O @euglasner do Instagram, agora aqui. São textos, reflexões e poesias. Com amor e saudade.
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Era sexta feira. Tinha acabado de conhecê-la. Bom, para você que não viu o que eu vi, explico: Ela tinha uns 1,70 de altura - ou mais; sei que eu a via de baixo para cima. Seu cabelo era preto, todo cacheado e ia até o meio de suas costas, desses que você vai fazer cafuné e a mão se perde dentro. Seus olhos eram castanhos claros, que estranhamente - ou incrivelmente - combinavam com sua camiseta bege estampando algum desenho aleatório, seu all star branco e sua calça jeans manchada. Sua boca era obra divina e seu sorriso era a própria divindade - eu nunca fui de crer nessas coisas místicas, mas tive que mudar meus pensamentos depois de vê-la. Sua pele morena complementava toda a escultura que era seu corpo. O local era inapropriado: estávamos em uma festa de um amigo em comum e curiosamente estávamos socorrendo uma amiga - a qual estava ajoelhada de frente a um vazo, colocando tudo o que tinha pra fora, inclusive suas memórias com seu ex. Era quase 1 hora da manhã e parecia que aquela cena não ia terminar e eu não ia ter a oportunidade de conversar com ela.
Estávamos, então, assim: Ela em pé na porta do banheiro, com um olhar preocupado e me perguntando diversas vezes se eu não queria sair dali que ela ficaria com a Bia - a amiga que tinha crise existencial e gástrica ao mesmo tempo; e eu, acocorado ao lado da coitada, segurando seu cabelo e o riso. Então, subitamente, como uma boa bêbada, a Bia se recupera, se levanta, enxágua a boca, lava o rosto e decide ir até o centro da festa. Estava tocando algum funk antigo - provavelmente alguma de Mc Marcinho, visto que eu lembrava alguma coisa da letra. Olhei para ela - nessa altura do campeonato a gente ainda não havia se apresentado formalmente, até que então ela disse "Isabela". "Impossível... essa mulher é 'bela' até no nome" eu pensava. Extendi minha mão, "Bernardo, prazer", disse eu. E pronto. Contraí meus lábios inferiores, sorri com o canto da boca e desviei o olhar logo em seguida, morto de vergonha. Esse era um passo muito grande, espero que entenda. Vou explicar o motivo: Algumas semanas atrás meu amigo tinha me mandado o perfil dela no Instagram. Não deu outra. Achei uma das mulheres mais lindas que já vi - e olha que no instagram o que não falta é gente arrumada pra tirar uma boa foto. Mas ela era o contrário de tudo o que existe nessa rede social: A cada foto dela, duas eram de seu gato, outras duas era de alguma poesia que ela tinha escrito e outras três era de alguma paisagem que ela sempre editava em preto e branco. Eu sempre fui apaixonado por fotografias em preto e branco, por poesias, por gatos e, aparentemente, também estava apaixonado por Isabela.
Bom, saímos daquele lugar terrível. Já não aguentava mais ficar acocorado, e com certeza a Isabela não aguentava mais presenciar aquela cena. Ela logo me perguntou se eu queria algo para beber - afinal, tínhamos que beber para esquecer a cena da nossa amiga bêbada passando mal. Ela pegou uma cerveja para ela e uma pra mim. Sentamos em um banco que havia do lado de fora do salão de festas. Era um lugar mais silencioso. O vento vinha direto para os nossos rostos, o que fazia com que seu cabelo começasse a dançar. Ela então o coloca atrás da sua orelha, olha para mim e me fala alguns elogios relacionados ao que eu fiz para a Bia. Eu só sabia sorrir. E ela só sabia retribuir o sorriso - mas aí é que tá... Não era qualquer sorriso. A cada frase parecia que ela me abraçava com as palavras. Cada pausa era uma eternidade e me causava tanta ansiedade... Meu Deus eu só queria ouvi-la. O som de música ao fundo parecia dar um certo clima a nossa conversa. Era uma mistura de pagode e sertanejo - então o clima estava propício para falar do passado. Começamos a conversar sobre os casos de Bia - tanto das diversas bebedeiras em outras festas, quanto dos relacionamentos amorosos. Uma coisa levou a outra e ela começou a me contar do que se passara com ela alguns meses antes.
Começou a me contar de um cara. Tinham se conhecido na faculdade, ido à alguns bares e se apaixonando aos poucos. Me dissera que o primeiro beijo foi na casa dele. Era uma quinta-feira, o céu tinha acabado de escurecer; ele fizera um jantar e comprou um vinho só para eles. Fez do início da noite o início de uma história - que não duraria tanto tempo. Ele trabalhava num bar e ela era professora de uma escola pequena no bairro onde morava. Depois de algumas semanas ela conheceu os pais dele e vice-versa. Fizeram e refizeram planos. Um deles se concretizou. Alugaram um apartamento pequeno perto do trabalho dela e decidiram dividir suas vidas em 30m². Adotaram duas gatas, compraram um colchão e a geladeira ficava semana cheia, semana vazia - como o amor deles. Depois de alguns meses juntos, sabe como ficam as coisas... Era um casamento. E casamento não são fáceis. Os interesses começaram a divergir, as noites eram feitas para discussões e só dividiam a mesma cama por obrigação. O amor se foi com o tempo - e a paciência foi junto. As brigas se tornaram constantes. As pazes, nem tanto. Três meses antes de termos essa conversa, ela teve a última com ele.
Eu até achei engraçado a maneira como as coisas acontecem no amor. Abrimos mão da nossa liberdade para sermos livres em pares. Mas, para continuar sendo par, alguém teria que abrir mão de alguma coisa. Na história dela, só abriram a mão na hora de um soltar a do outro. Quando ela acabou de contar ficamos em um silêncio absurdo. Aparentemente ela ainda estava tentando digerir a história. Ela tinha acabado de estilhaçar seu coração e eu só queria catar caquinho por caquinho, juntar e entregar pra ela de volta. Ela me olhava com um olhar de ternura. Se tivéssemos contado o tempo, ficamos sem falar por uns dois minutos mais ou menos. Pode não parecer nada, mas ali parecia uma eternidade. Ela finalmente olha, sorri pra mim e diz "acontece, né?". Em um impulso um tanto que infantil a abracei. Eu achei que ela ia fazer tudo, menos me abraçar de volta. Se eu achei dois minutos uma eternidade, agora eu não sei o que eu acharia. Naquele instante ela tinha aberto o peito para eu poder estar. Não sei se ela foi com a minha cara, com meu papo ou com minhas incessantes piadas. Mas ela estava completa naquele momento. E eu também estava.
Depois da história eu só fiquei mais apaixonado por quem ela era, por tudo o que passou e por onde estava. Naquele período ela era professora em uma escola maior, tinha seu canto e ainda conseguia ajudar a família - eu não me apaixonei só pelos olhos incrivelmente charmosos e o sorriso divino, mas também por esses detalhes; interessante seria se ela se apaixonasse por mim, só que tudo o que eu tinha era um violão e uma Caloi. Ela estava ainda meio abatida após ter se exposto pra mim. Então, fiz o que deveria ser feito: Chamei ela para dançar - era uma noite quente de verão, não sei se foi a melhor escolha. Coloquei no som a sua música preferida - 'Veja só', de Tibério azul - a peguei pela mão e juntei seu corpo ao meu. De dois pra lá, dois pra cá a gente ia se entendendo. Pisamos diversas vezes um no pé do outro e gargalhávamos toda vez que isso acontecia. A minha camisa continha pingos do seu suor e meu coração continha enxurradas de paixão por ela. Minha mão direita estava na sua cintura, a sua mão esquerda estava nos meus cabelos. Meus olhos olhavam os seus e os seus olhos olhavam os meus. A boca dela sorria e a minha ia de encontro a dela. Era um sábado e o céu já tinha escurecido há muito tempo. Aproveitamos até o sol nascer. Fiz do início do dia o início de uma história - que duraria o tempo certo.
Sim, mainha. Eu estava bem.
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queria pegar a estrada. sair por ai com um destino que eu mesmo desconheço. queria sair de casa pela madrugada sem ninguém ver ou sair pela manhã para dar o último beijo de adeus na minha mãe. queria criar uma rota em que eu pudesse fazer o que eu quisesse ou seguir um roteiro planejado por alguém que tem uma cabeça melhor do que a minha.
- sobre efeitos da quarentena
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hoje vejo muita gente boa sofrendo demasiadamente. gente que era feliz gratuitamente, hoje paga por sentir demais. as coisas não estão fáceis - e não me parece que serão. não sei do futuro e tento, cotidianamente, não tentar prevê-lo. queria, subitamente, me transportar para um lugar que pudesse respirar sem sentir meu peito apertar por conta de anseios; que pudesse gritar sem parecer louco; que pudesse amar sem parecer ingênuo demais. queria ser eu, mas como, se o mundo me cobra ser mais do que sou? se preciso buscar a felicidade em vez de senti-la?
- sobre a atualidade
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Seja bem vinda(o) a este pequeno blog. Aqui é a extensão do perfil @euglasner no Instagram, o qual não será excluído, apenas descontinuado (ou seja, se você quer ler alguns textos antigos, é só ir lá). Os posts novos serão todos aqui. Ah, e sobre o que será os posts? Sobre amor, saudade e tudo o que a gente tiver de mais nobre dentro da gente. Em grande resumo, são devaneios de alguém que só sabe sentir.
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Outras histórias no wattpad no @ lucasglasner.
Com amor,
Glasner.
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