamente desse dia, o quanto estava emocionalmente abalada e ainda assim me culpava por não estar bem. Na teoria sabemos que jamais podemos nos responsabilizar pelas ações do outro, mas pai amado como é difícil e cruel na prática.
A escrita é um processo terapêutico meu, uma necessidade em expor ao mundo parte do que guardo tanto, principalmente os sentimentos e momentos de destrutibilidades e fragilidades. O alívio em poder ler essas confissões no atual momento, ao qual estou superada em relação a este capítulo da minha vida é uma recompensa que desejo a todxs que um dia venham a não se amar por falta do amor e interesse do outro.
E afirmo com todas as letras: quem perdeu pra caralho foi o outro, porque a vida é muito curta para dispersarmos afeto gratuito e genuíno. DESEJO UM 2021 COM MUITO AMOR PRÓPRIO.
0 notes
Text
MORAM TANTAS EM MIM
Quando mais jovem e mais bobinha do que ainda sou, me achava a plenitude e personificação de mim mesma por 24 vinte quatro) horas ininterruptas dos meus dias. Grazadeus, era tudo invenção da minha criativa cabecinha e da inocência de que somos serem contínuos, com uma identidade em versão única e racionalizados das cabeças aos pés. Eu sei, também tenho pena de mim.
Tem sido um processo aceitar e lidar com todas as minhas versões. Há animosidade muitas vezes, muitos quereres contraditórios, outras limitações identitárias e ambiguidades nas personalidades que habitam aqui. Antes de mais nada e para não ficar nenhuma dúvida no ar (não gosto de incertezas) registro que não fiz ingestão de alucinógenos e drogas, por mais delirante que algumas divagações como este texto possa transparecer.
Tem dias que aqui mora uma menina saltitante, animada e muito sociável, que me lembra um pouco a garota do meu início de faculdade. Que ia para a aula, para o estágio, para academia, para o bar, para a praia, para a social em alguma república e no outro dia estava nova, sorrindo e contando no trabalho sobre a bebedeira do dia anterior (sem noção, sabemos). Mas essa pessoa que aqui restou neste presente, apenas vai para a feira de sorriso aberto e ri das piadas dos feirantes, interage com desconhecidos no metrô com “como que pode o carioca ainda votar no Crivella, né minha gente”, despede do motorista de aplicativo com “muito obrigada, meu querido e cuidado nessas ruas desse ridijaneiro”, no trabalho conta um pouco das ironias e sarcasmos e os amigos de trabalho muito queridos até riem das minhas baboseiras.
Em outros dias que aqui mora uma senhora rabugenta, antissocial e exausta, que me lembra uma senhora que era vizinha dos meus pais e que tinha um boteco de bairro com o Marido, ela não só gritava com ele na frente dos clientes, como também expulsava os clientes bêbados. Essa aqui, deixa de ir na feira porque não quer qualquer inteiração com humanos, afunda a cara em um livro no metrô para ninguém ser capaz de tentar dar um bom dia, reza para o motorista do aplicativo não puxar qualquer assunto e reclama com os amigos no trabalho o quanto advogar está complicadíssimo - insalubre. Eles riem novamente dos resmungos e ela se justifica “gente, hoje não acordei boa não”.
Existe a variação psicológica também, que consiste em oscilar em dias que a psique está de um Buda extremamente evoluído com “como a vida é bela, harmônica, evolutiva e prazerosa” em que rola meditação, paciência até com quem anda na velocidade menos cem na calçada estreita e com quem responde e-mail questionando justamente o que já está respondido no e-mail anterior. Essa parte da paciência com quem não lê o e-mail é mentira, e na verdade muitas vezes deflagra na mudança psicológica que passa a ser destrutiva, escura e com aviso de alerta: “pavio curto em locomoção, favor manter distância e nada de lentidão”.
Não tanto que raro, todo esse conjunto mesclado das muitas que moram aqui em mim coexistem juntinhas, no mesmíssimo tempo e espaço. Nestes dias, há guerra com batalhas memoráveis, depois passa para um circo encantador e termina em um espetáculo fabuloso ou numa explosão fulminante. E olha que mal tenho gêmeos no mapa (beijos para minha amiga com sol e ascendente em gêmeos, não vou expor o nome para não sofrer processo judicial - Alô, alô Vick).
Aqui mora uma cabecinha certamente muito dodói, mas que vai aprendendo a se respeitar até nos dias aos quais mais se detesta.
E aí, quantas moram dentro de ti?
0 notes
Text
SOFRIMENTO NEGACIONISTA
Se você leu esse título e o remeteu a este atual desgoverno federal, significa que podemos ser amigos, provavelmente já somos (porque estes textos vão circular apenas para meus círculos de amigos, visto a falta de fama da minha ousadia literária, rs). Porém, não estou falando desse clã de ordinários dessa vez.
Não sei se é o cansaço costumeiro vindo pelo final do último ano, o momento atípico que já aniversaria o auge dos seus muitos meses de pandemia, a piora dos meus dodóis mentais ou a soma de todos esses fatores que estão me causando esse sofrimento negacionista.
O celular desperta e antes mesmo de abrir meus olhos, uma série de pensamentos negacionistas referentes as atividades do meu dia começam a borbulhar na minha mente, em uma cadeia que funciona mais ou menos da seguinte forma: não acredito que vou precisar levantar/ não tenho a menor condição de sair dessa cama hoje/ acordei sem concentração para meditar, nem vou tentar/ nem a pau vou comer aquele mamão de café da manhã, meu intestino que lute/ não vou fazer aula de inglês, uma década nisso e não falo essa bosta de língua/ zero possibilidade de fazer atividade física, aquela máscara qualquer dia vai me matar sem ar/ menor condição de mais um dia de home office/ hoje não vou atender nem o papa, que dirá telefonema de trabalho/ vou ligar o foda-se e passar o dia embaixo desse edredom.
Respiro fundo, resolvo agradar a criança preguiçosa que habita dentro de mim e me permito mais cinco minutos, que viram dez de mais puro e profundo sofrimento negacionista da realidade do meu dia que ainda nem começou. Me conformo em enfrentar parte da minha negação, mas não sem continuar sofrendo.
Então, levanto da cama e inicio a minha ritualização matinal que como boa capricorniana consiste em uma rotina (amo - amei algum dia). Nem todos os alinhamentos de chacras serão capazes de nessa altura do campeonato me fazerem conseguir meditar, então essa é a negação que confirmo na prática e sem nem sofrer mais. Enquanto passo o café preto, me convenço de que é melhor comer o rejeitado mamão que está na geladeira a passar o resto da semana constipada e carregando uma gestação de merda (falo coisas feias).
Antes de terminar o café da manhã, vem o remorso e a vergonha que tenho de mesmo após anos de curso de inglês na adolescência, não ter saído do “How are you?” e o problema que seria atualmente responder essa pergunta, já que a decoreba “I am fine” é a última coisa que está se aplicando na minha vida. Terminando a aula de inglês, vejo que ainda está cedo e mentalmente me faço um convite “uma corridinha de leve menina, aproveitar para olhar o mar e respirar ar fresco, vai fazer bem”.
Retornando da corrida e xingando até a décima geração do primeiro ser humano que resolveu comer um morcego, retiro a máscara e decido que atividade física é mesmo só após a vacina e a gente ter a porra do nariz livre para respirar. Paro com meus xingamentos, porque o celular vibra com notificações de e-mail institucional chegando e whatsapp de cliente, respiro aliviada que pelo menos será mais um dia de trabalho sem roupa social e salto alto. Logo em sequência, o telefone toca e eu atendo com a voz animada e gentil: “Bom dia fulana, claro, me encaminhe um e-mail que vou responder com maior prazer sobre o processo da senhora. Qualquer coisa pode me ligar, tá bom? Um beijo, ótimo dia”.
E de plano decido de forma monocrática e decisão irrecorrível que naquele dia até vou trabalhar, mas no dia seguinte, menor condição dessa rotina. Reafirmo que amanhã irei finalmente desligar tudo e ficar em posição fetal (que por óbvio não ocorrerá, mesmo porque tenho boletos a pagar), com a plena certeza que estou sofrendo de negacionismo da minha realidade.
Pelo menos ainda acredito que a terra é redonda, vacinas salvam vidas e que Bolsonaro é o caralho. Mito sou eu que minto para mim mesma todos os dias.
0 notes
Text
SOBRE SER DÉMODÉ E/OU VINTAGE
Iniciei esse Tumblr com texto dizendo o quanto sou démodé e que até me orgulho disso, mesmo sabendo que não deveria. Quando brinco usando esses termos ou mesmo afirmando o quanto estou velha e nada preparada para viver nesse mundo dos millennials, geralmente as pessoas que não me conhecem direito até riem, mas não acreditam. As mais novas me fitam os outros e para me agradar tentam dizer que pareço ser bem mais nova que sou, e as que são mais velhas geralmente dizem que invejam minha idade e que tenho muita vida a viver ainda.
Primeiramente, gostaria de dizer que mesmo admitindo que viver é bem difícil (quem acha fácil apenas não está problematizando de forma correta as nossas existências, os invejo todos os dias) mas que sou entusiasta da vida, a acho problemática e linda, e também espero que eu tenha muita vida a viver.
Mas, eu não me refiro a data de nascimento (ela tem me assustado também, não vou mentir) quando faço minhas piadinhas sobre o quanto sou uma quase trintona bem démodé e/ou vintage. É que simplesmente não me encaixo na minha geração “y” muitas vezes. Até pouco tempo eu sentia muita inveja da disposição alheia para virar nas baladas em finais de semana consecutivos, a quem está sempre pronto a responder “bora”, quem consegue aceitar fazer uma viagem de última hora, enfrentar camping ou lugares ermos, e outros combos de perrengues. Hoje em dia eu piorei, sinto zero inveja e até torço o nariz.
Só de escutar sobre festas até o sol amanhecer somada a som alto, gente bêbada me esbarrando, fila quilométrica para entrar, fila quilométrica para comprar bebida, fila quilométrica para fazer xixi, perder as amigas, ficar só mais essa música, pedir licença ao macho sem noção que tá incomodando, quarenta reais no gin tônica, QUARENTA REAIS ou quase vinte em uma cerveja. Fim de noite, mais cinco dias de internação intensificada para recuperação. Não dá, gente.
Mas me chamem após pandemia, até lá irei rejuvenescer alguns anos para colocar o atraso do ano de 2020 perdido. Tomar analgésico para a lombar e orar para nenhum macho hétero alfa opressor/ bolsominion/ filho de Dória (o apelido é com vocês) que repetem “aaah mas é que o PT não dava né, só restou mesmo o mito” se aproximarem de mim ou das minhas amigas. Eu já digo que será um rolê de sorte se conseguirmos evitar esse infortúnio.
Tirando essa parte de festas, nas quais vez ou outra dou meu ar da graça, com o lema e compromisso assumido de “solteira guerreira”, muitas outras dinâmicas dos millennials são pesadas para mim. A pior delas são os relacionamentos digitais, que descobri que descumpro todas as regras. Não demoro para responder, se tiver interesse quero demonstrar, pergunto como foi o dia, como tá o papagaio, se a tia melhorou a gripe, se o chefe tá menos otário e se quer pegar um cinema mais tarde. E sim, pergunto o signo, o ascendente, finjo que sei alguma coisa e juro pela minha mãe mortinha que não sou uma capricorniana fria, porque tenho Vênus e ascendente em peixes (e é verdade, lá vou arriscar a vida de momonhê?).
Ou seja, pelas leis que regem as relações atuais que são um montante de jogos de desinteresse que me dão mais preguiça que as festas cheias de caras com harmonização facial, sobrancelha feita e camisa florida com a gola alta, já entro liquidada. Pelo menos utilizo desses argumentos para não assumir que é culpa das minhas chatices e meus muitos defeitos que eu estou sozinha. Para variar, coloco a culpa no signo, nos traumas da minha psique e lamento minha heterossexualidade.
Afinal, quer coisa mais démodé que heterossexualidade?
0 notes
Text
MENTI O NÚMERO DE TENTATIVAS
Essa talvez seja a minha décima primeira tentativa em ter um Blog/Tumblr e colocar nele o que escrevo no meu bloco de notas no celular ou apenas mentalizo. Mentira, deve ser apenas a terceira tentativa, mas achei que décima primeira vez ficaria mais poético e dramático. Não sou poética, apenas dramática. E o drama cada vez mais tem sido presente. Desconfio que o passar dos anos tem tido esse efeito catastrófico em minha vida, além das rugas, ins��nia, perda de colágeno e preguiça de homem.
Não sei quanto tempo essa décima primeira (ou apenas terceira) tentativa vai perdurar. Geralmente sou acometida por pavor do público leitor, principalmente se forem pessoas conhecidas e todas anuências de autossabotagem. Segundo minha irmã, sou muito crítica comigo mesma e minha maior algoz. E como eu aposto alto nos mais jovens, dou esse voto de confiança em suas críticas.
Já que estamos iniciando esse relacionamento por aqui, preciso iniciar com uma confissão bem importante: flerto com a autossabotagem há anos. Não sou eu quem digo, mas a análise terapêutica em pouquíssimas sessões. Tenho aproveitado desse termo - autossabotagem - para me esquivar das responsabilidades de não conseguir colocar meus planos profissionais em prática, usado como desculpa para não participar da seletiva do tão esperado mestrado ou de repetir os mesmos erros nas relações vividas (ou não). Só não esquivo das culpas, por isso tenho gastado meu suado dinheiro e falado sobre minha vida com uma estranha semanalmente nas sessões de terapia.
Parece glamouroso falar que se faz terapia, mas na realidade é mesmo um luxo tremendo e uma puta necessidade da nossa sociedade doente pelas cobranças e consequências desse sistema devastador. Caso não resolva para me ajudar a estar menos insuportavelmente ansiosa e mentalmente exausta, pelo menos servirá de pauta para essa página que ainda não sabemos até quando existirá.
Fiquei um pouco mais aliviada e encorajada quanto a publicidade desses escritos, quando noticiei a minha irmã essa vontade e ela no auge de seus vinte e poucos aninhos perguntou com estranheza em um áudio de WhatsApp: “Mas não cabe em um stories?”. Momento este que mentalmente me dei conta o quanto esse tipo de rede social é década de noventa e talvez não se encaixe em nada nesse novo mundo virtual de stories curtos e textos de uma linha.
Vamos para mais essa tentativa, já que sou démodé e me orgulho disso (mesmo sabendo que não deveria).
1 note
·
View note