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Pinheiros, São Paulo. 2015

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janeiro, 2017.

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tenho histórias com janelas. 

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eu

Oi,

Já passam dás três horas, não consegui adormecer ainda. Houve um cochilo no sofá quando o tédio do filme me venceu. Mas agora minha mente já me prendeu... 

Me ocupei durante o dia, no entanto os pensamentos me evadiram desde que os olhos se abriram. Fiquei me perguntando se sei o que estou fazendo da minha vida, mas nem comigo tenho conseguido conversar. Quis fazer as tarefas o quanto antes para ir assistir o Eclipse Lunar. Às 16h30 me frustrei, estava ao lado de casa escolhendo uma barra de chocolate na mercearia para fazer a calda do bolo, que também não saiu como eu esperava. Fui ao morro, minha mãe e minha cachorra me acompanharam. Estendi a canga, acendi dois incensos - um de almiscar e outro de cravo. 17H39. Vi o Sol indo embora, crianças apareceram, e a frustração virou descontentamento. Não me reconheci. Porra, só queria um baseado pra descansar a mente e esse mau humor horrendo. Ver os astros fazendo sua mágica, me teletransportar. “Mas o Eclipse não é Lunar? É na Lua que vai acontecer, ela aponta para o outro lado.” “Ah, foda-se. Vamos para casa.” Com você aqui, preciso dizer, continuava a me sentir só. Mas hoje senti solidão. Nem da minha companhia tenho desfrutado. Se você soubesse dos inimigos presentes em meus pensamentos, talvez entenderia eu não conseguir ficar e dedicar parte de mim à nós. 

Você se abriu, me ofereceu o mundo. Mas não estou presente em mim, como poderia estar com você?  Meu coração divaga procurando um pouco de paz dentro desse corpo que faz bombear o sangue, no entanto, eu o abafo. Minha fuga. O jeito que aprendi a “segurar a barra”, edificando muros entre eu e meus sentimentos, engolindo o choro. Se possível, nem o deixo se manifestar.

Ontem eu não fugi de você, mas de mim. Lidar comigo já tem sido um tanto pesado. Não posso mentir e dizer para ficar, que vou melhorar e mudar. Não tenho prazo. E ver você frustrada e culpada por esse momento ser tão distinto para nós duas torna tudo mais difícil. Pra nós duas. Preciso que entenda. Que prometa que um dia vai conseguir me enxergar além das expectativas, de planos idealizados, os quais eu alimentei e desejei também. Eu sou pequenininha... “um grão de sal no mar do céu.”

E embora o embaraço do tempo, fico com a memória do que não vivemos em Paranapiacaba guardada em mim. 

Com carinho, eu.

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O que eu sinto dentro não sai em verbos ou em lágrimas. O que eu sinto dentro não sai em expressão de raiva ou riso. Tá preso dentro da garganta, por debaixo dos nós que não desatam, dos sentimentos que não se conversam. E mesmo depois da mente render-se ao sono, o dia amanhece novamente. 

Desperto os olhos, mas aquela que não cala quer se desligar mais um pouco. A sensação de gritar o inaudível ainda me permeia. Sou refém do que carrego dentro.