elianismos-blog
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sexta-feira da paixão
aquele menino descendo a manoel deodato em busca do centro tem seu destino perseguido por um soldado armado e na solidão do barraco, uma prece disputa a atenção de deus com a população que grita: ele merece numa sexta feira da paixão bandido bom é bandido morto a pistola do estado é uma cruz mal sabe que o seu cano torto todo dia mata um jesus
(Eliano)
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Gênesis
no princípio deus fez os céus e a terra, depois criou a natureza e tudo que nela há, incluindo o homem e a mulher, com seus corpos nus. ao término da sua obra, deus viu a humanidade triste. então deus fez o pecado e viu que era bom. - ides e pequeis. o homem e a mulher com seus corpos despidos compensavam as duras horas de trabalho no paraíso com instantes felizes de pecados divinos. a igreja, mais astuta, inventou o castigo e tornou a humanidade triste novamente. ludibriado pela igreja, o homem maltratou a mulher e levantou guerras sangrentas entre si mesmo. deus vendo isso, chorou. e ofereceu à humanidade o fruto do conhecimento e da liberdade. então o homem e a mulher voltaram a pecar e deus descansou, admirando a sua criação. foi isso que pensei quando te flagrei nua deitada de bruços sobre as mãos com os movimentos irregulares e precisos do seu quadril pecando tão linda e tão livre. (Eliano)
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O que me tira o sono
a calmaria me dá sono, assim como a paz, assim como o sossego me dá sono. gente com medo me dá sono, assim como gente educada, que teme a deus e a polícia militar me dá sono. o patriotismo me dá sono, assim como o hino nacional, assim como a família tradicional me dá sono. a religião me dá sono, assim como o paraíso, assim como o inferno me dá sono. a revolução discursiva me dá sono, assim como apatrulha ideológica me dá sono. a pedagogia me dá sono. a crítica literária me dá sono. as listas das melhores bandas do ano me dão sono. o rock tem me dado muito sono. o natal, o réveillon, o halloween e o carnaval me dão sono. a cerveja, a maconha, a pílula pra transar, a pílula pra dormir, tudo isso me dá sono. esse poema me dá um puta sono. o que me tira o sono: são seus braços noturnos. o que me tira o sono: é o seu caos no meu cais. a tempestade que faz no meu copo de cerveja. o que me tira o sono: são suas gírias, seu jeito de andar e seu jeito de criticar meu poema. o que me tira o sono: é a geografia do seu corpo, sua química, seus cheiros e umidades. o que me tira o sono: são seus protestos e problematizações infindáveis. o que me tira o sono: são seus convites para dormir contigo.
(Eliano)
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olhos de mar
te olhei com a irresponsabilidade de quem salta de um navio no meio do atlântico sem saber nadar teus olhos têm tanta água quanto o oceano teus olhos são um tornado arrancando os telhados das casas em São Francisco te olhei com a irresponsabilidade de quem dirige bêbado à 180 km/h numa rua movimentada fiz amor com teu olhar agora te quero como deus quer o diabo (Eliano)
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Estômago
a cobrança do aluguel atrasado te inquietará mais que seus sonhos que já parecem embaçados por detrás dos olhos fundos. talvez você tenha tentado convencer a si mesmo que já não os deseja. que sonhos são imaturidades mas sabe que no fundo dos seus olhos fundos ainda faíscam os sonhos. a falta de grana vai tirar sua auto-estima, te fará baixar a cabeça sempre que passar em frente ao restaurante caro onde a turma que fazia militância virtual com você almoça. mais a frente, tira dois reais do bolso e compra a primeira refeição do dia uma coxinha tão fria quanto sua vida. num hotel no centro da cidade, a placa anuncia vaga pra recepcionista. você nem tenta porque sabe que não tem aparência pro cargo. eles querem um branco, alto, cabelo penteado, dentes alinhados. além disso, você não quer esse emprego. você acha que é se render depois de tudo que fez pela arte. você é um artista. e vai continuar sugando da arte até a última gota. você pega a conta do aluguel atrasado, e a lê com seus olhos fundos e sobre ela escreve um poema tirado do fundo do seu estômago. (Eliano)
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A turma
A turma se dispersou Assim como todas as turmas se dispersarão em algum momento. já não suportam uns aos outros. Já não dividem o cigarro, Rodar um, nem pensar. Com o tempo, o trabalho, as responsabilidades, o casamento e as divergências políticas colocam cada qual em um lugar oposto do campo. Alguns ainda frequentam bares e continuam desempregados. Há sempre aquele que se torna protestante, conversador e apocalíptico. E nenhuma amizade resiste à terra plana. (Eliano)
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e era igreja
e eu da cerveja
ela amava Jesus
e eu a queria Madalena
um dia ficamos a sós
no beco da assembleia
ela orou
e eu oral
(Eliano)
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Meu coração
Meu coração já foi vagabundo
romântico, boêmio e eufórico.
Já foi vadio e sofreu por amores igualmente vadios.
Meu coração já foi adolescente rebelde cheio de espinhas e espinhos.
Meu coração já foi um desenho ridículo que lembrava uma maçã
Atravessado por a flecha de um cupido.
Meu coração já foi de deus,
Foi à missa, se batizou, comungou... quando ia casar, fugiu como se fosse Maggie Carpenter.
Foi aí que meu coração passou da igreja para a cerveja.
Meu coração já foi selvagem como o do Belchior.
E pornográfico como o de Nelson Rodrigues.
Meu coração já foi cardíaco, transplantado,
Aberto e costurado. Vendido no açougue do tráfico de órgãos.
Meu coração já foi flamenguista, comunista, tropicalista, do roquenrol, e do vinho barato.
Já foi enforcado em praça pública com outros corações enforcados.
Meu coração já foi um cachorro vira-lata uivando na chuva.
Já frequentou o Bar do cu, Quatros bocas e o cabaré de Lorival na parte antiga da cidade.
Hoje meu coração é um poema concreto. Está fechado pra reforma.
(Eliano)
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Já vi a solidão devastar uma geração inteira
já vi a solidão devastar uma geração inteira quando o garçom começou a recolher as mesas
já vi a solidão devastar uma geração inteira quando os violões esquecidos são postos à venda nos grupos de artigos usados (ninguém os compram)
já vi a solidão devastar uma geração inteira quando ela se alastra pelos recantos, móveis, e porta-retratos já vi a solidão devastar uma geração inteira que se drogava e sonhava ao som dos violões postos à venda esquecendo que a noite acabaria e que os dias frustrariam os sonhos.
( Eliano)
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Não poema
não transa. não trampa. não gosta de cerveja. fica mal com maconha. não tem saco pra godard. não beija meninas. não fotografa. não ilustra. não poema. nunca foi ao bar de xavier. nunca adormeceu ébria num quarto sujo do garcia. não militante. militar. não desconstrói. destrói. leu foucault e não entendeu. leu uma frase de roberto piva. não entendeu. - velho pedófilo. machistas não passarão. leu bukowski. achou top. - morte ao capital. gosta de publicidade e propaganda. nunca ouviu mercedes sosa só gosta das divas norte-americanas. não transa. não trampa não gosta de cerveja fica mal com maconha não tem saco pra godard. ...a não ser no facebook.
(Eliano)
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