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Gralhando no Deserto
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I hear the rumbling of hearts when the truth is broken.
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gralhando · 4 days ago
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Passa um ônibus com algumas pessoas
Quando vi o filtro que era o lustre — a luz o tom que se derramava do vidro simplificado com mínimas bolhas de ar. Lembrei da minha mãe no tempo que ela comprou um lustre igual com a cor igual e o manto de luz antiga. Comprou de um homem da mesma época dos lustres que vinha vendendo pela estrada num carro velho. Tristeza leitosa. Tristeza absoluta — sua face vaporosa atravessando nossos corpos mortais.
Mas esses seres humanos por que são assim? Perto deles estou como que cercada pelas garrafas de vinho na mesa fico deliciada com os aromas — seus sabores e cores. Vou me alheando de mim e sendo invadida de suas doçuras — e amargura e o tempo se derrama no vermelho do sangue.
Como o vinho termina sempre — os seres humanos se vão. Meus olhos se aterram diante da minha vergonha suas tristezas tem o corte afiado do arrependimento e sua lâmina é funda como o tempo derramado.
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gralhando · 15 days ago
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Todos conhecem o fogo
Todos os homens do mundo conhecem o fogo mas você sabe dos segredos do fogo e sabe da precisão voluptuosa de suas fornalhas.
Todos os homens do mundo conhecem a água mas você sabe dos longos braços dos oceanos e sabe das gargantas escuras dos seus báratros.
Quando você adentra os pensamentos da água e do fogo uma multidão no meu sangue avança até às bordas do teu corpo e acompanho religiosa os movimentos dos teus lábios — traumlippenregung.
O que é a fé que me submerge onde água e fogo se misturam? A vertigem da existência… No fundo dos teus ossos onde água e fogo se misturam num mar de silêncio respiramos os ecos do princípio — o hausto do espírito — como se respirava antes do ar.
Todos os homens do mundo conhecem o fogo mas você sabe falar a sua língua estranha — antes de tudo era a língua na qual a voz se declarou à existência.
Todos os homens do mundo conhecem a água mas você quando a toca retira o silêncio da sua sinfonia fermiônica e então pode ser ouvida a boca do primeiro abismo.
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gralhando · 18 days ago
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Parte anônima das cores
E as lentes atravessadas pela lâmpada lentes mantidas no mesmo murmúrio que as sombras dos responsórios antigos entre as paredes que perfilam diante dos óculos e dos anos.
Pensamentos de tábuas nuas sobre as cavilhas e os cortes anônimos emaciados pela recitação da leitura. O livro em que tomos descosturam — do futuro sepultavam em si nomes na fotografia kodak.
Essa voz desenhando com carvão e breu. A voz abre as asas de um besouro. Voa por entre a meditação e o tempo acamado — a voz conta num ritmo assinalado cada palavra que sobrevive nos ecos e sobreposições dos dias.
Ainda ouve a memória trêmula dos pedintes sob as marquises em suas roupas documentos desaparecem lentamente de alegria os registros das travessias. Penugens claras como se abrigassem as lentes.
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gralhando · 26 days ago
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Condução aos dias incomuns
Volta o teu rosto em direção à tua sinceridade e toque teus lábios na terra — e os teus dentes na areia? E veja se os teus olhos não são a água e superfície dos rios. Como encontrar essa piedade de ossos — nos próprios ossos de modo que sinceramente olhe os céus ainda sem luz. Você não sabe ou tem o medo de levantar o rosto diante da borda do sangue? A visão — do vazio e do vazio de tudo.
Diante dessa borda indecorosa e sutil a misericórdia busca os forames dos meus ossos — e experimento a sinceridade ensanguentada dos hospitais. O olhar dos que recuam silenciosamente e escrevem seus calendários em papéis de carvão.
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gralhando · 2 months ago
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Fragmentação do humano entre humanos.
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gralhando · 2 months ago
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Promessas de escrita
Estamos dispostos a ver o tempo? Ainda não? Há um primeiro trabalho que é sobreviver. Depois, um último que seria sustentar a morte. Este é o mais difícil e longo. E bem nessa situação que entra o mito de Sísifo quando interpretado em seus espaços de narrativa. O trabalho mitológico de Sísifo se dá após a morte. É quando começa a labuta dos arrependidos, que em alma refazem os passos dos equívocos, consertando tudo em trama e ânsia, e então morrem novamente para descobrirem que já morreram.
— Acolha-me, mãe repudiada pelas religiões! — Se alguém famoso interpretou na façanha de perverter o paralelismo daqueles espaços como as muitas religiões que surgem nas fontes dos egos. — Sou filha da loucura branda e da estranheza hostil. Lancei o meu livro entre os criminosos… entre os criminosos.
Talvez toda a loucura prepara a minha mente para ver o tempo. Arrependida? Sou uma mulher arrependida? Uma alma estropiada e uma consciência truncada?
Pense se não poderia ser intencional os lapsos no fluxo do contexto, e a truncagem, como cisalhamento que fossem silêncios desfeitos em material de contato, veios de chances de entendimento e reconciliação entre as inferências e sangue, a realidade mais próxima e sendo exposta pela navalha dos sintagmas e pelo abrupto humano. Eu choraria vergonhosamente — mas cumpri o que disse, escrevi aquilo que nunca foi escrito. Isso se cumpre em caminhos como os que relatam sobre os seres de longe quando diz:
— Eles deixam suas palavras. Eles não falam.
Há um primeiro trabalho que é sobreviver. O segundo é sustentar os segredos que nunca serão revelados até que o mundo termine suas cartas de estrelas e espíritos.
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gralhando · 2 months ago
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Abra os meus olhos
Falta algo nas explicações quando não sei quem sou. E toda simples referência de qualquer ente é na verdade uma retomada de mais uma tentativa de me elucidar. Por que você se mistura aos que estão de fora? Se dentro do teu universo uma voz funda desde o teu nascimento proclama tua existência solitária.
— Quanto mais meus olhos sugam teu rosto, mais sinto teu corpo em meu coração e mais sinto o gosto das tuas feridas.
E havia no fundo de mim um lugar ainda não sabido. E que só o outro poderia revelar pela introdução desesperada da carne. Fundamento... fundamento... por isso entramos uns nos outros naturalmente.
— As antigas e cicatrizadas, as novas ainda úmidas, as invisíveis pelos mistérios dos membros e ossos, e as que virão como que anunciadas em profecias.
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gralhando · 3 months ago
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A pronúncia dos ossos
Amo tua existência quando toco teu nome com a língua e meus lábios se entreabrem apenas para um hálito de silêncio e inspiração como de uma flor no momento que se reafirma na luz da noite — e no orvalho.
Amo ainda dentro da minha boca a pronúncia em possibilidade e carne. Quando o silêncio reverbera na pele — é o mais úmido dos nomes.
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gralhando · 3 months ago
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Quando ainda estou viva
Sinto o teu dedo em meu coração e tenho medo. Como vou andar nos teus passos e somar os números em flores que a minhas mãos ainda contam? Quero me segurar em teus braços e dizer meus sussurros sob o teu rosto. Se eu morrer hoje teus braços não teriam mais o meu peso e o teu rosto sem a brisa úmida da minha boca — como seria?
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gralhando · 3 months ago
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Fonte e espaço
Que festa foi a dos teus átrios nos corredores onde algo acontecerá — os documentos das horas entre os olhos dos anjos. Na fonte da velhice.
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gralhando · 3 months ago
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Visões não profundas do comum
No salão com ares subterrâneos, em cores de pedras e cinzas e vapores, grandes entalhes quadrados no piso dos quais ainda não se sabe a profundidade ferviam a clorofila e do verde em borbulhação nasciam nuvens brancas que se desmanchavam a alguns metros revolutos.
— Esta é a tua descrição?
— E você viu muito bem...
E quem não viu nessa hora o salão com ares subterrâneos, em cores de pedras e cinzas e vapores.
— O que ferviam?
O prosaísmo e até mesmo a realidade tocável de tudo, a clorofila sendo clorofila e a água, meu deus, o mundo é a ordem encarnada e o óbvio do comum. É o peso da pobreza nas moléculas e o custo do que apenas existe porque está ali.
— Ferviam orações?
— Não sei. O que sei é que somos pobres... nunca soube que éramos tão pobres. Pobres de brilho e de fé.
Pobres de brilho e de fé, parecia exalar da sua testa.
— Até os pássaros porque voam aparecem nas poesias como uma economia superior... de fé e acontecimento...
— Não viu nada mais?
Agora um certo sentido de miséria e silenciamento, ainda não o silêncio, porém a afasia pela rarefação do vernáculo, como se o que não vemos fosse o que ainda não podemos pensar, ou discernir dos signos. Imagine os morcegos, sem olhos para o escuro, atiram ondas sônicas contra tudo, e ao tê-las de volta sabem tudo o que existe. E se nós atirássemos dos pensamentos signos contra tudo, e o que ressoa de retorno, o que responde sua existência e corresponde seus sinais… esses nós "vemos".
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gralhando · 3 months ago
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Fogo alto
Desce das tuas escadas que pairam sobre nossa miséria. Há um peso dentro da terra e dentro de cada terreno seu reflexo tardio. Por isso é tão triste como nos cai bem o choro e ainda incompreensível que nos faltasse o fogo — porque não nos falta. Nossos cabelos são álcoois e nossa pele óleo.
Dos degraus inalcançáveis das tuas escadas — sobre nossas cabeças imersas nas noites de forno. Venha arder entre nós os que ardem na terra. Os que se empregam em trabalhos e queimam. Arda entre nós — os círios compulsórios do tempo. Olhe a queima dos sebos e do petróleo que clamam — desce além do órion e vê.
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gralhando · 3 months ago
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Lacerações de olhar
Descortino o teu velho corpo nu nas ramagens negras dos teus escritos. Vejo como tudo cai como se um poder na terra profunda reclamasse a tua pele e ossos. E eu me sinto uma criança contemplando a tua velhice. Espantada por estar viva diante da tua morte.
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gralhando · 3 months ago
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Realidade em questão
Ele é real diante de nós. Vívido e real em suas cores. E por mais real, não podemos tocá-lo porque não existe. O que faremos dessa volição absurda?
Nos cabe sermos humildes entre os objetos e tornaremos paralelos os ossos após nossas mãos desfazendo a cruz no interior dos nossos braços.
Assim, mesmo aquilo que não pode existir os caminhos retóricos e violentos de tomar os beijos da minha boca passa por um arquétipo de pureza.
Todo o movimento do homem — até os mais bestiais e blasfemos se inicia de uma matriz de fundamentos puros. Por isso ele ouve quando hoje é uma voz — não morra, não peque mais.
Ouvimos como profundo e autêntico — essa voz — depois era segunda-feira no tempo que viria o título do dia três e empurrei com a mão e a esperança a porta fechada e senti seu corpo fixo nos batentes.
Os meus ossos em cruz — fêmeos em ansiosos — minha mão espalma sua dureza e retidão. É o que existe diante de mim e dentro da minha casa. A sua força altera e movimenta a minha carne.
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gralhando · 4 months ago
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Explicações ressentidas
Qualquer um pode me entender. Contive dentro de mim a tua queda e a sibilação vertical do corpo que cai estanquei nas sedas do meu muco. Meu detalhismo é profundo e psíquico.
O sangue seco e escurecido que foi mancha noturna permanece como lavra da esterilidade. Rodeado de murmúrios de interpretação. Aceita o deserto em meu corpo e desça sobre mim.
A tontura do giro do mundo tem cura. O sono dos mortos será sitiado pelos sinais. As noites serão o tempo breve e único que uma página é movida no tempo e no universo.
Ouça os comentários do deus que as move. Fala na língua dos grandes tambores e do coração puro. Eu começava a ser uma criança quando compreendi. Vi a ânsia nas janelas.
Nessas palavras que juramentei os assuntos mais secretos. E cobria a minha casa nas ventanias. O privilégio de proferir os piores segredos aos gritos — quando eu crescer e tiver peitos grandes serei tua mulher.
Porém me coube conter a tua queda. Envolver a tua história com o engano doce das sereias. Curar a tua alma rasgada pelos cães da vida e cicatrizar os pedaços do teu corpo com o labor árduo da minha língua.
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gralhando · 4 months ago
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A degeneração humana
Primeiro assentou-se diante de nós o ente duro como o ferro. E diante de nós, sem pejo, chorou o nosso caminho. Nos deixou nervosos irritados, pois somos caminhantes e ansiamos o caminho. Não tivemos compaixão das suas lágrimas. Devíamos consolá-lo? Era duro como o ferro e chorava. Víamos o paradoxo como a antiluz ainda não explicada. As mariposas vieram como nuvens de sombras atraídas para se alimentarem das lágrimas. O macio flanar de suas asas ensurdecia os nossos corações e a poeira de cantaridina e bombicol degenerava nossa cognição. Nos assentamos ali impassíveis. Vivíamos sem compaixão e sem decisões apenas contidos em nossas ânsias, fabricávamos sem saber a derivação da humanidade. Então em uma noite, depois da minha espera particular, me levantei entre eles e disse — é a porta — e abri a porta do fim.
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gralhando · 4 months ago
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Quero problemas - #
— Não morremos, nem nada. — Disse o cachorro.
— Minha cabeça está se perdendo, há coisas acontecendo e não sei o que está acontecendo.
Eu falo sem crer em minha própria voz, como se o mundo fosse de sono. O nome do cachorro é Camila e é piloto. Eu sei que ele está certo, que não sou escritora, que não sou poeta, que sou uma doente. Estou sendo pressionada para deixar minha profissão? Logo eu que sei e eu dizia o que sei, não sou poeta. E daí? O que o cachorro quer ouvir? Nunca mais vou escrever nada. Isto? Volto a falar e a escrever o que falo, a sentir e a escrever o que sinto.
— O sangue em meu cérebro, delimitado nas veias translúcidas, tem o aspecto das entranhas de um espírito. Não posso escrever nada porque sinto uma tristeza que não pertence às tristezas, e vem da opressão fatal do acontecimento inexorável.
Sei que o suicídio é uma resposta. No entanto vou responder com algo mais covarde. Entre covardia e estranheza. Se o cachorro fosse um assassino e não apenas piloto, se tivesse um senso prático do amor e dos símbolos, ou uma crueldade cultural dos pagãos retóricos que conhecem deuses e daimons, poderia pegar uma arma e atirar em meu corpo pela chave de um endereço criptografado contendo um bom valor. Há um contrato para isso.
— Então viria a tristeza genuína.
— E é tentador porque a verdade faz um gosto bom em mim.
Sempre senti o gosto da verdade e sua cor tocou meus cabelos como uma brisa morna. Em todos os meus planos. A verdade era uma verdadeira amiga, com seu gosto, sua cor, seu espírito.
— Não quero paz. Quero problemas.
Muito menos a paz de mentira da morte.
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