dragoeseavencas
dragoeseavencas
um dragão vem e parte
37 posts
algumas partes favoritas de alguns contos/livros. nada inventado.
Don't wanna be here? Send us removal request.
dragoeseavencas · 2 years ago
Text
Você não existe. Eu não existo. Mas estou tão poderoso na minha sede que inventei você para matar a minha sede imensa. Você está tão forte na sua fragilidade que inventou a mim para matar a sua sede exata. Nós nos inventamos um ao outro porque éramos tudo o que precisávamos para continuar vivendo. E porque nos inventamos, eu te confiro poder sobre o meu destino e você me confere poder sobre o teu destino. Você me dá seu futuro, eu te ofereço meu passado. Então e assim, somos presente, passado e futuro. Tempo infinito num só, esse é o eterno.
— Caio Fernando Abreu - O rapaz mais triste do mundo
28 notes · View notes
dragoeseavencas · 2 years ago
Text
amar o mesmo de si no outro às vezes acorrenta, mas quando os corpos se tocam as mentes conseguem voar para bem mais longe que o horizonte, que não se vê nunca daqui. No entanto, é claro lá: quando os corpos se tocam depois de amar o mesmo de si no outro.
— Caio Fernando Abreu - O rapaz mais triste do mundo
3 notes · View notes
dragoeseavencas · 3 years ago
Text
Para uma avenca partindo
… deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço (…). 
Caio Fernando Abreu 
15 notes · View notes
dragoeseavencas · 3 years ago
Text
Você não sabe, mas acontece assim quando você sai de uma cidadezinha que já deixou de ser sua e vai morar noutra cidade, que ainda não começou a ser sua. Você sempre fica meio tonto quando pensa que não quer ficar, e que também não quer - ou não pode - voltar. Você fica igualzinho a um daqueles caras de circo que andam no arame e de repente o arame plac! ó, arrebenta, daí você fica lá, suspenso no ar, o vazio embaixo dos pés. Sem nenhum lugar no mundo, dá para entender?
Caio Fernando Abreu - Os Dragões não conhecem o Paraíso.
130 notes · View notes
dragoeseavencas · 3 years ago
Text
"Choro sempre quando os dias terminam, porque sei que não nos procuraremos pelas noites."
— Caio Fernando Abreu
93 notes · View notes
dragoeseavencas · 3 years ago
Text
"Você indo embora. Acordou na manhã seguinte com gosto de corrimão de escada na boca: mais frustração que ressaca, desgosto generalizado que aspirina alguma cura. Tocaria o telefone? Você indo embora, fotograma repetido. Na montagem, intercalar. Você indo embora você indo embora. "
— Saudades de Audrey Hepburn - Caio Fernando Abreu
6 notes · View notes
dragoeseavencas · 3 years ago
Text
"Então eu te disse que me doíam essas esperas, esses chamados que não vinham e quando vinham sempre e nunca traziam nem a palavra e às vezes nem a pessoa exata. E que eu me recriminava por estar sempre esperando que nada fosse como eu esperava, ainda que soubesse."
O dia de ontem - Caio Fernando Abreu
4 notes · View notes
dragoeseavencas · 3 years ago
Text
"e que eu precisava tecer todos os dias os meus dias inteiros e inventar meus encontros e minhas alegrias e forjar esperas e me cercar de bruxos anjos profetas e que naquele momento eu achava que não conseguiria mais continuar tecendo inventos."
O dia de ontem - Caio Fernando Abreu
6 notes · View notes
dragoeseavencas · 3 years ago
Text
"Eu te disse que estava cansado de cerzir aquela matéria gasta no fundo de mim, exausto de recobri-la às vezes de veludo, outras de cetim, purpurina ou seda - mas sabendo sempre que no fundo permanecia aquela pobre estopa desgastada."
O dia de ontem - Caio Fernando Abreu
0 notes
dragoeseavencas · 3 years ago
Text
"Pudesse abrir a cabeça, tirar tudo para fora, arrumar direitinho como quem arruma uma gaveta. tomar um banho de chuveiro por dentro."
Caio Fernando Abreu - Domingo
137 notes · View notes
dragoeseavencas · 3 years ago
Text
saí correndo no parque e me joguei na água gelada de agosto invadi sem ter direito a névoa dos canteiros destaquei meu corpo contra a madrugada esmaguei flores não nascidas apertei meu peito na laje fria do cimento a névoa e eu o parque e eu a madrugada e eu costurado na noite cerzido no escuro porque me dissolvia à medida em que me integrava no ser do parque e me desintegrava de mim mesmo preenchendo espaços aqueles enormes espaços brancos terrivelmente brancos e você não teve olhos para ver que o parque era você a água você a névoa você a madrugada você as flores você os canteiros você o cimento você
— A quem interessar possa - Caio Fernando Abreu
3 notes · View notes
dragoeseavencas · 3 years ago
Text
Com a lucidez dos embriagados, haviam-se reconhecido desde o primeiro momento. Ou talvez estivessem realmente destinados um ao outro, e mesmo sem o álcool, numa rua repleta saberiam encontrar-se. O fulgor nos olhos e a incerteza intensificada nos passos fora a pergunta de um e a resposta de outro.
— Madrugada - Caio Fernando Abreu
10 notes · View notes
dragoeseavencas · 4 years ago
Text
"Sinto-me terrivelmente vazio. Há pouco estive chorando, sem saber exatamente por quê. Às vezes odeio esta vida, estas paredes, essas caminhadas de casa para a aula, da aula para casa, esses diálogos vazios, odeio até este diário, que não existiria se eu não me sentisse tão só. O que eu queria mesmo era um ombro amigo onde pudesse encostar a cabeça, uma mão passando na minha testa, uma outra mão perdida dentro da minha."
– Caio Fernando Abreu In Limite Branco
2 notes · View notes
dragoeseavencas · 7 years ago
Quote
A comunicação humana é um artifício cuja interação é nos fazer esquecer a brutal falta de sentido de uma vida condenada à morte. Sob a perspectiva que vai morrer e que na hora de sua morte está sozinho. Cada um tem de morrer sozinho por si mesmo. E, potencialmente, cada hora é a hora da morte. Sem dúvida não é possível viver com esse conhecimento da solidão fundamental e sem sentido. A comunicação humana tece o véu do mundo codificado, o véu da arte, da ciência, da filosofia e da religião, ao redor de nós, e o tece com pontos cada vez mais apertados, para que esqueçamos nossa própria solidão e nossa morte, e também a morte daqueles que amamos
Vilém Flusser - O Mundo Codificado
6 notes · View notes
dragoeseavencas · 7 years ago
Quote
Chorei três horas, depois dormi dois dias. Parece incrível ainda estar vivo quando já não se acredita em mais nada. Olhar, quando já não se acredita no que se vê. E não sentir dor nem medo porque atingiram seu limite. E não ter nada além deste amplo vazio que poderei preencher como quiser ou deixá-lo assim, sozinho em si mesmo, completo, total. Até a próxima morte, que qualquer nascimento pressagia
Caio Fernando Abreu
25 notes · View notes
dragoeseavencas · 7 years ago
Quote
Eu não consigo entender nada do que se passa — meu amor secreto, meu amor calado, não acrescentou, talvez agora desse um suspiro mas não morresse, ou engolisse o dente para rasgar as tripas ou quem sabe cuspi-lo longe convulsivo como numa hemoptise, e sobre o chão vomitar a tarde? a história? a perda? a morte? o medo? a solidão? quem sabe o nojo antigo sedimentado e sem remédio.
Caio Fernando Abreu
1 note · View note
dragoeseavencas · 7 years ago
Quote
E eu nem nada. Fiz misérias nos caminhos do conhecer. Mas hoje estou doente de tanta estupidez porque espero ardentemente que alguma coisa… divina aconteça. F for fake. Os horóscopos também erram.
Ana Cristina César - Duas Antigas II 
4 notes · View notes