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swallowed by darkness
Não há sensação pior do que não saber que horas são.
Não há a rotina, não há a organização. Só... caos. Pedi a Rodric que me ajudasse. Afinal, Charlie estava desaparecida. Eu nunca tinha a mínima noção de como sua missão estava indo e me sentia caindo num buraco muito fundo. Tão fundo que a escuridão me envolvia. Para sempre, aparentemente. Eu me sentia culpado por ter enfiado Charlie naquela situação. Por minha causa, ela estaria provavelmente morta a uma hora dessas.
Mas quem diria, não é mesmo? Eu e Rodric fomos capturados. Engolidos pela escuridão. Eu não sabia que horas eram. Aquele pano fedorento me cobria o rosto. Me arrastavam, me empurravam. O pano que tapava minha visão não tapava, porém, a luz. Podia vê-la. Mas, então, não mais.
A escuridão.
Perdi a força das pernas quando fui jogado para dentro de um local úmido e frio. E bastante escuro. Minha face foi ao chão. – Rodric! Você está bem? – Foi a primeira coisa que pensei. Retiraram o pano de minha cabeça e só pude ver um clarão cegante. Logo depois, a porta que transpassava luz, se fechou.
A escuridão.
Ela me devorou. E eu fiquei estático, esperando que, de algum modo, tudo iria se iluminar. Uma mão começou a me tocar. Não era uma mão que fere, porém. Eram toques cuidadosos, amedrontados. E não demorei a entender que eu e Rodric não estávamos sozinhos. – Charlie, é você?! – Minha voz saiu engasgada e abracei-a fortemente antes de pensar em algo decente. – Pelo menos achamos você... – Segurei forte em seu corpo, ouvindo sua voz que parecia de mentira. Eu tinha um pouco de positividade sempre guardada comigo. Soltei-a e engatinhei, levando uma mão na frente do corpo. Levantei-me um pouco, constatando que o teto era um tanto baixo. Ao chegar numa parede, bati com as duas mãos, verificando o material e a espessura. – Onde estamos? – Que pergunta mais idiota! É claro que ninguém ali sabia. A pergunta certa era: – Como vamos sair daqui?
Eu só via escuridão.
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Eu já havia entrado em locais luxuosos, mas aquilo chegava a ser ridículo. Um homem mais bem-vestido que eu me atendeu na porta. – Meu senhor o aguarda, senhor Lancaster. – Eu tinha entrado onde? Num castelo medieval? Olha, se era medieval eu não sei, mas era realmente um castelo. Um palácio. Quando atravessei aquela porta imensa e entrei no pequeno hall, o mordomo me pediu para esperar. Eu nem respondi, tentando assemelhar tantos detalhes dentro de apenas um pequeno cômodo. Sentia que minha memória fotográfica podia falhar a qualquer instante, com tamanha quantidade de informação. Porém, para minha felicidade, o mordomo voltou, me levando para outro cômodo. Para minha infelicidade, havia ainda mais objetos e decorações entre os mediantes do hall de entrada e a sala de estar. Uma das muitas sala de estar. Aquela casa devia ser maior que o bairro que eu cresci. Lá estava o homem. E, meu amigo, os detalhes sobre aquele homem eu nunca esqueceria. O corpo flácido, gordo. Cercado por roupas que deviam ser mais caras que minha casa e meu escritório juntos. Esparramado em um sofá de couro. Na face redonda, uma expressão de dor, preocupação. Olheiras gigantes, os lábios secos. Um charuto em sua mão direita, recém aceso. Na direita, um copo grande de uísque importado. O homem estava bastante nervoso e preocupado e, por isso, se afundava em seus próprios vícios. – Detetive Lancaster está aqui, senhor. – Só agora o gordão notou minha presença. Assenti a cabeça no momento em que ele dirigiu o olhar a mim. – Até que enfim. Estou desesperado, Sr. Lancaster. – Dava para perceber. Me aproximei dele e o mordomo se retirou. – Antes de começarmos, Sr. Vick, gostaria de saber como o senhor arranjou meu contato. Estou oficialmente como detetive particular há pouco tempo, meu escritório nem está totalmente pronto ainda. – Me aproximei de outro sofá, sem encostar em nada e me focando principalmente nele. – Isso não importa agora, Detetive. Você precisa achar a minha filha.



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September 27th . Chicago, IL . Gregory Rayley High School

3:49 PM Reparei que não havia achado Logan no meio dos alunos. Gênio. Porém, meus olhos nunca me enganariam. Se eu não o vi no meio da multidão, Kingston não estava lá. Então a pergunta não era o que havia de errado comigo. A pergunta era: onde aquele moleque estava? Várias teorias já se montavam em minha mente, sendo separadas em três círculos: provável, idiota e completamente idiota. A mais provável era: ele poderia ter levado uma suspensão ou algo do tipo. Porque eu havia visto o modo que ele se portava na escola e isso era completamente provável. Ele também poderia estar, sei lá, no banheiro. Durante vinte minutos? Idiota. A não ser que esteja se masturbando. Ok, essa vai para o círculo das completamente idiotas. Entretanto, minha intuição dizia que eu deveria parar de pensar e começar a agir um pouco.
Caminhando de maneira bem rápida, me dirigi até ao portão da escola, focalizando o rosto dos poucos alunos que ali restavam. Vários não me diziam nada. Porém um deles ativou minha memória fotográfica. Era um amigo que fazia companhia a ele durante o primeiro intervalo da manhã. Recordo-me da cena como se estivesse vendo-a novamente: era Logan, este garoto e mais um, mexendo com alunos mais novos. Eu observava a cena de um lugar distante, atrás de uma pilastra. Era isso. Aproximei-me do rapaz com passos firmes.
– Ei, você. – Eu disse, utilizando um tom de voz calmo. Ele percebeu e olhou em volta, conferindo se eu falava mesmo com ele. – Você mesmo. – Cheguei ao seu lado enquanto ele tirava o fone do ouvido direito. – Você conhece Logan Kingston? Parece ter a idade dele... – Não levava um tom preocupado e nem urgente. Era parte do personagem. Meu personagem era meio burro. – Quem é você? – Perguntou. Pelo seu tom, notei que ele o conhecia. Anos e anos identificando mentirosos, amigo. – Sou Stuart Kingston. Tio dele. Vim buscar ele hoje. Mas acho que ele não saiu da escola ainda, não é? – A história se montou em minha cabeça de forma rápida, tapando qualquer brecha. Ele pareceu acreditar, mas fez uma cara de “ele tá ferrado”. – O Logan não assistiu a última aula. – Minhas expressões poderiam facilmente ser confundidas as de um tio preocupado, porém o email maldito voltou à minha mente. – Para onde ele foi? – Agora minha voz tomava, sim, um tom urgente, meus pés já se preparavam para correr. – O Logan tava com umas ideias estranhas. Queria visitar o prédio em obra que foi abandonado na 14 com a Holloway. – O garoto de cabelos compridos e estilo de skatista estava realmente tentando cooperar. – Tem certeza que ele foi para lá? – Meio sem ar, perguntei. – E-eu não sei, senhor Kingston. Ele pode ter ido, mas também pode ter ido pra casa... Pensando bem, duvido que ele iria para casa tão cedo. – Ele não estava cooperando. Porém, deixei-o falando sozinho. Dei as costas ao garoto e comecei a correr rápido, já tirando as chaves do bolso, em direção ao meu carro. Eu tinha que chegar à 14 com a Holloway o mais rápido possível. A vida do moleque podia estar dependendo disso.
E se ele fosse, realmente, assassinado, eu sabia que seu fantasma iria me assombrar para sempre.
3:56 PM Fazia algum tempo que eu não dirigia tão rápido assim. Fazia algum tempo que meu coração não batia tão rápido também. Cheguei no endereço indicado pelo amigo de Logan em menos de cinco minutos. Deixei o carro ligado e com a porta escancarada, naquela rua estranha. Lembrei-me dela de quando passei ali de carro há mais de uma hora atrás, mas o local não pareceu muito convidativo.
Isso só provou que o moleque era bem idiota.
De dentro do blazer, tirei uma pequena pistola, apontando-a para baixo, ao lado do corpo, enquanto corria pela calçada até a entrada da obra. E o que eu vi foi aterrorizante. Havia um cara saindo correndo de lá. Eu pude ver, claramente, ele escondendo algo dentro das roupas. Quando percebeu minha presença, disparou correndo para o outro lado. Minhas mãos apontaram para ele com rapidez e meus dedos dispararam o gatilho da automática várias vezes. Mas ele já havia tornado a outra esquina. - Merda! - Comecei a correr atrás dele, mas algo chamou mais ainda minha atenção. Gritos de dor. De socorro. De um adolescente. - Logan. - Sussurrei, logo antes de dar meia volta, derrapando e entrar na obra.
Guardei a arma onde ela estava anteriormente sem deixar de correr, enquanto, de outro bolso, tirava um celular. Meus dedos já discavam o número da emergência quase automaticamente e então, posicionei o celular entre o ouvido e o ombro, agarrando mais uma vez a pistola como prevenção. E se houvesse outro homem ali dentro? - Logan! - Berrei. - Onde você tá?! - Uma mulher me atendeu do outro lado da linha. - Emergência na esquina da 14 com a Holloway. É um prédio em obra. - Fui completamente direto, sem perder tempo.
Foi quando achei um rastro de sangue.
Ele havia escorrido da arma - provavelmente perfurante - e feito uma trilha do chão, que me levaria diretamente à Kingston. Era o que eu esperava, pelo menos.
Logan não era um garoto burro, mas também não era um muito observador. Provavelmente fazia parte das centenas de garotos americanos com algum transtorno de atenção não diagnosticado e talvez nunca tomasse conhecimento disso, afinal, para ser um vândalo você só precisa saber prestar atenção às...
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mind tricks?
September 27th . Chicago, IL . Gregory Rayley High School

5:37 AM No instante que os primeiros acordes daquele jazz antigo começaram, meus olhos se abriram. Apesar de fechados durante toda a noite, eu não havia dormido sequer um instante. Aqueles emails haviam me tirado dos trilhos de um jeito inimaginável.
E eu odeio quando as coisas estão fora dos trilhos.
Diferentemente do que você pode imaginar de uma noite de insônia, eu não havia nem me movido na cama. As cobertas estavam lisas, ainda com um cheiro característico de tecido limpo e amaciado. Levantei-me calmamente, dobrando o cobertor e o lençol em 90°, desligando o despertador logo em seguida. Devia servir para me despertar, mas hoje ele apenas me diz que horas eu deveria começar meu dia.
Preparei um café. Uma colher de sopa e meia de pó. 275 ml de água. Perderia aproximadamente 15 ml quando ela evaporasse, depois de fervida a uma temperatura média de 126°C. Tomei um banho, lavando os cabelos com um xampu sem sal de Cacau e Amêndoas. Condicionador combinando. Escovei os dentes 47 vezes para cima e para baixo, em cada área de minha arcada dentária.
5:58 AM Hora do disfarce. Um terno marrom discreto, camisa bege de algodão fino, um colete de lã verde musgo e marrom, gravata listrada diagonalmente cinza e azul, sapatos pretos bem lustrados de bico fino e sola de madeira. Encarei-me no espelho, esperando estar parecendo com um professor. Hoje eu tentaria vigiar Logan Kingston de perto, pretendia entender sua rotina e analisar tudo a sua volta. Com a ajuda de Charlie e Rodric, eu provavelmente encontraria pontos que se encaixavam, nós desfeitos.
6:23 AM Com os documentos forjados quase profissionalmente, foi fácil introduzir-me no ambiente de ensino como um supervisor do Estado. Eu analisaria como a escola funcionava, a merenda, as aulas e os funcionários. Na lista que me foi dada, foi fácil achar o rapaz. Era a aula de história, mas ele não parecia muito empolgado. Entrei na sala me apresentando com um nome falso e dizendo que assistiria a um pedaço da aula. Kingston cochilou.
01:49 PM Era hora de entender tudo em volta do garoto. Os clubes que fazia parte, suas notas, suas companhias. Acompanhei-o de longe, como uma sombra. Parecia apenas um adolescente-problema como qualquer um. Mas por que seu nome ainda piscava em minha mente, acompanhado dos outros dois?
2:13 PM Analisar a escola por inteiro, agora, era minha missão. A vizinhança, os prédios, os comércios, residências. De carro, analisei o equivalente a quatro quadras em todas as direções da escola. Não havia muito a notar. Era uma vizinhança boa, até. Nada de subúrbio ou sinais de criminosos. As casas relaxavam tranquilas, perto de uma pequena avenida com poucos comércios. Cafés, pequenos mercados, barbeiros...
2:36 PM Voltei até a escola e, andando, me afastei do único portão de saída da instituição. Minha visão não seria prejudicada do ponto em que estava. Eu encontraria Logan no meio de todos os adolescentes que sairiam em cerca de meia hora e o seguiria de perto sem que ele percebesse, garantindo sua segurança.
Eu faço isso há anos. Não há nada para dar errado.
3:48 PM Ok, cadê aquele moleque?
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