Tumgik
floresciarte · 1 year
Text
À Karol, com amor
Hoje meu cantor favorito publicou a seguinte frase: às vezes se afastar de uma coisa é honrar ela, e não tentar refazer uma coisa que já não existe mais. Saber que já tive uma versão minha no passado que me trazia mais orgulho do que a minha versão atual se tornou algo muito difícil para mim, pois por mais que eu entendesse a impossibilidade de voltar a ser como era, nunca consegui aceitar que tinha "me perdido" no caminho. A pandemia a ruiu. E foi muito triste perdê-la enquanto eu ainda a estava construindo. No segundo ano da faculdade, me descobrindo como uma pessoa que podia sim se encaixar, com amigos que me entendiam, livre dos rótulos da escola, onde qualquer ação distinta do usual era recebida com um olhar do tipo 'o que ela está fazendo? ela é tão quietinha para isso.' na faculdade, não. Ninguém sabia de onde eu vinha ou iria, eu poderia me reinventar e assim o fiz. Lembro daqueles dias como a cor dourada, brilhante e acalentadora. A certeza que havia um mundo a ser desvelado e eu poderia sim me aventurar nisso. Sinto muito falta da minha versão menos ansiosa, menos negativa, mais disposta. Uma aluna ideal. Uma professora ideal. Uma amiga ideal. Da fé. Da arte que habitava em mim.
Mas como disse Rubel, não preciso parar de sentir saudades, mas sim honrá-la sabendo que foi muito bom ser assim, mas é algo que não vai voltar. Tenho que agradecer a chance de ter vivido algo do tipo. E aceitar que o que sou agora também merece amor.
Que a ansiedade e o negativismo podem ser atenuados a depender de mim e da minha força. E sei que a possuo. Que minha disposição não é a mesma, mas minhas cobranças são muito maiores e o meu corpo é digno de descanso. Que sou uma aluna ideal todos os dias, mesmo quando não estou em aula, porque o conhecimento não está presente apenas na teoria. Mas sim no mundo e nos seus questionamentos. E nós sabemos o potencial que um cérebro inquieto tem de fazer. Sei que sou muito mais inteligente do que era naquela época. E ainda sim, muito menos do que serei no futuro. Sei que sou uma professora ideal, cheia de erros, mas cheia de acertos. E uma vontade enorme de aprender. E uma fé sem igual na Educação, no acolhimento e na reflexão da minha prática docente. Sempre quis uma profissão que transformasse o vazio existencial num propósito: transformar o mundo. E sei que o faço. Para além disso: sei que salvo vidas. E é apenas o começo. Que posso sim ser uma amiga ideal para aqueles que também o são para mim. Que a fé não me abandonou totalmente, caso contrário, não estaria aqui. E que a arte ainda habita em mim, pois ela está além do que eu produzo. Ela está no meu olhar. Nas minhas palavras.
Eu não sou fraca. Eu resisto todo os dias. Por todos aqueles que lutaram por mim e por todos aqueles que lutarei para. Quão estranho pode ser? Às vezes parecemos tão pequenos sendo que estamos, o tempo todo, fazendo história.
Sentir demais é uma maldição. Sentir a dor do mundo arrebata. Alguns de nós nascem assim e não tem muito o que fazer. Mas sentir demais também é uma benção. Sentir o amor mais puro te invadir. Sentir a felicidade correndo pelo seu corpo. Estar presente de corpo e alma.
São dois lados de uma mesma moeda. Às vezes, não parece justo. Mas não tem como ser de outra forma. Nem deveria. É gente assim que traz mudanças.
Gente com muito amor. E com muita dor.
Tal como Clarice Lispector. Paulo Freire. Portinari.
Cândido Portinari morreu por intoxicação às tintas. Sabia que se continuasse pintando isso aconteceria. Padeceu de arte.
Às vezes enxergo as frustrações que passo assim. Elas doem. Mas preciso continuar pintando. Porque há um propósito: experienciar, viver, mudar.
E sei que estou o cumprindo. Sei que muitas vezes, eu, que sou viciada em acolher, me deixo de lado. Mas hoje eu me abraço.
Por mim e pela minha antiga versão. Por todas elas.
6 notes · View notes
floresciarte · 2 years
Text
Abrir as pálpebras e se deparar com a angústia
Preparar-se para seguir o fluxo sem se importar com suas emoções
Siga
Obedeça
Para enfim perseverar
Enquanto sua alma sucumbe
Lidar com as vozes em sua cabeça
Que simplesmente não lhes dão espaço
Questionar-se
Ter pensamentos ruins e espantá-los
Talvez assim eles deixem de existir
Não quando são fragmentos da realidade
Rir de uma piada boba
Relaxar
Sentir o peso da exaustão
A falta da força de vontade e as vozes que agora gritam em sua cabeça
Sufocá-las
Confortá-las
Amanhã é mais um dia
Deitar-se com a nítida escuridão, e adormecer, no momento mais ínfimo de paz
Abrir as pálpebras e se deparar com a angústia
0 notes
floresciarte · 2 years
Text
adoro teus olhos fitando os meus, tão fundo ao ponto de enxergar minha alma, tão fundo ao ponto de me enxergar no brilho das suas íris castanhas
adoro a sensação dos teus braços ao meu redor, de me afundar no teu pescoço, de passear meus dedos sobre as ondas do teu cabelo, nadando ao ponto de me perder
adoro sentir sua mão na minha e a certeza que ela carrega de que talvez a vida possa ser boa, ou ao menos, ela é quando estou com você
adoro a forma como eu e você juntos significa compreensão, confiança, compaixão. adoro demonstrar minha fragilidade e finalmente me permitir ser cuidada, mesmo sem ter certeza de que realmente mereço. mas aceito. aceito tudo que vem de você, aceito principalmente o teu amor, que junto ao meu, se torna uma energia infinita.
adoro tocar sua pele e traçar um mapa no seu rosto, buscando um caminho, mas sempre me perdendo na imensidão do teu olhar. adoro sentir seus dedos sobre os meus cabelos, seus lábios sobre o meu pescoço, adoro te sentir
adoro me ver nesse lugar de paz onde você me faz habitar. adoro sentir meu peito fervilhando de saudade apenas para mata-la quando sinto o teu abraço.
adoro te adorar como os troianos adoravam Páris. adoro cada partícula que te torna você. adoro cada linha desse texto porque é das coisas mais bonitas que a arte se alimenta. e você é a maior delas.
1 note · View note
floresciarte · 3 years
Text
Nos dias serenos, quando os olhos curiosos desbravavam o mundo
Ansiávamos pelos mistérios do amanhã
Os segredos contidos no mapa-múndi
As chances de nos inventarmos e finalmente pertencer
E pertencer-se.
Observo tais dias com uma zelosa nostalgia
Desejando ter a mesma inocência
A fé no mundo
A fé em mim mesma.
A verdade é que crescer significa adentrar um caminho sinuoso
Ter cada vez menos certezas
Andar sem ter rumo, almejar mapear os lugares que traceja
Confrontar-se com o sentimento de impotência
Perceber que é só mais um, ao passo que equivale-se a nenhum
Exaurir a existência
Quando é que respirar se tornou uma árdua tarefa?
Talvez quando o peso em meus ombros se tornou um fado constante
Ou quando vi a solidão se tornar mais presente que todos ao meu redor
Mas sei que ainda é uma companhia melhor que a mim mesma
Estou enclausurada:
Pensar no futuro agoniza; pensar no passado estilhaça.
Como desaparecer completamente?
A receita é clara.
Bata todos os seus traumas, acrescente um mundo antropofágico que devora a si mesmo, coloque no forno e finja que nada daquilo existe à 180 graus. Derreta.
Feche as pálpebras e inale a ébria escuridão.
E finalmente, eu não estou mais aqui.
0 notes
floresciarte · 3 years
Text
[pode conter gatilhos]
é no domingo a tarde, após algumas risadas. eu sinto gradativamente um peso em existir. pergunto-me o porquê, uma vez que outrora eu me sentia bem. mas ela vem sempre assim, inesperada, sem bater a porta, pronta para subir em meus ombros e me acalentar. o primeiro sinal de sua chegada é o desespero, quando meus olhos marejam e o meu coração salta. e então ela me acalma, prendendo-se em mim, sufocando-me ao passo que suga tudo que há em mim, até não sobrar mais nada além do vazio. o vazio que me sustenta, que me faz olhar para o horizonte, sem de fato vê-lo. que traz turbilhões de pensamentos ao ponto de eu não poder encontrar um resquício de paz quando fecho minhas pálpebras. que impede que eu levante, que eu viva. porque não vale a pena, ela diz. porque a vida é cansativa e com ela, eu estou em meu conforto.
mesmo que o conforto não exista. mesmo que meus olhos ébrios busquem incessantemente por um motivo para continuar e não encontrem. ali, perco tudo. ali, percebo o beco em que estou e tento me livrar dela.
tomo banho e imagino se por um segundo, eu poderia me juntar aos pingos de água que caem sobre o cais dos meus ombros. se poderia existir e num segundo depois, não estar mais ali. sinto que a água me derrete, me diminui, e pouco de mim resta ali. sinto como se os dias durassem horas. sinto como se realmente quisesse partir.
volto para o quarto, olho para a aula que antes assistia. não vejo mais sentido em estar ali. deito-me e sinto ela comigo, devorando cada parte minha. clamo por ajuda, mas sei que o inimigo com quem batalho está do outro lado do espelho. suspiro, derramo lágrimas que parecem dançar pelo meu rosto. penso em falar com alguém, mas são sempre as mesmas palavras. sempre a mesma história. decido colocar meus sentimentos nas palavras e escrevo. escrevo porque não me resta escolha. escrevo porque sinto meu peito, que outrora explodia, acalmava-se. escrevo porque sinto ela me largar e sei que agora posso finalmente fechar meus olhos. e os fecho.
0 notes
floresciarte · 3 years
Text
Fechou as pálpebras, inspirando lentamente, e imaginou
Imaginou um mundo doce, com o coração acalentado
Pela certeza de que o amor era inerte ao seu corpo
Imaginou como seria, se por um segundo
Tivesse alguém para segurar suas mãos e dançar consigo enquanto o mundo ruía atrás
Unidos pela certeza de que o fim era apenas uma palavra
Que jamais se aplicaria a eles próprios
Imaginou-se como uma bailarina ao vento
Flutuando pelos ares porque se sentia leve, e não vazia
E ao mesmo tempo como um balão
Movida pelo fogo da paixão, pelas boas sensações que jamais se apagariam
Uma verdadeira utopia
Que se idealizava apenas em seus melhores sonhos
Pois há pessoas que não nasceram para ser amadas, apenas para amar
E que se doam tanto sem receber nada em troca
Que quando observam sua própria essência, notam que já deram tudo e não lhes sobrou nada
Além da solidão
Afinal, ela é a única que ainda resta no final.
E ela sempre a abraça.
1 note · View note
floresciarte · 4 years
Text
tateio o espaço ao meu lado na cama buscando sentir o calor da tua pele, mas tudo que sinto sobre a ponta dos dedos é o vazio
repentinamente, minha memória me leva diretamente a você, a forma como meus dedos se enrolavam entre as ondas do teu cabelo, o jeito com que minhas unhas traçam um percurso no cais das suas costas, para garantir que você sempre saber�� o caminho de volta pra mim.
lembro do encontro dos nossos lábios, do aconchego do seu abraço, das vezes em que o tempo parava para eu te observar melhor. e eu te observava com fascínio. te observava com o medo de que se fechasse os olhos, você não estaria mais ali, como uma ilusão, como uma névoa que dissipa.
e dói. dói a falta que você faz em mim, mas as memórias me acalentam. e eu penso que tê-las vivido fora um dos maiores presentes que a vida pode me proporcionar. porque só com você eu construí a sensação real de conforto e ninguém jamais fora capaz de causar tamanho bem-estar apenas por estar. agradeci aos céus a sua existência, uma grande bobagem: todos sabem que você é parte dele, o mais intenso pedaço do paraíso.
aprendo aos poucos a lidar com sua ausência, mas em dias como hoje, meu único desejo era me afundar em você e sentir a euforia que o vício ao ser saciado produz, findando a abstinência do seu carinho que hoje habita em mim.
sinto todas as minhas partículas gritando o quanto eu quero você. mas o ato de querer nunca garantiu algo e eu não posso fazer você ficar. então guardo as lembranças e idealizo a sua forma, para todo sempre, e tal como uma obra de arte, te imortalizo com a certeza de que durará. te imortalizo nesse texto para que mesmo quando meus dias na Terra terminarem, sua marca ainda esteja aqui.
à minha mais pura obra de arte, com amor
0 notes
floresciarte · 4 years
Text
[pode conter gatilhos]
pelos trilhos de Pompéia (13 de outubro de 2020)
ergo muros
construo monumentos
crio uma vida
que ultrapassa a realidade
vejo heróis inalcançáveis
lutando pela glória e poder
encontrarão o sentido da vida
mas perpassa a mim:
ainda não sei qual é o meu.
nos escombros de Pompéia
na ode de Virgílio
sinto que a minha vida
é uma eterna odisseia negativa
cesurada pelo limite de não poder ir além
pela constante pausa
que me fora delegada.
pois há dias em que existir é um fardo
e hoje é um deles
fecho os olhos e imagino a minha imagem
desbravando mares, conquistando espaços
principalmente o espaço que meu corpo habita
porque sou hóspede, estrangeira
não moradora. não pertencente.
os trilhos do metrô estacionam
a voz a qual ninguém vê
apenas ouve
como pensamentos apagados na cabeça
alerta um possível atraso
uma diminuição na velocidade
como pode?
a vida não para.
a vida não pode parar.
jazia ali mais um corpo nos trilhos.
mais um para a estatística.
afinal, dizem que acontece todos os dias.
talvez eles queiram desbravar Pompéia.
e habitar a vida que criaram em sua cabeça.
mas para isso, entretanto
eles precisam desistir dessa.
e desistem.
0 notes
floresciarte · 4 years
Text
será que você não notou que nós fomos feitos pra durar?
será que você não percebeu que eu estava disposta a tudo te entregar?
será que você não imaginou que o acaso havia nos unido?
porque afinal, baby, nós fomos feitos um pro outro
e digo sem esforço: será que você não pensou que estava perdendo o verdadeiro amor da sua vida?
será que você não pensou que nossa história estava sendo tecida?
será que você não julgou que o meu amor transbordava
e te salvava
de você mesmo?
será que você não indagou o porquê dos meus lábios terem gosto de cereja?
ou o porquê nenhuma outra fez você se sentir tão especial quanto eu fiz
será que você nem por um segundo concluiu que era porque nenhuma viu sua alma
como eu pude ver
será que você não falou que estava arrependido ao dar um ponto final em algo que envolvia um sentimento tão exorbitante
tão nosso?
será que você não sentiu a necessidade urgente de me ter?
será que você não teve medo de me perder?
será?
será que eu alimentei coisas em minha cabeça?
será que eu fui irracional ao aceitar o risco e pensar "por favor, que aconteça"
será que eu não enxerguei que um lado da balança pendeu
e você sentiu tudo numa intensidade muito menor do que eu?
será que eu meti os pés pelas mãos e ignorei todo o resto?
será que eu fortaleci meu amor pelo gesto
enquanto você só me ofereceu palavras
será que eu inventei um amor duradouro?
será que eu julguei cedo demais sermos almas gêmeas e isso ser meu maior tesouro?
será?
quantas dúvidas levanto apenas por te amar
e sou condenada a pensar
que você foi o meu maior desejo
mal pensando também
que um dia sentiria falta do seu beijo
e por isso enlouqueço.
minha sina é te amar
será?
6 notes · View notes
floresciarte · 4 years
Text
e quando cê foi embora,
tu realmente chegou a pensar no que estava deixando pra trás?
ou ao menos em um dia ensolarado,
você sorriu encantado
lembrando de nós dois?
eu acredito que não. porque pensar nessa hipotética situação te levaria a perceber
que eu te vi crescer
naquele dia em que te prometi o zelo
o afeto
que te afeta
até hoje.
certas coisas não se dá pra esquecer, né?
o que você perdeu ao me perder?
além daquela certeza de que o mundo desmoronaria e eu ainda estaria ao seu lado
pra tirar o peso dos destroços e te deixar tão leve que você iria flutuar pra longe de mim
e ainda sim escolher voltar.
ou será que o que você perdeu foi a certeza
da sua eternidade
porque eu escreveria sobre você e como eles dizem: a arte das palavras é imortal.
será que fará diferença os dias azuis em que eu dançava pra você e o meu peito se tornava lentamente o seu lugar de maior segurança?
o meu olhar silencioso que te desnudava e ainda sim te fazia se sentir seguro em meio a toda aquela fragilidade
o esforço com que eu te amava e devotava todas as minhas forças pra te ver bem
a luz que eu irradiava quando conversava com você e te dizia todas as verdades que me sufocavam
ao ponto de você ficar sem ar porque a minha intensidade te assustava
talvez o que tu perdeu foram os meus lábios traçando o contato pela sua pele e te fazendo acreditar que o amor acalenta. e aquece.
eu estaria. uma suposição. uma suposição porque não é algo que irá acontecer. porque mesmo com todos os motivos pra você ficar, você decidiu partir. você escolheu perder.
e mesmo assim, sinto que sou a única a estar perdida.
1 note · View note
floresciarte · 5 years
Text
envolta a uma maré de desesperança
me afogo, me calo
sem saber dançar esta dança,
sobrevivendo ao que arrebata
que cansa, que mata
mata as minhas forças
pois não consigo sentir mais nada
além do profundo sentimento
de sentir-se esmagada
pelo mundo que não dá respostas
que fere
e gere
o imensurável desejo de partir
porque há pessoas que não nasceram pra ficar
apenas para passar
uma curta existência
vivendo sempre a sentença
de querer um ponto final.
0 notes
floresciarte · 5 years
Text
Quando tu chegou
Meus olhos te circundaram
Meus batimentos aceleraram
E tudo esquentou
Quando tu partiu
Muitos outros te amaram
Mas jamais ponderaram
Que sua alma a minha enlançou
Te querer a todo instante
E sentir o amor dilacerar
É um fado constante
Dei-lhe meu coração para cuidar
E tu deste-me seu sorriso radiante
Finalmente percebi: morro apenas por te amar
6 notes · View notes
floresciarte · 5 years
Photo
Tumblr media
a pior saudade que você pode sentir é a de você mesmo
quando as coisas do passado deixam de fazer sentido
e você não se enxerga mais nas palavras que proferiu
um dia
quando você olhou pras estrelas e agradeceu
porque se sentia realmente feliz
e dançou consigo mesma na sala de estar
apreciada por uma companhia
que hoje nem existe mais
e as coisas das quais você se gabava
por fazer muito bem
o prestígio dos hobbies
eu gosto da arte, você dizia
e a consumia
lia
escrevia
rabiscava
nada disso tem mais graça
sua única vontade agora
é não fazer nada
passa, passa, passa
implora
pelo dia que não termina, não se afasta
vamos viver, eles dizem
vivemos?
sobrevivemos
sente falta da felicidade brincando em suas mãos?
dos sorrisos que você não notava
e agora sequer habitam seu rosto
o aperto no coração é a sua maior emoção
quando vê as lembranças na mente e se pergunta:
um dia foi real?
não importa. porque se fora, agora não é mais.
saudade, palavra única e intraduzível
fruto de dois sentimentos opostos, porém conjuntos:
melancolia e conforto.
o problema se dá
quando um lado da balança pende
e o outro desmorona
e as imagens viram ruínas
habitando o cemitério que você
você
é.
4 notes · View notes
floresciarte · 5 years
Text
E ele termina de beber sua cerveja barata com apenas um gole, dirige seu olhar a mim, sacudindo a cabeça e abrindo um sorriso. Fito-lhe sem entender o que se passava em sua mente naquele momento, mas logo meus pensamentos me levam longe e volto a observar o horizonte.
— Você tem medo de morrer, Vanessa? - subitamente ele questiona, fazendo com que eu arqueasse as sobrancelhas.
A faceta em meu rosto logo some e torna-se vazia, dou mais um trago no meu cigarro, e expiro a fumaça, vendo esta dissipar-se ao vento. 
— Claro que não. A morte é a melhor expressão da calmaria. Tudo acaba; não há barulho, não há o outro, não há nada. Por que haveria eu de me preocupar? Tenho medo é da vida, pois não sei o que me espera. Da morte eu pelo menos posso esperar de que não haja mais nada, pois é o fim. Se eu morresse amanhã, saiba que tal acontecimento não me traria indignações. Diria mais: poderia trazer alívio. As coisas estão meio perturbadas ultimamente.
Antônio parece zombar-me, dando um sorriso de canto, o que fazia com que as linhas de expressão em sua testa saltassem; era dez anos mais velho que eu e essa era a maior circunstância para que este não me levasse a sério. 
— Você parece firme no que diz. Firme até demais. Eu deveria me preocupar? - indagou com as mãos no bolso. Ele aproximou-se e puxou outro cigarro da minha cartela, sentando-se ao meu lado, completamente encurvado para perto de mim.
Era estranho vê-lo tão entregue a mim. A intimidade fez com que não mais temesse mostrar suas fragilidades, seus segredos obscuros. Observando-no tão perto de mim, consigo pontuar cada cicatriz na pele desnudada. Cada uma delas contava uma história e mostrava-me que Antônio era uma construção. Como todos nós somos.
— Não há o que temer, não farei nada para reduzir o já curto período de minha existência. Tudo tem seu ritmo e não serei eu que irei atrapalhar o percurso estabelecido. Poderia eu me matar no sábado e ganhar na loteria no domingo. É claro que o sofrimento faz questionar se tudo realmente vale a pena. Talvez não valha; talvez no juízo final eu esteja frustrada e amarga, mas pelo menos eu saberei que depois não haverá mais nada. E se eu colocasse um ponto final nas coisas, essa dúvida iria me perseguir para sempre. O que eu estaria deixando de viver? É uma pergunta que ninguém pode responder. Há inúmeras possibilidades.
Antônio dá um beijo em minha fronte e acentua o sotaque ao dizer que eu era uma mulher peculiar. Eu conhecia-o suficiente para saber que aquela entonação dizia que a curta conversa que tivemos estava fazendo aquele homem grande e forte desmoronar. Ele temia a morte, temia as incertezas, temia perder seu lugar no mundo. Eu suspirei quando ele deu de costas pra fazer alguma outra coisa.
—  Antônio, você não deveria temer o que lhe é natural. - sussurrei, sabendo que ele não iria ouvir aquilo.
Dei outro trago no meu cigarro.
Apaguei-o.
E voltei a fitar o nada.
0 notes
floresciarte · 5 years
Text
Tumblr media
E é tão estranho pensar tanto em você, porque quando eu te conheci, você para mim era nada. O tempo moldou uma conexão intensa da qual nem me dei conta até finalmente acontecer. E toda vez que eu conversava com você, eu sentia esse aperto no coração crescer, a respiração falhar, sem ter uma resposta, um porquê, apenas sentia que tudo estava certo quando eu estava com você. Uma sensação que não pode ser descrita em palavras, mas quem já sentiu, deve bem saber quão forte é esse sentimento e que ninguém pode o destruir. Pois agora o tempo já passou e ela ainda está aqui, inalterada, e quando eu penso que as coisas estão finalmente desaparecendo, algo me prova o contrário. Quando toca a música daquela banda que tu sempre gostou ou quando eu fecho minhas pálpebras e enxergo no escuro teus olhos, como se eles fossem o único ponto capaz de trazer a luz aos meus dias. Eu sempre gostei dos seus olhos, tu sabe. Da tua boca, do teu sorriso, da tua pele quente. Mas nada disso iria me satisfazer; o corpo não mata a sede da alma. E eu gostaria de tomar a sua alma. Gostaria que pudesse enlaçá-la com a minha, pra então saber que você nunca iria partir, nem quando nossos dias na Terra fossem extintos.
Mas eu sei que é justamente essa conexão que nos quebrou ao meio, que transformou o tudo em nada; porque não foram todas as paixões que nasceram para ser consumadas e nós, desde o início, estavámos destinados ao fim. E hoje eu te vejo aí, distante, e sinto meu coração borbulhar, uma vontade insaciável de te ter por perto, mesmo que não seja meu, mesmo que as coisas já não sejam como antes. É o desejo mais ardente e irracional, quando faz -me querer sentir todas as emoções e vê-las serem tiradas de mim no instante em que você for embora. E é isso que você faz, quando você volta e me diz que sente minha falta, sabendo que essa necessidade nunca será satisfeita, porque nada no mundo é capaz de suprir o buraco entre nós dois. E eu me emociono e sinto tudo como se fosse a primeira vez, aproveitando a calmaria que você me traz quando o mundo todo parece ruir. Esses momentos sempre trazem-me a sensação de que o fim está próximo, pois o nosso nó brevemente irá cessar e sobrarão apenas destroços.
Mas você volta pra mim e é sempre assim. Como se houvesse uma força maior do que a do corpo, a de um imã, que magnetiza, que nos traz de volta ao ponto único que imergimos no início. E eu me afogo enquanto eu te vejo boiar, porque você sempre foi a parte racional disso tudo e eu nunca soube nadar. Assim, sigo os meus dias, sem o fôlego que tu me dava, enxergando o mundo mais cinza, sem saber como me expressar, como respirar. Porque todas as outras relações parecem vazias ao passo que com você, tudo transborda, e eu nunca lidei bem com o que não me preenche, o que não me intensifica. E quando vejo que você seguiu em frente, eu só penso que um dia nós seremos só resquicíos e eu vou ter que arranjar um jeito de lidar com isso tudo. Eu vou ver uma foto com seus filhos e eu espero que ainda seja capaz de sorrir e saber que não importa que você esteja tão longe quanto as memórias disso tudo, porque você ainda vai estar lá, no único lugar em que nada pode remover, inserido tão dentro de mim ao ponto de rasgar minha carne, transcender minha alma. Querido, eu te prometo: tornarei o eterno uma realidade pra você que sempre duvidou que as coisas poderiam durar.
23 notes · View notes
floresciarte · 5 years
Text
Eu queria que cada molécula presente em meu corpo simplesmente desaparecesse; que nada restasse pra quem ficar, nenhuma memória da minha em vã existência. Queria que ninguém se lembrasse dos meus gritos no escuro, das dores, dos horríveis sentimentos que proporcionei. Não queria nunca ter existido. Habitar em mim mesma é uma guerra que destrói ambos lados. Eu não sei como comecei a odiar cada singularidade minha, mas sei que por mais que eu tente, jamais serei capaz de fazer as pazes. Eu deveria ser meu próprio lar, porém, sou uma eterna zona de guerra. A cada dia eu me abandono mais. É como se todo mundo que partiu tivesse levado um pedaço meu e pouco ainda sobra aqui dentro. É tão difícil ver as pessoas se afastando de mim, e eu não sei, eu realmente não sei o que tem de tão errado comigo. Mas eu quero pedir desculpas a cada uma das pessoas que convivem comigo, por qualquer mínima coisa que eu já tenha feito. Saibam que estou constantemente tentando melhorar, mas talvez eu seja feita pra ser uma total falha. 
0 notes
floresciarte · 5 years
Text
E eu não sei porque é tão difícil aceitar que você foi embora.
Pois os dias se passam sem eu ver, e quando eu menos espero, penso em você. Lembro que uma vez tu me disse que te conhecer já tava escrito nas estrelas, e todas essas memórias ainda jazem em minhas profundezas.
Vestígios de um passado que maltrata e esvazia, só de pensar naquela conexão, que para mim, sempre existira.
E então tu partiu, deixando-me em ruínas. Minha mente me maltrata, e assim, sinto-me errada, sem saber qual o motivo da minha existência, enfim machucada pela própria consciência.
E digo-lhe com firmeza, inerte ao nosso passado: eu não me importaria se todos eles partissem, desde que você ficasse ao meu lado.
E eu não sei porque é tão difícil aceitar que você foi embora.
Que a nossa história nunca irá ser escrita, mas você sempre estará lá, porque os teus rascunhos em minh'alma são difíceis de apagar.
0 notes