curiouslikeacat

[curiouslikeacat]

Assentiu, entendia exatamente o que ela queria dizer. Mais do que quando era criança. Mais do que antes de chegar ali. Sentiu um alívio, um peso sendo levantado se si simplesmente por ela entender.

Não ia precisar mentir. Não ia precisar ter medo do julgamento. Não com ela.

"A casa chamou a gente, Cass. É isso que eu sinto. Não importa se a carta em si foi mandada por alguém, tudo isso está acontecendo por um motivo. Eu... Eu não vou conseguir descansar até descobrir tudo, Cass. Tem algo me corroendo a muito tempo e agora é questão de vida ou morte."

Nem sabia dizer porque já estava despejando tudo isso nela. Talvez simplesmente porque poderia ser sincero, sem parecer louco.

"Eu... Farei isso sozinho, se precisar." Não a chamou exatamente, mas o convite ficava no ar. E o aviso, para que ao menos alguém ali pudesse entender suas ações e saber o que fazia.

Franziu o cenho para as palavras alheias, não por não acreditar nelas, mas justamente pelo contrário. Se tinha alguém que sabia do peso de Thornhill, aquela pessoa era Cassandra. Acabou por olhar em volta assim como ele, como se de fato houvesse algo à espreita, observando os dois e todos os outros. "Thornhill é... diferente. Nunca foi uma casa como as outras." O comentário poderia até parecer vago para quem estivesse de fora, mas ela esperava que Lyonya fosse capaz de entender o que ela queria dizer com isso. A casa crescia e crescia dentro de Cassandra como um câncer. Ela jamais fora capaz de explicar isso para ninguém. Por fim, escutou o rapaz com cuidado e assentiu devagar. "Eu entendo." E entendia mesmo; se alguém poderia entender aquilo, era Cassandra. "Thornhill sempre foi assim. Sempre foi uma casa viva. A maioria só não é capaz de perceber isso... e eu nem sei se perceber é uma coisa boa. Mas eu entendo você, Lyonya. Entendo mesmo."

[curiouslikeacat]

Dessa vez, ele abre um sorriso triste enquanto dá de ombros. "Não é como se eu pudesse os impedir." Isso ou simplesmente se resignara. Talvez o Leo de outrora lutasse e desse um jeito. Mas suas prioridades mudaram.

"Contos de fada tem morais e servem a um propósito, para as crianças... Não vou discutir quanto ao que acontece quando as pessoas morrem, mas talvez você não esteja enxergando a função das histórias de terror. Um fantasma não é só um fantasma. As vezes, é uma metáfora." Seus olhos brilhavam enquanto falava, parecia mais interessado no assunto do que no seu próprio trabalho. "Ainda assim, respeito sua opinião e reitero que não é incomum. Embora... Me entristeça um pouco que pense assim. Que as pessoas só morram."

"É só uma gripe. Vai passar." Respondeu rápido demais para ser verdade. Mas abriu um sorriso verdadeiro. "Eu sempre esperei que um dia fosse te ver assim." Como um dia ele esperou ver o pai de novo, mas nunca mais o viu. Pelo menos Lydia tinha conseguido.

lydia franziu as sobrancelhas, inclinando a cabeça enquanto encarava leo. "perder o programa não te incomodaria?" não é como se ela tivesse o direito de julgar o desinteresse de alguém - sua própria exposição de fotografias tinha sido adiada e então cancelada sem alardes, sem que ela tentasse ao menos lutar pelo que uma vez parecera tão importante. mas a verdade é que poucas coisas pareciam ser realmente importantes em sua vida. "eu não gosto de histórias de fantasmas. elas são tão bobas quanto contos de fadas. quando as pessoas morrem, elas não ficam aqui. elas só estão mortas."

a tosse, o lenço, tudo era muito familiar. lydia sorriu, esperando que leo conseguisse sentir a simpatia que ela sentia. "eu estou viva. isso já é mais do que todos esperavam quando eu era criança, não é?" havia uma ponta de humor na sua voz, mas lydia deu de ombros e seu sorriso virou algo um pouco mais triste. "você está bem?

[curiouslikeacat]

Com: @solivaganthorn

Local: Galeria

Horário: 10:00

"Imaginei que te encontraria aqui."

A presença de Briar exatamente no lugar onde imaginara trouxe um sorriso leve aos seus lábios. Uma imagem reconfortante após uma noite ruim e uma viagem as pressas.

Se aproximou, mas manteve uma distância respeitosa por conta da sua doença; Não queria passar nada para ela e tinha certeza de que ela entenderia. Não precisava atuar na frente de Briar porque ela simplesmente já saberia. Só esperava que nenhum dos rumores sobre ele tivesse chegado aos ouvidos dela.

"Como vai? Fez boa viagem? Eu... Por pouco achei que não conseguiria vir. Queria ter conseguido falar com você antes da viagem, aliás." Apesar do tom calmo, denotava-se uma certa agitação que ele não tentava esconder. "Queria saber seus pensamentos sobre a carta. E sobre voltar."

Suas perguntas pareciam que tinham algum objetivo específico, mas que ele escolheu não revelar de primeira.

[curiouslikeacat]

Mary Wollstonecraft Shelley, from "The Complete Novels of Mary Shelly,"

[curiouslikeacat]

Hora: 14h

Local: Jardim de Thornhill

Leo tinha se forçado a comer pelo menos um pouco nas últimas horas. Era difícil ter apetite ultimamente, mas sabia que era necessário.

E mais ainda, tinha que tentar parecer forte. Não queria que tudo que dissesse fosse descartado por conta de estar doente, como acontecera nos últimos tempos. (Talvez eles tivessem razão. A grama se movia estranhamente ou era sua visão ficando turva?)

O vento que soprava agressivamente fazia com que se encolhesse mesmo sem querer. Mais um indício do seu corpo fraco, da loucura que era ter feito aquela viagem. Mas ainda assim, ele era um ator. E sorrir como se nada estivesse acontecendo era fácil.

"Acho que vou entrar. O tempo realmente não está convidativo." Comentou de forma amena. A casa. O que ele procurava devia estar na casa. Levantou-se, sentindo certa dificuldade. Era realmente a grama? Ou uma nova febre se apossando de seu corpo? Era tão dificil diferenciar..

"Me acompanharia?" Perguntou a pessoa mais próxima, canalizando todo seu charme e carisma habitual, que costumava funcionar nos palcos. "Eu realmente gostaria de uma companhia." Uma meia verdade. O mais próximo de um pedido de ajuda que seria capaz de fazer (uma testemunha para confirmar se algo acontecesse).

[curiouslikeacat]

Deixou ela testar sua temperatura sem reação, quase aguardando um veredito. Suspirou aliviado de ela não comentar nada de seu saúde, não se sentia febril no momento, mas nos últimos tempos já fora descredibilizado vezes demais por conta da enfermidade. Mas Lyonya sabia que era mais do que isso. Não importa o que os médicos falassem.

"Aquelas que ficaram escondidas todos esses anos. Eu ainda não sei o que é, mas posso sentir. Eu não sabia de onde vinha, mas agora parece claro para mim. A casa. Essa casa." Olhou ao redor, quase com reverência. Seja lá o que ele estava procurando, ele ia encontrar. E então tudo ficaria bem de novo.

Segurou de volta a mão dela, apertando como se dissesse também que estava ali, embora mantivesse o olhar perdido. A grama, o céu, as árvores.

"Essa é uma pergunta muito ampla, Cass." Falou até com um certo humor. "Eu acho que despertei para alguma coisa, e não sei se é uma coisa boa."

As ações e palavras de Leo foram um choque; ele sempre fora um menino silencioso, que mais via e ouvia do que falava, disso ela conseguia se lembrar. De determinada maneira, Cassandra sempre o achara parecido consigo, capaz de perceber coisas que passavam como invisíveis para os outros. Naquele momento, porém, pela forma com que ele a olhava e falava, Cass tinha uma espécie de de flashback do passado, mas não em relação a ele; pelo contrário, ele exibia comportamentos muito parecidos com os dela própria quando criança. Aquilo a preocupava; não sabia pelo que Lyonya havia passado nesses últimos quinze anos, mas os resultados não pareciam muito bons. Uma vez sentada, se aproximou dele e encostou as costas da mão contra sua tez, investigando se havia febre. Ele parecia bem. "As sombras... do que você está falando, Lyonya? Quais sombras vão se revelar?" A pergunta era feita em tom cuidadoso, mas sem julgamento. Ela esperava que aquilo não fosse uma brincadeira maldosa, mas duvidava que fosse; não era do feitio dele. "Estou bem aqui", garantiu com um sorriso apaziguador, a mão que estava na testa se abaixando para segurar a dele. "O que aconteceu, Lyonya?" O que aconteceu com você?

[curiouslikeacat]

O cumprimento o fez sorrir, se virando com um genuíno brilho no olhar ao reconhecer Lydia. Mesmo assim, não era o suficiente para deixar seu rosto pálido e agora até mais magro com vida. Ainda era evidentemente alguém doente.

"É mesmo? As histórias de terror que são as mais genuínas. Muitas verdades se escondem em relatos fantasmagóricos... Mas não é uma crítica incomum. Talvez eu perca o programa, afinal." Admitiu ,estranhamente tranquilo.

Cobriu a boca com um lenço e tossiu algumas vezes. "... Uma pena que não goste das histórias. Sempre achei Thornhill um cenário interessante para contos assim. Mas não me atrevo a escrever, só a atuar as histórias."

Uma pausa e um sorriso. "Você parece bem. Fico feliz."

COM: @curiouslikeacat ONDE: jardins QUANDO: por volta das 13:30

lydia tinha passado a maior parte da vida doente. sua infância foi desperdiçada entre lençóis, médicos, medicamentos e diagnósticos. mesmo agora, com pulmões um pouco mais resistentes e crises de asma no passado, a doença (e doentes) ainda lhe eram uma companhia familiar. talvez por isso, no instante em que seus olhos pousaram em Leo, um arrepio subiu por sua espinha. ela reconhecia aquele olhar. era o mesmo que ainda a assombrava no espelho. por um momento, ela considerou apenas observar de longe. mas havia algo em leo que a instigava — uma curiosidade que a fez ignorar o instinto de se manter à margem. "uau, uma grande estrela do rádio entre nós," disse, se aproximando com um sorriso despretensioso. "mas eu gostava mais do seu show antes das histórias de terror."

[curiouslikeacat]

"E os céus parecem concordar." Respondeu, observando as nuvens escuras por um instante. Quanto tempo até que começasse a chover e tivessem que entrar? Isso ou... O prenúncio de algo bem pior que uma tempestade se aproximando.

Mesmo com os pensamentos agourentos, se manteve sereno e até sorriu para a sua companhia. "Milo. É bom te ver. É bom ver todos novamente."

Fez menção de se aproximar e sentar junto ao outro, mas uma tosse o parou. Rapidamente cobriu a boca com um lenço e deu alguns respeitosos passos para trás. "... Desculpa. Não ando muito bem de saúde, tive até que atrasar a minha viagem até aqui, mas... Como tem estado? Ouvi dizer que dá aulas agora."

Onde: Jardim de Thornhill.

Quando: perto das 12h

Milo manteve sua melhor expressão de ator enquanto levava a xícara de chá aos lábios, saboreando o líquido quente na esperança de que isso lhe trouxesse alguma lucidez naquele lugar deplorável. Ir até sua antiga casa havia sido, sem dúvida, um dos piores erros desde que decidira voltar a Thornhill. Passou a noite inteira atormentado por pesadelos - preso naquele lugar, incapaz de sair, fadado a ser um mero jardineiro e empregado pelo resto da vida. Um verdadeiro pesadelo.

Foi arrancado de seus devaneios pelo som de passos se aproximando. Balançou a cabeça em um cumprimento discreto, abaixando a xícara antes de soltar, com ironia:

— Eu diria "bom dia", mas acho que nem a Srta. Banks está tendo um bom dia.

[curiouslikeacat]

[curiouslikeacat]

Joseph Joubert

[curiouslikeacat]

Antes, Lyonya era conhecido pelo olhar inquieto, que observava tudo e todos, mesmo que o menino fosse quieto. Agora, naquele momento, apenas fitava o nada estranhamente apático. A própria reação a voz da outra foi tardia, só se virando para ela quando finalmente ouviu seu apelido.

Virou os olhos fundos e cansados na direção dela, que falavam da viagem feita tarde e da noite mal dormida. Mas não conseguiu comentar sobre nada disso, ou sobre o chá, ou sobre o tempo.

Só olhou para ela com grande alívio, e estendeu a mão, aparentemente um pedido de que se sentasse com ele.

"Finalmente o que começou vai acabar. As sombras vão se revelar, não é? Finalmente..."

Não explicou o que quer que quisesse dizer, mas acrescentou, num tom vulnerável. "Cassandra... Por um momento eu achei que pudesse ter imaginado você. É bom estar de volta e ver a realidade."

Starter: com @curiouslikeacat Local: Jardim Horário: 11:00

Sua mente não havia parado desde o dia anterior. Todos os reencontros que tivera naquela casa ficavam flutuando por sua mente em um looping que parecia ser incapaz de cessar. Não ajudava que tivesse que enfrentá-los de novo ─ e a outros ─ naquele chá organizado pela sra. Banks. Aquilo não estava nos seus planos; queria ter ficado trancada na segurança de seu antigo quarto, ou talvez abrigada na casa de Milo, até que o fim de semana acabasse e ela pudesse finalmente voltar para a casa, mas ali estava ela, embrulhada em seu casaco de lã, bebendo chá e comendo bolo embaixo daquele tempo vil. Sabia que simplesmente levantar e voltar para o quarto traria desconfianças de que ela ainda era a menininha maluca de antes, então decidiu simplesmente enfrentar a situação. Olhou para o lado e percebeu que era Lyonya sentado ali; não se lembrava de tê-lo visto no dia anterior. "Não faço ideia da motivação da sra. Banks em fazer um chá ao ar livre com o tempo tão fechado. Será que ela quer que peguemos chuva?" Havia uma tentativa de humor em sua voz. "Dormiu bem, Lyonya?" Ela sabia que ela não tinha; suas horas de sono haviam sido dominadas por pesados enevoados.

[curiouslikeacat]

Esse é LEO STANISLAVOVICH DAVIDOV perambulando pelos corredores de thornhill? antigamente ele era conhecido como O INVESTIGADOR, mas hoje em dia é um ator de teatro e radio. eu me lembro de sua disposição calma e curiosa mas também de seu temperamento mimado e arisco. Eu espero que Lyonya ache seu caminho para fora desses portões.

QUEM É VOCÊ?

Leo é filho de imigrantes russos, cujas famílias fugiram ainda na revolução russa e deram a sorte de se encontrar em Londres. Anna e Stanislav eram um casal como qualquer outro, o tipo de pessoas que passavam despercebidas pela sociedade. Mas talvez isso se devesse exatamente porque não queriam que descobrissem algo que pudesse destacá-los dos demais. A primeira grande investigação do pequeno Lyonya foi justamente os próprios pais. Quando ainda tinha seis anos, seu pai ficara muito doente e isso mudou a dinâmica da casa. Lyonya ficava mais sozinho, um entra e sai se instaurou na casa e ninguém parecia notar tanto o pequeno que ouvia atrás das portas. Ouvindo e observando, descobriu que o médico particular de seu pai tinha um motivo pelo qual visitá-lo além da doença e a prima da mãe não era mesmo um membro da família. Na época, não sabia nada sobre homossexualidade e nem o peso que isso tinha, mas entendeu que não eram coisas que podia falar fora de casa. Seus pais tinham medo. E Lyonya queria protegê-los. Após isso, foi para Thornhill e quando voltou após a guerra, seu pai tinha morrido. Se torrou ainda mais agarrado a mãe e nunca abandonou o hábito de tentar descobrir mais sobre as pessoas e as coisas ao seu redor nas suas observações. Investigar as pessoas acabou o tornando um ótimo ator, sabia não só observar, mas imitar trejeitos também. Fez sucesso no teatro e logo conseguiu uma oportunidade na rádio lendo histórias clássicas nas noites. Tudo ia bem. Mas Leo tinha um outro lado. Talvez o lado que lembrava das histórias do pai, que gostava do assunto sobrenatural. Baba Yaga, Boginka, Kikimora, até o próprio Rasputin apareciam nas histórias do pai, fazendo com que Leo tivesse uma visão quase mística da terra de sua família. Ou talvez, fosse o tempo em Thornhill, que podia jurar que alimentou sua imaginação fértil de alguma maneira, mesmo que não lembrasse de nada específico. Mas como uma doença, o sobrenatural foi voltando a sua vida e intoxicando o seu corpo. Ao mesmo tempo, a mesma doença respiratória de seu pai o atingiu. Com febres delirantes e tossindo os pulmões para fora, não conseguia exercer seu ofício, e seu estranho comportamento errático dos últimos tempos criavam rumores sobre ele. Por que de repente só lia contos de terror na rádio? Por que surgia nos ensaios com olhos fundos e falando de sombras e coisas que não existiam?

UM LOCAL EM THORNHILL

A sala de aula. Pode parecer uma resposta sem graça, mas Lyonya foi uma criança ávida por conhecimento. Na sala de aula, conhecia mais do mundo e também tinha a oportunidade de observar seus coleguinhas de perto.

O QUE TE ASSOMBRA?

A própria história familiar, que ele nunca falou sobre e nem revelou a mãe que sabia. Sabe que o verdadeiro amor da mãe é "a prima" que frequenta a casa deles, mas nunca falou sobre. Assim como perdeu o pai, tem medo de perder a mãe. Tem medo que descubram sobre eles. Tem medo dos seus próprios sentimentos. Tem medo de não entender as pessoas e por conta disso cometer um erro. Parte do seu fascino com o sobrenatural talvez seja só uma forma de escapar do que é real. Das lembranças da guerra. Do medo da morte. Do medo do fracasso. Do sentimento de não pertencimento na terra em que nasceu.

A C U R I O S I D A D E M A T O U O G A T O .

[curiouslikeacat]

tag dump