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Sem sair da cama
Lamento por não ter conseguido descer pra piscina hoje, mãe. Também dispensei o convite da Giovana de ir à praia. Isso porque eu tinha prometido pra mim mesma que iria dar um mergulho essa semana inteira. A Fernandinha não para de me mandar mensagem tentando me motivar a sair com ela, mas não tá funcionando. As pessoas caminham, tocam coisas a diante. Meu pai tá indo trabalhar, a Dani tem algumas clientes esperando pra fazer a unha hoje, minha irmã foi pro jiu jitsu e a minha mãe tá chamando pra almoçar. Algumas nuvens no céu se desmancham dando espaço pra outras chegarem. 90% do que eu vejo na minha frente é verde e ao olhar pro lado, até a moça que sempre fica na janela resolveu sair de lá e fazer alguma coisa. Aconteceu que hoje eu acho que alguma coisa me parou. Me sinto presa dentro das expectativas que criei dentro de mim e que nunca foram alcançadas porque simplesmente não dá pra projetarmos as nossas esperanças em alguém que não seja nós mesmos. Se auto sabotar é esperar algo do outro. É colocar os nossos anseios dependentes das atitudes de alguém. A dor é imprudentemente sábia. Ela me ensina bem mais do que os dias em que acordo de bom humor, sentindo uma energia gostosa me atravessar. Estamos longe de terminar o dia e eu já senti oitocentos e noventa coisas diferentes. As sensações não param. A frustração é contínua. Mas é bonita também. Penso que preciso estudar física, química e matemática. Retomar a rotina de dormir cedo e acordar às 6. Tomar coragem pra voltar pra terapia. Organizar os meus cadernos. Procurar o meu estojo. Fisicamente empacada em 2016 e aprisionada dentro do pior lugar que possa existir: eu mesma. Fora isso tem a Julia que me ligou pra dizer que se matriculou no pré vestibular e a Bruna do Intellectus que me mandou mensagem confirmando a inscrição que eu fiz pro bolsão. As pessoas caminham, tocam coisas adiantes. Indo na contramão desse dilema meio montanha russa, a Maria postou um vídeo chorando em pleno Instagram. Ela tá louca por dentro. O primeiro filme que estreia como protagonista foi selecionada pro festival de Berlim. Ela é um dom. É uma força. É uma festa. É um susto. Eu não aguento. Tem até uma parte dentro de mim que quer ficar feliz por essa conquista que sinto como minha também, afinal, quando vemos pessoas que admiramos alçando novos vôos é tão – ou mais alegre – do que quando os sonhos realizados são nossos. Elogiei a Sami e espalhei um pouco de ternura e positividade pro mundo, apesar de não estar condizente com essas emoções acho que até no fundo do poço podemos e devemos semear coisas boas. Me reconheço nessa sensibilidade dela. Edu me falou dos planos que tem e do receio que se instalou dentro dele. Todo taurino tem medo desse caos que precede a mudança. Ai. Muita informação. Mas ainda sim, não consegui sair da cama.
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O mundo que gira veloz.
Acordei as 10. Minha mãe tava me ligando pedindo ajuda pra por o lixo pra fora. Quarta é dia de lixeiro. Desci, tomei café, dei bom dia. Levei a bicicleta pra consertar. Fui no correio enviar os broches do João pra São Paulo. Viúva Lacerda here we are again: voltei pra casa. Subi a ladeira, abri o portão, botei meu biquíni, entrei na piscina. Meu pai, minha irmã, eu e a minha mãe. O Otto mordeu a Yasmin. Saí da água, olhei o celular e: MARIA ELISA TIROU 920 NA REDAÇÃO DO ENEM. Minhas pernas bambearam, os olhos ficaram imediatamente marejados, a mão suou frio e gritei: EU NÃO ACREDITO! Quando ela conquista algo, eu conquisto também. Lembrei que tinha marcado de ir ao cinema 16h10 com a Ana Luiza e já eram 14hrs. Subi, tomei banho, me arrumei e almocei. Saí de casa, peguei o ônibus que dava uma volta maior do que o outro. Cheguei. Assisti Moana. Amiga das águas, menina doce, cheia de ternura, coragem, força, leveza, amor e compaixão. Meu coração se aqueceu – finalmente acho que a Disney está acertando nas princesas que cria. Atuais. Gente como a gente. A escolhida pelo oceano para salvar sua tribo era negra e tinha o cabelo encaracolado. Me toquei como essas características são importantes, afinal, representatividade é necessário. O filme acabou. Saímos do shopping, andamos até a praia de São Conrado. Lá se foram duas horas sentadas num banquinho qualquer. Eu só precisei disso pra matar as saudades da Ana Luiza. Conversamos sobre abandono, falta de ajuda as mulheres gravidas, se redescobrir mais velho, profissões novas, ausência de amor próprio, relacionamento abusivo e tudo mais que veio à tona. A gente se escolheu. Não precisávamos de mais nada pra ser feliz. Foi profundo, bonito e leve. O amor é sútil. Passei pela Rocinha, atravessei a gávea, o jardim botânico. Olhei meu celular outra vez; tudo me remetia a emoção de mais cedo. O processo de entrada na educação superior no Brasil é cruel. Isso não é feito pra gente, isso é feito pra bicho. Mas, com bravura, luz, determinação e coragem a Maria Elisa tinha conseguido vencer essa fase absurdamente desestimulante. Ela foi meio Moana. Na vida dela e na minha também. Ela voou. E foi lindo. Além da notícia da possível ingressão na faculdade, a mina ainda foi fazer uma entrevista de emprego. Inspiradora! No final do dia, eu agradeci. Cresci com o peito apertado por todas as ambições que naturalmente eram projetadas em mim. E como nada parece ser fácil na adolescência, fica difícil saber se vou conseguir alçar os meus próprios voos e ser dona de mim mesma. Mas se a Maria Elisa conseguiu, eu consigo. Se a Ana Luiza está trabalhando, tem certezas bonitas enraizadas dentro de si e não desistiu do vestibular, eu também consigo. Orgulho! A sororidade as vezes é silênciosa. E ainda sim impactante pra caralho!
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Brigado, Manuel.
Eu queria que você voltasse. Estava procurando algum poema que agregasse valor a essa angustia que entra na minha cabeça sem pedir licença e contorna meu corpo com a maior falta de leveza possível. Já tentei Vinicius de Moraes mas ainda não arranjei nada. Tem Drummond, Cecília Meirelles e Fernando Pessoa aqui na estante. Também tem um livro ‘’Os cem melhores poemas brasileiros do século’’, mas acho que pra esse ainda estou um pouco despreparada. Sei lá, é muito grande. Fora que carrega o nome de tanta gente importante que me sinto até meio constrangida em usar. Vai que eu faço o uso de maneira indevida e acabo sendo responsabilizada por isso depois. Não dá muito pra mexer com gente importante. Prefiro não arriscar. Eu queria que você voltasse, mas você não voltou. Todas as poesias que eu lia pareciam me confortar por alguns instantes mas em pouco tempo o som da tua voz e a lembrança do seu cheiro aboliam a paz que eu achava que havia encontrado. E essa vista estonteante que a janela do quarto me proporciona também me deixa um pouco desestabilizada. O aleatório da minha playlist é outro que não anda ajudando muito. Mesmo que eu mude, alguma canção acaba me lembrando você. E por falar em canção, as vezes queria que fizéssemos as pazes só pra te ouvir cantando e tocando aquela música que até hoje não sei qual é. Mas que você disse que se um dia alguém fizesse uma serenata pra mim, tinha que ser com ela. Também queria que fosse você a apaixonada inconsequente que olharia no fundo dos meus olhos e dedicaria algum sambinha pra mim. Samba no modo de dizer, né. Já que eu sei que seus estilos musicais são outros. Pelo menos sua preferência não era essa enquanto nos falávamos. Preciso tirar a toalha da cabeça e pentear o meu cabelo – ele fica péssimo quando seca no seu próprio emaranhado. Tudo dentro de mim é meio bagunçado. Meio enrolado no lençol. Meio cama que a criança ainda não aprendeu a arrumar. Ou que aprendeu mas prefere ignorar a lição e dizer pra mãe que não arrumou porque estava atrasada pra escola. Penteei. Queria que meu coração estivesse hidratado e macio como os fios do meu cabelo. Só que ele ainda está secando. Acabei esquecendo de tirar a toalha durante 17 anos e por enquanto está tudo enrolado no seu próprio emaranhado. Ah! Fiz um ato heroico! Decidi abrir a antologia dos poemas que está na minha estante e achei que esse do Bandeira pudesse, enfim, agregar o valor que eu procurava. Embora nem eu saiba o que é.
Poema do Beco
Que importa a paisagem, a Glória, a Baía, a linha do horizonte?
– O que eu vejo é o beco.
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O que é indizível
Hoje depois de 6 meses sem a tua presença consigo entender com sensatez a infinitude do que é amar. Depois de passar tantos dias e instantes sem teus carinhos e afagos tenho a certeza de que não estou sozinha. Após inúmeros questionamentos compreendo, enfim, que a importância de poder tocar seu rosto e acariciar seus cabelos é ínfima comparada à potência que é te sentir em cada novo amanhecer. Não, não vou dizer que a dor passou. Ela se transformou. Ganhou outro tom. Novas formas. Hoje te enxergo em estrelas brilhosas pairando sob um céu claro e limpo – bem como você gostava de observar. Vejo-te na chance de ser feliz. No medo que sinto de dar um novo passo rumo à mudança que, ao passar do tempo, dá lugar a bravura e coragem que herdei de minha mãe. Que herdou de você. De reconhecer a beleza que pode ser encarar a realidade de frente. De dizer tudo e ao mesmo tempo nada. Sua partida inesperada tornou a minha vida – e a de tantos, uma balsa que navega num mar de maré alta e agressivas tempestades. Elas machucaram, foram violentas. Mas aos poucos as minhas lágrimas não traziam mais o exaspero de antes. Cada uma delas era doce feito teu sorriso. Obrigado por ter me oferecido sua agonia e agito. Agradeço pelas milhões de vezes que escutou meus lamentos e recebeu com amor um coração em ebulição e uma mente sempre tão febril. Tu estás sempre presente. O tempo não existe para nós.
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Maria Ribeiro ou uma força bonita.
Maria é uma pessoa com quem sempre quis conversar. Ela prende o cabelo num coque bagunçado e cruza as pernas no sofá. Aparece na tv as vezes de calça flare e uma blusa bonita. É acídua no Instagram e não sai do Twitter até saia justa terminar. Toma frontal pra fazer longas viagens de avião, não consegue acordar muito tarde e não tem religião. Fuma, tem (ou tinha) alguns problemas com a nudez e nunca leu Proust. Não costuma ir à praia, se encontrou na calça jeans e achou sua plenitude numa cadeira de cinema. Faz análise há mais de 20 anos, sente falta do pai e tem ciúme da Carolina Dieckmann. É intensa, dirigiu dois documentários e fez alguns filmes. Se divide entre o Rio e São Paulo, coleciona idas a farmácias e se desmancha por quem tem coração bom. Não se auto titula jornalista mas tem a curiosidade dos que são. É doce, tem o humor ácido e está sempre contrariando as estatísticas. É escorpiana, temporona e fez uma tatuagem no braço. Anda de mãos dadas com os seus medos, faz um programa que é meio auto ajuda e reclama da barriga da Mônica Martelli. Atravessa essa tristeza infinita que é a vida usando yves saint laurent e sendo devota de brechós. Não tem muita paciência pra festa de fim de ano, detesta cinema japonês e foge do Rio no Carnaval. Maria está distante ao mesmo tempo que está próxima. Ela existe em si. E existe em mim também. E nós vamos sendo. Maria nunca conversou comigo mas eu acho que já conversei com ela.
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23 de dezembro
Foi no shopping da Gávea, numa tarde de verão e lojas lotadas que eu descobri o que era ser amigo de alguém. Antes disso foi só ensaio. A apresentação foi dia 23 de dezembro e eu nem sabia. Ninguém me avisou. À princípio eu só ia deixar algumas roupas na igreja que posteriormente seriam doadas pra um morador de rua e seu filho criança. Como consequência também veria meu melhor amigo e provavelmente iríamos ao bob's tomar um milkshake e bater um papo. 
Nós fomos ao bob's. Só que não teve milkshake e nem conversa fiada. Ele disse que tinha uma coisa séria pra me contar e que do nosso amado grupo de amizade, eu era a única que não sabia. A 3ª e última a ser informada. Através de uma história dura e palavras difíceis de serem ouvidas, Edu me mostrou que a vida vai muito além da angústia que bate quando o resultado da escola demora pra sair no fim do ano ou do tédio que é passar uma tarde de calor presa em casa porque a cólica está insuportável. 
Na vida de alguém de 17 anos, essas são duas das preocupações mais recorrentes que atravessam a cabeça de milhões de adolescentes (na cólica eu incluo somente as mulheres — a gente sofre demais) e costumam tomar muito do nosso tempo. Os olhos dele estavam marejados e o coração pisoteado. Eu nunca havia presenciado aquela realidade. A voz saía embargada por conta do sufoco que morava dentro daquele peito. A nossa conversa demorou. 
Hoje em dia os valores estão tão inversos que soa meio humilhante admitir fraqueza. Declarar fracasso e falha na missão é mais difícil do que se pensa. Depois de ouvi-lo falar, tentei dizer algumas coisas que passaram pela minha cabeça. Algumas saídas emergenciais pra uma situação complicada e alguns conjuntos de letras afetuosas que me fizessem chegar até o coração dele. Após meu instinto me alertar que eu já havia conseguido entrar na terra que ninguém pisa, rasguei-me. 
Ali eu percebi que junto com sentimento também vem responsabilidade. As pessoas merecem atenção e devemos muita coisa a quem nos fez sorrir. O cotidiano é sistemático e monótono. Quem consegue sair do dia-dia desumano e largar a rotina de atitudes impetuosas, com certeza tem alguma coisa importante pra dizer. Pra fazer. Edu viu as minhas mil faces e me enxergou com um afeto que eu jamais poderia esquecer. Tava na minha hora de olhá-lo dessa forma. 
O discurso anterior as palavras mais eficazes e bonitas que eu poderia pronunciar, me deram uma base pra encher a boca e dizer: EU ESTOU COM VOCÊ. Precisamos ser chão um do outro. Olhar as pessoas para além das teses baratas de empatia e por em prática o real sentido de solidariedade, já passou a hora. Edu expôs nas entrelinhas e mesmo assim de maneira bem clara, que o meu momento havia chegado. 
ERA TEMPO DE ESTAR JUNTO! Deixar o celular ligado 24hrs por dia, prestar disponibilidade, me dedicar a quem entregou o coração nas minhas mãos. Sem pedir cuidado, mas muito lesionado. Teu sofrimento me ensinou a ser maior. A ser grande como as mensagens de amor precisam ser. Amanhã é natal e meu presente foi esse. Quero estar ao teu lado. Na situação que for e como for. Obrigado.
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Calor no coração
É verão. As vezes chove no fim da tarde e faz sol o dia inteiro. A maré fica baixa e a areia está quase sempre lotada. O vendedor de matte já tá com a música ensaiada mas quase nunca consegue cantar inteira porque alguém sempre o interrompe querendo um copinho. A praia termina umas sete horas e o choppinho começa logo depois. É a época o-f-i-c-i-a-l do desbunde. Nessa estação do ano, os anos 80 ressurgem e a noite acumula histórias pra contar. O sorriso fica mais exibido. O suor se mistura com a água salgada. Tempo das vacas gordas, quer dizer, do biscoito globo. As pessoas usam menos roupa. Pra mim é quase uma sensação de liberdade masculina. Tipo tocar no vento, sentir o tempo passando e batendo na minha mão. O que os homens tem o ano inteiro, eu acho que tenho no verão. O calor me propicia ao mais curto. Ao mais quente e bonito. Dezembro, janeiro, fevereiro...obrigada. É delicioso tê-los aqui. Céu estrelado, cigarra cantando e uma lua enorme. Música toda hora e em qualquer lugar. Amizade fácil. Cabelos menos compridos. E como diria a tão famosa baianidade nagô: Já pintou verão, calor no coração. A festa vai começar!
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Natal
Ontem foi o meu primeiro natal sem a minha avó materna. Em 17 anos de vida, foi a primeira vez que, ao dar 00h, eu não podia falar com ela. Nós não nos abraçamos, não nos beijamos e eu não ouvi o seu tão carinhoso: "-Que Deus lhe abençoe, boneca da vovó." Mas esse também foi o Natal onde eu realmente aprendi e senti o sentido dessa festividade. Acredito que acima de qualquer crença e religião, é tempo de nos unirmos. É tempo de reflexão. Num mundo onde as pessoas se mostram cada vez mais cruéis e desumanas, se faz necessário repensarmos nossos valores. O que importa e o que é superficial. Muitas das vezes a rotina nos individualiza e nos cega de maneira brutal. Paramos de olhar o outro com afeto e passamos a terceirizar nossas frustrações, agindo de maneira impetuosa e fria. O maior presente que podemos receber nessa data e em qualquer outra, é a chance de estar com quem amamos. Sentimento vem com responsabilidade. Precisamos estar mais perto uns dos outros. Ser solidário. Irmos além da empatia pronunciada por tantos e exercidas por poucos. Ontem a minha família transformou a dor que foi passar o nosso primeiro natal sem a vovó em festa e alegria. Devo mais essa lição de amor e solidariedade à Ela. Obrigada, vó. Renasci. Natal é luz!
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Para Gabriela (E Elis)
Descobrir que estava grávida aos 16. Ter filha com 17. Terminar o Ensino Médio. Passar no vestibular. Se formar na faculdade. Começar a dar aula. Entrar no mestrado. Se casar em 2013. Virar mestra. Sair da casa dos pais aos 27 anos. E ainda ir pra outro município. Gabriela é a personificação de um livro motivacional.
 Às vezes ela não precisa nem dizer nada. S�� de estar perto dela a gente já se sente um pouco intimidado a sair metendo o pé na porta da vida e desbravar algum espaço novo – ainda que esse lugar seja dentro da gente. É bonito até quando ela chora. Encolhe-se num canto e fica se questionando se é forte o suficiente pra encarar essas mudanças todas. Mal sabe que bem antes de duvidar de si mesma todo mundo sabe que ela já foi e já voltou. Já veio e já voltou. Já realizou e mudou os planos. 
 Hoje eu vi o filme da Elis e em várias atitudes, caras e bocas da artista, eu enxerguei um pouco da Gabriela. Elis foi valente. Não se reprimiu em momento algum e não se deixou ser levada pela censura da época. Ela chutava pra escanteio todas as barreiras que surgiam no caminho dela e da maneira mais ácida e doce, dizia que estava pronta pra arriscar. Levantar a lona do circo, chamar o respeitável público e apresentar um espetáculo novo foi o grande sentido da existência dessa mulher. 
Entender que a vida é uma tristeza infinita e mergulhar de cabeça nela, tirando sarro e entrando pela porta da frente sem medo de ser vista é uma experiência difícil. Assumir suas angústias e dar à mão aos seus medos, mesmo que invisivelmente e sem assumir pra ninguém é um pouco do que a Elis fez e do que a Gabriela tenta fazer. Tenta e consegue. Todos os dias. Acho que ser passional tem dessas vantagens. Se entregar de maneira tão aberta e profunda às vezes te traz alguns benefícios, como levar brilho e vivacidade pra vida de tanta gente. E ser reconhecida por isso.  
Elis deixou 3 filhos, um legado que jamais será esquecido e por mais que tenha deixado o Brasil um pouco órfão, teve um filme feito em sua homenagem que me fez ter esse olhar agregador. Sentar na cadeira do cinema e instantaneamente associar o sorriso largo de uma das maiores lendas da música popular brasileira com o de uma leonina mandona que dá alegria pras minhas segundas, quartas e sextas, foi forte. 
 Profundo e intenso como a marca que ela deixou em mim. Eu tive a sorte de reconhecer a Gabriela. Digo reconhecer porque a nossa ligação é tão forte que não consigo acreditar que só cabem em 17 anos de vida. Isso já existia. De alguma maneira consigo sentir a sua energia todos os dias e toda vez que o meu celular toca avisando que tem mensagem sua, meu coração se enobrece.
 É real as mil e uma caixas de mudanças que tem na sua casa. Assim como a sua bravura e coragem também. Escrevo-te pra dizer que você foi um dos encontros mais bonitos que tive a honra de ter nesses tempos de cólera. Obrigada por mandar em mim com tanto afeto. Pode por a culpa desse espírito controlador no gene do seu signo. A galera de fogo é assim mesmo.
 Ah. E me desculpa Stephen Covey, mas quando mais pessoas começarem a conviver com a Gabriela, acho que seu Best-seller "Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes" certamente diminui as vendas. 
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