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Tempo de embalar a trouxa e zarpar
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embalarzarpar · 4 years ago
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embalarzarpar · 4 years ago
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Cochinchina e Arrabaldes #2
to grab
O trem de aterragem Lufthansa  alarma-me para a capital tailandesa. A cidade maior siamesa está finalmente aqui.  Cá estou, sozinho num novo mundo. Que aventuras terei? Que mil possibilidades para enredos e destinos? Para já, o que sei, é que tenho  um orçamento contado: uso a app TravelSpend onde detalho cada custo desta jornada. Também sei que se não quero ser vigarizado por taxistas locais como já fui noutros países, a segunda década do século XXI deu-me a oportunidade de haver Ubers. No sudoeste asiático a "Uber" mais conhecida e mais barata chama-se Grab. "You should grab a Grab" , parece prático e orelhudo além de barato. Para  eu agarrar um Grab preciso de um cartão SIM local. Atravesso um grupo de turistas chineses capaz de encher um estádio-josé-gomes e vou  preenchendo um papelinho azul dando a conhecer ao governo local quem sou e o que venho aqui fazer. Resisto à tentação de colocar na minha religião " Benfica" como muitos argonautas lusos já o fizeram. Passo a barreira aduaneira com uma rapidez inesperada. A primeira pessoa tailandesa que conheço é a vendedora de cartões SIM. Será que ela se apercebe da importância que tem como embaixadora das primeiras impressões que os estrangeiros têm do país? É acolhedora e recebe-me com as tradicionais palma contra palma apontadas ao céu, inclinando muito ligeiramente o pescoço. “Kap kun ka”, digo-lhe. Ela ri-se e diz - me que isso é "obrigado" sim, mas para mulheres. Eu, sendo homem, “devo dizer Kap kun kaaaaap”.( O prolongamento do som da última sílaba é nota característica da  canção da língua thai. Mesmo a falar inglês não deixam de a cantar). Já tenho 4G tailandês ilimitado por 449 bahts (13 euros), já tenho app, só falta transportar-me. Kap kun Kaaaap.
Onde é a saída para a zona 7? Onde vai parar o meu carro? Antes de cruzar os  portões de saída deste aeroporto de Suvarnabhumi (estes gates são para mim o verdadeiro início ou fim da fronteira área de um país) releio a morada do hostel das  primeiras três pernoitas marcadas (6 euros a noite, uma pechincha). A minha base será no Bodega Party Hostel na zona rica e boémia de Sukhumvit . Repenso se será boa ideia ir para um hostel em Bangcock cujo apelido em Portugal seria “Festa N'Adega”. Só que eu não vim em busca transcendental budista de comer, orar e amar. Se isso acontecer, melhor. Vim sobretudo para escapar de um quotidiano horribilis. Estou de licença sem vencimento por 2 meses. É dia 24 de Setembro de 2019 e estou à espera que aceitem, a 15 de Novembro, a minha desvinculação de um emprego de 12 anos. Ao fim ao cabo estou a divorciar-me desse passado, preciso desta viagem e preciso de uma festa, mesmo que ela dure 50 dias na Cochinchina e nos seus arrabaldes. Uma festa de divórcio para quem nunca foi casado quase que dá a volta e se torna num mix de  despedida de solteiro e despedida do fim da juventude. Estamos em 2019 e afinal tenho 37 anos. Esta é a última oportunidade de dormir em Adegas.  Em 2020 pode ser impossível fazê-lo. Amanhã pode ser impossível fazê-lo.
Cruzo a tal fronteira aérea, estou na rua e sou esmagado violentamente por cada um dos  centímetros cúbicos de humidade tropical tailandesa. Saí para a rua mas entrei numa sauna e num banho turco a céu aberto. Olho o céu e parece que vejo toda a sua espessura atmosférica. Toda esta tropicalidadade poluta atravessa os meus poros, sou um balão metereológico humano que aterrou. Bate uma mensagem  do Grab: “I’m here”. Cada vez que espero um táxi surge-me sempre na mente um verso dos Retratos da Cidade Branca “Táxi, leva-me para lá de mim”...  Sai do lugar não - canhoto um condutor sorridente. Abre-me uma amável porta. Solto um suado e esforçado “Hello, Kap Kun Kaaaap!”. Hello my friend, sorri-me. Música pop thai ligada, melosa, graves a evidenciarem-se demasiado. Arranca enquanto escreve ao telemóvel. Ok... Vou ter já um acidente nesta  amálgama de motas, cães e frondosas mangueiras? Para quem está ele a escrever? Porque não telefona? Escreve para mim. Mostra-me o ecrã. Google Translator. Diz que não sabe falar inglês e pergunta-me donde sou. “Portugal”. oooooooooo Ronaldoooo, siiiiiiiiiiiii. Fico quase comovido. (Não gosto assim tanto do Ronaldo mas duvido que haja algum português que mal assente pés fora do seu país não sinta pelo madeirense uma ligeira ligação que seja, talvez temperada com umas cócegas de orgulho por sermos dos melhores do mundo numa arte que tanta gente pratica. Mesmo que seja a marcar golos. Podia ser pior e mais feia a fama, como aquela que dá o Donaldo à América recente. Ronaldo, obrigado, pelos golos e por sermos de vez em quando estrelas anónimas tratadas com carinho). O senhor Kamol tem 3 filhos e já foi polícia. Gosta do Rei e aponta-me para o retrato do Chefe - de-Estado da Tailândia.(O alto -nobre tem umas orelhas de abano que podiam fazer a monarquia levantar voo, mas por respeito devocional não lhe digo ao senhor Kamol, nem ninguém lhe diz, ao Rei). São 30 quilómetros de uma cidade vista pelo canto do olho: é preciso estar atento ao telemóvel pois o senhor Kamol quer conversar. Depois de uma panóplia de histórias que davam outros textos e após sucessivos cruzamentos pincelados de motas tailandesas, aparcamos no beco do meu destino.
Já na minha cama inferior  de beliche, para onde directo me estatelei cansado, estou pronto para  adormecer às 4 da tarde, baralhado com fusos e sonos e esta nova ásia tropical. Tenho ainda tempo para apontar no meu bloco uma última frase que agarro, a frase que o senhor Kamol me escreveu no Google Translator ao despedir-se. “Somos de dois bons países e estamos aqui uns para o outros”.
Adormeço. A quem viaja comigo, até daqui a umas horas.
Gonçalo Fontes, de Sukhumvit,  Bangkok
24/09/2019
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embalarzarpar · 5 years ago
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#saltonoescuro
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embalarzarpar · 5 years ago
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Cochinchina e Arrabaldes #1
“salto no escuro”
O Fausto Bordalo Dias  despertou-me ainda a madrugada vai sem luz.  “Salto no escuro, entre dentes trago a faca...”. Dormi, muito pouco, em casa dos meus pais que também é sempre a nossa. Já me tinha despedido da minha mãe ontem. Para já parece dormir descansada. O meu pai  leva-me ao Aeroporto Humberto Delgado.Provo no ar um aroma ainda adocicado de final de verão português. Bendito Anticiclone dos Açores. Mochila às costas a pesar dez quilogramas, dois a mais que o risco zero de ter chatices. Levo pouca roupa na esperança de dias tropicais, um agasalho forte para dias mais a norte, parco estojo de higiene, profilaxia para caganeiras asiáticas, saco de cama liliputiano, cantil vermelho de um litro com autocolante do Air King Eusébio a rematar em suspensão,cenas electrónicas de sobrevivência global, impressões de vistos e seguro de viagem, passaporte cor de tintol tuga e guias. Também um livro cujas palavras abordarei algumas coordenadas mais à frente, 6 ou 7 coisas sem importância descritiva e, claro, 3 blocos de notas e 3 kazzoos. Acrescentei ainda 5 imans de pôr no frigorífico. São temáticos a Portugal e a Lisboa, comprei-os 3 dias de antes no Martim Moniz. Consegui um desconto.  Espelhando o sorriso bengalês que mos vendeu por 2 euros  ouvi-o desejar-me uma “ good trip”. Contei-lhe que os ímanes não eram para mim, que sou de Lisboa, mas serão para os oferecer a estranhos durante a viagem. A regra será simples, quando eu disser a alguém estrangeiro em cruzamento que sou Português e a sua resposta for qualquer uma que não seja “Cristianooo”, “Lisboa” ou “Obrigado”, receberá imediatamente essa magnética memória minha.
O voo faz escala em Francoforte do Meno, nome que em Português soa a lugar de ficção medieval. Despeço-me do meu pai com a emoção contida que tem sempre uma despedida. Afinal são quase dois meses aparelhado em ilusões asiáticas. As despedidas são sempre mais duras quando se decide ser nómada solitário por uns tempos, todavia o tempo passa tão rápido que o adeus a quem estamos sempre é só um até amanhã. De qualquer forma, a comoção perde-se imediatamente assim que nos fazem um scan alfandegário para perceber se temos esqueleto de terrorista.
Gosto de ir mais cedo ou com tempo para os aeroportos, escutar diálogos de despedidas, observar encontros e desencontros, imaginar toda a novela por trás de cada desabraço. Sei que tive de tratar de coisas imprevisíveis sobre a entrada e saída de países mas a rapariga de terra era tão bonita e tão acolhedora que só dela me lembro enquanto levanto algum dinheiro de bolso na área internacional.(É muito bom viajar-se solteiro). É quase sempre aí, nessa utópica internacional zona livre de impostos, que começa a nascer a euforia da aventura desconhecida. Observo os que descolam, os que aterram, os que sempre aqui estiveram e nunca se sentaram em qualquer outro avião sem ser o de bilhete de lotaria que os trouxe do país de origem.
Ao meu lado, no aeroplano, está sentado um obeso e prussiano casal de  sorumbáticos. Perfeito para eu sentir total vontade de os ignorar e ler. Depois de Frankfurt o destino é Banguecoque que daqui em diante por motivos cómico-homófonos passarei a referir como Bangkok. Exceptuando o lado direito do Bósforo, a Laodiceia e a Capadócia onde também vagueei sozinho, nunca estive na Ásia.  Reencosto-me no desconforto- boeing-classe-turística e viajo agora antecipadamente nas palavras do guia da tailândia que tirei da mochila a tempo. As imagens tapo-as para poder ser mais tarde surpreendido pela beleza real das coisas. Sempre ouvi falar ou li sobre o Reinos Siameses e descubro agora que Sião foi nome dado pelos vizinhos Khmers aos antigo tailandeses por estes terem a pele mais escura. Nada como um bonito racismo milenar para cunhar o orgulho pátrio no nome de um povo.
Entre relatos do budismo theravada e vídeos previamente transferidos sobre a bizarra família real adormeço com a palavra “sanuk” fixada oniricamente enquanto o avião descola. Acordo dormente, surdo e babado para conseguir “desgostar” uma amostra de comida alemã. Readormeço desaguando em sonhos de Mekong.
As horas mortas do aeroporto alemão permitem-me leituras e observações neo-expressionistas. O mundo agora ficou mais louro e mais turco. Os jornais são de borla para compensar as sandes de dez euros que janto. Gosto tanto de viajar. Gostamos, quase todos, tanto de viajar não é?Viajar por viajar, por ir. Viajar só para se mostrar aos outros que se pode viajar além de estúpido, esvazia. Tenho algum pudor em mostrar aos outros que estou a fazer esta viagem. Se depender de mim, por agora, poucas pessoas o saberão. Chateá-las-ei quando estiver a passar para o portátil estas notas que aponto no meu bloco sujo do zero da coca-cola.Viajo talvez para transformar o meu ponto de partida. Saio de minha casa para poder ver melhor a minha casa. Esta distância física e sem saudade permite-me explorar histórias e imagens de pessoas e de lugares diferentes que, noves fora, são tão parecidas com as que estão no porto de partida.
Filosofar sobre o exotismo pode ser fascinante mas chegar a horas à cabine de voo é bastante mais prático. Estou atrasado. Tenho uns segundos para por Jamiroquai no spotify e preparar-me para os 500 metros olímpicos dos tapete rolantes aeroportuários. Benditos dados móveis união-europeus. Se tiver que dar o meu primeiro e último conselho sobre viagens é este: oiçam Jamiroquai enquanto galopam tapetes rolantes para porta de embarques e deslizam em insanidades virtuais rumo ao gate acertado.
Levanto voo antes do voo descolar para outro continente. Amanhã acordarei nos arrabaldes da Cochinchina.
Até amanhã a quem viaja comigo.
Gonçalo Fontes, em Francoforte do Meno  
23/09/2019
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embalarzarpar · 5 years ago
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#desterro
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embalarzarpar · 6 years ago
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Cochinchina e Arrabaldes #0
 “desterros”
Escrevo daqui mesmo, do Desterro. Podia ser uma metáfora mas quis a amizade, mais que a sorte, que me encontrasse aqui, a escrever agora na Rua Nova do Desterro prestes a partir para uma próxima aventura, a mais prolongada das “Ítacas” pessoais, uma viagem ao outro lado do mundo: à Cochinchina  e seus arrabaldes. Parto deste Desterro. Este Desterro tão central e tão neo-lisboeta que as ruínas do hospital que vejo da minha janela são tudo menos desterradas. Serão brevemente paraísos-imobiliários-da-restauração-neutra-de-carbono-sem-glúten. Parto deste e de outro desterro. Até posso sentir o verão evaporar-se desse quintal-dos-cacos  onde outrora se curavam gentes e hoje  ainda fuma crack outra estirpe de doentes. Um verão (ou quase um ano) de espera, evaporado até lá quase ao céu, o céu do pinheiro manso do Miradouro da Senhora do Monte onde imagino canções de ontem. Aquelas de redenção, fadistas, em troca de euros ou dólares. O turismo traz algumas,poucas canções mas dizem que as nossas canções trazem muitos turistas. 
Acho que amanha não parto como turista. Nunca parti. Fosse a conversar com as crianças de Ponta do Sol sobre as suas corridas de carros de madeira enquanto os avós descarregavam atum no porto mais bonito de Cabo Verde; fosse a escutar piadas sobre o genocídio feitas por sobreviventes ruandeses num bar em Port Elizabeth, fosse a sentir o acordeão cigano na casa de uma actriz de Bucareste: nunca me senti partir como turista. Às vezes parti sem saber o que era ali. Outras só fiz parte daquilo. E outras tentei,tantas vezes, de fora, ser futuro, arriscando guardar uma imagem ou só uma frase castiça dita por esta ou outra personagem que fez sorrir  toda a gente.
A gente para quem escrevo agora, vocês, são a gente que possibilitou que eu estivesse aqui, hoje, pronto para ser outra vez nómada-de-circunstância e com vontade de relatar esta aventura. Vocês são, em primeiro lugar os meus pais, minha família, que aceita e me ajuda nesta loucura de viajar sozinho tanto tempo e em segundo lugar os meus amigos e amigas que me quiserem ler. Juntos, foram quem me ajudou a ultrapassar estes últimos dois anos de grande cansaço, confusão e medo.
 Dizem que os homens e as mulheres do tempo em que não havia palavras escritas começaram tornaram-se nómadas para se afastarem dos seus disfuncionais esgotos. Para fugirem das suas fezes, as mesmas que os poderiam contagiar e matar. Também por isso esta viagem será diferente. Pela primeira vez em muito tempo não sei o que vou ser quando voltar da viagem, mas há uma leve brisa que me faz querer saltar do curral e me empurra para qualquer outro prado. Escrevo algo melancólico. As partidas são - me sempre assim. Também triste porque nestes dias a mãe de uma amiga minha faleceu.Triste por ela,por elas, por todos nós. A morte torna-nos tão impotentes e veste a  vida de tanta insignificância que eu neste momento me questiono se valerá a pena o risco, o deixar os outros preocupados ou a sentirem-se sozinhos. Se valerá a pena o sacrifício de também me sentir sozinho?
Talvez valha o risco, porque valerá a vida. Não sei. Mas estou ciente que viajar é a única maneira muito feliz e acordada que eu tenho para estar só. Muito mais do que quando estou a ler ou escrever. Porque o caminho quase nunca é solitário e é acompanhado de sinestesias vivas. Depois, o contacto com o que nos é estrangeiro, além de maioritariamente bonito, quebra-nos as gavetas de cristal dos nossos armários brancos de madeira privilegiada. Sejam eles ligeiramente impermeáveis ou não. Sobretudo porque, como diria Dom Quixote a Sancho Pança, “não importa muito a próxima estalagem mas como lá (ou como já?) chegaste a ela”.  E a tristeza adormece com o venda da adrenalina e o pijama da esperança.
 As próximas ítacas de Kaváfis ou as futuras estalagens de Cervantes serão minhas e estarão pela Cochinchina e seus arrabaldes. Desejo ter tempo ou vagar de escrever sobre elas e peço desculpa pelo narcicismo-mete-nojo de as contar.Também tenho inveja das viagens dos outros. As aventuras censuradas serão transmitidas em primeira mão apenas a netos e as outras todas espero que tenham algum valor real ou ficcional para vos contar aqui.E queira não ter vergonha de partilhar.
 Zarpo agora  este navio do fundo deste  longo desterro. Hoje dia zero. Até já, até ao próximo dia, o primeiro, a todos os que viajam comigo.      
Gonçalo Fontes, do Desterro
22/09/2019
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