𝗌𝗁𝖾 𝗐𝖺𝗌 𝖼𝗋𝖾𝖺𝗍𝖾𝖽 𝗇𝗈𝗍 𝗐𝗂𝗍𝗁 𝖼𝗅𝖺𝗒, 𝖻𝗎𝗍 𝗐𝗂𝗍𝗁 𝖼𝗎𝗋𝗌𝖾𝗌 𝖺𝗇𝖽 𝗐𝗂𝗍𝗁 𝖿𝗂𝗋𝖾; 𝖺𝗇𝖽 𝗀𝗈𝖽𝗌 𝗐𝗁𝗈 𝗆𝖾𝗌𝗌𝖾𝖽 𝗐𝗂𝗍𝗁 𝗁𝖾𝗋 𝗇𝖾𝗏𝖾𝗋 𝗐𝖺𝗅𝗄𝖾𝖽 𝖺𝗐𝖺𝗒 𝗎𝗇𝖻𝗋𝗈𝗄𝖾𝗇.
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notou o vulto antes mesmo da porta se fechar. uma presença que invadiu o espaço como uma onda sem aviso — não pela força, mas pelo desespero silencioso que carregava. ela não respondeu logo. não por indiferença, mas porque reconheceu o momento: o torpor nos olhos, o timbre trêmulo, a respiração travada. conhecia os sintomas. já vira muitos deles em outros. sentira todos em si. "claro que não me importo." respondeu enfim, com uma calma que parecia medida, construída para não pesar. acomodou-se um pouco melhor na lateral do cômodo, fazendo espaço como quem acolhe. “pode ficar o tempo que quiser. às vezes, o mundo lá fora precisa esperar um pouco.” o olhar de thomasin pousou brevemente na bolinha nas mãos da garota. não sorriu, não zombou, não perguntou o que era. apenas olhou com respeito — como quem enxerga não um brinquedo, mas um salva-vidas. “essa aí já te ajudou bastante, né?” falou baixo, quase num sussurro cúmplice. “às vezes, tudo o que a gente precisa é de algo que a gente possa controlar, mesmo que seja uma bolinha espremida entre os dedos.”
encostou a cabeça na parede fria, fechando os olhos por um instante, inspirando devagar. como se, mesmo no silêncio, estivesse oferecendo um espelho de tranquilidade. “ninguém te contou que até os vencedores já ficaram assim, sem ar, com o coração querendo sair do peito.” pausou, escolhendo as palavras como quem escolhe pedras num rio: com cuidado para não escorregar. “você não tá quebrada, tartan. tá sentindo. isso é diferente.” então virou o rosto só um pouco na direção da menina. “e sentir, mesmo que doa, ainda é um sinal de que você é humana. isso, aqui dentro, é uma arma e tanto.” a penumbra do depósito pareceu menos densa por um instante. “quando sentir que tá começando, lembra de uma coisa: você já passou por isso antes. e passou. você ainda tá aqui. cada vez que acontece e você continua, é uma vitória.” não havia julgamento. só presença. um tipo de amor bruto, simples, como o que se aprende sozinho quando o mundo inteiro parece querer te apagar. “e se quiser, a gente pode ficar aqui em silêncio. ou eu posso falar besteira sobre estilistas e suas ideias absurdas de fantasia de alga marinha.” uma pausa leve, quase risonha. “só me avisa o que precisa. eu fico.” porque thomasin conhecia bem a linguagem dos fantasmas. e sabia que, às vezes, o maior gesto era simplesmente não sair do lado de quem está tentando respirar.

sabia que, uma vez que um ataque de pânico começa, não tem como pará-lo? você consegue controlá-lo, mas nunca o parar de vez. pelo menos, foi o que tartan leu num dos vários livros que achou por aí nas bibliotecas e livrarias da capital. pois bem, foi graças a um desses livros que tartan percebeu que não tinha muito para onde correr quando começava a sentir o aperto no peito, as mãos suadas e os pés dormentes. por isso, assim que pisou para fora do trem e começou a sentir como se cada um dos pacificadores naquele salão estivessem olhando diretamente para ela, levando a mão às suas armas e cochichando entre si, como se para onde andasse com seu tributo tivesse alguém atrás e outros olhos observando, como se definitivamente existisse uma câmera ali, naquela parede lisa, soube que aqueles sintomas logo apareceriam. e, quando apareceram, respirou fundo e pediu licença por um minuto, abrindo a primeira porta que encontrou.
só não esperava que tivesse mais alguém lá. a visão já estava ficando um pouco turva e não conseguia distinguir quem era. "é isso ou esperar que eles explodam nossos pulmões eles mesmos." respondeu, sem pensar. depois de instante em silêncio, fechou a porta e perguntou: "você se importa se eu ficar aqui um momentinho?" e tirou a bola de estresse que guardava no casaco. não era exatamente uma bola, era mais uma gelatina amorfa que podia apertar e bater o quanto quisesse. realmente ajudava, se quer saber. antes, ela era pintada como um coelho (ou seria um porco? foi objeto de ávido debate entre os membros de sua família, e nunca chegaram a um consenso), mas toda a tintura se desgastou com o abuso de tartan. fechou os olhos, que já começavam a se adaptar à escuridão, e começou a apertar a bola na mão.
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thomasin não responde de imediato. ouve tudo. guarda tudo. porque sabe que, quando alguém fala com tanta certeza, o que mais carrega é dúvida. e corianne, com todo aquele jeito de flor que virou espinho, não era exceção. acompanha com o canto dos olhos o movimento da garota até se recostar. não força contato visual. não força abertura. thomasin nunca acreditou que alguém se tornasse forte sendo empurrado. "bem. se você não odeia tudo, então já está alguns passos à frente de muita gente que passou por aqui." a voz vem suave, quase afetuosa, mas firme. "aceitar o que não se pode mudar é uma habilidade. mas tem um detalhe aí: aceitar não é o mesmo que se render." respira fundo, como quem busca um ar menos pesado. se posiciona melhor na cadeira velha, braços cruzados de leve, como quem protege e acolhe ao mesmo tempo. "você quer saber dos próximos dias. certo." os olhos vagam até o teto, puxando memórias como quem folheia um livro rasgado. "amanhã, vocês começam os treinamentos. é o único momento em que todos ainda estão vivos e têm a ilusão de que isso vai continuar assim por muito tempo."
seu olhar volta até a parede oposta. não encara corianne, mas se dirige a ela como quem segura uma mão invisível. "vão observar tudo. como vocês lutam, como caem, quem se destaca, quem sangra fácil." pausa breve, só para que as palavras assentem. "mas não é só sobre força. quem sobrevive aos jogos geralmente é quem sabe observar mais do que agir. quem fala pouco, mas ouve tudo" a voz cai meio tom. mais doce. "então treine com inteligência. seja boa o suficiente pra não parecer ameaça. e esperta o suficiente pra aprender com quem sabe mais." os olhos se fecham por um segundo, e quando se abrem, há algo maternal neles. cansado, mas atento. "e sobre o estilista..." sorri, pequeno, com um humor gentil que escapa no fim da frase. "bem... torça pra não te colocarem dentro de um peixe gigante. mas se colocarem, ande como se o mundo inteiro estivesse usando escamas também." uma pausa. "o público ama quem parece se sentir em casa onde ninguém mais sobreviveria" e ali, na penumbra daquele quarto improvisado, thomasin entrega o que pode. não promessas, nem garantias. mas fragmentos de verdade, como quem passa uma tocha a alguém que está prestes a entrar no escuro.

ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ “̵ bem, não estou fazendo piada. ”̵ㅤ pontuou gaunt, observando sua mentora; através de seus olhos amendoados, uma das únicas certezas a que corianne poderia tentar se agarrar era a que, de todas as pessoas envolvidas diretamente com os jogos, thomasin era a que mais torceria pelo seu sucesso. afinal de contas, esteve na mesma situação quando lhe coube a responsabilidade de vencer — de sobreviver — e levar a vitória de volta ao distrito onde nasceram. ㅤ“̵ e, sinceramente, não acho que eu odeio tudo. odeio essa choradeira, é claro. a vida começa a ser mais fácil de lidar quando simplesmente se aceita as coisas. ”̵ㅤ pelo menos era o que poderia dizer, partindo da própria experiência pessoal. pelo menos, quando abraçou uma personalidade fabricada ao redor de oponentes — uma em posição de adorno e beleza, sem a perspicácia que lhe era natural —, seguindo a fluidez da correnteza, a convivência ao redor de outros tinha ficado mais fácil. ㅤ“̵ como eles, também não quero morrer; não é por isso que vou ficar ao redor do saguão, choramingando. ”̵ㅤ bufou mais uma vez, resoluta em seu posicionamento. o estresse ainda pulsava em suas têmporas, a enxaqueca martelando o lembrete de que se instalaria sob sua pele à qualquer instante. ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ imitou-a, recostando a parte superior do corpo em uma superfície própria, esperando que o peso de de sua cabeça fosse aliviado ao tocá-lo na parede gélida. também preferia, pelo menos por enquanto, a conversa sem contato visual. preferia mudar de assunto; outra linha de raciocínio seria melhor que essa, onde suas estratégias poderiam ser apontadas por outrém. guardaria-as para quem eram inéditas. ㅤ“̵ como serão os próximos dias? você que já esteve aqui com certeza deve saber me falar. ”̵ㅤ espero ter um bom estilista, acrescentou, apenas mentalmente.
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thomasin não precisou virar o rosto para reconhecer a presença. a forma como ele entrou. o modo como hesitou. a pausa entre a luz e o escuro. tudo nele gritava desconforto. sobrevivência. como se o mundo lá fora já o tivesse engolido uma vez e agora o estivesse cuspindo de volta, só para se divertir. o comentário sobre baratas chega e ela quase sorri. quase. "baratas vivem. tubarões caçam" a resposta vem como estilhaço. "ninguém convida o que incomoda. só o que entretém" acompanha seu movimento até ele se encostar à parede. espelhados, mas não iguais. há anos de diferença entre o que é medo fresco e medo fossilizado. "o mundo adora engolir gente que não faz barulho" os olhos vagam pelo teto, pelas caixas, pelas lembranças enfiadas entre as frestas. "esses cantos são os únicos onde não nos cobram um papel" então ele a reconhece. seu nome, sua edição, sua cicatriz viva. ela não reage. não precisa. o nome já pesou demais nas costas. "sou" sem orgulho. sem lamento. ouve o resto sem interromper. nem um músculo se move. e então devolve: "era eu ou ela. e se você acha que isso me deu sorte... está enganado" os olhos escurecem, mas não de raiva. de um cansaço ancestral. "você está aqui por causa do sistema que adora botar criança pra morrer no mato. não por minha causa" se afasta da parede. não como ameaça, mas como quem precisa que a voz encontre espaço. "culpe os idealizadores. os patrocinadores. a Capital. culpe o vício deles por sangue com roteiro" encosta numa caixa. braços cruzados, como se segurasse algo que ninguém pode ver. "mas não me coloque nessa conta como se eu tivesse escolhido te colocar aqui. ninguém escolhe estar aqui" os olhos voltam para ele. firmes. atentos. "e se você está mesmo aqui... então precisa parar de procurar culpados. e começar a procurar uma saída" o silêncio não é incômodo. é cimento. e entre dois desconhecidos que carregam ossadas por dentro, ele vale mais do que qualquer palavra.

Ao abrir a porta Elian precisou tirar um segundo para ajustar os olhos devido o contrates entre a claridade e a penumbra do depósito. Ainda estava segurando a maçaneta quando ouviu a frase sobre tubarões, fazendo com que ele piscasse com urgência, achando um tanto absurda o comentário sobre os peixes. " acho que prefiro as baratas. não morrem fácil, sobrevivem a radiação, e ninguém as convida para uma festa. " respondeu com a voz baixa e seca, longe de ser uma provocação, mas o que ele sabia de tubarões em um distrito quase todo urbano? Deu um passo hesitante para dentro, o barulho do piso sob suas botas soando mais alto do que ele gostaria. Encostou-se à parede oposta, espelhando a posição dela. " fugir dos olhares, respirar, me soa familiar. " estudou o lugar com os olhos, haviam caixas, sombras e o cheiro metálico que ele conhecia bem. " lugares esquecidos como esse são os únicos que o mundo não tenta te engolir. " finalmente encarou a mulher a sua frente, apenas para reconhecer quem era ela. " Você é Thomasin, certo? a vencedora da 97º edição dos jogos. " não era exatamente uma questão, mas uma afirmação com ares de pergunta. " eu vi seus jogos, uma pena que teve que matar uma pessoa do meu distrito para vencer, se você tivesse morrido, talvez eu não estivesse aqui. " o comentário não soava ácido, mas uma constatação óbvia, quanto mais vencedores, mais a probabilidades de ele não ter ido parar lá aumentava.
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thomasin morhallow não se surpreende mais com portas que se abrem procurando silêncio. ela mesma já procurou abrigo em espaços apertados, com cheiro de poeira e lembranças esquecidas. agora, o depósito se tornou quase um confessionário involuntário e, ali dentro, ela já não tem a energia para afastar ninguém. sentada no chão, o corpo relaxado demais para alguém que vive entre trincheiras invisíveis, ela apenas escuta. as vozes da arena ainda são mais altas que as dos vivos. quando a garota entra e quebra o silêncio com aquela pergunta absurda sobre tubarões, ela não ri. seus lábios se curvam, imperceptivelmente. “nós nadamos, sim.” o tom é neutro, quase entorpecido. “mas não como nos cartões-postais. a água é escura, gelada, e cheia de coisas que te arrancam pedaços se você sangrar demais.” ela observa liora com um misto de reconhecimento e pena muda. os tributos sempre pensam que estão sozinhos nesse pavor, como se o medo fosse invenção exclusiva de suas cabeças. “resistir é insuportável. destruir... é imperdoável.” ela cruza os braços sobre os joelhos, encarando algum ponto além da parede. “mas nos jogos... ou você quebra alguém, ou alguém quebra você. não tem poesia nisso. só escolha.” a garota continua. fala do isolamento, da pressão, das câmeras. e thomasin escuta. escutar, às vezes, é tudo o que ela ainda sabe fazer.
“ficar sozinha vai ser inevitável. mesmo cercada.” diz com a calma cruel de quem já andou entre multidões sem ser tocada. “mas ser observada é outra coisa. é uma arma. eles gostam de tributos fortes, sim... mas amam derrubar quem brilha cedo demais.” seus olhos encontram os de liora com uma gravidade gentil, quase fraterna. “deixe que pensem que você é fraca. que está ali por acaso. que não sabe nem afiar uma faca.” pausa. então prossegue “flores murcham devagar. e ninguém percebe quando começam a cortar.” ela se ergue devagar, os movimentos pesando como quem carrega mais do que ossos. e antes de sair, oferece a última peça do quebra-cabeça. “não tente ser forte o tempo todo. tente ser esquecida.” ela vira o rosto por sobre o ombro, um traço de sorriso nos lábios secos. “e, quando ninguém estiver olhando, ataque.” silêncio. um instante só, depois: “mas não espalha por aí que eu disse isso. tenho uma reputação de insensível a zelar.”

Diante de toda a aglomeração de tributos e mentores que ocupavam o saguão, o que mais incomodava Liora era o silêncio. Cada conversa sussurrada rasgava o local, como as lâminas que estariam usando daqui a alguns dias para destruir uns aos outros. O suor começou a se acumular em sua testa e então a garota percebeu que precisava de um minuto — ou talvez muitos. Não precisou vagar muito tempo sem rumo até encontrar um depósito. Talvez fosse pequeno, mas seria espaço suficiente para ela e os fantasmas de sua cabeça. Grirpi a maçaneta com forma e logo adentrou o cômodo, fechando a porta atrás de si. Liora parou um segundo, apertando os olhos e soltando um suspiro. No entanto, logo notou que não estava sozinha e só faltou saltar do chão quando ouviu repentinamente aquele papo sobre tubarões. — No distrito quatro vocês nadam com tubarões? — Perguntou, supondo de onde aquele assunto surgira, mas também para deixar a situação menos constrangedora. — É verdade… Pena que nesse jogo não podemos apenas lutar para que nossos pulmões sobrevivam. Eles querem que a gente acabe com o resto dos tubarões. — Concluiu, em um tom um tanto sarcástico. Era apavorante pensar que existia uma diferença enorme entre resistir e destruir. E as chances de alguém ganhar os Jogos Vorazes apenas sobrevivendo eram muito pequenas. — Ah, eu também. — Disse um tanto sem jeito, lembrando a si mesma que não deveria demonstrar fraquezas por ai. — Eu tenho tendência a me isolar. Parece mais fácil lidar com as coisas sem a pressão de dezenas de olhos em mim. — Concordou com a cabeça, como se precisasse se justificar. — Agora terei o país inteiro assistindo cada um dos meus passos. Que maravilha. — Percebeu tarde demais que não conseguiria manter o próprio plano. Talvez fosse uma estratégia melhor deixar que fosse subestimada. — Alguma dica?
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Estava cansada do silêncio. Não o silêncio em si, mas aquele tipo específico que escorria pelas paredes do Centro dos Tributos, aquele tipo tenso, doído, tão espesso que parecia colar na pele. Era o silêncio antes do abate. E ela o conhecia bem. Sabia reconhecê-lo nos rostos que não choravam mais, nas costas envergadas demais para a idade, nas bocas que tremiam sem emitir som. Foi por isso que os olhos se voltaram para a garota do Distrito 4 com mais atenção do que costumava dedicar a estranhos. A primeira frase, impregnada de desdém, não a surpreendeu. Era fácil se esconder atrás de escárnio. O que pegou Thomasin desprevenida foi o remendo tímido logo depois, costurado às pressas em um tom falsamente leve. A tentativa de não parecer cruel. Aquilo, mais do que a provocação inicial, a fez endireitar a coluna e girar levemente o corpo para encará-la. "Não precisa se desculpar." A voz saiu num tom baixo, mas firme, com aquela melodia embargada de quem já foi obrigada a crescer antes da hora. Os olhos castanhos de Thomasin percorreram o rosto da mais nova com uma lentidão calculada, não para julgar, mas para entender. E ali estava: a dor cuidadosamente envernizada com humor. Ela conhecia bem essa fórmula.
"É só que... quando a gente faz piada disso tudo cedo demais, corre o risco de se acostumar com a ideia de que tem que sorrir pra morrer." Havia um certo peso nas palavras, mas nenhuma dureza. A exaustão de alguém que já tivera que vestir mil máscaras diferentes para continuar respirando, e agora reconhecia o gesto em outra. O olhar suavizou, e um pequeno suspiro escapou antes de continuar. "Você me lembra a minha irmã. Dizia que odiava todo mundo quando tava com medo. A diferença é que ela dizia olhando nos olhos." Pousou o braço no encosto do sofá, não exatamente em um gesto de aproximação, mas como uma ponte invisível, um espaço aberto, um convite. Não queria assustar. Não queria ensinar nada. Só queria que a garota entendesse que não precisava sangrar sozinha. "Fica perto de mim amanhã. Eles ainda não ensinaram como derrubar a gente sem dividir primeiro." E com isso, reclinou a cabeça contra a parede fria atrás de si, fechando os olhos por um breve instante. O cansaço era físico, sim, mas muito mais do que isso: era o cansaço de alguém que sabia exatamente o que viria, e, ainda assim, escolhia cuidar.
⠀ㅤ⠀starterㅤ⠀[ … ]ㅤ⠀aberto para respostas.
ㅤ⠀ㅤ⠀corianne estava cansada de lamentações. durante o trajeto de trem para a capital, os estágios do luto já haviam consumido-a de dentro para fora, e a negação foi o primeiro que havia abandonado junto ao distrito quatro. seria errôneo, é claro, apontar que estava feliz — nem imaginava que chegaria um dia à tal disposição nirvânica, utópica até para os mais entusiasmados —, mas a convivência em comunhão com os outros tributos estava fazendo com que as têmporas obtivessem a característica pulsátil de uma enxaqueca. o próprio medo formigava o próprio estômago desde que havia deixado o distrito natal, mas tinha pelo menos a certeza de que não estava miserável de maneira aparente como outros ao seu redor. além de tudo, não só audível, o sofrimento conjunto era visual; os rostos torturados de seus competidores eram uma visão do inferno para gaunt que encarava ladinamente os dedos trêmulos e olhos baixos dos outros, escondendo o julgamento nos olhos castanhos. ❝ sinto que estou encarando uma viúva em um cemitério! quanto chororô! ❞ ralhou com uma mesquinharia rompante e impaciente, deixando um suspiro profundo escapar enquanto massageava um dos lados da cabeça. ㅤ⠀ㅤ⠀não imaginava que um simples comentário fosse gerar qualquer desavença, mas fingiu um segundo suspiro cansado, um tom sôfrego fabricado em sua entonação. o primeiro dia não era um dia de se gerar inimizades; guardaria isso para a manhã seguinte. ajeitou-se no sofá e se virou para a pessoa que sentava-se mais perto de si, que era quem tinha certeza que poderia ter escutado sua descompostura. ❝ㅤ não estava falando de você, sabe? só estou muito estressada. são tantas coisas acontecendo. ❞ dissimulou, imprimindo no tom de voz o pequeno sorriso fabricado.
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DAISY EDGAR-JONES as NOA FRESH (2022)
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𝖽𝖾𝗌𝖻𝗅𝗈𝗊𝗎𝖾𝖺𝖽𝗈 . . . 𝗌𝗍𝖺𝗋𝗍𝖾𝗋 𝖺𝖻𝖾𝗋𝗍𝗈 ! ! !

O depósito era uma cápsula de poeira e esquecimento, exatamente como ela gostava. Trancada por dentro, os ombros colados à parede fria, Thomasin finalmente conseguia respirar longe dos olhares famintos, das expectativas não ditas, do tilintar de taças e vozes falsamente empáticas que circulavam pelo Centro dos Tributos como uma infecção elegante. Ali dentro, entre caixas metálicas e estantes cobertas por lonas, podia fingir, só por alguns minutos, que não era mais parte da engrenagem. Que não existiam crianças prestes a morrer sob sua tutela. Que ela mesma não era um lembrete ambulante da sobrevivência a um massacre. Mas a solidão tem ouvidos curtos. Um rangido metálico. Passos. Alguém do lado de fora girou a maçaneta, e por alguma maldita falha de cálculo, a porta abriu. Luz vazou para dentro como uma acusação. Thomasin nem teve tempo de se levantar. Piscou, semicerrando os olhos contra a claridade repentina, a figura à porta ainda indefinida, envolta por aquele brilho branco opressor dos corredores.
“Sabia que tubarões nunca param de nadar?” A pergunta saiu antes que pudesse impedir. Seca, abrupta e absurda. Ela mesma arqueou uma sobrancelha, surpresa com a própria boca. Era aquilo o que sua mente encontrara para evitar qualquer confronto real: uma curiosidade biológica aleatória. “Tipo... nunca mesmo. Se pararem, morrem. Afundam. Literalmente.” Pausa. “Às vezes penso que é isso que a Capital espera da gente. Nadar até os pulmões explodirem. E sorrir enquanto afundamos.” Ela deu um meio sorriso torto, cansado, enquanto ajeitava os joelhos dobrados. Não se desculpou por estar ali. Nem pelo colapso iminente que estava claramente tentando empurrar garganta abaixo. “Enfim, tem gente demais lá fora. Tive que... respirar.” Não era um convite, mas também não era um pedido para que fossem embora. Pela primeira vez em dias, talvez semanas, Thomasin parecia aberta. Ou, quase isso.
se deseja um starter fechado ou interação específica, é só dar um like !!
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【 ela/dela · faceclaim: daisy edgar-jones 】 ⸻ aquela é thomasin morhallow, ganhadora da 97ª edição dos jogos vorazes e mentora do tributo feminino do distrito 4. ainda me lembro de quando ganhou os jogos com uma destreza quase cruel no manejo de lanças curtas, e, atualmente, aos 27 anos, sei que vai fazer de tudo para ver sua mentorada vencer. espero que sua frieza emocional não ofusque sua capacidade analítica brutal quando precisar conversar com os patrocinadores!
créditos dos gifs.
⌗ informações básicas .
nome completo: thomasin vale morhallow apelidos: tom, morrow (raros e reservados) título: vencedora da 98ª edição dos jogos vorazes data de nascimento: 19 de agosto idade atual: 27 anos naturalidade: vila costeira do distrito 4 residência: vila dos vitoriosos, distrito 4 nacionalidade: cidadã de panem gênero: mulher cisgênero. pronomes: ela / dela orientação: bissexual alcunhas públicas: a serpente de sal, a silenciosa línguas faladas: idioma oficial de panem.
⌗ informações físicas .
faceclaim: daisy edgar-jones etnia: branca cabelos: castanho-claros, geralmente presos de modo prático olhos: cinza-claros, ganham tons azulados sob o sol altura: 1,67m porte físico: esguio, tonificado por natação e caça cheiro marcante: maresia sutil misturada a ervas secas e metal mão dominante: direita alergias: nenhuma registrada cicatrizes: diversas, uma visível, vertical, atravessa a clavícula esquerda características distintivas: olhar fixo, quase predatório; expressão inalterável; silêncio que pesa estilo de vestir: funcional, sóbrio
⌗ personalidade .
rótulo: a estrategista silenciosa MBTI: INTJ eneagrama: tipo 5 — a observadora elemento: água (profunda, impenetrável, letal) signo solar: leão (com energia canalizada e contida) temperamento: melancólico pecado capital: soberba (escondida sob a capa da racionalidade) virtude celestial: diligência deus mitológico equivalente: atena.
⌗ relações familiares .
pai: pescador do distrito 4 mãe: morta em um naufrágio irmãos: nenhum conhecido figura parental atual: nenhuma, vive sozinha mentor: vitorioso desconhecido, falecido por overdose logo após os Jogos mentorados: treinados de forma quase militar, com ênfase em estratégia e contenção
⌗ sobre os jogos .
tema da arena: pântano tropical envenenado, clima úmido e claustrofóbico estratégia dominante: manipulação ambiental, armadilhas e uso de toxinas nativas aliados: dois tributos do distrito 3 e uma do 7 — eliminados um a um por suas próprias falhas (e incentivos ocultos de Thomasin) arma preferida: lanças curtas adaptadas de arpões e facas de pescaria mortes confirmadas: 6 última sobrevivente: tributo do distrito 6 afogada em lama movediça; cena oculta das câmeras, gerando polêmica entre os telespectadores imagem na Capital: vista como intrigante e subversiva; constantemente chamada de "enigmática", "impenetrável" e "brilhante sem brilho"
⌗ sua narrativa .
(!!) TW: luto, isolamento emocional, controle psicológico.
Thomasin nunca quis ser lembrada. A fama lhe foi imposta, assim como a sobrevivência. Nascida em silêncio e moldada pelo mar, cresceu entre redes, anzóis e o medo do esquecimento. Quando foi sorteada, ninguém chorou, e ela não chorou por ninguém. Na arena, não era a mais forte, nem a mais rápida. Mas era a mais atenta. Escutava tudo: o vento, o pântano, a respiração dos outros. Usava o que tinha, criava o que não existia, e nunca hesitava. Suas ações eram calculadas ao extremo e sempre finais.
Sua vitória não foi celebrada com lágrimas, mas com espanto. Ao sair da arena, não gritou, não caiu, não agradeceu. Apenas olhou para a multidão da Capital com os olhos vazios. E voltou para casa. Desde então, vive como uma fantasma com carne. Treina seus tributos sem afeto, mas com precisão. Recusa festas, ignora banquetes. Só fala o necessário. Muitos a temem. Alguns a respeitam. Poucos a entendem.
⌗ conexões mais buscadas .
O MAR NÃO PERDOA. uma figura que tenta alcançar Thomasin por empatia ou compaixão. alguém que quer quebrar o gelo eterno, mesmo que se afogue tentando.
MESTRE E DISCÍPULO. mentorado que vê nela uma referência, uma deusa, ou um demônio. relação intensa, marcada por cobrança e obsessão.
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# D1VINEROOT: ela nasceu no fundo de um abismo 𝗌𝖺𝖼𝗋𝖺𝖽𝗈, onde os sussurros das mães mortas ainda dançavam com o vento. era dita 𝗉𝗋𝗈𝖿𝖾𝗍𝖺, não por fé, mas por fome — e a sua oração era 𝗋𝗈𝗌𝖺𝗌 𝖾 𝖿𝖾𝗋𝖺𝗌. em seus sonhos, deus era um cão sem olhos, e ela, sua filha favorita. quando caiu na arena, caiu como um 𝗌𝖾𝗅𝗈 𝖺𝗋𝖼𝖺𝗇𝗈, aberto ao mundo. ela amava o sangue porque era quente, e tudo o mais lhe parecia tão 𝖿𝗋𝗂𝗈. o povo a viu e disse: “ela dança com a lâmina”. mas 𝗌𝗈𝗆𝖾𝗇𝗍𝖾 𝖾𝗎 vi que ela era a própria lâmina.
[ ... ] um blog de escrita dependente, criado parar hqjogosvorazes + gentilmente torturado por by sunny

𝗍𝗁𝗈𝗆𝖺𝗌𝗂𝗇 𝗆𝗈𝗋𝗁𝖺𝗅𝗅𝗈𝗐, vinte7 + mentora do distrito 4.
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Everglow (2020) ‘빛나는 순간’ dir. So Joon-moon
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One Sings, the Other Doesn’t (1977)
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Matilda (1996) dir. Danny DeVito
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people ask me what im into im just like um idk quiet things alone things
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