dandelionstories
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criando histórias com rachel!
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Seus olhos arderam, cheios. Ansiavam, feito uma grande nuvem, por uma chuva. Ela raramente chorava. As lágrimas continuavam guardadas até em momentos que eram convidadas a escapar — aquele não era um momento de convite. Estava… de volta ao lar. E ali, mesmo depois de ousar abandoná-lo e de provar-se indigna do Refúgio das Fadas, poderia ficar. A rainha a perdoara. Ainda tremiam os dedos calejados de Nisha, um tremor leve, discreto em seu eco do medo. Não existia razão mais para ter medo, mas continuava encolhida. Talvez a rainha mudasse de ideia. Ela ainda poderia. Poderia…
Amanhã ela poderia arrepender-se de receber nos braços do reino uma fada como ela. Foram as próprias palavras da rainha: ao amanhecer, Nisha estava convocada a ter uma reunião com a Rainha das Fadas. Mais uma. O que conversaram seria uma reunião? Nisha, retraída como uma presa amedrontada, mal conseguia gaguejar qualquer palavra, e a rainha… a rainha a perdoou. Deu a ela uma ordem: que descansasse. Que, antes do descanso, permitisse que cuidassem da dor, crescendo em uma perigosa melodia, em sua asa antes cintilante.
Nisha deveria alegrar-se com a dor. Bisbilhotando o ombro, ela esforçou-se para bater a asa escondida por uma folha. A asa estremeceu, cedeu aos desejos da fada por um instante e murchou, ardendo dolorida onde o corte nascia. Algum dia ela voaria como antes?
Ela paralisou ao ouvir o que parecia uma ordem antes de entender a palavra. Pare. Estava parada, mas seu pequeno coração se agitava como uma borboleta desesperada, incapaz de acalmar-se de um susto como aquele.
“Perdi… Vossa Alteza?” Nisha corrigiu-se em um passo, sentindo que desmaiaria. Não. Não poderia desmaiar em frente a uma princesa. Que espécie de guardiã era ela? “Eu não… eu fui dispensada. O que aconteceu? Precisa de ajuda? A rainha me convocou outra vez?” As hipóteses saltavam, ansiosas, dos lábios.
Se as notícias corriam rápido no Refúgio das Fadas, dentro do Palácio Real elas pareciam se alastrar de forma ainda mais célere, como uma pequena faísca em meio à vegetação seca. A Rainha foi a primeira a ser notificada, e logo a novidade é repassada aos demais integrantes da nobreza, não tardou para que Perdita soubesse: uma fada fujona estava de retorno. Era Nisha. Só poderia ser. Tinha que ser. "Não estou me sentindo..." Murmurou, antes que a visão ficasse turva. Uma tontura súbita a atingiu, e ela levou a mão ao peito antes de desfalecer nos braços do mensageiro real. Com tamanho drama, parecia até que seria ela que escutaria o belo sermão da própria Rainha das Fadas. "Perdita? Está tudo bem?" A voz do mensageiro soou distante, enquanto ele abanava folhas diante do seu rosto. O cheirinho fresco de menta a ajudou a recobrar os sentidos. "É claro que não está!" Resmungou, com a voz estridente, se desvencilhando dos braços que a acudiam. Como poderia estar algo bem? A fada por quem tanto se afeiçoara — aquela a quem tinha dedicado incontáveis páginas dos seus diários, a dona daquela essência doce de mel — havia partido seu coração em pedacinhos ao fugir do reino. E agora, aparentemente, estava de volta. Sua asas miúdas batiam em um ritmo acelerado, tal qual o coração da pequena fada, que voava por entre os corredores até chegar ao salão real. "Pare!" Exclamou, assim que seus olhos captaram as madeixas negras que tanto admirava. Era ela! Perdita apressou o voo e pousou esbaforida diante de Nisha, não poderia deixar que escapasse outra vez. "Achou que iria embora sem me ver? C-como pôde?" A voz saiu trêmula, entrecortada pelo nervosismo e pela pressa do reencontro.
@dandelionstories
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𝗂 𝗅𝗈𝗏𝖾 𝖾𝗏𝖾𝗋𝗒𝖻𝗈𝖽𝗒 𝖻𝖾𝖼𝖺𝗎𝗌𝖾 𝒊 𝒍𝒐𝒗𝒆 𝒚𝒐𝒖, 𝗂 𝖽𝗈𝗇’𝗍 𝗇𝖾𝖾𝖽 𝗍𝗁𝖾 𝖼𝗂𝗍𝗒 𝖺𝗇𝖽 𝗂 𝖽𝗈𝗇’𝗍 𝗇𝖾𝖾𝖽 𝗉𝗋𝗈𝗈𝖿, 𝖺𝗅𝗅 𝗂 𝗇𝖾𝖾𝖽, 𝗱𝗮𝗿𝗹𝗶𝗻𝗴, 𝗂𝗌 𝖺 𝑙𝑖𝑓𝑒 𝗂𝗇 𝗒𝗈𝗎𝗋 𝗌𝗁𝖺𝗉𝖾… 𝗂 𝗉𝗂𝖼𝗍𝗎𝗋𝖾 𝗂𝗍 𝑠𝑜𝑓𝑡 𝖺𝗇𝖽 𝗂 𝖺𝖼𝗁𝖾. 𝗅𝗈𝗈𝗄 𝖺𝗍 𝗒𝗈𝗎, 𝒔𝒕𝒓𝒂𝒘𝒃𝒆𝒓𝒓𝒚 𝖻𝗅𝗈𝗇𝖽.
𝑛𝑜𝑚𝑒 ✿ Aimée Duval. Aimée, o nome escolhido por sua mãe de nascença, quer dizer “a amada” — e a razão para não aceitar nenhum outro além deste não poderia fazer-se mais aparente, se a filha, a todos os dias, afoga-se no amor da família. Duval, o sobrenome da família da esposa da mãe, significa “do vale”, e este tampouco traz consigo um segredo: os filhos da família Duval vieram todos de uma fazenda de um vale nortenho. Uns poucos ainda ali vivem, entre os brancos lençóis de neve e canções de tempestade.
𝑎𝑝𝑒𝑙𝑖𝑑𝑜𝑠 ✿ Mimi (chamada assim por sua mãe de nascença e por amigos que tentam irritá-la) e cerejinha (chamada assim por sua outra mãe e algumas tias).
𝑠𝑒𝑥𝑢𝑎𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 ✿ Lésbica.
espécie ❀ Bruxa.
aniversário ❀ Treze de outubro. Por mais fútil (para uma bruxa, conhecidas como eram, fiéis aos outonos, com suas folhas secas e brisas pesadas de presságios) pareça, Aimée gostaria de ter nascido entre o desabrochar primaveril das flores, e não entre as árvores, silenciosas em seu definhar, da época onde renascem as bruxas.
ocupação ❀ Bruxa cozinheira.
𝑙𝑎𝑟 ✿ Para Aimée, nunca existirá lar além da casa da família, mas por um só ano, contenta-se em se aconchegar em uma casinha desconhecida e fazer dela uma amiga. A casa, que por Aimée foi apelidada de Casa Cerejeira, foi erguida por um manso casal de idosos em seus dias de juventude, como muitas outras. Diferente daqueles que ocupam as outras casas charmosas feitas pelo casal, que, por conforto e um teto resistente, pagam o bastante para manter felizes e cheios os sete gatos dos senhores Bacqué, a moeda de Aimée é especial: desde que continue a oferecer fatias de bolo para aliviar as insistentes dores da velhice, pode continuar a cuidar da Casa Cerejeira como ela bem quiser. O que ela mais ama é o imenso jardim do fundo. Crescem ali, fortes e obedientes, o que ela ousa preparar em sua cozinha: desde o morango até a batata e uma vasta família de temperos. Em um galinheiro improvisado, do outro canto, uma comunhão de pintinhos vive cantando, gritando ou choramingando (é difícil dizer). Eis a curta história: Aimée os viu à venda, se apaixonou pelas coisinhas pálidas e barulhentas, e levou-os para casa, apesar da falta de pretensão em virar uma criadora de galinhas… e de ainda estar incerta do que irá fazer com eles ao voltar para casa. Quando crescerem, ao menos, serão razão para ela não precisar ir ao mercadinho comprar ovos. Ela não dispensa as simpáticas barraquinhas de agricultores simples e nem os pescadores tagarelas, mas plantar sozinha o que cai em suas panelas a traz um orgulho indescritível. Dentro de casa, a maior obra-prima é a cozinha, adorada como uma deusa: sempre enfeitada, organizada e cheirosa. São proibidos em sua cozinha mãos curiosas invadindo onde não as diz respeito antes de pedi-la (ela provavelmente dirá não), sapatos sujos, desordem, gritos, animais enxeridos (Clair é enxerido, mas é mais do que um animal, então não é um alvo da regra), e outras coisas que provavelmente não caberiam em menos que um livro de leis. Entre as flores da frente da casa, estendem-se mesas pequenas e antigas cercadas por cadeiras pintadas de branco, um certo ar de liberdade. É onde se aconchegam os visitantes da Casa Cerejeira, longe das censuras da cozinha e regras bruxas, mas perto do aroma de comida do lar e encantamentos de cura. Todos os dias, são oferecidas diferentes opções de pratos (ela gosta de desafiar a si mesma), e após escolherem, a bruxinha enfia-se casa adentro para prepará-los. Para aqueles de inimizade com o sol e dias chuvosos, que antes era uma sala de estar virou mais um lugar, modesto em tamanho e aparência, de receber seus clientes: cadeiras vermelhas, mesas circulares, e uma poltrona murcha onde uma velhinha gosta de afundar-se para tomar os chás de Aimée e reclamar da previsão do tempo murmurada pelo rádio. No andar de cima, o avental de cozinheira cai e resta apenas a bruxa e o gato. Ficam os quartos, o maior banheiro, um porão esquisito, os peixes de brinquedo do gato e os livros prediletos de romance da bruxa.
𝑚𝑎𝑔𝑖𝑎 ✿ Em um ensopado quente, rio de legumes fatiados e um ovo cozido partido ao meio, dorme a cura de uma febre, dores insuportáveis de cabeça, um joelho que resiste a obedecer, os cortes de um braço que rolou no concreto quente da calçada. Cozinhando, ela consegue fechar um corte aberto, fazer desaparecer as dores de um corpo cansado, amenizar o sofrimento de uma longa doença e até aquietar um coração agoniado. Mas a magia demanda e demanda, exige cuidado, um olhar atento, paciência para cortar as cenouras antes de derramá-las em água quente. Se estiver zangada, ou frágil de tristeza, até mesmo distraída, as suas intenções se perdem entre as facas e os temperos: um pão que deveria curar pode adoecer, perturbar uma cabeça, ou… ser apenas um pão medíocre — sem uma gota de magia em sua massa. Da impaciência infantil, aprendera a acalmar-se todas as vezes que coloca o pé numa cozinha e a deixar sua magia encharcar seus dedos. Por maior maturidade que tenha agora, ainda é jovem demais para tratar de casos graves. Sua mãe a diz que, algum dia, um dia, será uma grande curandeira como ela, mas para isso precisa provar-se uma bruxa completa primeiro.
mães ❀ Sua mãe de nascença chama-se Christine Dufour, e dela veio o sangue de bruxa cantarolando, sombrio e amável, em seu corpo. O espelho da filha: o mesmo olhar vivo, até travesso em sua natureza, mesmos dedos longos e queimados, um rosto envelhecido encarando as próprias feições jovens toda vez que toma em mãos o rosto de Aimée para beijar-lhe em despedida. Nada tomou do pai, nem sua existência. Christine nunca mais o encontrou. Diz ela, sempre com um ar desinteressado ao falar do assunto, que não foi mais do que uma noite casual — um rapaz de uma grande cidade provando dos sabores interioranos, e uma moça com uma cesta de cerejas e um sorriso brilhante. Antes veio Élise Duval, amiga antiga, mas que reuniu a coragem para preencher de vez o coração de Christine quando a descobriu grávida. Elas poderiam passar, juntas, tardes inteiras contando da história de amor que trilharam, de todos os tropeços, de todos os caminhos tortos, de reencontros acidentais e propositais: Aimée teve uma vida inteira para ouvi-las, e ainda descobre partes e mais partes da vida das mães antes dela em chás servidos com bolo, em manhãs desleixadas e noites de discussões jocosas. Tem decorado, claro, o fim da história e os pontos favoritos das autoras. De bruxa, Élise nada tem, mas gosta de observar, quieta, os ensinamentos da esposa para a filha, e conhece todas as tradições. Não existiria infância mais feliz, nem mais amorosa e nem mais cheia de mimos — mas talvez se arrependam de tanto agradar à filha, porque assim criaram uma criaturinha que não aceita não ter o que quer.
familiar ❀ Uma bruxa ainda é uma bruxa com um gato branco como a neve ao invés de um gato que nasceu da noite escura? O gato branco, Clair, acusaria de estupidez uma pergunta como essa. A mais estúpida das perguntas já ouvida por suas orelhas sensíveis! Mas é a primeira de muitas perguntas que todos se fazem. Até a família perguntou-se a mesma coisa. Viram, ao irem buscar o filhote prometido como o companheiro eterno da filha, uma mancha branca encolhida ao invés de orelhas pretas e focinho escuro: assustaram-se. O aparecer de um gato branco jamais foi um bom presságio para bruxas. Queria dizer que a filha não estava destinada a ter magia? Que adoeceria? Estaria amaldiçoada? Preocuparam-se, preocuparam-se e preocuparam-se, em vão. Clair é o fiel guardião de Aimée, rabugento e exigente, mas protetor e ciumento como uma fera. Morreria antes de deixar alguém feri-la! Ela em nada é diferente. Resmunga o dia inteiro dos caprichos do gato, mas jogaria ovos queimados em quem quer ousasse fazer o mesmo.
𝑖𝑚𝑎𝑔𝑒𝑚 ✿ Pintado desde a adolescência com potes de tinta preparada nas panelas de casa, o vermelho dos cabelos de Aimée é a primeira coisa a despertar a curiosidade nos olhos de alguém. Ela o ama. Se demora nos banhos para lavá-lo com a merecida devoção, hidrata-o com um cuidado religioso, e escova-o com a mesma adoração de uma bruxa acariciando as orelhas de um gato. Os fios vivem presos em um coque firme, distantes dos concentrados olhos castanhos e de acidentarem-se caindo em uma panela, mas ao menos uma vez na semana ela permite-se a graça de arrumar os cabelos com a vaidade de uma princesa prestes a ser coroada — nem que apenas o espelho a olhe. Vermelho é a cor que a pertence, apaixonada e marcante. É alta, e alegra-se em não precisar de um banco para alcançar o que quer nos armários da cozinha. Mesmo em dias frios, sua pele continua quente. Uma charmosa peculiaridade de bruxas cozinheiras! O calor inerente não a protege, porém, do beijo do fogo. Queimaduras cobrem os seus dedos como constelações, brilhando com estrelas de cortes de faca. Em sua coxa esquerda, a marca de água fervente de um jarro, um acidente da infância, ainda a incomoda. Parece um grande rasgo. Um lembrete de vergonha. A cicatriz em seu braço direito não foi do fogo e nem da faca, mas sim de uma xícara quebrada. Chorara como um bebê em todas as tragédias infantis, não por não tentar reprimir as lágrimas, engoli-las para nunca mais voltarem, mas o rosto preocupado e gentil de Élise a desmanchava em um sopro. Não é mais a criatura desastrada que era antes, mas cortes e queimaduras continuam a nascer, vez ou outra, em pequenos infortúnios — sem o choro de menina. Perfuma-se com um perfume caseiro de cerejas.
𝑒𝑠𝑡𝑖𝑙𝑜 ✿ Procura por simplicidade e praticidade, mas por uma beleza delicada. Vestidos azuis são os seus prediletos. Casam serenamente com o vermelho dos cabelos, afinal. Evita vestidos curtos, por mais encantadores que os ache, e gosta de embelezar-se com colares, anéis e brincos — diante da prudência para não gastar com futilidades, contenta-se com um colar antigo, em um suave dourado, de coração. Mesmo que o dinheiro não a preocupasse, a ideia de um acidente culinário a preocuparia. Não os compraria de qualquer forma. Em seus pés, botas claras, escurecidas pelas calçadas da cidade e por pedaços de terra, a acompanham em suas aventuras. Já farão dois ou três anos de idade, mas parecem perfeitamente aceitáveis para Aimée… por mais que as sapatilhas vermelhas da vitrine pareçam, sim, muito mais charmosas. Veste-se com aventais de babados para cozinhar, pois são eles que deixam seus pratos saborosos (assim diz ela, apesar da mãe bruxa falar que ela está imaginando coisas — e inventando-as para justificar usar aventais elegantes para cozinhar).
𝑔𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠 ✿ Panelas bonitas, bancadas de madeira, a cor vermelha, luvas fofas de jardinagem, a sopa de tomate da mãe, livros de romances trágicos, sapatinhos vermelhos, animais, caldeirões, velas.
𝑑𝑒𝑠𝑔𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠 ✿ Perder, ser contrariada, tempestades, cães pretos, desorganização, a maioria dos homens, fazer compras em mercados, ceticismo.
características ❀ É criativa, leal, enérgica, curiosa e disciplinada, mas é impossível ignorar-se que é competitiva, enxerida, ardilosa, paranoica e arrogante.
estética ❀ Potes de geleia amarrados com laços vermelhos, o ronronar de um gato branco, rádios antigos tocando canções apaixonadas, tomates colhidos do jardim, sopas fervendo em caldeirões, cestas cheias de cerejas frescas, colheres de madeira passadas de mães para filhas, vassouras tortas, xícaras de chá em tardes chuvosas, diários amarelados, cartas de amor.
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𝗂 𝗐𝖺𝗇𝗍 𝒂𝒖𝒓𝒐𝒓𝒂𝒔 𝖺𝗇𝖽 𝒔𝒂𝒅 𝒑𝒓𝒐𝒔𝒆, 𝗂 𝗐𝖺𝗇𝗍 𝗍𝗈 𝗐𝖺𝗍𝖼𝗁 𝘄𝗶𝘀𝘁𝗲𝗿𝗶𝗮 𝗀𝗋𝗈𝗐 𝗋𝗂𝗀𝗁𝗍 𝗈𝗏𝖾𝗋 𝗆𝗒 𝖻𝖺𝗋𝖾 𝖿𝖾𝖾𝗍, ‘𝖼𝖺𝗎𝗌𝖾 𝗂 𝗁𝖺𝗏𝖾𝗇’𝗍 𝗆𝗈𝗏𝖾𝖽 𝗂𝗇 𝑦𝑒𝑎𝑟𝑠 𝖺𝗇𝖽 𝒊 𝒘𝒂𝒏𝒕 𝒚𝒐𝒖 𝗋𝗂𝗀𝗁𝗍 𝗁𝖾𝗋𝖾.
𝑛𝑜𝑚𝑒 ✿ Nisha. Como todas as fadas, foi abençoada com um nome dado por sua Rainha, e o de Nisha quer dizer “noite”.
𝑎𝑝𝑒𝑙𝑖𝑑𝑜𝑠 ✿ Fada-abelha (por ser conhecida como uma guardiã particularmente diligente, como uma abelha) e fujona (todos sabem a razão).
𝑠𝑒𝑥𝑢𝑎𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 ✿ Lésbica.
espécie ❀ Fada.
aniversário ❀ Em dias humanos, dezenove de agosto, entre os sopros quentes de verão. Outras fadas, cercadas de amigos e de olhares curiosos dos animais, celebram juntas o dia que nasceram do riso de um bebê, mas Nisha, quieta e sozinha como costuma estar, conversa com o dia como mais um qualquer: distraidamente, apressada, com poucas coisas verdadeiramente interessantes a dizer.
ocupação ❀ Guardiã do pozinho mágico.
𝑙𝑎𝑟 ✿ Em um dos galhos distantes da mais importante árvore de onde se escondem todas as fadas, uma casinha pende, suspensa, do alto. Se a casa foi um dia uma flor do mais brilhante azul, agora não parece diferente de uma xícara envelhecida e empoeirada, manchada com o rastro vivo de pó dourado — uns poucos fragmentos de azul piscam, fracos, aqui e ali. Tão lá no alto que mal dá para notar-se antes de espremer bem os olhos, a casinha brilha quietamente, com raríssimas visitas, além de passarinhos curiosos e uma abelha enxerida. Portinha adentro, um desastre perpétuo vive ali. Por todos os cantos, se espalham anotações de estudos, pensamentos vazios e anseios, uns amassados e jamais descartados, outros abertos, sem ninguém para lê-los. Cestas cheias, cestas vazias, seus queridos pertences feitos em uma bolsa de folhas, pronta para uma despedida — uma que já passou. Nunca se desfez da vontade de ir embora, e nem do que restou da primeira e última tentativa de desfazer-se do Refúgio das Fadas. Alguns dos escritos largados contam das aventuras vividas por ela, mas esses escondem-se em cantinhos bem escuros meio a desordem. Não existe fada que precisaria de tantas sementes de gergelim quanto as que ela, feito um esquilo acumulando nozes, guarda — mais por prazer do que por medo de que, por algum acaso, as sementes de gergelim se esgotarão da existência algum dia. Apesar dos anos e da bagunça carinhosa, já enraizada, a ideia de encontrar outro ponto da árvore para aconchegar-se tem passeado por sua cabeça. Voar até o fim da árvore do pozinho mágico, afinal, não é mais como era antes.
𝑚𝑎𝑔𝑖𝑎 ✿ Ela compreende a linguagem do pozinho mágico como quem entende um velho amigo. Mistérios, segredos e nem mágoas escondidas: nada nasce entre os dois. Manter a corrente fluindo, dourada, reluzente e alegre, em pouco é diferente de cantarolar a melodia de uma canção antiga. De longe, sabe bem o que a árvore precisa e o que ela pede, e não se demora muito com o olhar nas asas de uma fada para descobrir como cuidar delas. Certas vezes, involuntariamente, manipulou o pozinho mágico para encaixá-lo com a necessidade de diferentes fadas, mas é um dom, bem como todos aqueles que vem do pozinho mágico, que ela passou uma vida buscando um jeito de calar. Murchava diante apenas da ideia de aprofundar-se, com sinceridade, com amor, em seus conhecimentos sobre o pozinho. Sentia-se uma peça insignificante no ciclo das fadas, no passar das estações, e não nutriu mais do que ressentimento por seu talento. Mas, longe dele, jamais se sentiu tão vazia.
𝑖𝑚𝑎𝑔𝑒𝑚 ✿ De olhos escuros e cabelos pretos, lisos, mais passam presos para não caírem distraidamente em seus olhos enquanto pinga os contados grãos de pozinho mágico de uma fada, do que vivem soltos. Com certa vaidade, costumam estar adornados por flores achadas por ela — as poucas ignoradas pelas fadas jardineiras —, senão por pétalas secas ou folhas coloridas. Apesar de não pertencer ao inverno, sua pele costuma estar fria, cheirando a mel doce. O riso de onde nasceu deve ter-se esbarrado em uma colmeia antes de chegar ao Refúgio! Não é maior e nem menor do que a maioria das fadas, mas suas asas são longas, finas. Delicadas como as de alguém que não nasceu para voar além do calor do ninho. Uma delas quebrou-se quando fugiu, e voar… voar agora é diferente, sem a leveza antes intrínseca a seu corpo leve, com os olhares indiscretos de fadas sempre caindo em suas costas, imaginando ali uma marca de culpa.
𝑒𝑠𝑡𝑖𝑙𝑜 ✿ Como todos os guardiões, amarelo, laranja, marrom e vermelho marcam-se como as cores que mais usa. Seus vestidos costumam chegar até os joelhos, nem mais curtos e nem mais longos, delicados para não pesarem em seu corpo — mas os sapatos são apertados, implacáveis em seu dever de não deixarem um só fio de pozinho invadirem seus pés. Por mais que não deteste nada do que veste, demoraria a responder se a perguntassem se ela gosta. Em sua fuga para além dos jardins do Refúgio das Fadas, fez vestidos a partir de diferentes flores e folhas de cores inusitadas, mas pensar em usar qualquer um deles em frente a outras fadas a deixa envergonhada.
𝑔𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠 ✿ Cantar, cuidar de abelhas, sementes de gergelim, árvores, chás doces, aprender novas coisas, explorar, livros grandes, aventurar-se pelo desconhecido, colher flores, escrever.
𝑑𝑒𝑠𝑔𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠 ✿ Gaviões, sentir-se presa, ambientes cheios, ignorância, organizar coisas, ser apressada, neve, barulhos altos, lugares escuros.
características ❀ É atenciosa, paciente, aplicada, perseverante e perspicaz, mas é impossível ignorar-se que é avoada, teimosa, desconfiada, impulsiva e insegura.
estética ❀ Pétalas enfeitando fios de cabelo, mel escorrendo por entre os dedos, asas cintilando contra noites escuras, fugas secretas, pilhas desorganizadas de livros antigos, o zunido de abelhas, declarações sussurradas, anéis de flores, devaneios diurnos, caminhos desconhecidos por todos, troncos de árvores velhas.
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