dysthea

[dysthea]

Ouço as batidas na porta onde permaneço desde que tudo se tornou um caos novamente, a dama do dia chama meu nome desesperada, pedindo para que eu saia e encare o que está acontecendo. Sinto algo passando por debaixo da fresta daquela porta à minha frente, tomando parte de mim.

As lágrimas escorrem aos poucos, mas é diferente dessa vez, não tive o tempo suficiente para me aprofundar. A mão da dama da noite segura meu ombro com força, e quando enfim olho para sua face, ela nega com sua cabeça.

"Eu..."

"Não há nada para dizer minha criança, não precisa sentir nada novamente. O que te espera é só dor se ousar abrir aquela porta e você sabe muito bem sobre isso."

Concordei com suas palavras, ela estava certa mais uma vez. Senti aos poucos minhas pernas perdendo a força, pensei que talvez dessa vez haveria um novo rumo, uma nova história a ser contada e que talvez, só talvez, essa fosse uma história um pouco mais feliz.

"Por conta dos seus sonhos, pensou que seria diferente, não é mesmo? Mas o final acaba sempre sendo da mesma forma para você. Você não precisa mais sofrer sozinha, estou aqui."

Tudo se tornou escuro após isso, sentia suas mãos suaves tapando meus olhos enquanto as lágrimas se fortaleciam. Mesmo caindo no chão, ela permaneceu ali comigo, até que sem mais energias o sono tomasse conta de mim. Novamente me acolhendo quando não havia mais ninguém.

[dysthea]

Meus dedos percorrem pelas teclas do notebook enquanto ouço a mesma música dezenas de vezes. Hoje era para ser mais um dia normal em minha vida, apenas mais uma segunda em meio a tantas outras. Mas minhas memórias me revisitam sobre o seu aniversário.

Quem diria que alguns meses atrás pensava que ainda estaria conversando com você nesse momento, sobre o presente que te daria e como seria comemorar essa data. E no final tudo isso ficou no passado, não tendo o menor valor.

Depois de tudo que aconteceu você parece tão bem, sua vida segue como se nunca tivesse existido. No final só fui uma sombra passageira que se extinguiu rapidamente, apenas um personagem secundário que faria você refletir sobre certas coisas em sua vida e personalidade, que seria tirado da trama assim que perdesse a sua função.

Por mais que eu fizesse, nunca seria boa o suficiente para conseguir te encantar da mesma forma. Eu poderia ser o que fosse, mas você nunca sequer me olharia do jeito que eu gostaria.

Então só me restam lembranças e lamentos, que me atormentam de tempos em tempos. E como a música fala, agora é aceitar e me silenciar, para entender que eu não sou pra você.

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Quando meus olhos se abrem, estou diante de uma porta em um quarto escuro. Minhas mãos tremem enquanto seguro a maçaneta, sinto as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. 

Mesmo receosa decido entrar no quarto e enfrentar o que está atrás daquela porta. Ao fazer isso ouço o som do crepitar da lareira e sinto um cheiro suave de camomila. A sala está quente, fazendo com que de certa forma me traga algum tipo de conforto.

A minha frente está ela, a dama da noite sentada em uma poltrona com um livro em suas mãos. Com o som da porta ela levanta seu olhar até a minha direção. Nos entreolhamos por um tempo, como se durasse uma eternidade, em seu rosto há um leve sorriso.

"Vejamos quem voltou, foi bem rápido dessa vez. Eu estava certa no final, não é mesmo?"

Meus olhos foram em direção ao chão, senti meu rosto queimar de vergonha. As lágrimas se tornavam cada vez mais intensas após ouvir suas palavras. 

Pude ouvir seus passos vindo em minha direção, até que senti seus braços envolta de mim como em um abraço.

"Está tudo bem, eu estou aqui."

Meu rosto se afundou em seu ombro, permiti que tudo fosse jogado para fora naquele momento. Em um choro profundo e cheio de lamentações, a partir daquele ponto retornei ao mar de novo.

[dysthea]

Aqui estou sentada na laje em mais uma noite fria, sentindo uma puta vontade de chorar, mas as lágrimas não saem de jeito nenhum.

É como se elas estivessem presas, como se algo não permitisse elas tomarem forma e escorrerem pelo meu rosto. Por quê? Por que vocês não saem logo de uma vez? Não estou triste o suficiente?

A ansiedade me sufoca enquanto tento me acalmar, sinto como se algo fosse acontecer a qualquer momento, mas não parece ser algo bom. Estou com tanto medo disso...

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Então a dama da noite resolve me visitar, vindo ao meu encontro sem ao menos avisar e senta-se à minha frente. Traz consigo um sorriso no rosto esperando alguma reação, um silêncio desconfortável permanece até que o quebro.

"O que te traz aqui?"

Minha pergunta ecoa pela sala, ela ainda me observa com cuidado até que ouço sua voz.

"Você realmente pretende ir por esse caminho? Mesmo depois de tudo que passou?"

Sinto seus olhos me julgando por dentro, é simplesmente insuportável. Abaixo meu olhar em direção ao chão, tirando do meu campo de visão aquela sensação sufocante. Minhas mãos tremem enquanto aperto com força o tecido da roupa. Então uma risada surge preenchendo meus ouvidos, a piada sou eu, tenho certeza disso.

"Quão ingênua você pretende fingir ser? É só um rosto e um nome diferente, mas o fim é sempre o mesmo. Você deveria voltar ao mar enquanto ainda tem tempo, antes que o pior aconteça."

Levanto o meu olhar em sua direção, vejo resquícios de preocupação em sua expressão.

"Prefiro me arriscar dessa vez."

Falo tentando parecer mais firme em minha decisão, mas só faz com que seu riso retorne. Ela levanta de sua cadeira e vem em minha direção, seus passos ecoam pela sala até chegar em minha frente, se abaixando ao ponto em que nossos olhos fiquem na mesma altura.

"Nós nos veremos muito em breve, meus braços estarão abertos te esperando para consolá-la."

Após isso senti sua respiração fria em minha testa, dando seu beijo de despedida. Da mesma forma que surgiu, a dama da noite sumiu diante de meus olhos, sem deixar nenhum rastro de ter estado aqui em algum momento. Olho ao redor da sala e ela nunca pareceu tão vazia.

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Reparei que só costumo escrever aqui quando não estou muito bem, momentos de calmaria ou de estabilidade são aqueles da qual fujo deste recanto.

Ainda me pergunto o motivo disso, mas enfim, vamos de atualizações. Continuo trabalhando no mesmo lugar, só que em um produto totalmente diferente e meio que desisti de tentar subir de cargo.

Permaneço trabalhando na balada, provavelmente ainda vou fazer isso por um bom tempo. A faculdade tem ido bem, já estou finalizando o primeiro semestre e as coisas estão caminhando bem.

Comecei a conversar com uma mina que conheci no Tinder, já faz um mês que temos conversado todos os dias. Mas não estou colocando grandes expectativas sobre isso, tipo, ela é uma pessoa fantástica e eu me sinto muito confortável com ela, porém acredito que não vai dar em nada, talvez só uma amizade.

Tenho um puta receio, pois pelo lado dela não há nada de segundas intenções ou um interesse forte, acho que é mais uma amizade na visão que ela tem de mim. Então estou tentando aquietar e tentar não ficar emocionada.

A relação com a minha família se mantém sendo um completo caos, minha irmã permanece não falando comigo.

Voltei a falar com o Goku, depois do incidente recente. Inclusive tenho estado preocupada com tudo o que rolou, tenho medo dele tentar se matar de novo, então tento ao máximo ser um suporte pra ele.

E acho que é isso, não tenho grandes novidades assim, minha vida tem estado bem parada desde que vim pro home office, sem mais grandes aleatoriedades e tal.

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A morte veio nos visitar e levou ele bem diante dos meus olhos. Vi enquanto agonizava de dor, se revirando por não estar conseguindo respirar. Até que seu corpo se tornou imóvel, não havia mais vida.

Fechei seus pequenos olhos enquanto minhas mãos tremiam, elas ainda estão tremendo enquanto escrevo isso. Estou a beirada de um colapso, tentando me concentrar em alguma coisa para que isso não aconteça.

Ainda é difícil acreditar no que aconteceu, é como se fosse um pesadelo da qual estou prestes a acordar. Mas os soluços de minha irmã me trazem a tona, esse foi o fim. Ele morreu e não há mais nada a ser feito.

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Desde que trabalhei no último sábado na balada, meu humor não anda muito bom. Admito que fiquei abalada quando vi a ex da mina que eu estava ficando, olhar para ela era como ver um outdoor me lembrando o quão trouxa fui.

Além disso, tive que ver um amigo meu que não estou mais falando desde que teve um rolê em que fui com ele. Descobri daquela vez que ele tinha começado a gostar de mim e fiz a merda de ficar com ele naquele rolê, isso só deixou as coisas mais estranhas entre nós dois. 

Se fosse eu de antigamente, provavelmente teria dado uma chance para ver o que dava. Mas já faz um tempo que perdi todo o interesse em homens, não me sinto mais atraída. Eu ainda pego, mas não é mais a mesma coisa.

Sendo bem sincera, acho que eu nunca realmente gostei de fato de homens. Por exemplo, ter relações sexuais com homens era algo completamente desconfortável para mim, por isso sempre havia aquela dor. Procurei uma ginecologista e descobri que o problema era a minha mente, eu que estava causando tudo aquilo.

Tentei muito, mas era a mesma coisa em todas as vezes. Tentava relaxar ao máximo e o resultado era igual, lembro das várias vezes em que estava deitada na cama no automático, com a mente em algum outro lugar desejando que aquilo acabasse o mais rápido possível.

Outro ponto é o fato de que me enjoava muito fácil de qualquer cara que me envolvesse, em algum momento sempre procurava uma outra pessoa. Ninguém durava muito tempo, era realmente bem difícil isso acontecer.

No fundo me sentia atraída por mulheres, mas sempre tive receio disso. Então costumava reprimir ao máximo durante anos da minha vida. Aos poucos fui me abrindo, foi um longo caminho para chegar até a atualidade. Ainda tenho meus questionamentos, mas agora estou completamente aberta em relação a isso, finalmente comecei a me aceitar.

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Já faz um tempo que não entro aqui, nada muito interessante aconteceu nesse meio tempo. Minha vida anda bem parada desde que estou em home office, mas ainda assim houveram algumas coisas.

Atualmente estou gripada e me mantando pra terminar as coisas da faculdade. Falta bem pouco pra data de entrega das atividades, e ainda não terminei de assistir todas as aulas. Então tenho estado bem ocupada esses dias.

De alguma forma sinto falta de escrever minhas histórias, depois que entrei de férias no trabalho, passei a me obrigar a dar continuidade em uma das minhas histórias. Mas ela ainda está longe de ter alguns capítulos prontos. Penso em retornar então com um dos meus projetos mais antigos, uma história que já tem um bom desenvolvimento. Tipo, os personagens tem nomes e sobrenomes, aparência definida, o mundo tem seus detalhes, a capa e nome dela já foram feitos, até tem alguns capítulos que escrevi. Só falta revisar e editar algumas coisas então.

Depois de terminar as coisas da faculdade, decidi que vou começar a postar a história e me dedicar a dar continuidade na escrita. Mesmo sendo trabalhoso, sinto que isso vai me ajudar a preencher minha mente vazia, assim vou me distrair para não pensar em coisas ruins e aguentar o dia a dia aqui em casa.

[dysthea]

Meus olhos vagueiam por entre as nuvens no céu, enquanto isso seguro um cigarro acesso por entre meus dedos. A trilha sonora que toca em meus ouvidos é aquela música em específico, que me faz lembrar de você. Sinto tanta vontade de chorar... Mas as lágrimas não vêm, estou seca e completamente vazia.

Meu desejo foi finalmente atendido, aos poucos a apatia retorna ao seu antigo lugar, junto com ela a âncora em minha perna se torna pesada. Essa casa me devora com seus atritos, e não há absolutamente ninguém para me confortar. Nenhum amigo ou amiga, não há ninguém. Estou novamente sozinha no meio do caos e não faço a menor ideia de quanto tempo ainda vou aguentar. Talvez mais alguns meses, esse provavelmente vai ser meu prazo de validade.

Assim que receber as férias vou fazer meu seguro de vida, quando acontecer vai ser tudo coberto pelo plano. Dessa forma não vou ser um peso em meu fim. Eu vou finalmente poder descansar de verdade.

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Eu posso trabalhar em algo que detesto, não posso sair de jeito nenhum desse emprego, eu posso ter que trabalhar e fazer faculdade ao mesmo tempo, eu posso ficar sem ter nada o que comer, eu tenho que aguentar os comentários e assédios no trabalho, eu sou bem conveniente quando você deseja reclamar do seu trabalho, afinal eu sou a única que vai te ouvir, não é mesmo? Eu tenho o dever de dar todo o meu dinheiro, de fazer centenas de empréstimos até que você esteja satisfeita, você pode me ignorar ou me acusar quando bem entender. Você pode pisar em mim quando bem entender, quebrar as minhas coisas e me ofender quando desejar. O que afinal eu sou para vocês? Uma boneca? Ao menos vocês me vêem como uma pessoa? Não... Provavelmente não...

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E então todo o pequeno castelo de areia que fui construindo aos poucos foi engolido pelas ondas da praia. Meus olhos observam enquanto a areia molhada cai pelos meus dedos, no final foi tudo em vão, não é mesmo?

Sinto as lágrimas rolarem incontrolavelmente pelo meu rosto, minhas mãos tremem enquanto me agarro naquele pequeno punhado de areia. Por quê? Por que você fez isso?

A dor toma conta de mim, minhas pernas fraquejam e quando vejo, estou sentada olhando para a imensidão daquele azul.

Chegou a hora de retornar ao mar, as ondas sussurram meu nome enquanto ainda observo o monte de areia, ainda sinto as lágrimas rolarem pelas minhas bochechas. Então eu levanto e meus pés seguem em direção às ondas, em direção as profundezas novamente. A âncora presa em minha perna se torna mais pesada cada vez que fico mais longe da praia.

E então eu sou engolida pelo mar, caindo aos poucos em suas profundezas em um sono profundo, estou de volta a minha casa. Como senti falta disso... Será que um dia ainda vou acordar?

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Perdi as contas de quantas vezes você sumia e ia atrás preocupada pensando que algo ruim pudesse ter acontecido. Da sua boca só vinham justificativas e a mesma desculpa de sempre, "as vezes esqueço de responder e fico achando que já respondi". Você sabe que faz isso e mesmo assim não confere? Que tipo de desculpa é essa?

Mas no final a realidade era que você estava voltando a ficar com a sua ex, por isso passou a cada vez menos a lembrar da minha existência. Raiva, tristeza, decepção e uma pitada de desconforto por no final minha intuição estar certa, é exatamente assim como me sinto.

Eu já estava sentindo a um tempo que tinha alguma coisa rolando ali, minha intuição gritava sobre isso, mas achava que era apenas coisa da minha cabeça. Tinha medo de que fosse verdade, eu realmente morria de medo disso. É por isso que tenho que começar a me ouvir mais, eu consigo sentir quando algo está errado ou algo vai vir. A ansiedade ataca e minhas mãos tremem, não consigo me acalmar e acabar com aquela sensação na barriga. Fumo cigarro após cigarro para tentar me tranquilizar, e funciona, mas vai quase um maço no processo.

Novamente criei expectativas em uma pessoa que não poderia cumprir. Já não foi o suficiente? Com certeza foi... Então chega disso, chega de criar sentimentos e expectativas, agora que estou de volta as condições de 2020 vou aproveitar para cuidar de mim. Vou focar em meu trabalho e na faculdade, quem sabe até começar uma academia e melhorar a minha alimentação... Vou diminuir o cigarro o máximo possível e a bebida também, só em raras exceções quando sair para algum lugar.

Mas enfim, é isso... Vou sentir falta daquela idiota indecisa, do seu cheiro, do seu toque, de sua voz. Tudo isso se tornarão lembranças de um outro tempo.

[dysthea]

Cansaço, essa é a palavra mais presente em todos os momentos da minha vida. Cansada das fofocas que fizeram com o meu nome, da minha irmã pisar todas as vezes em meu joelho de propósito, de acordar todos os dias e me forçar a levantar, de ficar esperando dois dias por uma simples resposta, de acreditar que desta vez as coisas vão ser diferentes, de confiar nas pessoas, de começar a gostar de alguém e me decepcionar no final, de voltar para casa e ouvir uma dúzia de reclamações em meus ouvidos, de olhar o dia inteiro para o whatsapp por uma simples palavra dela, de nunca ser considerado o que sinto, de sempre ser deixada de lado, de nunca acreditarem em minhas capacidades, de todas as vezes em que fui assediada, de ser ignorada pela minha família, de duvidarem da minha orientação sexual, de não se darem ao trabalho para ouvir minha opinião... São tantas coisas que acaba sendo exaustivo o simples ato de viver. Estou tão cansada, mas tão cansada a um ponto de sempre desejar pelo descanso eterno. O meu mais esperado ponto final, só espero que ele venha em breve...

[dysthea]

E o caos toma conta de novo, mas desta vez com um novo nome e uma nova face. As frustrações continuam semelhantes ao de antes, se ao menos eu tivesse levado em conta os conselhos que me deram, talvez eu não estivesse aqui chorando.

Parte de mim espera que você seja mais sincera comigo e consigo, já estou cansada de joguinhos sem sentido. Sinto que aos poucos estou me perdendo mais uma vez, não quero de forma nenhuma repetir aquele mesmo erro. Então é isso, quando o meu limite chegar eu vou embora, sem arrependimentos e sem olhar para trás.

Esse é a sua última chance de mudar isso, caso contrário me preencherei com a indiferença, e esse será o fim da qual me questionei durante esse tempo todo. Então qual será a sua decisão?

[dysthea]

Torna-se complicado não me lembrar sobre você... Todas as vezes que vou procurar alguma roupa para vestir, eu vejo as suas blusas. Eu realmente preciso te devolver logo elas, desta forma faz com que fique mais fácil para mim te colocar no esquecimento, mesmo que parte de mim não queira que isso aconteça.

Nunca tivemos absolutamente nada, mas ironicamente você conseguiu marcar tantos anos da minha vida. Preciso matar de uma vez por todas esse sentimento, não quero mais ficar me perguntando como você está e se ao menos está vivo, temer ficar bêbada e te desbloquear. Eu realmente odeio tudo isso...

A pior parte é meu conflito interno, uma batalha diária entre alguém que se arrepende do que fez e quer retomar contato com você, enquanto a outra sabe que manter contato com você acaba me desgastando aos poucos e como saio machucada cada vez.

Tenho certeza que com o tempo essa contínua disputa terá seu fim, e o fato de você não me procurar mesmo tendo deixado essa pequena fresta aberta somente para você, ajuda bastante. Você não tem ideia como parte de mim ficou ansiando por você me procurar, cada dia que passava me despedaçava um pouco.

Apesar de que duvido muito que você tenha se quer vindo aqui em algum momento para saber como estou, essas são apenas palavras que tenho jogado ao meu vazio, são e sempre serão apenas minhas. Você nunca vai ler nada disso não é mesmo? Acho de certa forma engraçado de como isso me faz chorar nesse exato momento enquanto escrevo isso, sinto as lágrimas rolarem pelas minhas bochechas. Sou realmente muito emotiva, me sinto tão patética...

Qual o sentido disso tudo? A realidade diante das suas atitudes sempre foi a mesma, eu era apenas um step ou algo de pouquíssima importância. Insignificante... É, essa é a palavra apropriada.

Realmente odeio esse sentimento, quanto tempo ele ainda vai permanecer? Foram anos com essa merda, não aguento mais, não suporto. Eu só quero que isso acabe logo e de uma vez por todas.

Odeio o fato de não conseguir ficar com raiva de você, de te detestar, repudiar o seu ser com todas as minhas forças. Tornaria tudo mais simples, mas é impossível afinal você não tem culpa de nada disso. Fui eu que criei esse problema, sempre foi minha culpa. Então só resta me odiar por ter me colocado nessa situação.

Tão cansativo... Estou exausta nesse momento e com certeza vou acordar com meus olhos inchados de tanto chorar, é melhor eu ir dormir logo de uma vez. Enfim, boa noite vazio... Nos vemos novamente amanhã ou talvez em meus sonhos.

[dysthea]

Muita coisa aconteceu em tão pouco tempo, olhando agora é como se estivesse sentada na minha cama com a tela do celular passando as cenas de um filme ou uma série, parece ser de certa forma meio irreal pra mim.

Quase fui linchada na Mega Bapho, eu realmente senti medo de ser espancada pelo simples fato de trabalhar na chapelaria. Foi assustador a forma da qual as pessoas começaram a invadir ali, minhas mãos tremiam e tinha certa dificuldade em respirar. Eu só queria chorar e correr para bem longe, mas meu corpo me manteve ali. Era isso ou enfrentar aquela multidão raivosa, fiquei o máximo possível ali dentro, mas quando realmente todos estavam invadindo, não havia mais nada o que fazer. Só nos restou abandonar o navio enquanto ainda havia tempo.

Naquela noite eu tive muita sorte, teve uma das meninas que também trabalhou lá e bateram nela. Eu saí sem nenhum arranhão, só com o psicólogo fudido. Eu realmente tive muita sorte...

E agora o que teremos para a próxima? E vamos de assédio! Eu estou conversando com uma mina que trabalhou comigo lá na Bapho, ela ficava na parte do bar. Ela queria sair comigo, para nos conhecermos melhor. Nós só ficamos uma vez em uma das pausas do evento e como nós duas somos bem tímidas, é meio difícil puxar conversa. Combinamos de sair em uma segunda, porque é o único dia que ela tem livre pra sair. E recomendei irmos em alguns dos bares que tem aqui perto do meu trabalho, todos eles são baratos e eu conheço bem.

Nos encontramos na estação e eu levei ela para o bar, ficamos ali por um tempo bebendo uma batida que tinha recomendado e então fomos para um outro bar, depois de comprar mais bebida fomos mais para o fundo pra conseguir conversar melhor. Ficamos ali por mais algum tempo até que chegou um cara aleatório, ele vendia algumas coisas e estava esperando uma pessoa pra fazer a entrega. Ele começou a explicar todo o negócio dele e quais tipos ele vendia, até chegou a nos oferecer md. Eu já logo peguei o número dele, é sempre bom ter o contato de alguém.

Conversamos durante horas, mostramos algumas fotos, até que chegou na foto da Batekoo com um amigo meu. Eu expliquei todo o rolê e que tínhamos pego um quarto em um motel ali perto, para conseguirmos descansar e se arrumar para a balada. Depois disso surgiu a ideia de irmos ali no mesmo motel, mas pegarmos um quarto com hidro.

Já deixamos bem claro que não aconteceria nada ali e como ele se ofereceu pra pagar metade do quarto, então fomos pra lá.

Sim, eu sei que foi uma puta ideia de merda, mas naquele momento eu estava bêbada, então parecia algo válido. Se eu pudesse voltar no tempo, teria esbofetiado meu rosto até que eu criasse a consciência de quão errado isso poderia acabar.

Chegamos lá e já logo entramos na hidro, basicamente ficamos bebendo, fumando e conversando por várias horas. Foi de boa até o momento em que ele começou a colocar a mão dele em certas partes do meu corpo, eu tirava a mão e falava que não, mas ele continuava insistindo. Ficou assim por algum tempo, até que percebi que ele deixou de colocar a mão em mim, pra colocar nela. Aquilo realmente me deixou puta, eu não me importo se ele fizer aquele tipo de coisa comigo, já estou acostumada com isso. Mas fazer isso com ela? Foi aí que eu comecei a ficar mais seca com ele e a ameaçar bater nele, tentava tirar ela do lado dele pra evitar isso.

Eu não sei por quanto tempo isso durou, mas chegou o momento em que saímos da hidro para dormir. Como estava morrendo de fome, fui procurar o bolo que havia comprado, surpresa de uva. Enquanto isso os dois brigavam, acho que ele tentou beijar ela a força e ela mordeu com força a língua dele. Depois disso ela veio se sentar perto de onde eu estava, na parte que tinha a mesa e o frigobar. Enquanto isso ele reclamava sem parar do banheiro sobre a dor e o gosto de sangue.

Eu basicamente dividi meu bolo com ela, dando várias colheradas em sua boca. Aproveitei aquele pequeno momento em que ele não estava por perto e a beijei, como eu me arrependo de não ter pego apenas um quarto com ela, isso teria evitado toda a merda que aconteceu. E teríamos conseguido aproveitar muito mais, até ali o ponto alto da nossa noite havia sido aquele beijo naquele sofá.

Depois disso fomos para a cama dormir, e é claro que aquele filho da puta ainda iria querer que algo acontecesse. Eu deitei com ela na cama, quando ele chegou, tentou deitar do lado esquerdo, que era onde ela estava. Então pedi pra ela ir para o outro lado, dessa forma eu ficaria no meio e impediria que ele tentasse mais alguma coisa com ela. Assim que ela trocou de lado, ele quis trocar também, foi um parto conseguir convencer ele a ficar do outro lado e sair de perto dela.

Quando ele finalmente saiu, novamente as mãos dele começaram a me tocar em algumas partes do corpo, eu só conseguia sentir nojo dele. E eu ressaltei isso pra ele, falei que ele poderia fazer o que fosse, mas eu não sentiria absolutamente nada. Ele continuou insistindo por um bom tempo e eu continuava repetindo para ele a mesma coisa, até que ela perdeu a paciência e falou de forma grossa com ele. Enquanto eles discutiam, eu fiquei deitada olhando para o nada, sentia o cabelo dela se movendo em minhas bochechas, eu só estava tão cansada daquilo... E foi aí que eu surtei, comecei a gritar que nem uma louca. Gritei bem alto todas as merdas da qual ele estava fazendo, o motel inteiro conseguia me ouvir. Foi de certa forma libertador, mas a forma irritante dele de não admitir o assédio e que deveríamos ser empáticas com ele me irritavam. Peguei meu desodorante e isqueiro, ameaçando queimar ele e depois também uma das garrafas de vidro. Eu gritei pra ele sair dali incontáveis vezes, dessa forma ele foi pegando as coisas dele para ir embora.

Sabe aquele talento que tenho de encontrar uma fraqueza emocional em alguém? Então, eu peguei e torci aquilo na cara dele, seu filho era a fraqueza. As frases saiam sem ter que pensar muito, de repente a minha dicção se tornou perfeita. Foi o puro caos dentro daquele quarto de motel.

Só parei quando ele foi embora, somente ali eu consegui relaxar. Ainda me lembro de estar sorrindo enquanto mostrava os dois dedos do meio até a porta da garagem descer, praguejando para que ele fosse atropelado na avenida ali perto... Depois disso me calei e subi as escadas, ela ainda estava ali sentada na cama toda enrolada no cobertor apenas me olhando. Ela abriu os braços e pediu para que eu fosse para lá, só fui em sua direção e ela me abraçou.

Eu comecei a pedir desculpas por tudo o que aconteceu, que eu não queria que ela tivesse que ter passado por aquela situação. Depois de um tempo nos deitamos, encostei minha cabeça no peito dela e acabei chorando.

Ela foi me acalmando aos poucos e ficamos ali deitadas conversando, enquanto fazia cafuné nela. O que aconteceu a partir daí eu prefiro não entrar em detalhes, é íntimo demais.

E foi isso que rolou, esqueci apenas de falar que eu caí no corredor entre o quarto e a parte que leva ao frigobar. Estou basicamente roxa nas duas pernas, uma parte na mão esquerda e um pouco no braço. Mas a pior parte é no joelho direito, tem duas grandes manchas onde uma delas parece uma pessoa na minha opinião.