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A foto é um print de uma notícia do Jornal Nacional que pode ser encontrada no site www.globlo.com, no dia 11 de abril, com o título Agressões a mulheres na internet vão ser investigadas pela Polícia Federal.
Na reportagem, a jornalista diz que “a partir de agora, a mulher que sofrer violência virtual, vai poder contar com uma nova proteção, a da Polícia Federal”. A pergunta é: Até quando as mulheres precisarão contar com qualquer tipo de proteção por falta de uma educação baseada na igualdade de gêneros?
O discurso de ódio do internauta é dado, muitas das vezes, pela ignorância no que diz respeito a ser alheio ao tema. O mundo era machista e os homens viviam bem assim, até que as mulheres começaram a indagar por que viviam daquela maneira e como todos e todas estavam sendo prejudicados pelo sistema machista vigente. Ameaçada e acostumada a resolver problemas com a força física, grande parte da população masculina se recusa ao diálogo, se recusa à informação e, então, se instala toda uma guerra movida à busca pela razão, enquanto, na verdade, o feminismo almeja questionar e melhorar a humanidade e não conceder razão e honras ao mérito a determinado gênero.
Como eu disse no post anterior, a minha proposta é ter o feminismo como base para minha pesquisa e, nada mais natural, que eu comece a tecer comentários sobre livros, filmes, textos e vídeos que abordem o tema antes de adentrarmos à História da Ciência, em especial, à História da Matemática. Começarei pelo livro Sejamos todos feministas da Chimamanda Ngozi Adichie.
Tenho a impressão de que a palavra “feminista”, como a própria ideia de feminismo, também é limitada por estereótipos. (página 8)
É importante deixar claro que ser feminista não é ser anti-homem, anti-macho nem anti-hétero. E que feminismo não é antônimo de machismo, feminismo é a ideia filosófica de que homens e mulheres têm iguais direitos e iguais deveres perante à lei.
Quando eu estava no primário, em Nsukka, uma cidade universitária no sudeste da Nigéria, no começo do ano letivo a professora anunciou que iria dar uma prova e quem tirasse a nota mais alta seria o monitor da classe. Ser monitor era muito importante. Ele podia anotar, diariamente, o nome dos colegas baderneiros, o que por si só já era ter um poder enorme; além disso, ele podia circular pela sala empunhando uma vara, patrulhando a turma do fundão. É claro que o monitor não podia usar a vara. Mas era uma ideia empolgante para uma criança de nove anos, como eu. Eu queria muito ser a monitora da minha classe. E tirei a nota mais alta.
Mas, para a minha surpresa, a professora disse que o monitor seria um menino. Ela havia se esquecido de esclarecer esse ponto, achou que fosse óbvio. Um garoto tirou a segunda nota mais alta. Ele seria o monitor. O mais interessante é que o menino era uma alma bondosa e doce, que não tinha o menor interesse em vigiar a classe com uma vara. Que era exatamente o que eu almejava. Mas eu era menina e ele, menino, e ele foi escolhido. Nunca me esqueci desse episódio.
Se repetimos uma coisa várias vezes, ela se torna normal. Se vemos uma coisa com frequência, ela se torna normal. Se só os meninos são escolhidos como monitores da classe, então em alguns momentos nós vamos achar, mesmo que inconscientemente, que só um menino pode ser o monitor da classe. Se só os homens ocupam cargos de chefia nas empresas, começamos a achar “normal” que esses cargos de chefia só sejam ocupados por homens. (páginas 15, 16 e 17)
Você pode me dizer que isso é um cenário da África da década de 80 e eu ficaria imensamente feliz de concordar com você. Porém, assim como Chimamanda, eu gabaritei provas para ser professora de Matemática em um curso nesse ano, 2018, século XXI, e fui desconsiderada da vaga também por uma mulher que prontamente se encarregou de colocar um homem sem metade do meu currículo no meu lugar. Então, precisamos repetir ainda muitas vezes que mulheres e homens são igualmente capazes até que isso se torne normal.
[...] nos EUA, quando um homem e uma mulher têm o mesmo emprego, com as mesmas qualificações, se o homem ganha mais é porque ele é homem.
Então, de uma forma literal, os homens governam o mundo. Isso fazia sentido há mil anos. Os seres humanos viviam num mundo onde a força física era o atributo mais importante para a sobrevivência; quanto mais forte a pessoa, mas chances ela tinha de liderar. E os homens, de maneira geral, são fisicamente mais fortes. Hoje, vivemos num mundo completamente diferente. A pessoa mais qualificada para liderar não é a pessoa fisicamente mais forte. É a mais inteligente, a mais culta, a mais criativa a mais inovadora. E não existem hormônios para esses atributos. Tanto um homem como uma mulher podem ser inteligentes, inovadores, criativos. Nós evoluímos. Mas nossas ideias de gênero ainda deixam a desejar. (páginas 20 e 21)
Nossas concepções andam tão deturpadas que bares, restaurantes e livrarias concedem descontos às mulheres alegando que elas recebem menos do que os homens. Entenda que isso é o mesmo que dar cota a negros e a estudantes de escola pública em universidades federais e não ter um programa de apoio a esses estudantes ao ingressarem em seus cursos nem um plano de melhoria para o ensino público – repare que não sou contra a cota, pelo contrário, sou contra a ideia de que apenas a cota sana a desigualdade social e racial existente até ali.
O fato é que não queremos medidas de curto prazo, não queremos “cala-boca”’s, não queremos descontos; queremos igualdade! Queremos que um negro tenha igual condição que um branco de acompanhar determinada aula, que um estudante de escola pública seja igualmente capaz que um estudante de escola privada e, claro, que homens e mulheres que ocupam o mesmo cargo recebam iguais remunerações por isso.
Tenho uma amiga americana que substituiu um homem num cargo de gerência. Seu predecessor era considerado um “cara durão”, que conseguia tudo; era grosseira, agressivo e rigoroso quanto à folha de ponto. Ela assumiu o cargo, e se imaginava tão dura quanto o chefe anterior, mas talvez um pouco mais generosa – ao contrário dela, ele nem sempre lembrava que as pessoas tinham família. Em poucas semanas no emprego, ela puniu um empregado por ter falsificado a folha de ponto – exatamente como seu predecessor teria feito. O empregado reclamou com o gerente sênior, dizendo que ela era agressiva e difícil. Os outros funcionários concordaram. Um deles, inclusive, disse que tinha achado que ela trará um “toque feminino” ao ambiente de trabalho, mas que isso não acontecera. Não ocorreu a ninguém que ela estava fazendo a mesma coisa pela qual um homem teria recebido elogios. (páginas 25 e 26)
Seria cômico se não fosse trágico, educamos nossas crianças tão despretensiosamente que simplesmente consolidamos e engessamos verdades e conceitos ultrapassados. Outro dia, entrei numa turma muito agitada e indisciplinada para dar aula. Eles estavam dizendo como o professor de matemática estava certo em brigar com eles e que deveriam melhorar seus comportamentos. Durante a minha aula, eles também se exaltaram e me atrapalharam de forma que fui obrigada a chamar atenção deles com as mesmas palavras do professor homem. No fim do expediente, a coordenação me chamou para conversar e dizer que os alunos reclamaram dizendo que eu era histérica e intransigente. Ao alegar que tive o mesmo discurso que o professor, a coordenadora me disse que homens são agressivos mesmo e que os alunos esperavam que eu fosse doce e maternal.
Comecei a me perguntar se ser paternal não era tão bom quanto ser maternal, se as mulheres eram mais maternais do que os homens são paternais, se agressividade é qualidade intrinsicamente masculina e por que histeria é qualidade negativa exclusivamente feminina. Depois de tantas perguntas e um longo dia filosófico, cheguei à conclusão de que a coordenadora precisava ser reeducada tão quanto os meus alunos e que, mais uma vez, eu teria de ser firme sozinha – realidade comum a maioria das mulheres.
Perdemos muito tempo ensinando as meninas a se preocupar com o que os meninos pensam delas. Mas o oposto não acontece. Não ensinamos os meninos a se preocupar em ser “benquistos”. Se, por um lado, perdemos muito tempo dizendo às meninas que elas não podem sentir raiva ou ser agressivas ou duras, por outro, elogiamos ou perdoamos os meninos pelas mesmas razões. Em todos os lugares do mundo, existem milhares de artigos e livros ensinando o que as mulheres devem fazer, como devem ou não devem ser para atrair e agradar os homens. Livros sobre como os homens devem agradar as mulheres são poucos. (página 27)
Eu fico me perguntando quanta ciência, quanto empreendedorismo, quantas autodescobertas, quanta autoestima, quanto avanço, quanta força, enfim, quantas conquistas as meninas não teriam alcançado se devotassem o tempo que devotam com aceitação masculina a si mesmas, a seus desenvolvimentos pessoais. E, consequentemente, eu me pergunto quantas meninas teríamos salvado da relação abusiva, do sexo precoce, da anorexia, da bulimia, da ortorexia, da depressão e até mesmo do suicídio e do homicídio. É extremamente triste e impotente ver como a sociedade cria os meninos para serem predadores e as meninas para serem presas, conseguir enxergar que ambos estão sendo prejudicados e saber que não posso salvar a todos.
A questão de gênero é importante em qualquer canto do mundo. É importante que comecemos a planejar e sonhar um mundo diferente. Um mundo mais justo. Um mundo de homens mais felizes e mulheres mais felizes, mais autênticos consigo mesmos. E é assim que devemos começar: precisamos criar nossas filhas de uma maneira diferente. Também precisamos criar nossos filhos de uma maneira diferente.
O modo como criamos nossos filhos homens é nocivo: nossa definição de masculinidade é muito estreita. Abafamos a humanidade que existe nos meninos, enclausurando-os numa jaula pequena e resistente. Ensinamos que eles não podem ter medo, não podem ser fracos ou se mostrar vulneráveis, precisam esconder quem realmente são – porque eles têm que serem como se diz na Nigéria, homens duros. (páginas 28 e 29)
O que me preocupa é esse retorno: criamos meninos com sentimentos aprisionados e que vivem com as emoções à flor da pele; as meninas crescem e descobrem o feminismo e se tornam tão ou mais enjauladas do que os meninos. Eu não lembro a última vez que chorei em público, porque, oras, preciso parecer tão implacável quanto um menino, também não lembro a última vez que me permiti não ser tão firme e dei um descanso e um consolo a mim mesma, porque sei que a qualquer descuido meu, a sociedade me engole. Portanto, eu me pergunto que espécie de humanidade estamos formando com relacionamentos líquidos, pessoas voláteis e seres humanos infelizes e tão frágeis por serem obrigados a ser tão fortes?
Não faz muito tempo, escrevi um artigo sobre o que significa ser uma jovem mulher em Lagos. Um conhecido disse que havia muita raiva no texto, que eu não deveria ter me expressado com tanta raiva. Mas eu não via razão para me desculpar. É claro que eu estava com raiva. A questão de gênero, como está estabelecida hoje em dia, é uma grande injustiça. Estou com raiva. Devemos ter raiva. Ao longo da história, muitas mudanças positivas só aconteceram por causa da raiva. Além da raiva, também tenho esperança, porque acredito profundamente na capacidade de os seres humanos evoluírem. (páginas 23 e 24)
Eu sonho com um mundo no qual uma menina não precise viver 23 anos para querer ser forte como uma menina, inteligente como uma menina, capaz como uma menina, lutar como uma menina. Eu sonho com um mundo no qual uma menina não tenha que desejar nunca na vida ser um menino para alcançar seu objetivo, realizar seu sonho, se sentir livre e segura. Sonho com um mundo no qual um menino não se sinta ofendido por ser comparado a uma menina e que os pais não indaguem se seus filhos querem parecer menininhas quando forem adverti-los. E, não, eu não acho que é pedir muito nem querer demais. Acredito que o mundo dos meus sonhos seja bem possível, mas, para isso, homens e mulheres, meninos e meninas, todos precisamos começar a repensar o mundo que temos e o mundo que queremos ter, assim como reconstruir nossas concepções de masculinidade e feminilidade.
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Desde os primórdios do mundo, muito antes de sabermos falar como espécie e de definirmos o que é democracia, homens e mulheres assumem papéis distintos e bem definidos em suas tribos, famílias e sociedades.
Meu intuito não é dizer por que isso ocorre, mas fazer refletir se essas divisões são mesmo necessárias, quem elas privilegiam e quem elas prejudicam, se devem ser mantidas no mundo que queremos e, se sim, para que serem mantidas.
Sou estudante concluinte de Licenciatura em Matemática pela Universidade Federal Fluminense (UFF), meu trabalho de conclusão de curso é Curvas Femininas: As Mentes Matemáticas detrás da História. Ele visa a relatar e a analisar o papel feminino na História da Matemática.
Para tal análise, apoiarei-me no feminismo como filosofia de vida que busca desconstruir - e não destruir - a realidade. O feminismo que se apropria da desconstrução como desmontagem, como um retirar de peças para compreender as engrenagens da Humanidade.
Daí, surgiu a ideia desse blog, a partir de hoje, todo domingo, vou publicar comentários sobre textos, livros, vídeos, filmes e etc. que eu tenha lido ou assistido e, através dos comentários, vocês - homens, mulheres, cis, trans; héteros, homossexuais; brancos, negros, pardos, indígenas; feministas, machistas - vão me ajudar a direcionar minha pesquisa e a escrever minha dissertação.
Não importa sua sexualidade, sua cor, sua religião nem sua posição política, toda crítica e toda sugestão são super bem-vindas. Espero que concordemos muito e que discordemos ainda mais! Desde já, obrigada por terem vindo! <3
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