A tentativa de escrever textos com a sensação de uma suave brisa soprando a minha face, como o vento agradável do oeste, que anuncia a primavera é o que faz escapar da realidade tempestuosa que agride as paredes de minha mente e força o extravasamento.
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INCLINAÇÃO
Imersão de sentimentos trancados, palpitações e questionamentos
Maus entendidos em situações sem nenhum defeito
Memória falha, situações criadas – deslizes da mente e armadilhas da alma
Algoz e vítima em um corpo só
Subversão de acordos traçados
A pendência visceral de se sentir pertencente mesmo já estando lá
Em que momento se perdeu aquilo que buscava?
Caminho bambo sobre a corda fina de emoções
Desviando de reflexos do passado, contextos para não serem repetidos
Permissão fácil e entrega rápida, mas num pacote cheio de amarras
Travado no espaço-tempo, diferente do seu tão mais familiar
Inclinado a desconforto por as vezes esquecer de respirar
Tanto tem no peito que está sempre com vontade de compartilhar
Capacidades a serem testadas, nem todos os potenciais são iguais
É necessário relaxar, mesmo num trajeto inclinado para o outro lado.
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BURNOUT
I
Cinza fria espalhada pelo vento ou o resto de mim ou aquilo que já fui
Confusão, caos, desordem, atribulação
Um insône desorientado insanamente determinado
Pacto com os diabos coloridos de papel, almas a venda em troca de nada
Desapercebidamente desapegado do fator humano, penso apenas com cérebro
Insensível
Tangentes tortas a tristes sorrisos
Não há espaço na agenda para a plenitude
É algo maior que eu
II
A bagunça na minha mesa mostra que não sei onde estive
O planejamento vazio ao lado do superlotado me ilude sobre o futuro
Quem sou agora, o que fiz de mim?
Tratei a doença que vinha sentindo
Mas minhas veias ainda estão paralisadas
Nervos a flor da pele e arrepios na espinha
Não consigo respirar
Será que ainda governo meu corpo?
III
Reação inesperada como erupção de vulcão
As queimaduras fedem ao insoço sabor de cotidiano
Rotina trocada a cada fase da lua
Se sou capaz de tudo, porque me tratam como tão pouco?
Usado, aproveitado, explorado
Sempre pode ser minha oportunidade
Mas nunca vejo o espaço onde entrar
De que vale um alto nível de comprometimento se não tenho as amizades certas
Desprezo mudanças repentinas
Mas nunca estamos preparados
IV
Queimadura de segunda grau ardendo sob a pomada aplicada
A cabeça não desliga
Estou cansado, queria fugir
Sem mapa, perdido e largado
Não há rota de fuga para quem nunca foi viajante
Metas e objetivos cumpridos
A troco de merrecas
Frases curtas e agradecimentos vazios
Eu não estou pedindo a sua atenção
Mas, por favor, olha para mim
Rio do reflexo confuso do paradoxo que me determina
Instigado por um instinto vazio e volátil
Sofro mudanças não tão diferentes a cada estágio de piora
Todo dia me torno um sintoma novo
V
Ardendo com a empolgação do futuro
Mas não sei se próxima semana meus planos terão mudados
A frustração é minha amiga constante
Nunca fico sozinho
Vozes na minha cabeça dizem que nada nunca será suficiente
Será que algum dia chego lá?
Mas ainda nem sei onde quero chegar
Estou confuso sobre como fazer
A gente devia ter um manual de instrução
Deixar ele guardado para usar como peso de porta, apenas para fingir mesmo
Ninguém hoje em dia lê o que deveria
É tudo uma questão de interesse
Tudo é muito importante
Será que ainda sou minha prioridade?
VI
Jornadas insensatas também chegam ao fim, assim como o expediente
Basta uma revigorante noite mal dormida e a cafeína intravenosa para aguentar mais um dia
Um passo de cada vez, meu corpo arrasta meu indisposto resto de vontade
Onde foi parar o meu eu jovem?
Sonhos banidos e vontades apagadas
Tracei um caminho sem volta, mesmo semeado de flores
As rosas tem espinhos e eu sou muito sensível para me machucar no caminho inteiro
Demandas conflitantes resumem os últimos anos de minha vida
Que não serão tão últimos assim
Recentes descobertas sobre mim e eu ainda não entendi o que estou fazendo
Sei que caminhei sempre para a frente
Qual foi o caminho alternativo que peguei?
Oportunidades escassas ludibriam todos os carentes
Eu nunca quis me sentir assim
VII
Premissas encerradas, o julgamento acabou
Sentença decretada
O incêndio tem causa criminosa
O culpado do crime sou eu
Minha pena é a cicatriz enorme que carrego no peito
Que desfigurou minha cara
Deixou meu cérebro em carne viva
Não tem curativo que disfarce minhas expressões
Sou mais transparente do que gostaria
Ainda dá para ver as brasas acesas
Sinto o calor todo dia
Chamas dormentes escondidas
Oportunistas
Acho que entrei em combustão mais uma vez
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FATO
Sentidos perdidos e dopados que se estarrecem com pouco
Esgotamento tão grande que não se distingue os estopins, tudo vira evento
Ultrajes lacrimosos misturados a pedidos de socorro
Gritos sentimentais silenciados por papéis coloridos na calada da noite
O fim nunca deve ser a resposta
Mas é a pergunta mais feita
De quantos infernos a consciência precisa escapar para ser alforriada?
Escravidão moderna deslizando impune como os ponteiros do relógio
Incapacidades descritas por juízes medíocres
Ataques interpessoais
Ataques intrapessoais
O mundo é bélico
Soldados estão prontos para morrer, mas civis não
Onde já se viu a busca incessante porque desconhecido?
Eterna espera pela esperança vindoura
Que tarda
Ataques explosivos acontecem com frequências não previstas
Destroços e escombros marcando a paisagem
Entre mortos e feridos, sobreviventes também sofrem
Nenhuma mente fica intacta
Consciências correm perigo
Corpos machucados
Sonhos destruídos
A vida é uma eterna guerra
O mundo é todo fodido
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NOVOS TEMPOS
Abnego as ordens que me foram impostas, como invasor errante em território alheio
Tropeço em rochas desniveladas com a dor reverberando no peito
Desafiei poderes que não conhecia
Sofri a punição de deidades do destino
Abandono
Desapego
Trafego desgarrado por caminhos incólumes
Perdi meu rumo com o último copo de álcool que ingeri
Drogas avulsas não fazem mais efeito, minha única analgesia seria partir
Amaldiçoado estou, como se nunca tivesse sido aclamado
Fugi de mim assim que pude
Mas não me escondi o suficiente
Cômodos vazios com portas derrubadas
Janelas quebradas
O vento uivante
O compartimento escondido não era menos óbvio que a minha ingenuidade
Fui presa fácil, debilitado
Metafisicamente sequestrado continuei incapaz de encarar minha própria face
Colapsei com o calor da parede enquanto sonhava com a neve fria
Nunca fui criterioso ante os obstáculos que me apareciam
Precipitado, afoito, ligeiramente descuidado
Imaginei que daria conta de me tornar algo que eu pensava querer
Equívoco
Blasfêmia
Trilhei um caminho todo, apenas para me frustrar no final
Conquistei meu espaço por direito, mas ainda não me senti completo
Em um deslize, olhei para trás
Não vi nada do que poderia ter sido
Chorei
Nunca fui dono do meu passado.
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SACRIFÍCIO
Toco meu corpo em reconhecimento de todos os elogios que recebo
Busco com as mãos atingir o prazer e ficar ébrio de adrenalina
Tatos que me buscam, me rendo ao toque
Fecho os olhos e sinto tesão
Pressão
Frestas apertadas desvencilhadas com paciência
Olhar penetrante sobre o peso do corpo alheio
Propenso a lascívia, enrosco a mão em pescoços carnudos
Sexos me tocam em luxúria
Línguas exasperadas percorrem minha boca
Sugo
Suores misturados e indecências indescritíveis
A sensualidade alheia atrai meu ser
Mergulho em gozo sobre corpos desnudos
Tremo
Respiro fundo
Meus batimentos pulsando rápido como os sexos em movimento
E grito
Acordo sozinho embriagado do sonho erótico
Suspiro o peito trêmulo encharcado de suor
Ofereço a Afrodite todas as bocas que já beijei.
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INTIMIDADE
Braços em corrente me apertam consoantes ao conselho que me brandem de que eu seja forte e aguente a luta porque não, nunca estou só
Solidão mandada embora por mensagens que não recuam e me buscam me apalpam me puxam me trazem para perto de onde eu realmente queria estar
Companhias e convites para festas me fazem gozar da alegria momentânea que se estende nas noites longas varadas sob o céu ao som das músicas mais animadas que possam existir
E também as músicas tristes que canto com a força dos gritos silenciados pela autopreservação
Mas não canto só
Abraços apertados de cumprimento que tornam compridos os momentos de alegria dos sorrisos que rimam na hora da troca de olhares
É amizade
Toques leves suaves que iniciam conversas tagarelas sobre tópicos mundiais nacionais locais e fúteis
Empurrões e outros movimentos bruscos de brincadeiras físicas envoltas nas gargalhadas da infância nostálgica embebida no bom humor da roda de cadeiras que se forma ao redor da mesa
Copos brindando estalando comemorações piadas momentos declarações discursos, ou apenas a vontade de o fazer
A todo momento circundado de gente preocupada querendo saber como estou
Com todos os cuidados carinho ternura de bons ouvidos dispostos a acalentar junto aos ombros amigos à medida que potenciais lágrimas surgem
Mãos corredoras percorrendo a superfície da pele com o tato que envolve o fato de que nunca estou só
Cercado de pessoas queridas compartilhando bonanças festanças felicidades e desgraças
Silencio as vozes que atentam a noite de sono
Porque eu sei que nunca estou só.
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DESCOMPASSO
Insônia abrindo a porta para o cansaço surgir
Abraços de tristeza envolvendo o peito cheio de sentimentos
Vontades abstratas destruídas ao menor sinal de chuva
Não há força
Inferno astral e outras projeções que poderiam haver
O ar não entra
Sufoco
Batimentos ocos no coração acelerado
Drogas e outros paliativos que já não são suficientes
Lágrimas brotando, escorrendo, transpassando
Transformando
Mas o choro não existe
Mente e corpo tão desconexos quanto as tentativas de explicar o que se sente
Ato falho
Não há reparo
Defeitos congênitos e adquiridos decorando a imperfeição
Reflexo distorcido e outras reclamações
Feridas antigas se fecham para que as novas tenham espaço
Os passos de dança não entram no ritmo
Capacidade reduzida e potencial desperdiçado
Atrofio
Desvalorizado arrependido tombado cobrado julgado condenado
Corpo e mente em desafino
Coração em descompasso
Se eu der mais um passo, tenho medo de cair.
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RISCOS E RABISCOS
Assumo os riscos do amor e todas as suas banalidades
Aposto alto, com meus sentimentos todos em jogo
Ganhei
O prêmio eu recebo em carne e osso
E abraços e beijos e sorrisos
Sinto prazer em tocar tua pele marcada de tinta
Gosto de rabiscar tuas costas com as minhas unhas
Eu me jogo em teus braços porque eu sei que não vou cair
Eu rabisco palavras no meu caderno
Riscando as rimas não tão boas
Arrisco dizer que tu gostaria de todas elas
Mas prefiro não correr o risco de te fazer ler apenas palavras bobas
Eu fiz esse poema pensando nos traços do teu rosto colado no meu
Só para não correr o risco de não dizer de novo que te amo.
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HIATO
Buraco no tempo
O mundo dá voltas
Nostalgias desmembradas
Alucinações assintomáticas
Confusão
Afetos antigos, por onde andei?
Caminhos alternativos para ruas sem saída
Espanto
Máscaras retorcendo sob a batida da música agitada
Faces à mostra no passo dos braços abertos
Decreto
Selada a paz, declara-se outra guerra
Há um clamor pela calmaria saudosista
Quando a recordação mais clara é do sabor do energético que não me acordou
Devaneios oníricos presentes durante um dia todo
Espaço
Abismos enormes em distâncias minúsculas
Esclarecidos pelos traços do olhar
Palavras não ditas, orgulhos descartados
Falas espontâneas sinalizam permissão
Seria estranho não acatar ordens de origens desconhecidas
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MANHÃS VERMELHAS
Figuras bagunçadas sobre um fundo meio turvo
Linhas tortas contendo palavras ininteligíveis
Traduzi minhas emoções num idioma neológico
Esqueci minhas anotações em algum lugar abandonado
Fiz de mim um leigo nato, enganado pela própria formação
Tracei caminhos confusos sobre uma tela de pintura
Esculhambei minha arte por embebê-la de impossibilidades
As pontas dos meus dedos queimam por causa de paixões ardentes
O pôr do sol vem a mim com a saudosidade de um dia a beira mar
Arrisquei minha sanidade num trajeto mal planejado
Vim causando feridas ao meu bem mais amado
Todo dia tangencio o esquecimento
O tempo ajeita tudo
Sonhos se desvanecem, sinto meu coração inflamado palpitar
O que podia fazer por mim é ato falho
Abro os olhos para ver o sol nascer por trás da cortina dos meus pensamentos
Mais uma manhã vermelha me aguarda
Não há jeito certo para se portar
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INFORTÚNIOS E LAMENTAÇÕES
Uma flecha certeira do amor me fez de vítima e derrubou todas as defesas construídas ao longo do tempo
Era novidade a consistência da paixão frenética, minha curiosidade estava em êxtase
Não embarquei sozinho nessa nova aventura, construímos um barco simples e embarcamos na viagem
O cupido via tudo da altura onde suas asas o permitiam chegar, e escrevia nossa história em seu caderninho: um capítulo por encontro
Embarcamos na rota mais fácil para o destino, desviamos de possíveis travessias sinuosas, adiando de usar nossos recursos de emergência
Vivenciei nessa travessia a vivência de paradoxo
Corpo e coração clamavam pela união, enquanto que mãos dadas se desentrelaçavam dia sim, dia não
Olhares trocados e desejos correspondidos, beijos molhados e a partilha de carinhos, corpos pelados e a proximidade ao infinito
Foi feita uma rotina de viagem, sem mapa algum ou bússola para guiar
Não sei quais eram os planos do cupido, não havia instruções
Havia muitas chances da tinta dele secar antes de dar um final feliz à história, tal qual era o ritmo acelerado que a paixão se desenrolava
Éramos velas aromáticas, acendidas para as manhãs, tardes e noites de núpcias, e queimamos desenfreadamente, como trem desencarrilhado
Fomos tudo ou nada, era harmonia e caos
A cachoeira no meio do caminho não estava prevista pela geografia e não havia ciência humana ou exata que pudesse reclamar a conversa final quando a discussão já havia sido encerrada
Não havia rotas alternativas quando todos os remos quebraram
Julguei o cupido e o acusei de culpado, mal pronunciei a sentença e ele aterrissou no barco
Transfigurado em sua verdadeira identidade, estava Caronte, o barqueiro do inferno
Guiando os ansiosos apaixonados rumo à queda livre, selando a morte de uma paixão
Nenhuma palavra tenra ele pronunciou, enquanto seu remo nos guiava
Nossos braços entrelaçados se apertavam enquanto lágrimas brotavam
Era o fim de uma travessia perigosa, o desfecho dramático de um curta-metragem
As divindades gregas abandonaram nossos espíritos quando as almas foram jogadas na água
Mesmo sem carne, a queda doeu, mas menos do que entender que haviam rios separados
Em morte, jornadas diferentes foram traçadas após o julgamento do inferno
Caímos no rio Aqueronte, o infortúnio
E você caiu no Cócito, a lamentação
Não houve punição mais dolorosa nesse tempo do que entender os fatos
Nenhum mito descreve a melancolia tal qual sentida
A ausência dos abraços derrubaria qualquer herói
Sequer uma canção sobre nós foi escrita
Porque foi muito doloroso te amar
Mas não há purgatório que apague a história de nossas mentes.
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QUEDA
Atolado em uma fadiga incessante
Enérgico de um desespero tenebroso
Palavras que fogem pela boca escapando do lento raciocínio
Da cabeça medicada por estratégias enganosas
O fingimento não me é estranho, tampouco, desconhecido
A falácia dos meus sintomas me exime de mentiras
Pois não conseguiria enganar, por mais que eu quisesse
E não quero
Sensações à flor da pele que fogem do controle do meu cérebro
Enquanto palpita o coração e o suor gelado escorre
Os pulsos trêmulos não sustentam objetos
As pernas já não sustentam o meu corpo
Ensaio uma queda abstrata na minha mente
Praticando rachar a cabeça no concreto
Desperto vagarosamente ao som do alarme
É hora de mais um dia normal
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EXERCÍCIO
Caminhada a passos largos com os pés descalços
Explorando o tato tantos caminhos desconhecidos
Suntuosa curiosidade pérfida
Sede de respostas que alimenta movimentos limitados e rígidos
Imparável
Demorados alongamentos incompletos antes da ida
Desperdício de energia também é considerado pecado
Andança sem rumo na busca por algo
Questionamentos sobre o que se quer
Dúvidas sobre todos os fatos
Cansaço.
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TEMPORÁRIO
Doses atípicas de apatia ingeridas em pílulas diárias
Cura para sanar o impalpável
Incidentes recentes desvanecem na memória
Dores de cabeça oscilando como o humor
Sono mal dormido ou horas apagado sem reparação
Impressão de choque sob a pele
Pulmões que não suportam todo o ar inspirado
Autocontrole exacerbado
Membros que pendem juntos à fala silenciada
Anulação da doença
Pensamentos ocos ao fitar o vazio
Devaneios oníricos com os olhos abertos
Coração apenas bombeando sangue
Nada no sentido figurado
Nulo. Temporário. Potencialmente recuperado.
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PROSA DA CARNE OU JOGO DE PALAVRAS PARA O LIXO
Textos fúteis escritos em momentos de derrota, buscando palavras rebuscadas para tentar significar a epítome da ausência.
Vácuo. Eu.
Me derramo sobre lágrimas que nunca chorei, porque engasgo, e recolho arrependimentos disfarçados.
Tolhido pelos ponteiros do cronômetro, me entrego junto a areia descendo pelo vidro da ampulheta.
No meio de muitas presas em fuga, corri muito rápido e gastei toda minha energia.
Ofegante, sinto minhas bases cederem sob o peso da autocomiseração, e afundo lentamente em pedras amoladas.
Intumescido de sangue coagulado, meus ferimentos expostos atraem abutres, que rodeiam meu corpo detido entre as paredes da natureza.
Assino mentalmente a sentença de que é hora, e abro mão de qualquer defesa que eu poderia pensar.
Narro histórias sem nexo com a autoridade de um orador mudo, tencionando alvos vazios, porque nunca me existiu plateia.
A carne putrefata do meu resto de indivíduo é perfeita para tecer linhas de carne que selarão o desfecho de alguma história desprazerosa a ser narrada na retrospectiva dos meus tempos.
Enquanto espero, por algo que não sei, me vejo aqui, eviscerado e exposto, e me percebo tão sozinho quanto a vastidão oca que já senti em mim.
Finalizo com palavras frívolas para descrever a forma frígida com a qual tenho visto meus órgãos serem mastigados e encerro essa escandalosa tentativa de algo.
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PARADOXO DO CAOS MUNDANO
Quimeras nascem ao bel prazer do acaso e tomam conta de existências fulgazes
Mentes ocupadas com a preocupação pelo futuro não se aquietam com recompensas presentes
Sente-se a falta da existência própria quando não se sabe mais o sabor do próprio sorriso
Monstros criados na calada da noite devoram almas frígidas que não compreendem sua espiritualidade
Tudo é sublime e, ao mesmo tempo, mundano
Nervosismos irrefreáveis e sentimentos não compreendidos servem de alimento para criaturas infames
Sensações desconhecidas largadas ao vazio pelo medo do que é novo
Acordos silenciosos que calam vontades e matam sonhos são assinados a cada instante
O auto-desconhecimento subjuga intelectos necessitados a histórias inenarráveis
Carência sintomática é o que descreve os heróis do romantismo, assassinados
Antagonistas tomam de conta dos novos enredos que surgem e criam novas bestas para traduzir em nomes aquilo que não se sabe explicar
Toda odisseia tem os 12 desafios de Hércules como inspiração
Mas os deuses deixaram tudo abandonado
Em meio a calmaria, tudo é caos
E quanto mais se pensa, mais se divide
Não existem alegorias filosóficas o suficiente para destrinchar as frivolidades dos que não sabem ouvir negações como resposta
Tampouco expressões artísticas suficientemente tocantes para traduzir as lágrimas silenciosas que se misturam a cor rubra no chão de tantos banheiros trancados
O consciente vai sendo consumido todo dia pela lista de intermináveis afazeres, desafios de proporções épicas
Propostos a alguns que mal estão conseguindo se manter de pé
O inconsciente dá lugar a vozes com discursos pesados
E os indivíduos se consomem, ausentando-se de sua existência e expressando abstenção
Os bichos se agitam nas mentes em maior estado de torpor
Irrompem barreiras físicas distorcidas
Pensamentos quebrados como espelhos, sorrisos distorcidos como ilusões de óptica, olhares perdidos como mortos em labirintos
É tudo tão linear e repetitivo, ao mesmo tempo tão paradoxal
O paradoxo do caos mundano é límbico.
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Dilema
Adotei demandas conflitantes como frase de efeito As anedotas que eu conto estão sempre imersas em paradoxos Conflitos existenciais demandam uma sanidade que não possuo Minhas sinapses falham quando tento processar os fatos De que nada consigo fazer agora Estagnado é um adjetivo frequente E meu instinto não é de acordo Permaneço nessa estrada dissonante Ameaçado por mudanças biológicas Quando minhas substâncias químicas não são suficientes Pra mexer todos os músculos do sorriso Eu, que costumo andar rindo, me encontro novamente em conflito.
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