Tumgik
conto-alemdotempo · 4 years
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Capítulo 3 - A Dor de Perder Supera a Dor do Amor
O domingo era o pior dia da semana para Morgana.
Fazia exatamente 8 semanas desde a morte de Rafael. Todos os dias depois deste acontecimento se arrastaram com lentidão, a lembrança fazia o coração de Morgana arder, não como a dor de um coração partido, ardia como fogo, como quando o óleo quente pinga na pele.
Eram 6 horas da manhã, o sol estava nascendo, os raios invadiam o quarto e faziam surgir sombras através da mobília. Morgana não havia dormido mais de 2 horas, e no pouco tempo que permanecera adormecida tivera pesadelos terríveis.
Acordou com a lembrança nítida do dia do acidente, lembrou de quando recebeu a notícia, lembrou de acordar no hospital com uma dor escruciante na cabeça e de pensar que havia sonhado.Então uma enfermeira veio, logo depois a psicóloga. E o pior ainda nem tinha começado.Preparar o enterro foi terrível, por sorte Rafael tinha muitos amigos e todos ajudaram Morgana, não saíram do seu lado um minuto. As vezes eles iam visita-la em casa, ela permanecia em silêncio e ignorava as batidas na porta. Era insuportável conversar com qualquer outra pessoa, era insuportável ser lembrada constantemente da sua dor, como se senti-la já não fosse castigo o suficiente. O telefone tocava periodicamente também, e a secretária eletrônica estava fazendo um belo trabalho atendendo. Amigos, familiares, seu trabalho, a companhia de luz, de água, de telefone, a ameaça dos serviços serem cortados. Morgana não ligava, nada mais importava sem Rafael na sua vida.
Se questionava se algum dia aquela dor diminuiria, se haveria um dia em que não sofreria mais daquela forma.
Ela permaneceu na cama até o sol estar alto no céu, ficou encarando o teto, sentindo lágrimas silenciosas escorrerem de seus olhos, sentindo o peito arder em chamas e não poder fazer nada para acabar com a dor.
Eram por volta de 9 da manhã quando finalmente arrastou as pernas para fora da cama, foi até o banheiro e encarou nos olhos aquele ser no espelho do banheiro.
Morgana reparou na raiz de seus cabelos que estavam grandes, o seu platinado havia adquirido um tom amarelado doentio, tinha também olheiras profundas, as maças do seu rosto saltavam como se quisessem cortar a pele, havia buracos onde deveriam estar as bochechas, ela estava magra demais, todos os seus ossos estavam aparentes.Sabia que estava morrendo aos poucos, precisava de mais do que alguns biscoitos por dia pra sobreviver.
Como todo dia fazia preparou uma xícara grande de café, e pegou seu maço de cigarros de cima da mesa da cozinha. Ta ai algo que ela nunca deixou de fazer, toda a semana ia até um mercado 24 horas que tinha há algumas quadras da sua casa e comprava alguns maços de cigarros. Fumava compulsivamente, um cigarro atrás do outro, quando ficava tonta demais pra continuar, voltava pra cama e dormia algumas horas. Durante o dia seu sono era mais tranquilo, os pesadelos não a atormentavam a luz do sol.
Ficava devaneando durante o dia, as lembranças atacavam sua mente, todos os momentos que passou com Rafael. Era doloroso pensar em cada um daqueles momentos, era doloroso pois sabia que não teria mais nada dele, nunca construiria novas lembranças, jamais veria Rafael de novo.
Esta era sua nova realidade, Morgana nunca tinha visto o mundo com tanta tristeza, a vida perdera o sentido, e de repente nada mais possui brilho. Caminhava a passos lentos em direção a um túnel sem saída, sabia que perdera as esperanças e que agora só lhe restava viver em silencio, aguardando a morte bater em sua porta.
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conto-alemdotempo · 5 years
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Capítulo 2 - O Jantar Esfriou
O celular de Mogana vibrou na bolsa no momento em que ela chegava em casa com todas as suas compras. Estava para largar as sacolas no balcão, mas distraída pensando no celular não notou algo em seu caminho que a fez tropeçar, todos os legumes rolaram pelo chão e ela caiu sentada. Morgana tirou o celular da bolsa irritada, mas começou a rir quando viu a mensagem de Rafael "Eu te amo, logo estou chegando". Estava prestes a responder quando a campainha tocou, ela deixou os legumes no chão e se levantou rápido alisando o vestido preto que usava.
Abriu a porta e era o carteiro, provavelmente uma encomenda de Rafael, ele vivia fazendo compras na internet sem nem mesmo mesmo mencionar a ela. Toda semana Morgana era surpreendida por novas caixas de tamanhos variados que deixavam em sua porta.
- Boa tarde, senhora, tenho uma encomenda para o senhor Rafael. - O Carteiro falou estendendo uma caixa pequena que cabia na palma da mão de Morgana.
- Boa tarde, sou a companheira dele, posso receber a encomenda? - Ela perguntou recolhendo a caixinha, olhou rapidamente para a embalagem em busca do que poderia ser algo tão pequeno, mas nenhum sinal ou marca havia na caixa, apenas papelão e o endereço de entrega.
- Assine aqui, por favor? - Ele estendeu a ela uma prancheta e ela assim o fez. Se despediu do carteiro e agradeceu pela entrega.
Com muita curiosidade e cuidado ela examinou a caixa, não abriria uma encomenda de Rafael, mas nada a impedia de investigar. Depois de olhar e pensar por uns segundos sobre o que poderia haver dentro da caixa, largou a encomenda no aparador, perto do seu vaso de lírios, aproveitou para cheirar as flores que começavam a abrir botões antes de seguir em direção a cozinha, onde se lembrou do desastre dos legumes e começou a rir novamente e recolheu os tomates que rolaram para baixo da mesa.
Ela ligou o rádio na sua estação preferida, e sorriu quando ouviu Blink 182 tocando a música I Miss You, aumentou o volume, prendeu os cabelos e lavou as mãos, e cantando alto a letra da música, que a fazia lembrar essencialmente de Rafael, ela começou a cozinhar.
Mal começara a lavar os tomates quando uma sensação ruim tomou conta do seu corpo, Morgana não sabia se era uma simples queda de pressão ou algo pior.
Suas mãos gelaram, o coração acelerou e a garganta fechou tornando dificultoso respirar, ela apoiou as mãos no balcão da cozinha, pois sentiu que iria desmaiar de tão fraca que estava. O coração apertou mais, ela quis chorar, e tão rápido quanto a sensação veio, ela se foi.
Morgana se sentou em um dos bancos da cozinha e tentou se acalmar até voltar a respirar normalmente novamente. Após tomar um copo de água, respirar profundamente diversas vezes e sentir que o seu coração batia em uma aceleração normal ela se levantou e voltou a cozinhar. A música havia acabado, e por algum tempo esse pensamento a consumiu. Começara a tocar Deathbeds do Bring Me The Horizon. Ela esqueceu os tomates e o jantar por alguns momentos e tudo o que fez foi fechar os olhos para ouvir aquela música que sempre achou tão linda, falava de um amor tão forte, tão intenso, que nada podia os afastar, nem mesmo a morte. Quis chorar novamente, sem entender a tristeza que se apossara do seu corpo, afastou todos os pensamentos negativos e se concentrou em Rafael, voltou a fazer o jantar pensando que logo ele estaria ali e ela acabaria com toda essa saudade que tomava conta do seu peito.
Já havia escurecido quando ela terminou de organizar tudo para a chegada de Rafael. Ele não demoraria a chegar, provavelmente estava há uns 10 minutos da cidade, então ela pegou seu casaco peluciado no cabideiro de entrada e se sentou na varanda, na sua tradicional cadeira de descanso para lhe ver chegar.
Ela acendeu um cigarro e aproveitou a música que tocava ao longe, chovia muito naquele dia.
Mas o tempo passou devagar, e sua ansiedade já estava a ponto de lhe corroer por dentro. Ela fumou 1, 2, 3, 4 cigarros, até que perdeu a contagem. Os minutos corriam lentamente, já fazia meia hora desde que havia saído pra fora, Rafael já devia ter chegado.
A espera começou a se transformar em agonia, e depois em medo. Se ele havia se atrasado por qualquer motivo deveria ter mandado uma mensagem, ligado, ou qualquer coisa, mas o celular de Morgana jazia em silêncio sobre a pequena mesa ao seu lado.
Uma hora inteira se passou e sentiu muito medo, estava preocupada, sentia um aperto tão grande no peito que a imobilizara. Ela aguardou em silêncio, sabia que logo ele chegaria e contaria sobre alguma bobagem que havia feito. Ela sorriu com esse pensamento, mas logo seu sorriso se desfez.
Um carro estacionou na entrada de sua casa, não era o carro de Rafael.
Era a polícia.
Morgana se levantou de súbito e deixou o cigarro cair.
Os policiais vieram correndo até a varanda com capas de chuva pesadas.
Tocava no rádio Don't Cry do Guns N' Roses.
O cheiro de legumes era forte no ar, misturado com velas aromáticas e cheiro de chuva.
- Senhora Morgana? - Um dos policiais falou.
Ela sentiu que ia desmaiar, Morgana sabia.
Ela balançou a cabeça.
- É sobre o senhor Rafael, precisamos que nos acompanhe, aconteceu um acidente...
Morgana caiu de joelhos, Rafael se acidentou.
Ela chorou.
Ela sabia mesmo que os policiais não tivessem dito. Ela sentia.
A música de repente ficou alta demais, e seus ouvidos pareciam que iam explodir, o cheiro ficou forte demais e seu estômago embrulhou, ela sentiu que ia vomitar.
Morgana tentou falar, perguntar o que havia acontecido.
Sua voz havia fugido.
Os policiais olhavam para ela preocupados.
Ela quis levantar, mas todas as suas forças haviam deixado seu corpo.
Seus olhos fecharam e tudo ficou escuro. 
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conto-alemdotempo · 5 years
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Capítulo 1 - O Acidente
Era uma manhã como qualquer outra, o vento batia com força nas janelas do quarto de hotel de Rafael. Ele levantou para encarar mais um dia de trabalho antes de poder voltar finalmente para casa, sentia tanta saudade de Morgana que a ansiedade para chegar em casa fazia os batimentos do seu coração acelerarem.
Assim que terminou de juntar seus pertences se encaminhou para o restaurante do hotel. No café da manhã não comeu muito, como poderia com toda aquela ansiedade lhe atormentando. Antes de entrar no carro tomou um de seus calmantes, pois sabia que se continuasse daquela forma teria mais uma crise de ansiedade.
A manhã correu tranquila, ele foi em algumas livrarias do bairro para vender os livros da sua editora, e com sorte vendeu uma boa quantidade dos livros de sua autoria. O almoço chegou e passou e Rafael novamente não conseguiu comer direito, faltava apenas três livrarias para visitar e logo poderia estar no caminho para casa, e ele estava ansioso para terminar seu trabalho.
Fazia apenas alguns dias que estava viajando, esta nem havia sido sua viajem mais longa. Em outros tempos ele ficava mais de semana fora, mas após começar a escrever seus próprios liros a editora estava o encarregando de viagens mais curtas para que pudesse ficar mais tempo em casa escrevendo, e isto o animava pois assim também podia passar mais tempo com Morgana.
Mas assim que entrou no carro para fazer seu trabalho notou que aquela tarde carregava um ar diferente, as nuvens estavam densas e escuras e ele pensou que aquilo poderia ser prenuncio de chuva. Rafael adorava chuva, então com certeza aquela não era uma notícia ruim, mas porque seu peito continuava apertado daquela maneira? Porque a ansiedade insistia em lhe atormentar mesmo depois de ter tomado dois calmantes?
Rafael fechou os olhos e respirou fundo algumas vezes, contou até 10 e novamente repetiu o processo. De nada adiantou, aquele aperto no peito continuava a lhe incomodar. Sem pensar duas vezes pegou o celular e ligou para Morgana:
- Alô? - Ele perguntou ansioso assim que ouviu o celular ser atendido.
- Rafael. - Ela suspirou feliz ao ouvir a sua voz.
Rafael sorriu, e já sentiu seu peito relaxar, a voz de Morgana sempre seria seu melhor remédio, assim como olhar em seus olhos, sentir o cheiro do seu cabelo ou tocar na sua pele. Tudo nela funcionava para ele melhor do que qualquer calmante.
- Eu estou com saudades. - Ele disse baixinho.
- Tenho certeza que a saudade que sente não é maior que a minha. - Foi o que ela respondeu.
- O que esta fazendo? - Rafael perguntou.
- Me arrumando para ir fazer compras, vou preparar um jantar especial para quando você chegar. - Ele ouviu ao fundo o barulho das portas do armário, ela devia estar pegando suas sacolas ecológicas.
- Um jantar especial de Morgana? - Rafael sorriu. - Mal posso esperar.
- Então venha pra casa logo, eu estou ansiosa pra te ver. - Ela respondeu e havia um tom choroso em sua voz.
- Tenho certeza que não esta mais ansiosa que eu. Logo estarei ai meu amor.
- Venha logo. Preciso ir, eu te amo. - Foi tudo o que ela disse antes de desligar.
- Eu te amo. - Ele respondeu mas sabia que ela não podia mais ouvir.
Assim que desligou o telefone sentiu novamente seu peito apertar. Rafael tentou ignorar a sensação e ligou o carro, partindo para visitar as últimas livrarias que faltavam.
A tarde fora mais tranquila que esperava, e não demorou muito para que pudesse estar na estrada no caminho de casa. A chuva desabou pouco depois e ele teve que diminuir a velocidade pois se tornava difícil enxergar muito a frente. Começou a tocar I Miss You do Blink 182 e ele aumentou o volume pois essa era a música que tocara no dia em que conheceu Morgana, e era portanto a música do seu relacionamento. Ele sentiu uma vontade súbita de dizer que a amava, e assim o fez enviando um torpedo para ela.
A chuva aumentava e ele já não podia ver absolutamente nada a sua frente, pois os limpadores não davam conta, foi por isso que não percebeu os faróis que vinham rapidamente em sua direção na contramão, e quando tentou desviar já erá tarde demais, a ultima coisa que ouviu foi a música tocando e a última coisa que viu foi o rosto de Morgana no dia em que se conheceram. Naquele exato momento, antes de partir, desejou estar com ela, vê-la uma última vez, dizer que a ama e poder ouvir sua voz. Mas isso já não era possível. 
Rafael não sentiu dor, apenas morreu. Tão rápido quanto o vento, de uma hora pra outra simplesmente não respirava mais.
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conto-alemdotempo · 5 years
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Introdução
Era uma fria noite de agosto, as ruas estavam vazias, e o silêncio que vagava com o vento era ensurdecedor. As luzes das casas estavam acesas, e era possível ver através dos vidros famílias reunidas sorrindo sentados em suas mesas de jantar. Apenas uma casa do bairro se encontrava com as luzes apagas, e na varanda uma estranha silhueta repousava em uma cadeira de descanso, ao seu lado uma pequena mesa com uma grande xícara de café, em sua mão um cigarro pendia aceso, a fumaça do cigarro brincava com o vento frio de inverno e dançava até se dissipar completamente.
Quem se aproximasse ouviria um choro baixinho, quem chegasse perto o suficiente poderia ver os olhos castanhos marejados, e as lágrimas escorrendo pelo rosto, encharcando os cabelos platinados da pequena moça. Aquela era Morgana.
Semanas haviam se passado desde a sua perda, e a garota ainda sofria em silêncio na varanda todas as noites. As luzes da sua casa há muito não eram acesas, e ela vagava pelos corredores escuros sem se importar com os objetos que derrubava pelo caminho. Os armários já estavam vazios, e fazia alguns dias desde que ela não comia uma refeição decente. Os pratos trazidos pelos seus amigos no dia do enterro, continuavam congelados da forma que foram deixados. Morgana se recusava a comer qualquer que fosse daqueles alimentos, como que se fingisse que eles não existiam, pudesse fingir também que jamais havia perdido Rafael.
Rafael.
Ela tentava ignorar sua partida, mas era impossível pois nunca em sua vida tinha sentido sua casa tão vazia, nem nas longas viagens que ele fazia, nem mesmo quando brigavam e ele partia. Nunca tinha sentido o vazio que se instaurava em sua vida naquele momento, e era duro demais sentir aquilo, aquela dor não se comparava a nenhuma outra, e era insuportável. Não era a toa que as lágrimas vazavam pelo seu rosto todas as noites, ela as contia o máximo que conseguia, mas elas sempre vinham a tona, transbordavam para fora toda a sua dor.
Os primeiros dias não haviam sido tão difíceis, ela acordou, fez seu café e foi para o trabalho, quando voltava para casa um pequeno lampejo do acontecido vinha a sua mente, mas se afastava tão rápido que ela mal podia notar, então ela fazia o jantar e ia assistir alguma série, enquanto assistia sempre pensava em Rafael, se ele estaria assistindo a mesma série naquele momento, ou o que estaria comendo independente do hotel o qual estivesse, só então parecia que se dava por conta do que realmente tinha acontecido, então ela chorava por um longo período até adormecer, e quando acordava na manhã seguinte tudo estava bem novamente, tudo havia sido apenas um sonho assustador.
Exatamente duas semanas depois é que ela realmente assimilara tudo, era um domingo, e como todos os outros domingos em que Rafael estava viajando a primeira coisa que ela fazia ao acordar era ligar pra ele, antes mesmo de levantar.
Ela então pegou o celular e ligou, mas o celular chamou diversas vezes e ninguém atendeu, só depois de ligar a terceira vez é que ela ouviu o zumbido que vinha do armário, e só ao abrir a porta e se deparar com a caixa dos pertences que foram encontrados com Rafael depois do acidente é que ela realmente entendeu.
Ele não estava mais ali, ele havia ido embora e a abandonado. Ele havia morrido.
Morgana sempre pensara na morte como uma velha amiga, um alguém prometido que todos irão encontrar ao fim da vida.
Morgana nunca havia pensado em perder o seu maior tesouro. Ela nunca havia pensado em como seria a morte para quem ficava.
E era justamente por isso que estava passando.
A única pessoa que foi capaz de amar havia morrido, e agora ela vagava sozinha pelo mundo, incapaz de seguir em frente.
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conto-alemdotempo · 5 years
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Rafael, 27 anos.
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Morgana, 24 anos.
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