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ᶠˡᵒʷᵉʳˢ ᶠᵒʳ ᵐʸ ᶠᵘⁿᵉʳᵃˡ
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𝗌𝗁𝖾 𝗐𝖺𝗌 𝖼𝗋𝖾𝖺𝗍𝖾𝖽 𝗇𝗈𝗍 𝗐𝗂𝗍𝗁 𝖼𝗅𝖺𝗒, 𝖻𝗎𝗍 𝗐𝗂𝗍𝗁 𝖼𝗎𝗋𝗌𝖾𝗌 𝖺𝗇𝖽 𝗐𝗂𝗍𝗁 𝖿𝗂𝗋𝖾; 𝖺𝗇𝖽 𝗀𝗈𝖽𝗌 𝗐𝗁𝗈 𝗆𝖾𝗌𝗌𝖾𝖽 𝗐𝗂𝗍𝗁 𝗁𝖾𝗋 𝗇𝖾𝗏𝖾𝗋 𝗐𝖺𝗅𝗄𝖾𝖽 𝖺𝗐𝖺𝗒 𝗎𝗇𝖻𝗋𝗈𝗄𝖾𝗇.
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d1vineroots · 25 days ago
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notou  o  vulto  antes  mesmo  da  porta  se  fechar.  uma  presença  que  invadiu  o  espaço  como  uma  onda  sem  aviso  —  não  pela  força,  mas  pelo  desespero  silencioso  que  carregava.  ela  não  respondeu  logo.  não  por  indiferença,  mas  porque  reconheceu  o  momento:  o  torpor  nos  olhos,  o  timbre  trêmulo,  a  respiração  travada.  conhecia  os  sintomas.  já  vira  muitos  deles  em  outros.  sentira  todos  em  si.  "claro  que  não  me  importo."  respondeu  enfim,  com  uma  calma  que  parecia  medida,  construída  para  não  pesar.  acomodou-se  um  pouco  melhor  na  lateral  do  cômodo,  fazendo  espaço  como  quem  acolhe.  “pode  ficar  o  tempo  que  quiser.  às  vezes,  o  mundo  lá  fora  precisa  esperar  um  pouco.”  o  olhar  de  thomasin  pousou  brevemente  na  bolinha  nas  mãos  da  garota.  não  sorriu,  não  zombou,  não  perguntou  o  que  era.  apenas  olhou  com  respeito  —  como  quem  enxerga  não  um  brinquedo,  mas  um  salva-vidas.  “essa  aí  já  te  ajudou  bastante,  né?”  falou  baixo,  quase  num  sussurro  cúmplice.  “às  vezes,  tudo  o  que  a  gente  precisa  é  de  algo  que  a  gente  possa  controlar,  mesmo  que  seja  uma  bolinha  espremida  entre  os  dedos.” 
encostou  a  cabeça  na  parede  fria,  fechando  os  olhos  por  um  instante,  inspirando  devagar.  como  se,  mesmo  no  silêncio,  estivesse  oferecendo  um  espelho  de  tranquilidade.  “ninguém  te  contou  que  até  os  vencedores  já  ficaram  assim,  sem  ar,  com  o  coração  querendo  sair  do  peito.”  pausou,  escolhendo  as  palavras  como  quem  escolhe  pedras  num  rio:  com  cuidado  para  não  escorregar.  “você  não  tá  quebrada,  tartan.  tá  sentindo.  isso  é  diferente.”  então  virou  o  rosto  só  um  pouco  na  direção  da  menina.  “e  sentir,  mesmo  que  doa,  ainda  é  um  sinal  de  que  você  é  humana.  isso,  aqui  dentro,  é  uma  arma  e  tanto.” a  penumbra  do  depósito  pareceu  menos  densa  por  um  instante.  “quando  sentir  que  tá  começando,  lembra  de  uma  coisa:  você  já  passou  por  isso  antes.  e  passou.  você  ainda  tá  aqui.  cada  vez  que  acontece  e  você  continua,  é  uma  vitória.”  não  havia  julgamento.  só  presença.  um  tipo  de  amor  bruto,  simples,  como  o  que  se  aprende  sozinho  quando  o  mundo  inteiro  parece  querer  te  apagar.  “e  se  quiser,  a  gente  pode  ficar  aqui  em  silêncio.  ou  eu  posso  falar  besteira  sobre  estilistas  e  suas  ideias  absurdas  de  fantasia  de  alga  marinha.”  uma  pausa  leve,  quase  risonha.  “só  me  avisa  o  que  precisa.  eu  fico.”  porque  thomasin  conhecia  bem  a  linguagem  dos  fantasmas.  e  sabia  que,  às  vezes,  o  maior  gesto  era  simplesmente  não  sair  do  lado  de  quem  está  tentando  respirar.
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                                             sabia que, uma vez que um ataque de pânico começa, não tem como pará-lo? você consegue controlá-lo, mas nunca o parar de vez. pelo menos, foi o que tartan leu num dos vários livros que achou por aí nas bibliotecas e livrarias da capital. pois bem, foi graças a um desses livros que tartan percebeu que não tinha muito para onde correr quando começava a sentir o aperto no peito, as mãos suadas e os pés dormentes. por isso, assim que pisou para fora do trem e começou a sentir como se cada um dos pacificadores naquele salão estivessem olhando diretamente para ela, levando a mão às suas armas e cochichando entre si, como se para onde andasse com seu tributo tivesse alguém atrás e outros olhos observando, como se definitivamente existisse uma câmera ali, naquela parede lisa, soube que aqueles sintomas logo apareceriam. e, quando apareceram, respirou fundo e pediu licença por um minuto, abrindo a primeira porta que encontrou.
só não esperava que tivesse mais alguém lá. a visão já estava ficando um pouco turva e não conseguia distinguir quem era. "é isso ou esperar que eles explodam nossos pulmões eles mesmos." respondeu, sem pensar. depois de instante em silêncio, fechou a porta e perguntou: "você se importa se eu ficar aqui um momentinho?" e tirou a bola de estresse que guardava no casaco. não era exatamente uma bola, era mais uma gelatina amorfa que podia apertar e bater o quanto quisesse. realmente ajudava, se quer saber. antes, ela era pintada como um coelho (ou seria um porco? foi objeto de ávido debate entre os membros de sua família, e nunca chegaram a um consenso), mas toda a tintura se desgastou com o abuso de tartan. fechou os olhos, que já começavam a se adaptar à escuridão, e começou a apertar a bola na mão.
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d1vineroots · 25 days ago
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thomasin  não  responde  de  imediato.   ouve  tudo.  guarda  tudo.  porque  sabe  que,  quando  alguém  fala  com  tanta  certeza,  o  que  mais  carrega  é  dúvida.  e  corianne,  com  todo  aquele  jeito  de  flor  que  virou  espinho,  não  era  exceção.  acompanha  com  o  canto  dos  olhos  o  movimento  da  garota  até  se  recostar.  não  força  contato  visual.  não  força  abertura.  thomasin  nunca  acreditou  que  alguém  se  tornasse  forte  sendo  empurrado.  "bem.  se  você  não  odeia  tudo,  então  já  está  alguns  passos  à  frente  de  muita  gente  que  passou  por  aqui."  a  voz  vem  suave,  quase  afetuosa,  mas  firme.  "aceitar  o  que  não  se  pode  mudar  é  uma  habilidade.  mas  tem  um  detalhe  aí:  aceitar  não  é  o  mesmo  que  se  render."  respira  fundo,  como  quem  busca  um  ar  menos  pesado.  se  posiciona  melhor  na  cadeira  velha,  braços  cruzados  de  leve,  como  quem  protege  e  acolhe  ao  mesmo  tempo.  "você  quer  saber  dos  próximos  dias.  certo."  os  olhos  vagam  até  o  teto,  puxando  memórias  como  quem  folheia  um  livro  rasgado.  "amanhã,  vocês  começam  os  treinamentos.  é  o  único  momento  em  que  todos  ainda  estão  vivos  e  têm  a  ilusão  de  que  isso  vai  continuar  assim  por  muito  tempo." 
seu  olhar  volta  até  a  parede  oposta.  não  encara  corianne,  mas  se  dirige  a  ela  como  quem  segura  uma  mão  invisível.  "vão  observar  tudo.  como  vocês  lutam,  como  caem,  quem  se  destaca,  quem  sangra  fácil."  pausa  breve,  só  para  que  as  palavras  assentem.  "mas  não  é  só  sobre  força.  quem  sobrevive  aos  jogos  geralmente  é  quem  sabe  observar  mais  do  que  agir.  quem  fala  pouco,  mas  ouve  tudo"  a  voz  cai  meio  tom.  mais  doce.  "então  treine  com  inteligência.  seja  boa  o  suficiente  pra  não  parecer  ameaça.  e  esperta  o  suficiente  pra  aprender  com  quem  sabe  mais."  os  olhos  se  fecham  por  um  segundo,  e  quando  se  abrem,  há  algo  maternal  neles.  cansado,  mas  atento.  "e  sobre  o  estilista..."  sorri,  pequeno,  com  um  humor  gentil  que  escapa  no  fim  da  frase.  "bem...  torça  pra  não  te  colocarem  dentro  de  um  peixe  gigante.  mas  se  colocarem,  ande  como  se  o  mundo  inteiro  estivesse  usando  escamas  também."  uma  pausa.  "o  público  ama  quem  parece  se  sentir  em  casa  onde  ninguém  mais  sobreviveria"  e  ali,  na  penumbra  daquele  quarto  improvisado,  thomasin  entrega  o  que  pode.  não  promessas,  nem  garantias.  mas  fragmentos  de  verdade,  como  quem  passa  uma  tocha  a  alguém  que  está  prestes  a  entrar  no  escuro.
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ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ “̵  bem, não estou fazendo piada.  ”̵ㅤ pontuou gaunt, observando sua mentora; através de seus olhos amendoados, uma das únicas certezas a que corianne poderia tentar se agarrar era a que, de todas as pessoas envolvidas diretamente com os jogos, thomasin era a que mais torceria pelo seu sucesso. afinal de contas, esteve na mesma situação quando lhe coube a responsabilidade de vencer — de sobreviver — e levar a vitória de volta ao distrito onde nasceram. ㅤ“̵  e, sinceramente, não acho que eu odeio tudo. odeio essa choradeira, é claro. a vida começa a ser mais fácil de lidar quando simplesmente se aceita as coisas.  ”̵ㅤ pelo menos era o que poderia dizer, partindo da própria experiência pessoal. pelo menos, quando abraçou uma personalidade fabricada ao redor de oponentes — uma em posição de adorno e beleza, sem a perspicácia que lhe era natural —, seguindo a fluidez da correnteza, a convivência ao redor de outros tinha ficado mais fácil. ㅤ“̵  como eles, também não quero morrer; não é por isso que vou ficar ao redor do saguão, choramingando.  ”̵ㅤ bufou mais uma vez, resoluta em seu posicionamento. o estresse ainda pulsava em suas têmporas, a enxaqueca martelando o lembrete de que se instalaria sob sua pele à qualquer instante. ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ imitou-a, recostando a parte superior do corpo em uma superfície própria, esperando que o peso de de sua cabeça fosse aliviado ao tocá-lo na parede gélida. também preferia, pelo menos por enquanto, a conversa sem contato visual. preferia mudar de assunto; outra linha de raciocínio seria melhor que essa, onde suas estratégias poderiam ser apontadas por outrém. guardaria-as para quem eram inéditas. ㅤ“̵  como serão os próximos dias? você que já esteve aqui com certeza deve saber me falar.  ”̵ㅤ espero ter um bom estilista, acrescentou, apenas mentalmente.
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d1vineroots · 25 days ago
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thomasin  não  precisou  virar  o  rosto  para  reconhecer  a  presença.    a  forma  como  ele  entrou.  o  modo  como  hesitou.  a  pausa  entre  a  luz  e  o  escuro.  tudo  nele  gritava  desconforto.  sobrevivência.  como  se  o  mundo  lá  fora  já  o  tivesse  engolido  uma  vez  e  agora  o  estivesse  cuspindo  de  volta,  só  para  se  divertir.  o  comentário  sobre  baratas  chega  e  ela  quase  sorri.  quase.  "baratas  vivem.  tubarões  caçam"  a  resposta  vem  como  estilhaço.  "ninguém  convida  o  que  incomoda.  só  o  que  entretém"  acompanha  seu  movimento  até  ele  se  encostar  à  parede.  espelhados,  mas  não  iguais.  há  anos  de  diferença  entre  o  que  é  medo  fresco  e  medo  fossilizado. "o  mundo  adora  engolir  gente  que  não  faz  barulho"  os  olhos  vagam  pelo  teto,  pelas  caixas,  pelas  lembranças  enfiadas  entre  as  frestas.  "esses  cantos  são  os  únicos  onde  não  nos  cobram  um  papel"  então  ele  a  reconhece.  seu  nome,  sua  edição,  sua  cicatriz  viva.  ela  não  reage.  não  precisa.  o  nome  já  pesou  demais  nas  costas.  "sou"  sem  orgulho.  sem  lamento.  ouve  o  resto  sem  interromper.  nem  um  músculo  se  move.  e  então  devolve:  "era  eu  ou  ela.  e  se  você  acha  que  isso  me  deu  sorte...  está  enganado"  os  olhos  escurecem,  mas  não  de  raiva.  de  um  cansaço  ancestral.    "você  está  aqui  por  causa  do  sistema  que  adora  botar  criança  pra  morrer  no  mato.  não  por  minha  causa"  se  afasta  da  parede.  não  como  ameaça,  mas  como  quem  precisa  que  a  voz  encontre  espaço.    "culpe  os  idealizadores.  os  patrocinadores.  a  Capital.  culpe  o  vício  deles  por  sangue  com  roteiro"  encosta  numa  caixa.  braços  cruzados,  como  se  segurasse  algo  que  ninguém  pode  ver.  "mas  não  me  coloque  nessa  conta  como  se  eu  tivesse  escolhido  te  colocar  aqui.  ninguém  escolhe  estar  aqui"  os  olhos  voltam  para  ele.  firmes.  atentos.  "e  se  você  está  mesmo  aqui...  então  precisa  parar  de  procurar  culpados.  e  começar  a  procurar  uma  saída"  o  silêncio  não  é  incômodo.  é  cimento.    e  entre  dois  desconhecidos  que  carregam  ossadas  por  dentro,  ele  vale  mais  do  que  qualquer  palavra.
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Ao  abrir  a  porta  Elian  precisou  tirar  um  segundo  para  ajustar  os  olhos  devido  o  contrates  entre  a  claridade  e  a  penumbra  do  depósito.  Ainda  estava  segurando  a  maçaneta  quando  ouviu  a  frase  sobre  tubarões,  fazendo  com  que  ele  piscasse  com  urgência,  achando  um  tanto  absurda  o  comentário  sobre  os  peixes.  "  acho  que  prefiro  as  baratas.  não  morrem  fácil,  sobrevivem  a  radiação,  e  ninguém  as  convida  para  uma  festa.  "  respondeu  com  a  voz  baixa  e  seca,  longe  de  ser  uma  provocação,  mas  o  que  ele  sabia  de  tubarões  em  um  distrito  quase  todo  urbano?  Deu  um  passo  hesitante  para  dentro,  o  barulho  do  piso  sob  suas  botas  soando  mais  alto  do  que  ele  gostaria.  Encostou-se  à  parede  oposta,  espelhando  a  posição  dela.  "  fugir  dos  olhares,  respirar,  me  soa  familiar.  "  estudou  o  lugar  com  os  olhos,  haviam  caixas,  sombras  e  o  cheiro  metálico  que  ele  conhecia  bem.  "  lugares  esquecidos  como  esse  são  os  únicos  que  o  mundo  não  tenta  te  engolir.  "  finalmente  encarou  a  mulher  a  sua  frente,  apenas  para  reconhecer  quem  era  ela.  "  Você  é  Thomasin,  certo?  a  vencedora  da  97º  edição  dos  jogos.  "  não  era  exatamente  uma  questão,  mas  uma  afirmação  com  ares  de  pergunta.  "  eu  vi  seus  jogos,  uma  pena  que  teve  que  matar  uma  pessoa  do  meu  distrito  para  vencer,  se  você  tivesse  morrido,  talvez  eu  não  estivesse  aqui.  "  o  comentário  não  soava  ácido,  mas  uma  constatação  óbvia,  quanto  mais  vencedores,  mais  a  probabilidades  de  ele não  ter  ido  parar  lá  aumentava.
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d1vineroots · 25 days ago
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thomasin  morhallow  não  se  surpreende  mais  com  portas  que  se  abrem  procurando  silêncio.  ela  mesma  já  procurou  abrigo  em  espaços  apertados,  com  cheiro  de  poeira  e  lembranças  esquecidas.  agora,  o  depósito  se  tornou  quase  um  confessionário  involuntário  e,  ali  dentro,  ela  já  não  tem  a  energia  para  afastar  ninguém.  sentada  no  chão,  o  corpo  relaxado  demais  para  alguém  que  vive  entre  trincheiras  invisíveis,  ela  apenas  escuta.  as  vozes  da  arena  ainda  são  mais  altas  que  as  dos  vivos.  quando  a  garota  entra  e  quebra  o  silêncio  com  aquela  pergunta  absurda  sobre  tubarões,  ela  não  ri.   seus  lábios  se  curvam,  imperceptivelmente.  “nós  nadamos,  sim.”    o  tom  é  neutro,  quase  entorpecido.  “mas  não  como  nos  cartões-postais.  a  água  é  escura,  gelada,  e  cheia  de  coisas  que  te  arrancam  pedaços  se  você  sangrar  demais.”  ela  observa  liora  com  um  misto  de  reconhecimento  e  pena  muda.  os  tributos  sempre  pensam  que  estão  sozinhos  nesse  pavor,  como  se  o  medo  fosse  invenção  exclusiva  de  suas  cabeças.  “resistir  é  insuportável.  destruir...  é  imperdoável.”  ela  cruza  os  braços  sobre  os  joelhos,  encarando  algum  ponto  além  da  parede.  “mas  nos  jogos...  ou  você  quebra  alguém,  ou  alguém  quebra  você.  não  tem  poesia  nisso.  só  escolha.”  a  garota  continua.  fala  do  isolamento,  da  pressão,  das  câmeras.  e  thomasin  escuta.  escutar,  às  vezes,  é  tudo  o  que  ela  ainda  sabe  fazer. 
“ficar  sozinha  vai  ser  inevitável.  mesmo  cercada.”  diz  com  a  calma  cruel  de  quem  já  andou  entre  multidões  sem  ser  tocada.  “mas  ser  observada  é  outra  coisa.  é  uma  arma.  eles  gostam  de  tributos  fortes,  sim...  mas  amam  derrubar  quem  brilha  cedo  demais.”  seus  olhos  encontram  os  de  liora  com  uma  gravidade  gentil,  quase  fraterna.  “deixe  que  pensem  que  você  é  fraca.  que  está  ali  por  acaso.  que  não  sabe  nem  afiar  uma  faca.”  pausa.  então  prossegue    “flores  murcham  devagar.  e  ninguém  percebe  quando  começam  a  cortar.”  ela  se  ergue  devagar,  os  movimentos  pesando  como  quem  carrega  mais  do  que  ossos.    e  antes  de  sair,  oferece  a  última  peça  do  quebra-cabeça.  “não  tente  ser  forte  o  tempo  todo.  tente  ser  esquecida.”  ela  vira  o  rosto  por  sobre  o  ombro,  um  traço  de  sorriso  nos  lábios  secos.  “e,  quando  ninguém  estiver  olhando,  ataque.”  silêncio.  um  instante  só,  depois:  “mas  não  espalha  por  aí  que  eu  disse  isso.  tenho  uma  reputação  de  insensível  a  zelar.”
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Diante de toda a aglomeração de tributos e mentores que ocupavam o saguão, o que mais incomodava Liora era o silêncio. Cada conversa sussurrada rasgava o local, como as lâminas que estariam usando daqui a alguns dias para destruir uns aos outros. O suor começou a se acumular em sua testa e então a garota percebeu que precisava de um minuto — ou talvez muitos. Não precisou vagar muito tempo sem rumo até encontrar um depósito. Talvez fosse pequeno, mas seria espaço suficiente para ela e os fantasmas de sua cabeça. Grirpi a maçaneta com forma e logo adentrou o cômodo, fechando a porta atrás de si. Liora parou um segundo, apertando os olhos e soltando um suspiro. No entanto, logo notou que não estava sozinha e só faltou saltar do chão quando ouviu repentinamente aquele papo sobre tubarões. — No distrito quatro vocês nadam com tubarões? — Perguntou, supondo de onde aquele assunto surgira, mas também para deixar a situação menos constrangedora. — É verdade… Pena que nesse jogo não podemos apenas lutar para que nossos pulmões sobrevivam. Eles querem que a gente acabe com o resto dos tubarões. — Concluiu, em um tom um tanto sarcástico. Era apavorante pensar que existia uma diferença enorme entre resistir e destruir. E as chances de alguém ganhar os Jogos Vorazes apenas sobrevivendo eram muito pequenas. — Ah, eu também. — Disse um tanto sem jeito, lembrando a si mesma que não deveria demonstrar fraquezas por ai. — Eu tenho tendência a me isolar. Parece mais fácil lidar com as coisas sem a pressão de dezenas de olhos em mim. — Concordou com a cabeça, como se precisasse se justificar. — Agora terei o país inteiro assistindo cada um dos meus passos. Que maravilha. — Percebeu tarde demais que não conseguiria manter o próprio plano. Talvez fosse uma estratégia melhor deixar que fosse subestimada. — Alguma dica? 
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d1vineroots · 27 days ago
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Estava cansada do silêncio. Não o silêncio em si, mas aquele tipo específico que escorria pelas paredes do Centro dos Tributos, aquele tipo tenso, doído, tão espesso que parecia colar na pele. Era o silêncio antes do abate. E ela o conhecia bem. Sabia reconhecê-lo nos rostos que não choravam mais, nas costas envergadas demais para a idade, nas bocas que tremiam sem emitir som. Foi por isso que os olhos se voltaram para a garota do Distrito 4 com mais atenção do que costumava dedicar a estranhos. A primeira frase, impregnada de desdém, não a surpreendeu. Era fácil se esconder atrás de escárnio. O que pegou Thomasin desprevenida foi o remendo tímido logo depois, costurado às pressas em um tom falsamente leve. A tentativa de não parecer cruel. Aquilo, mais do que a provocação inicial, a fez endireitar a coluna e girar levemente o corpo para encará-la. "Não precisa se desculpar." A voz saiu num tom baixo, mas firme, com aquela melodia embargada de quem já foi obrigada a crescer antes da hora. Os olhos castanhos de Thomasin percorreram o rosto da mais nova com uma lentidão calculada, não para julgar, mas para entender. E ali estava: a dor cuidadosamente envernizada com humor. Ela conhecia bem essa fórmula.
"É só que... quando a gente faz piada disso tudo cedo demais, corre o risco de se acostumar com a ideia de que tem que sorrir pra morrer." Havia um certo peso nas palavras, mas nenhuma dureza. A exaustão de alguém que já tivera que vestir mil máscaras diferentes para continuar respirando, e agora reconhecia o gesto em outra. O olhar suavizou, e um pequeno suspiro escapou antes de continuar. "Você me lembra a minha irmã. Dizia que odiava todo mundo quando tava com medo. A diferença é que ela dizia olhando nos olhos." Pousou o braço no encosto do sofá, não exatamente em um gesto de aproximação, mas como uma ponte invisível, um espaço aberto, um convite. Não queria assustar. Não queria ensinar nada. Só queria que a garota entendesse que não precisava sangrar sozinha. "Fica perto de mim amanhã. Eles ainda não ensinaram como derrubar a gente sem dividir primeiro." E com isso, reclinou a cabeça contra a parede fria atrás de si, fechando os olhos por um breve instante. O cansaço era físico, sim, mas muito mais do que isso: era o cansaço de alguém que sabia exatamente o que viria, e, ainda assim, escolhia cuidar.
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⠀ㅤ⠀starterㅤ⠀[ … ]ㅤ⠀aberto para respostas.
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ㅤ⠀ㅤ⠀corianne estava cansada de lamentações. durante o trajeto de trem para a capital, os estágios do luto já haviam consumido-a de dentro para fora, e a negação foi o primeiro que havia abandonado junto ao distrito quatro. seria errôneo, é claro, apontar que estava feliz — nem imaginava que chegaria um dia à tal disposição nirvânica, utópica até para os mais entusiasmados —, mas a convivência em comunhão com os outros tributos estava fazendo com que as têmporas obtivessem a característica pulsátil de uma enxaqueca. o próprio medo formigava o próprio estômago desde que havia deixado o distrito natal, mas tinha pelo menos a certeza de que não estava miserável de maneira aparente como outros ao seu redor. além de tudo, não só audível, o sofrimento conjunto era visual; os rostos torturados de seus competidores eram uma visão do inferno para gaunt que encarava ladinamente os dedos trêmulos e olhos baixos dos outros, escondendo o julgamento nos olhos castanhos. ❝ sinto que estou encarando uma viúva em um cemitério! quanto chororô! ❞ ralhou com uma mesquinharia rompante e impaciente, deixando um suspiro profundo escapar enquanto massageava um dos lados da cabeça. ㅤ⠀ㅤ⠀não imaginava que um simples comentário fosse gerar qualquer desavença, mas fingiu um segundo suspiro cansado, um tom sôfrego fabricado em sua entonação. o primeiro dia não era um dia de se gerar inimizades; guardaria isso para a manhã seguinte. ajeitou-se no sofá e se virou para a pessoa que sentava-se mais perto de si, que era quem tinha certeza que poderia ter escutado sua descompostura. ❝ㅤ não estava falando de você, sabe? só estou muito estressada. são tantas coisas acontecendo. ❞ dissimulou, imprimindo no tom de voz o pequeno sorriso fabricado.
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d1vineroots · 27 days ago
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DAISY EDGAR-JONES as NOA FRESH (2022)
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d1vineroots · 28 days ago
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        𝖽𝖾𝗌𝖻𝗅𝗈𝗊𝗎𝖾𝖺𝖽𝗈    . . .      𝗌𝗍𝖺𝗋𝗍𝖾𝗋 𝖺𝖻𝖾𝗋𝗍𝗈 ! ! !
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O depósito era uma cápsula de poeira e esquecimento, exatamente como ela gostava. Trancada por dentro, os ombros colados à parede fria, Thomasin finalmente conseguia respirar longe dos olhares famintos, das expectativas não ditas, do tilintar de taças e vozes falsamente empáticas que circulavam pelo Centro dos Tributos como uma infecção elegante. Ali dentro, entre caixas metálicas e estantes cobertas por lonas, podia fingir, só por alguns minutos, que não era mais parte da engrenagem. Que não existiam crianças prestes a morrer sob sua tutela. Que ela mesma não era um lembrete ambulante da sobrevivência a um massacre. Mas a solidão tem ouvidos curtos. Um rangido metálico. Passos. Alguém do lado de fora girou a maçaneta, e por alguma maldita falha de cálculo, a porta abriu. Luz vazou para dentro como uma acusação. Thomasin nem teve tempo de se levantar. Piscou, semicerrando os olhos contra a claridade repentina, a figura à porta ainda indefinida, envolta por aquele brilho branco opressor dos corredores.
“Sabia que tubarões nunca param de nadar?” A pergunta saiu antes que pudesse impedir. Seca, abrupta e absurda. Ela mesma arqueou uma sobrancelha, surpresa com a própria boca. Era aquilo o que sua mente encontrara para evitar qualquer confronto real: uma curiosidade biológica aleatória. “Tipo... nunca mesmo. Se pararem, morrem. Afundam. Literalmente.” Pausa. “Às vezes penso que é isso que a Capital espera da gente. Nadar até os pulmões explodirem. E sorrir enquanto afundamos.” Ela deu um meio sorriso torto, cansado, enquanto ajeitava os joelhos dobrados. Não se desculpou por estar ali. Nem pelo colapso iminente que estava claramente tentando empurrar garganta abaixo. “Enfim, tem gente demais lá fora. Tive que... respirar.” Não era um convite, mas também não era um pedido para que fossem embora. Pela primeira vez em dias, talvez semanas, Thomasin parecia aberta. Ou, quase isso.
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se deseja um starter fechado ou interação específica, é só dar um like !!
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d1vineroots · 1 month ago
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【   ela/dela   ·   faceclaim: daisy edgar-jones   】  ⸻   aquela é thomasin morhallow, ganhadora da 97ª edição dos jogos vorazes e mentora do tributo feminino do distrito 4. ainda me lembro de quando ganhou os jogos com uma destreza quase cruel no manejo de lanças curtas, e, atualmente, aos 27 anos, sei que vai fazer de tudo para ver sua mentorada vencer. espero que sua frieza emocional não ofusque sua capacidade analítica brutal quando precisar conversar com os patrocinadores!
créditos dos gifs.
⌗ informações básicas .
nome completo: thomasin vale morhallow apelidos: tom, morrow (raros e reservados) título: vencedora da 98ª edição dos jogos vorazes data de nascimento: 19 de agosto idade atual: 27 anos naturalidade: vila costeira do distrito 4 residência: vila dos vitoriosos, distrito 4 nacionalidade: cidadã de panem gênero: mulher cisgênero. pronomes: ela / dela orientação: bissexual alcunhas públicas: a serpente de sal, a silenciosa línguas faladas: idioma oficial de panem.
⌗ informações físicas .
faceclaim: daisy edgar-jones etnia: branca cabelos: castanho-claros, geralmente presos de modo prático olhos: cinza-claros, ganham tons azulados sob o sol altura: 1,67m porte físico: esguio, tonificado por natação e caça cheiro marcante: maresia sutil misturada a ervas secas e metal mão dominante: direita alergias: nenhuma registrada cicatrizes: diversas, uma visível, vertical, atravessa a clavícula esquerda características distintivas: olhar fixo, quase predatório; expressão inalterável; silêncio que pesa estilo de vestir: funcional, sóbrio
⌗ personalidade .
rótulo: a estrategista silenciosa MBTI: INTJ eneagrama: tipo 5 — a observadora elemento: água (profunda, impenetrável, letal) signo solar: leão (com energia canalizada e contida) temperamento: melancólico pecado capital: soberba (escondida sob a capa da racionalidade) virtude celestial: diligência deus mitológico equivalente: atena.
⌗ relações familiares .
pai: pescador do distrito 4 mãe: morta em um naufrágio irmãos: nenhum conhecido figura parental atual: nenhuma, vive sozinha mentor: vitorioso desconhecido, falecido por overdose logo após os Jogos mentorados: treinados de forma quase militar, com ênfase em estratégia e contenção
⌗ sobre os jogos .
tema da arena: pântano tropical envenenado, clima úmido e claustrofóbico estratégia dominante: manipulação ambiental, armadilhas e uso de toxinas nativas aliados: dois tributos do distrito 3 e uma do 7 — eliminados um a um por suas próprias falhas (e incentivos ocultos de Thomasin) arma preferida: lanças curtas adaptadas de arpões e facas de pescaria mortes confirmadas: 6 última sobrevivente: tributo do distrito 6 afogada em lama movediça; cena oculta das câmeras, gerando polêmica entre os telespectadores imagem na Capital: vista como intrigante e subversiva; constantemente chamada de "enigmática", "impenetrável" e "brilhante sem brilho"
⌗ sua narrativa .
(!!) TW: luto, isolamento emocional, controle psicológico.
Thomasin nunca quis ser lembrada. A fama lhe foi imposta, assim como a sobrevivência. Nascida em silêncio e moldada pelo mar, cresceu entre redes, anzóis e o medo do esquecimento. Quando foi sorteada, ninguém chorou, e ela não chorou por ninguém. Na arena, não era a mais forte, nem a mais rápida. Mas era a mais atenta. Escutava tudo: o vento, o pântano, a respiração dos outros. Usava o que tinha, criava o que não existia, e nunca hesitava. Suas ações eram calculadas ao extremo e sempre finais.
Sua vitória não foi celebrada com lágrimas, mas com espanto. Ao sair da arena, não gritou, não caiu, não agradeceu. Apenas olhou para a multidão da Capital com os olhos vazios. E voltou para casa. Desde então, vive como uma fantasma com carne. Treina seus tributos sem afeto, mas com precisão. Recusa festas, ignora banquetes. Só fala o necessário. Muitos a temem. Alguns a respeitam. Poucos a entendem.
⌗ conexões mais buscadas .
O MAR NÃO PERDOA. uma figura que tenta alcançar Thomasin por empatia ou compaixão. alguém que quer quebrar o gelo eterno, mesmo que se afogue tentando.
MESTRE E DISCÍPULO. mentorado que vê nela uma referência, uma deusa, ou um demônio. relação intensa, marcada por cobrança e obsessão.
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d1vineroots · 1 month ago
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         # D1VINEROOT: ela nasceu no fundo de um abismo 𝗌𝖺𝖼𝗋𝖺𝖽𝗈, onde os sussurros das mães mortas ainda dançavam com o vento. era dita 𝗉𝗋𝗈𝖿𝖾𝗍𝖺, não por fé, mas por fome — e a sua oração era 𝗋𝗈𝗌𝖺𝗌 𝖾 𝖿𝖾𝗋𝖺𝗌. em seus sonhos, deus era um cão sem olhos, e ela, sua filha favorita. quando caiu na arena, caiu como um 𝗌𝖾𝗅𝗈 𝖺𝗋𝖼𝖺𝗇𝗈, aberto ao mundo. ela amava o sangue porque era quente, e tudo o mais lhe parecia tão 𝖿𝗋𝗂𝗈. o povo a viu e disse: “ela dança com a lâmina”. mas 𝗌𝗈𝗆𝖾𝗇𝗍𝖾 𝖾𝗎 vi que ela era a própria lâmina.
[ ... ] um blog de escrita dependente, criado parar hqjogosvorazes + gentilmente torturado por by sunny
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𝗍𝗁𝗈𝗆𝖺𝗌𝗂𝗇 𝗆𝗈𝗋𝗁𝖺𝗅𝗅𝗈𝗐, vinte7 + mentora do distrito 4.
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d1vineroots · 1 month ago
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Everglow (2020) ‘빛나는 순간’ dir. So Joon-moon
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d1vineroots · 1 month ago
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One Sings, the Other Doesn’t (1977)
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d1vineroots · 1 month ago
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Matilda (1996) dir. Danny DeVito
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d1vineroots · 1 month ago
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people ask me what im into im just like um idk quiet things alone things
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d1vineroots · 1 month ago
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