Tumgik
euleitor · 3 years
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“Tanto que fazer! livros que não se lêem, cartas que não se escrevem, línguas que não se aprendem, amor que não se dá, tudo quanto se esquece. Amigos entre adeuses, crianças chorando na tempestade, cidadãos assinando pápeis, papéis, papéis... até o fim do mundo assinando papéis. E os pássaros detrás de grades de chuva, e os mortos em redoma de cânfora. (e uma canção tão bela!) Tanto que fazer! E fizemos apenas isto. E nunca soubemos quem éramos nem para quê.” Antologia Poética, Cecília Meireles
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euleitor · 3 years
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“Para quem trabalha o flamejante universo? Para quem se afadiga amanhã o corpo do homem transitório? Para quem estamos pensando, na sobre-humana noite, numa cidade tão longe, numa hora sem ninguém? Para quem esperamos a repetição do dia, e para quem se realizam estas metamorfoses, todas as metamorfoses, no fundo do mar e na rosa dos ventos, numa vigília humana e na outra vigília, que é sempre a mesma, sem dia, sem noite, incógnita e evidente?” Antologia Poética, Cecília Meireles
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euleitor · 3 years
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“O tempo seca a beleza, seca o amor, seca as palavras. Deixa tudo solto, leve, desunido para sempre como as areias nas águas. O tempo seca a saudade, seca as lembranças e as lágrimas. Deixa algum retrato, apenas, vagando seco e vazio como estas conchas das praias.” Antologia Poética, Cecília Meireles
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euleitor · 3 years
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“Como o companheiro é morto, todos juntos morreremos um pouco. O valor de nossas lágrimas sobre quem perdeu a vida não é nada. Amá-lo nesta tristeza, é um suspiro numa selva imensa. Por fidelidade reta ao companheiro perdido, que nos resta? Deixar-nos morrer um pouco por aquele que hoje vemos todo morto.” Antologia Poética, Cecília Meireles
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euleitor · 3 years
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"Desde os tempos do Carandiru, insisto com os traficantes que o comércio de drogas ilícitas só dá lucro para investidores que nem chegam perto do produto, agentes financeiros especializados na lavagem dos lucros obtidos e policiais desonestos. Para quem vive do tráfico miúdo nas ruas, correndo risco de encontrar a morte na esquina, o dinheiro traz a sensação ilusória de que a pobreza ficará para trás, sonho que evapora ao cruzar o portão da cadeia. Aprisionados, perdem tudo. Se algum recurso sobreviveu às investidas de policiais corruptos e aos honorários advocatícios, cairá nas mãos de desafetos, da Justiça ou de amigos e parentes sem escrúpulos. Depois de experimentar as delícias da vida à farta, o traficante volta às privações habituais, com o agravante da restrição da liberdade, bem ao qual só damos valor quando perdido."
Prisioneiras, Drauzio Varella
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euleitor · 3 years
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"A euforia provocada pela cocaína é tão intensa que imprime memórias persistentes nas redes de neurônios envolvidas nas sensações de prazer. A intensidade do efeito nos centros cerebrais de recompensa torna insignificante a alegria de brincar com uma criança, o encontro com o amigo, a companhia da pessoa amada, o pequeno sucesso profissional, o gosto por um trabalho bem-feito, a beleza da paisagem ou de uma obra de arte. Na ausência da cocaína o mundo empalidece, o dia a dia transcorre acinzentado, a vida se torna um fardo difícil de carregar."
Prisioneiras, Drauzio Varella
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euleitor · 3 years
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"Eu sabia o que estava acontecendo, ó meus irmãos. Eu estava tipo assim crescendo. Sim sim sim, era isso. A juventude precisa acabar, ah sim. Mas a juventude é apenas quando nos comportamos tipo assim como animais. Não, não é bem tipo assim ser um animal, mas ser um daqueles brinquedos (...) com uma mola dentro e uma chave de corda do lado de fora e você dá corda nele e ele vai andando numa linha reta e bate direto em coisas e não pode evitar o que está fazendo. Ser jovem é ser como uma dessas máquinas.
Quando eu tivesse um filho, eu iria explicar pra ele quando ele fosse velho o bastante para compreender. Mas aí eu sabia que ele não compreenderia ou não iria querer compreender tudo e faria todas as coisas que eu fiz e eu não seria capaz de impedi-lo. E nem ele seria capaz de deter seu próprio filho, irmãos. E assim isso iria até o fim do mundo."
Laranja Mecânica, Anthony Burgess
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euleitor · 3 years
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"Música (...). Então você gosta de música. Eu não entendo nada desse assunto. Só sei que é um elemento útil para a ampliação emocional."
Laranja Mecânica, Anthony Burgess
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euleitor · 3 years
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"A bondade vem de dentro(...). Bondade é algo que se escolhe. Quando um homem não pode escolher, ele deixa de ser um homem."
Laranja Mecânica, Anthony Burgess
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euleitor · 3 years
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"De forma bastante livre, e aproveitando-se das sugestões teológicas do disco, podemos esquematizar as várias partes desse "culto" onde se exploram as diversas contradições entre os modelos éticos (crime, neopentecostal e rap) presentes na periferia. Teríamos assim a seguinte divisão: cântico de louvor e proteção direcionado ao santo guerreiro (Jorge da capadócia); leitura do evangelho marginal (gênesis); entrada em cena do pregador do proceder, explicando (ou confundindo, a depender da necessidade) os sentidos da palavra divina (capítulo 4 versículo 3); o momento dos testemunhos das almas que se perderam para o diabo, com resultados trágicos (tô ouvindo alguém me chamar); intermezzo musical para velar aquelas mortes, interrompido por tiros que fazem recomeçar o ciclo; a pregação ou mensagem central (massacre do carandiru) que liga o destino daqueles sujeitos ao de toda comunidade (diário de um detento), chave de compreensão do destino de todos e descrição do próprio inferno; exemplos do modo de atuação do diabo no interior da comunidade (periferia é periferia); exemplos de atuação do diabo fora do comunidade (qual mentira vou acreditar). Ao final, um momento de autorreflexão sobre os limites da própria palavra enunciada (mágico de oz e fórmula mágica da paz) e os agradecimentos a todos os presentes, verdadeiros portadores da centelha divina (salve)."
O Evangelho Marginal dos Racionais MC's, Acauam Silvério
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euleitor · 3 years
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"Sendo conduzido por um pastor-marginal, não é de espantar que o disco assuma a forma de um culto evangélico - em diálogo com o crescimento vertiginoso das igrejas neopentecostais que progressivamente assumiam centralidade nos processos de sociabilização das comunidades periféricas. São vários os elementos do imaginário cristão presentes no disco, a começar pela capa, que traz em seu centro uma cruz amarelada, juntamente com uma transcrição do Salmo 23 (refrigere minha alma e guia-me pelo caminho da justiça) - cântico de proteção entoado pelo Rei Davi ao ver-se cercado por seus inimigos num oásis. Também na contracapa, em que se apresenta a imagem de um homem negro, de costas, empunhando uma arma, vemos a transcrição de outro trecho do mesmo salmo (e mesmo que eu ande no vale da sombra e da morte, não temerei mal algum porque tu estás comigo). Capa e contracapa como que materializam as palavras entoadas por Mano Brown em 'Gênesis': eu tenho uma bíblia velha, uma pistola automática, um sentimento de revolta e tô tentando sobreviver no inferno."
O Evangelho Marginal dos Racionais MC's, Acauam Silvério
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euleitor · 3 years
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"Em Sobrevivendo no Inferno, a ética atravessa a dimensão estética de tal maneira que, em seus momentos de maior contundência, o valor da obra deve ser calculado por sua capacidade de, literalmente, salvar vidas. Esse é o grau de radicalidade dessa produção."
O Evangelho Marginal dos Racionais MC's, Acauam Silvério
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euleitor · 3 years
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Citando Eliane Brum: "Somos seres que morrem, isso não podemos evitar. Somos seres que perdem aqueles que amam, e isso também não podemos evitar. Mas há algo aterrador que persiste, e isso podemos evitar. E, mais do que evitar, combater. É preciso que os mortos por causas não violentas cessem de morrer violentamente dentro dos hospitais. (...) Quando tudo acaba, não somos apenas pessoas que precisam elaborar o luto de algo doloroso, mas natural. O sistema médico-hospitalar faz de nós violentados. Não há apenas luto, mas trauma. (...) O cuidado com as pessoas às vezes fica muito defasado em relação ao cuidado com seus órgãos."
O dilema do porco espinho, Leandro Karnal
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euleitor · 3 years
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“Na vida pessoal, foi um acumulador, traço característico de pessoas com problemas sérios de intimidade. Acumular objetos talvez seja uma forma de construir barreiras materiais dentro das quais me protejo e me escondo.”
O dilema do porco espinho, Leandro Karnal
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euleitor · 3 years
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“Certa feita, um abade acercou-se do santo ermitão e lhe perguntou o que deveria fazer para viver melhor, para ser melhor. O ermitão respondeu: “Não confie na sua própria justiça; domine seu ventre e sua língua; esqueça as coisas passadas”. Depois, acrescentou: “Assim como os peixes morrem se ficam algum tempo na terra, também os monges que ficam fora da sua cela e convivem com pessoas do mundo logo perdem a resolução que tomaram de viver em retiro”. Ou seja, Antão preconizou o mesmo que Descartes séculos depois: desconfie de si e de seu juízo. Esta é a dúvida fundamental. (...) Antão conclui seu raciocínio com um conselho ao abade: “Quem adota a solidão e nela permanece é libertado de três inimigos: a audição, a fala e a visão, e então só lhe resta lutar contra um, seu coração”.”
O dilema do porco espinho, Leandro Karnal
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euleitor · 3 years
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“Diante de um livro aberto, colocamo-nos como viajantes prestes a embarcar em um porto de possibilidades, sem nunca sermos assaltados pela solidão durante a viagem, mesmo que o livro narre a solidão do personagem. Afinal, a sensação de participação na história estabelece intimidade, e intimidade só é sentida em companhia. A abertura do coração do personagem provoca abertura de nosso próprio coração, transformando-nos em espelhos de suas emoções, que reverberam tão profundamente em nós que perdemos a noção de espaço e tempo reais e somos levados, em virtude do processo de identificação com o personagem, à catarse de aspectos de nosso eu mais secreto. A literatura possibilita a chamada experiência vicária, pois, ao entrarmos em contato com as experiências dos personagens, atravessamos fronteiras desconhecidas de nós mesmos. O outro, o estranho, o estrangeiro do livro, deflagra o estranho, o estrangeiro em nós, e ao reconhecer sua presença passamos a conhecer o que estava velado em nós e constatamos que somos todos estrangeiros em um processo contínuo de autoconhecimento, processo esse que se prolonga até a morte.” O dilema do porco espinho, Leandro Karnal
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euleitor · 3 years
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“Estamos viciados na poluição sonora que teme ouvir os próprios pensamentos, daí ligar vários aparelhos ao mesmo tempo para abafar os gritos da consciência.” O dilema do porco espinho, Leandro Karnal
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