Tumgik
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6.12.2016
desde que comecei a andar a pé pela cidade tenho-me divertido a apreciar de perto o condutor tuga, no seu habitat mais 'natural': o trânsito ao final do dia quando ruma a casa.
é aquela altura em que espalha um 'camadão' de nervos (e impropérios) pelos semelhantes à sua volta - e às vezes pelos peões -, e em que é 'atacado' por complicados problemas de visão e de noção espacial.
há muito condutor (e condutora, não ha cá desigualdade de género) que sofre de daltonismo em grau avançado; manifesta-se sobretudo naquele momento, tipo lusco fusco, em que o semáforo está a passar de laranja para vermelho e prolonga-se pelos primeiros - vá - 5 a 10 segundos já do vermelho mesmo vermelho... tão vermelho que para os peões já está verde. depois nota-se também dificuldade na percepção de espaço, o que, aliás, está também relacionado com o problema de visão; por exemplo: a malta passa já com o quase vermelho/vermelho mesmo vendo que vai ficar paradinha bem no meio de um cruzamento, ali, assim, tudo encostadinho; quando abre o sinal verde para os carros da outra faixa, quem é que avança, quem é? ... ninguém! ... porque os 'encostadinhos' também ainda não conseguiram avançar e estão ali a fazer um murinho muito jeitosinho no meio da estradinha; ok estão a impedir a passagem de outros mas se cabem ali, why not, right?
para os peões há dois momentos distintos... aquele em que vêem esta paródia acontecer e se riem; e aquele em que têm o sinal verde mas precisam de andar pelo meio dos carros para poderem passar, porque há viaturas paradas na passadeira, ou em que estão a passar com o verde e quase são levados ao colo no capô do carro de um daltónico que acabou de sair do seu momento 'lusco fusco' do semáforo e ligou o turbo, para 'dar tudo' e avançar aqueles decisivos ...50 metros! (no, sir, no green sign for you, madam!). até para ser peão é preciso estar em boa forma física!
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20.08.2016
ha muito que caiu a noite. passa das 23h e a paragem do autocarro do bairro está deserta. passam carros e pessoas, num deambular ‘desapressado’; divido o olhar entre a rua e o relógio…a espera do autocarro tem sempre uma dose de suspense…e de inesperado. Normalmente, na pressa do dia a dia, na espera numa qualquer paragem, passamos o tempo num nervosinho que nos distrai a olhar os outros, quem passa e quem se senta, como se veste ou que idioma fala. provavelmente os outros tambem nos observam, mas acho que nunca pensamos muito nisso. até ontem. na noite tranquila passo o olhar pelas portas e janelas dos rés do chão em frente e há uma cortina numa pequena janela que se mexe; o escuro para lá do vidro não deixa perceber mais e, como que tentando ter a certeza, volto a olhar…a cortina mexe-se novamente, agora um pouco mais aberta, mais afastada para a esquerda.deixo a minha atenção dividir-se um pouco entre a rua e relógio e quando volto a olhar a cortina tinha regressado à posição inicial. do outro lado, enquanto eu esperava pelo autocarro, alguém distraía a sua própria espera a observar-me. é sempre estranho quando não podemos olhar alguém de volta.
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3.07.2019
[parte 3 e última]
Há dois momentos particularmente divertidos durante o aborrecido tempo de espera para entrar no avião. O primeiro, mais português, parece-me, é ver o povo colocar as malas a guardar lugar numa fila de embarque, ainda imaginária, e ir sentar-se confortavelmente à espera do início dessa luta pelo melhor… lugar marcado! (e para terem a certeza que a bagagem vai para a cabine, pronto).
O segundo não conhece fronteiras, excepto as das dimensões da mala de cabine. Haverá quem não tenha visto a informação, quem não tenha lido na totalidade e quem tenha visto e não a levou muito em conta… “ah isto lá empurrando bem, com mais força, cabe!” ou “se não couber tiro o casaco comprido da mala e visto-o e depois já vai dar...!”
Começa o embarque e a fila pouco anda. Bagagens não passam, pessoas não querem pagar. Há grande sururu junto ao balcão. Da cadeira onde estou, a ação desenrola-se das formas mais engenhosas. Uns vão abrindo as malas e tirando de lá coisas para a carteira ou para vestir por cima - ou pelo meio - da roupa que já têm vestida; 'boneco michelin travel version'. Outros vestem o tal casaco comprido que já ia a mais mas, como foram também a mais umas botas que não podem ser calçadas por cima das que já estão nos pés, têm de ficar na mala; o viajante senta-se em cima da bagagem, inicia uma sequência de pinchos (não confundir com confeção ao momento daqueles que se comem..., embora quaisquer deles possam ser de 'chorar por mais'), a ver aquilo tudo se esmaga e ocupa menos espaço.
Mas, a minha táctica preferida é a daqueles que, percebendo que nenhuma das outras medidas resultará, desatam, frente às funcionárias, a tentar partir e arrancar as rodas da mala, com as mãos, com o pé, com a ajuda da força do viajante de lado; um puxa, outro torce, depois pisa... ou seja, um tutorial completo na arte de desenrascar. Resulta? nem por isso. Diverte? muito! 😃 E ajuda a passar o tempo. Embarquemos!
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3.07.2019
[parte 2]
há muito que não pernoitava num aeroporto. no átrio das partidas há gente suficiente para uma pessoa não se sentir sozinha. há dois cafés a funcionar, com a máquina em constante azáfama. nos assentos à minha volta já se sentou e levantou e sentou para lá de dúzias de pessoas. há quem troque os bancos pelo chão, mas a maioria dormita debruçada sobre os apoios dos braços ou as costas dos assentos.
são quase 2h. chega uma remessa de italianos. um tempo antes tinha chegado uma encomenda de húngaros (seria?). reparo que hoje em dia os trolleys têm rodinhas que permitem movimentá-los como se fossem caranguejos; que prático! há um grupo de franceses, na casa dos 50, que fala alto e ri muito, já estavam animados quando cheguei (“hey, o que é que se bebe aî?” :)). o ambiente é descontraído; ou então é do sono!
lá fora, de onde de vez em quando vem um friozinho bem londrino, pára outro autocarro. a qualquer hora que se chegue haverá sempre companhia, café, música de fundo, e um transporte para a cidade. pouco depois das 2h, o movimento abranda significativamente. a vida não pára, só fica um pouco mais dormente.
por volta das 4h começam a chegar as comidas para o novo dia. regressa o funcionário que vende bilhetes de bus. Aprecio o regresso à azáfama. olho para o relógio. está na hora de voltar a misturar-me com o mundo para quem o dia já começou. mesmo que ainda nao se veja o sol.
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1.07.2019
[parte 1]
o voo com destino a londres parece lotado de uma pequena amostra do martim moniz. lisboa na sua melhor babel. o comandante pede que se acomodem pessoas e bagagens e, percebendo que as primeiras tentam acantonar lá atrás, a todo o custo, as segundas, atira com um “não tenham medo de colocar as malas cá mais à frente, esta parte do avião também vai para o mesmo destino!” (Eh, teve piada :)).
há quem não atine com o apertar do cinto, há quem teime em levantar-se a segundos da descolagem. e, quando no ar se desliga o botão dos cintos, imediatamente salta um romaria em direcção ao wc. Será curiosidade? Senão, como é que tanta gente acumulou tanto xixi desde que, há meia hora, vá, estava no aeroporto?
a luz ténue convida a leituras e sonos, música e filmes e a malta sossega. há quem esteja tão relaxado que ressona; e se ressona! Pelo corredor vende-se bebida, comida - cheira bem, nao sei a quê - e toda uma parafernália de coisas; pode pagar-se em euros, libras ou cartão; se for em numerário “o mais certinho possível, se faz favor”, alguém diz. Distraio-me a apagar fotos. Aterramos, é quase meia-noite. E há uma noite para passar... no aeroporto.
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21.10.2015
Há quem exiba ao volante talento admirável... Só que não propriamente para conduzir...! No trânsito, uma condutora tratatava de dar rimel às pestanas e fazer o realçante risco preto na pálpebra...que perícia, que domínio invejável da técnica! Eu, nem em casa, paradinha, a suster a respiração, frente ao espelho, consigo que aquele tracinho saia bem à primeira! Sou solidária com a falta de tempo e os serviços mínimos de maquilhagem em manhãs de trabalho - já há muito que dispensei o tracinho, em casa na correria não dá e se tentasse fazê-lo no autocarro sairia de lá só a precisar de vestir um camuflado, porque pintura de guerra já teria. Mas não há bela sem senão, um outro que não este; nos segundos seguintes o trânsito lá começou andar e a condutora atrapalhando o movimento dos veículos atras dela, enquanto tentava de mudar de faixa com uma mão, a outra no rimel, de olhos no retrovisor, divididos entre as pestanas e os outros carros.
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30.09.2019
uma pessoa consegue ser surpreendida quando menos espera, onde menos espera. por razões diversas, nem que seja por ter ficado a ouvir uma conversa que se desenrolava nas proximidades. Ok pode não ser algo bonito de se fazer, mas depois até foi. num típico restaurante português, onde a decoração é simples e os preços não são ‘gourmet’, um empregado conversa com uns clientes numa mesa ao lado; a hora é de final de almoço já tardio e falam sobre vidas e vinhos. apesar de apreciar o tema, nao fico à escuta para captar dicas - para ambas, podem dar sempre jeito -, mas paro quando, num cruzamento da conversa, aparecem a musica e o cinema. “já dizia frank zappa, ‘a mente é como um pára-quedas, só funciona aberta’”, cita o empregado. quando se fala em zappa há que parar para ouvir e aquele era um doce inesperado a acompanhar o café. e era algo que faria sentido levar não só para a vida como para a prova de vinhos que se seguiria, já noutra paragem. a conversa continua; comecei a dar meia volta para sair. “não sei se conhecem, mas woody allen também uma frase muito boa, qualquer coisa assim ‘a vantagem de sermos inteligentes é que podemos fingir que somos estúpidos, enquanto o contrário é impossível”. riram. fui embora a pensar no empregado citador... estariam a falar sobre vinhos ou sobre vidas? acho que esta vou guardar para o dia-a-dia; sobretudo para aqueles dias em que é preciso sobreviver ao fingimento sem perder o pé (ou a cabeça).
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31.08.2015
E, de repente, aquele momento em que, a 20 metros da paragem do autocarro, o tempo parece avançar em fast forward para o motorista e em slow motion para mim... E lá arranca ele...e lá arranco eu...numa corridinha que só me leva mais rápido ao banco da paragem. Espera. Largos minutos que parecem largooooosss minutos. Valha-nos a tecnologia! Mão na mala à procura do telefone, daqueles que também dão para telefonar, e cá está ele! agora é que vai ser, aproveitar para cuscar o que andam os outros a fazer; onde estão de férias, o que estão a jantar e com quem foram beber café, a que eventos vão e que viagens estão a planear...e ler uns bitaites e umas noticias e saber as últimas transferências do futebol. Marcar o código para desbloquear e...mas, mas, "o drama! O horror! Imagens reais"!....1% de bateria...e apaga-se. Volto a olhar para o painel do tempo que falta para o bus, levantando lentamente os olhos como-o-gato-das-botas-com-o-chapeuzinho-na-mão-do-Shrek, e lá estava a tão temida má notícia...ainda só tinha passado 1 minutinho e qualquer coisa. Olho à volta, entretanto já havia mais uns quantos "esperantes" de autocarro, duas amigas adolescentes que falavam sobre maquilhagem, um jovem executivo que combinava ao telefone um copos com os amigos e, a maioria, calada e de olhar resignado como o meu... (ok, não há cá um ar resignado quando se espera longoooos minutos pelo transporte público, há um rosnar silencioso, assim que quase nos faz tiques nervosos na cara!)
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28.10.2015
Há uns tempos dei por mim distraída a olhar para uns vasinhos com pequenas plantas carnívoras… por singelos 3 euros era possível comprar uma; mas não foi o preço que me cativou – afinal era uma pechincha para o que uma planta com aquele nome prometia conseguir! –, foi a própria planta em si. E um dia destes foi tema de conversa. Ah, e a surpresa que uma pessoa tem quando descobre o quanto consegue dissertar sobre uma planta carnívora! Bom, não é bem dissertar, é mais…’galhofar’! Ora, então onde colocariam logo uma planta que promete o que esta promete? Na secretária no trabalho! Óbvio. Aproxima-se aquela colega mandona, o chefinho a refilar, e ficam a olhar para a plantinha.. ‘Ah, que planta é? Tão original’, comentariam… Resposta pronta.. “é uma solitária, gosta de festinhas”.. Arriscam o mimo e, tungas!, uma dentada num dedo! ou então chegam perto o nariz a ver se cheira bem... Ahaha. Nada que aleije a sério, claro! “elah…é malandra”, acrescentariam, não resistindo a uma segunda aproximação, entre risos. E, daí para a frente, sabe-se lá quantas partidinhas destas se podiam pregar… Estou a pensar comprar uma, vejo no futuro dias de trabalho muito mais descontraídos e bem dispostos! “♬ ♭…ponha aqui o seu dedinho, devagar, devagarinho…♪ ♫”
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25.08.2015
Os pés moviam-se irrequietos, de um lado para o outro, desalinhados com o ritmo da passagem do tempo. Na plataforma da estação do metro, onde parecia existir um adormecimento colectivo, foi difícil não reparar naqueles pés “nervosos”; não ao estilo de meia dúzia de passos para a esquerda, meia dúzia de passos para a direita, que às vezes usamos para ver se os segundos passam mais rápido. De soslaio fiquei a olhar para aqueles ténis pretos, que ensaiavam… passos de dança; passo para a frente, para o lado, uma diagonal, para a frente novamente, um arco, para trás… A chegada do metro despertou-me daquele entretimento e olhei para a figura masculina, alta, fisicamente um pouco desajeitada, que perante a ansiedade da espera dançava. Até para mim o tempo pareceu passar mais rápido
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21.01.2016
hoje vamos andar de metro. saímos numa qualquer estação e, na plataforma, procuramos perceber para que lado queremos sair. estamos algures por baixo de uma grande avenida, como a da República, por exemplo. Entre mais uma ou outra opção de ruas temos saída para a dita avenida, para um lado a saída "(poente)" e para o outro a saída "(nascente)". A dúvida: alguém sabe o significado disto debaixo do chão? Se conhecer bem a zona a pessoa pode guiar-se pelo nome de outras ruas que estão nas indicações. mas, e se não conhecer? para onde é a saída poente? alguém devia ter avisado que andar de metro requer, além do 'título de transporte válido', uma bússola; isso e saber usá-la... o que no meu caso seria só uma acumulação de problemas. Como sabem vocês que é para o lado nascente que querem sair? E qual é o lado nascente de uma rua quando não vêm nada do que se passa lá fora? Há truques? Normalmente, sem mais referências, ou saio instintivamente para o lado errado (90% das vezes) e 'faço piscinas' no subsolo, ou como que acertei no totoloto e era mesmo para aquele lado que queria sair! Talvez poente, sei lá...
Ainda no metro...Se não forem 'habitués'... conseguem saber qual a metade da plataforma onde as três carruagens dos comboios mais curtos param? Será nascente ou poente? Será que vai a subir ou a descer? É que se estão no lado errado têm de fazer a outra metade da plataforma a correr... vocês e mais umas 20 pessoas que também não faziam ideia...e vão todos tentar entrar, qual processo de encher chouriços, na última porta que, para quem está do lado errado, é a primeira, claro. Ah, todo aquele calor humano encavalitado depois de uma corrida (quiça ao final de um dia de trabalho e carregadinhos com sacos, mochilas, guarda-chuva...). Sou só eu que tenho estas dúvidas (saída poente) ou o metro é um lugar geograficamente confuso (saída nascente)? Para que lado saem?
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28.02.2018
Quem nunca, enquanto deambula em abstracção por essas ruas fora, foi subitamente distraído por um cheirinho a frango no churrasco? Podemos não perceber de onde vem, pode ser ligeiro e obrigar-nos a apurar as narinas, , mas de repente esquecemos o podcast que estávamos a ouvir, o tweet que estávamos a escrever ou o que íamos fazer a seguir.
Podia ter-me acontecido, mas desta vez só assisti à coisa. Um casal a passear um cão e uma senhora a atravessar a passadeira, acabadinha de sair da churrasqueira, cruzam-se junto ao carro desta, encostado ao passeio… ela abre a porta de trás da viatura e o cão, de focinho já quase no saco, tenta precipitar-se atrás deste para dentro do carro. Claro que o puxão que deu na trela na perseguição ao cheiro que emanava daquele plástico e a proximidade com a proprietária do churrasco estragaram-lhe os planos. Ainda tentou uma manobra de diversão, abanando a cauda como que ‘ah-e-tal-estava-só-a-espreitar-e-como-não-vi-bem-vou-só-cheirar-outra-vez-mais-de-perto’, mas sem sucesso. Levaram-no passeio fora, desconsolado, a olhar para trás.
Já eu fiquei a pensar, com sorriso disfarçado com requintes de malvadez: era bem feito que lhe tivesse comigo o frango todo, e as batatinhas!… Afinal ela tinha o carro estacionado em cima da passadeira, a ocupar a zebra toda!
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28.10.2015
Esta manhã há um solinho bom. Ontem à noite “chovia que deus a dava”. E ele estava um mãos largas!! De tal modo que até dentro do autocarro pingava. Ouvi dizer, não estava lá. Mas ri-me com o mesmo gosto de quem contava e de quem directamente ouvia. Não foi bem chover dentro do autocarro, pelo que percebi era algo mais ao estilo banho turco, só que ‘em desagradável’, muito congestionado, com demasiada luz e falta de conforto. Num primeiro instinto houve um género de ‘dança de cadeiras’, na procura de um lugar mais seco, tarefa muito digna mas muito mal sucedida. Alternativa? Fiquei a pensar… Sair na paragem seguinte? Resignar-se com a situação? Ou então… abrir o guarda-chuva dentro do autocarro! Ora, não é o que qualquer um faz – menos eu que costumo ignorar esse espécime e ainda ontem saí de casa de óculos de sol e regressei com uma molha -, nos dias em que chove? Para quê autocarros cobertos? Que tal fomentar o sightseeing diário? E chegar num desses descapotáveis ao trabalho… que "luxo"!
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14.10.2016
há, nas viagens nos transportes públicos, quase um sentido de comunidade, sobretudo nos que usamos diariamente. partilhamos queixas, reclamações, momentos de graçolas, boa disposição com aqueles desconhecidos a quem aprendemos a reconhecer os rostos e os (des)gostos; ouvimos, inevitavelmente, conversas uns dos outros. um autocarro apinhado mais parece uma central telefónica com vozes que se cruzam e das quais apanhámos palavras em pedacinhos, que nos permitem entreter a criar o nosso próprio enredo. Mas às vezes, em viagens mais vazias de gente, ouvimos as palavras e as frases por inteiro e, também por vezes, é assim que nos deixamos surpreender. no outro dia partilhava o autocarro com três mulheres, mais perto da idade dos meus pais que da minha, vindas do trabalho, já bem na hora do jantar, em conversas de final de dia. uma delas sai duas paragens depois de eu ter entrado e despede-se das restantes, deixando ainda um 'boa noite' geral. o autocarro arranca e uma delas retoma a conversa, falando sobre a outra... "gosto desta senhora, tem ar de boa pessoa, é dócil, humilde...só a conheço do autocarro"... Saí logo de seguida e deixei-lhes o meu melhor sorriso 🙂 Há momentos em que um autocarro é um dos melhores sítios onde se pode estar...
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19.12.2019
Nos dias chuvosos, ou de muita humidade, é fácil ver o transeunte alfacinha trocar os passeios pelo asfalto. Nas estradas menos movimentadas, lá avança sem medos, com qualquer tipo de calçado nos pés, eventualmente segurando um guarda-chuva, ou agarrando-o enquanto este faz ‘manobras de kung-fu’ ao vento.
A escolha permite evitar ter de fazer breakdance na calçada portuguesa; alguma ‘dance’ até pode ser divertida – deslizar pelo passeio de forma desengonçada, sem muito controle, a fazer um brilhante slalom –, mas a perspetiva de um ‘break’ a qualquer momento já é menos apelativa e a probabilidade de acontecer é grande.
Aquelas pequenas pedrinhas, que devem dar tanto trabalho a colocar como a evitar escorregar nelas, estão por toda a cidade. São como uma casca de banana, só que em milhares (ou como os 💩 dos cães, só que em dezenas), e não dá para desviar ligeiramente, contornar, é preciso procurar um pavimento completamente diferente. Qual? Aquele por onde circulam os carros. Mais perigoso? Sim, a calçada, claro! Já fiz alguns passos de breakdance por essas calçadas fora, com mestria (sorte!) e sem quedas. E vocês? Que histórias têm com a calçada portuguesa?
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25.09.2018
quem costuma andar nos comboios de longo curso está familiarizado com a dificil arte de ter toda a gente sentada nos respetivos lá porque no bilhete consta o nº de carruagem e de lugar, há sempre quem alape o rabo e descarregue a trouxa onde bem entende. o resto dá para adivinhar... filas nos corredores à espera que A diga a B que ali é o seu lugar, ai e tal que queria ir ao lado da namorada e se podem trocar e que o seu é lá mais ao fundo; ou que não senhor que eu quero mesmo é ir à janela e o outro é na coxia; ou ainda desculpe dê-me só um bocadinho para pegar nas duas malas e nos três sacos para ir à procura do meu lugar. tudo isto é comum. escusado, às vezes divertido ou irritante, mas comum. E depois há o insólito. vai um homem sentado en su sitio e a meio da viagem levanta-se... o comboio passa e pára em duas estações e, a dada altura, um outro indivíduo ocupa aquele lugar. tudo certo...até o outro aparecer de regresso à carruagem e se dirigir ao su sitio.
- "olhe, desculpe, esse é o meu lugar..."
- "sente-se aí nesse do lado!! também está vago!"
'uóte?' assim tipo a dar uma ordem? 🙂 fico atenta à cena, à espera que o 'desocupa' indique ao ocupa o lugar do outro lado do corredor - efectivamente vago - reclamando o seu. mas não... senta-se onde o outro manda, olhando duas ou três vezes de soslaio, com aquele ar de 'o que é que acabou de acontecer aqui?!' E assim foram até à última paragem, um sempre descofortável en su nuevo sitio e o outro confortavelmente descaído no assento, ai que bem que se está aqui, só falta mesmo era trazerem-me uma cervejinha! (e certamente neste momento terá olhado cheio de intenção para o lugar do lado...)
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8.12.2018
na época das festividades natalícias abraçamos todo o tipo de preocupações e alguns sacrifícios (faz parte da quadra, right?). Entre os maiores estão, claro, que prendas comprar, a quem, usar ou não aquela camisola de lã com um cenário da Lapónia, onde passar o reveillon, com quem, quanto custa e tal. E pensam vocês que está tudo basicamente resumido. Só que não é bem assim... Estamos sempre a aprender coisas sobre os outros, nomeadamente a ouvir conversas (ha quem não tenha noção dos decibeis!) nos transportes públicos, na fila do supermercado ou enquanto aguarda que o semáforo fique verde para os peões. Numa destas pausas, uma conversa animada entre dois moços jovens, sobre a pasagem de ano. Ah e tal que estava tudo combinado para o ano novo, tudo certo e tal, mas, diz um deles: "há uma cena que me está a preocupar bué na passagem de ano" [frio? falta de alcool? tento adivinhar...], "que a voz da Mafalda" e desata a imitar algo que estará entre a chiadeira de um boneco de borracha a ser apertado consecutivamente e a imitação do Herman de uma peixeira. "Epah, é que ela tem assim uma voz esganiçada..." (ra audiência "pede" uma repetição da imitação). No mesmo instante, verde para peões e avançamos. Phones nos ouvidos. E aquela imitação que ficou ‘na cabeça’.
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