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Acervo pessoal de coisas que gostaria de compartilhar. Especialmente: histórias.
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iacervo-meu-blog · 8 years ago
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iacervo-meu-blog · 8 years ago
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iacervo-meu-blog · 8 years ago
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iacervo-meu-blog · 8 years ago
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iacervo-meu-blog · 8 years ago
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iacervo-meu-blog · 8 years ago
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iacervo-meu-blog · 8 years ago
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iacervo-meu-blog · 8 years ago
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XX: Casa.
Caminhávamos para fora do QG de mãos dadas, parecíamos um casal, um casal diferente porque não são todas as garotas que tem a sorte de segurar a mão de um cara e sentir o seu lançador de teias, acho que só eu mesma. Ri sozinha do meu pensamento, o que atraiu a atenção de Peter quem virou seu rosto para me fitar ainda parados no beco. Ele perguntou o que foi e apenas balancei a cabeça negativamente com um sorriso.
- Pronta? – ele perguntou passando seu braço esquerdo em volta de minha cintura enquanto juntava nossos corpos cada segundo mais.
- Sempre – sorri o fitando.
Ele lançou a teia no telhado e logo subimos em um passe de mágica, paramos no topo do prédio disfarçado em que o QG se encontrava e após uma breve olhada ao redor, Peter saltou lançando teia no prédio mais próximo. Desde que lutávamos juntos, durante a noite pelo Queens, não tinha balançado na sua teia novamente e, por mais que tenha sido pouquíssimo tempo, senti falta daquilo que estava sendo rotineiro para mim. Apenas fechei os olhos sentindo o vento bater abrupto em meu rosto, mas não de uma maneira ruim, o frio na barriga misturado com o vento que bagunçava meus cabelos, disparadamente, era a melhor sensação que já havia experimentado. Peter nos levava de prédio em prédio de volta para o Queens o que me dava um ar de tranquilidade, por alguns segundos, até me recordar que estávamos em uma Guerra Civil.
Paramos no prédio alto que tinha próximo de nossas casas, me soltei de Peter no mesmo instante em que ele retirou sua mão de minha cintura, quando teve certeza de que estávamos seguros no telhado, soltou sua teia logo em seguida e puxou sua máscara para cima, o que não era problema já que estávamos no topo de um prédio escuro iluminado pela pouca luz da Lua, já que as nuvens acidentadas a tampavam.
Assim que andamos em direção a lateral do prédio o celular de Peter chamou em um sonoro toque conhecido, dei um fraco sorriso enquanto ele o retirava de algum lugar em sua roupa e então olhei para minha casa percebendo que estava tudo apagado. Esperava que meu pai tivesse saído da cidade e não sido pego por Stark ou algo assim.
- Tia, oi! – olhei para Peter enquanto ele falava com sua tia na maior naturalidade do universo, ele me lançou um olhar entortando a boca de leve em uma tentativa de careta – É… Não, tia eu… O Sr. Stark tá aqui… É… Não, ele não tá aqui…
Ele gaguejava enquanto eu evitava rir ou fazer qualquer barulho.
- Como assim? Ele saiu, sim, saiu… Ele tava aqui agorinha, mas sabe como é a vida dessas pessoas de alto nível… Ele já já volta. Um recado? Sim, sim... Não, não – ele me lançou um breve olhar sem graça – não esqueci de tomar leite. Nem as vitaminas…. Não existe biscoito melhor que o seu – segurei a risada de modo que ele me fitasse – Tia May, vou ter que sair desligar agora, tchau, até mais.
Olhei para sua tia, em sua casa, acompanhando o olhar de Peter assim que ele guardou o celular novamente, tia May caminhava em direção à cozinha provavelmente pronta para cozinhar seu jantar, talvez esse fosse seu modo de não se preocupar tanto com Peter, era óbvio que ela estava com a feição de preocupada e a compreendia. Apoiei minhas mãos no parapeito do prédio lançando um olhar para Peter quem me fitou de volta, arqueei as sobrancelhas perguntando:
- Viagem com o senhor Stark? – dei ênfase no “senhor” tentando imitar sua voz.
- Eu… Eu tive que inventar uma história sabe? Minha tia não pode saber sobre mim, você sabe, eu tive que inventar que ia viajar com Stark para ela não se preocupar tanto e ficar fora de perigo.
Assenti balançando a cabeça positivamente, virei-me de frente para a casa de Peter, novamente, observando sua tia despejar alguns legumes na panela – Você acha que Stark faria algum mal à ela?
- Não… – ele respondeu ao meu lado – Não o Stark que eu conheço – fez uma breve pausa atraindo minha atenção novamente, Peter estava de cabeça baixa olhando para a rua, nossa rua, a qual sequer podíamos pisar por sermos considerados criminosos – Mas não sei se o Stark que eu conheci e admirei é o verdadeiro Stark.
- Eu achei que Stark era um bom homem, até… – fiz uma breve pausa olhando para minha mão machucada – Até ele mandar dois caras, dois vilões, quase te matarem. Ele não vai parar, Pete – o fitei tentando parecer tranquila, mas eu não estava, nem um pouco. Por mais que eu soubesse que Peter sabia se cuidar, que era um excelente herói e que, com toda certeza, era melhor que Tony Stark, tinha medo e tentava não transparecer isso, pelo menos não muito.
Pela primeira vez desde que voltamos ao Queens ele virou sua total atenção em minha direção – Não, não vai… E isso me preocupa, o que vai ser da Tia May? Não posso mentir sobre a viagem por muito mais tempo, ela não pode me perder. Eu… Eu não quero viver por mim, quero viver por ela, eu quero voltar sabe? Estar lá por ela… – ele desviou o olhar para sua casa novamente – desde que…. Desde que o tio Ben morreu ela tem estado sozinha, ela só tem a mim e eu preciso que essas guerra acabe, eu….- ele coçava a nunca desenfreadamente e tornou a me olhar com seu olhar assustado, penoso, não o olhar de sempre que eu estava acostumada.
- Ninguém quer perder você, Pete – falei o fitando – e nem vamos. Você vai voltar pra casa, vai voltar pra Tia May e comer os deliciosos biscoitos que ela prepara – soltei uma breve risada.
Ele sorriu com o canto da boca – Obrigado Luna. Você não vai me perder, pelo menos eu farei o possível para que não – ele tornou a olhar para frente, mas dessa vez percebi que ele não olhava para sua tia entretida na cozinha – Desculpa, tô sendo tagarela e dramático, eu nem perguntei do seu pai, ele não parece estar em casa.
- Você é sempre tagarela – ri desviando o olhar para minha casa ficando um tempo em silêncio, as luzes estavam apagadas, as janelas com as cortinas cerradas, realmente parecia não ter ninguém em casa – Ele provavelmente viajou. Ainda não tivemos tempo de conversar, mas… Acho que ele está bem, ao menos espero.
- Ele deve estar bem – Pete me tranquilizou – É seu pai, deve ser durão que nem você “garota aluada”.
Ri do apelido e também da lembrança que vinha em minha cabeça naquele momento – Tão durão que apontou uma arma na minha cara – fiz uma breve careta emendando em uma risada, também breve.
- Ele realmente é o seu pai… – Peter fez uma breve pausa não parecendo surpreso – mas uma arma?
- Fiquei muito assustada, foi quando Natasha me tirou de casa e me livrou daquele coleira estúpida – olhei para Peter sorrindo – e obrigada, afinal, por ter pedido Natasha para me ajudar. Mas, sério, por quê fez isso?
Peter demorou a responder, contraiu seus lábios e logo transformou a linha reta em um sorriso - Eu… Eu me importo com você Luna, sabe? Muito, muito mesmo e eu não conseguia te ver infeliz daquele jeito, presa, com uma coleira como se fosse um animal raivoso. Você não merece aquilo.
- Obrigada, Pete. Mesmo – sorri o fitando, até se explicando e dizendo o quanto se importava comigo ele era charmoso – quando ela disse eu quase não acreditei, quero dizer, claro que acreditei porque eu faria o mesmo por você, mas… – o fitei nos olhos – você foi insano. Stark, provavelmente, não sabe disso ainda, mas quando ele souber, ele vai te odiar ainda mais. E eu não posso te ver todo destruído daquela maneira, não de novo, você não sabe o que eu senti quando te vi nos braços daquele homem… Justiceiro – lembrei seu nome completando a frase e desviando o olhar enquanto o sorriso sumia de meus lábios – Eu achei que você tinha morrido e… – novamente, fiz uma pausa, mas dessa vez não foi breve, lembrei de como tinha me sentido ao ver Peter daquela maneira e de como não quis, nem mesmo por um segundo sair de seu lado, mordi o lábio concluindo – Ainda bem que você está bem.
- Dizem que vazo ruim não quebra – ele soltou uma risada abafada após a piadinha para quebrar o clima, em seguida virou-se na minha direção fazendo com que o encarasse diretamente, a imagem de Peter completamente machucado pairava em minha mente como uma lembrança difícil de ser esquecida – Não se preocupe, eu não pretendo ver o tio Ben tão cedo, tenho outras… – ele pausou gaguejando – pessoas… Que me dão sentido de vida.
Ele levou sua mão até o meu rosto sorrindo, colocou uma mecha do meu cabelo curto para trás de minha orelha, sorri sem tirar meus olhos dos seus. Normalmente desviaríamos os olhares e evitaríamos qualquer atitude de afeto e carinho, mas não naquele momento, acho que ambos sequer importávamos se estávamos indo rápido demais, se as coisas se complicariam ou algo relativo. Aparentemente o fato de se estar em uma guerra, correndo perigo, após um de nós ficar preso em casa e o outro entre a vida e a morte fez com que percebêssemos que muita coisa não importava mais, pelo menos não a ponto de negarmos nossos desejos. E, naquele momento, o desejo era mútuo.
Não houve uma atitude inicial de ambos, ninguém deu o primeiro passo ou fez o primeiro movimento, ambos aproximamos nossos rostos sentindo as respirações ainda mais próximas. Como de praxe meu coração saltou em meu peito e pude ouvir o de Peter tendo a certeza de que nossos corações batiam na mesma velocidade, sorri olhando para seus lábios com nossos rostos próximos, pude ver os lábios de Peter se formarem no sorriso que tanto gostava, o que me fez sorrir ainda mais. A mão de Peter encostou em meu rosto e senti seu indicador na maçã de meu rosto enquanto seus dedos se esticavam por meu pescoço até o início de minha nuca, fechei os olhos me entregando por inteira para ele, talvez pela primeira vez, afinal, todas as outras vezes algo passava por minha cabeça e a sensação de que era algo errado permanecia durante o beijo, mas não daquela vez, não naquele beijo.
Peter, por ser mais alto que eu, inclinava seu corpo um pouco para frente, estiquei minha mão direita até a sua mão livre e pude sentir a textura do tecido de sua luva esquerda, ele segurou minha mão entrelaçando nossos dedos e apenas aproveitei o beijo mais apaixonado que tinha dado em toda minha vida. Peter conseguia fazer com que tudo ao meu redor fosse esquecido, todos os conflitos familiares, os conflitos com Jullie, a Guerra e todas as outras preocupações que rondavam minha mente vinte e quatro horas por dia. Só ele tinha aquele poder e, honestamente, era sua habilidade mais admirável.
Encostamos nossas testas sem soltar as mãos ou ele tirar sua mão direita de meu rosto, sorri o fitando nos olhos enquanto ambos recuperávamos o ar. Sorríamos um para o outro sem ter o que dizer, e, certamente, não precisávamos.
Escutei um barulho de algo bater, nada muito alto, mas eu incrivelmente conhecia aquela batida de porta por escutá-la todos os dias, afinal, sempre que escutava Jullie fechar a porta de sua casa começava a pegar minhas coisas para sair da minha e irmos para a aula. Olhei na direção de sua casa e Peter fez o mesmo sem soltar minha mão.
- Ela nunca vai nos perdoar, né? – perguntei observando Jullie com seus cabelos ruivos atravessar a rua.
- Ela vai sim, só dê tempo ela – ele sorriu coçando a nuca com a outra mão.
Permanecemos em silêncio, mas logo Peter prosseguiu:
- Eu não sei como agiria no lugar. Quero dizer, imagina te ver com o Flash Thompson, eu… – ele então fez uma breve pausa desviando o olhar rapidamente – É… Ignora o que eu falei – arqueei uma sobrancelha o fitando enquanto ele tornou a coçar a nuca visivelmente sem graça – Não a primeira parte, a última, você entendeu: você, Flash… Eu… É… Nada demais.
Gargalhei me dando conta do que ele estava falando – Não gostaria de te ver com… Sei lá, Liz Allen também. Ou até mesmo Jullie – senti meu rosto corar enquanto desviava o olhar observando Jullie sumir ao lado delas na esquina – e eu seria insana se gostasse do Flash, eu mesma me internaria no hospício.
- Qual seria o problema de me ver com a Julles?
Soltei nossas mãos cruzando os braços o fitando – Você tá mesmo me perguntando isso, Parker?
- Desculpa “Mooouraes” – ele enfatizou meu sobrenome com o sotaque americano – Não sabia que isso poderia te deixar com essa cara de…. Lunática?
- Você está muito engraçadinho hoje – virei-me de frente para ele sorrindo – qual seria o possível problema de me ver com o Flash, então?
- Você é legal, Flash não – ele respondeu de imediato me fitando – você não respondeu minha pergunta e eu sou sempre engraçadinho, você devia saber.
- É, eu sempre soube – sorri olhando para sua casa, mais uma vez – Olha, sua Tia May terminou a sopa – desconversei tentando evitar olhá-lo enquanto sinto meu rosto queimar, eu, provavelmente estava vermelha.
Não é que eu não gostasse dele com a Julles, quero dizer, eu não gostava. Não no momento. É só que era ruim pensar em Peter com outra garota, era horrível para mim. Se fosse há algum tempo atrás, bem pouco tempo até, tudo bem. Mas naquele momento me sentia tão próxima de Peter, de maneiras diversas, que tinha medo de perdê-lo.
- Sim – percebi-o virar-se em direção de sua casa – me machuca vê-la fazer isso – demorei a compreender, mas então notei que haviam três pratos na mesa de jantar, Peter reforçou com tristeza – colocar a mesa para três. É como se ela não soubesse ou não quisesse saber que o Tio Ben se foi, por minha culpa… – senti uma pontada em meu peito, aquilo era realmente triste e não sabia que era algo tão doloroso para ambos, mas como saber se Peter jamais tocava no assunto, por razões pessoais, ou não sei.
Escutei sua voz mais uma vez atraindo minha atenção – Obrigado Luna.
– Obrigado pelo quê? – perguntei sorrindo enquanto o fitava em seus olhos castanhos.
- Obrigado por tudo… – ele desviou o olhar novamente, não sorria, apenas olhava para sua tia sentada a mesa de jantar sozinha, olhei na mesma direção enquanto o escutava – Obrigado por me fazer esquecer um pouco meus problemas, por ser essa pessoa teimosa e incrível que você é. Por ter se preocupado comigo quando poderia ter me odiado quando escolhi o Stark.
Não consigo esconder o sorriso – De nada, Pete. Eu sempre vou me preocupar contigo – fiz uma breve pausa coçando a nuca, abaixei a mão após perceber que sua mania estava passando para mim – eu não sabia que ficaríamos tão próximos, algum dia. Claro que isso é demais, mas eu nunca imaginei estar aqui agora, com você. Eu conheço o Homem-Aranha e Os Vingadores, isso é legal pra caramba! – Rimos juntos enquanto eu me exaltava – Mas assustador também, e desde o princípio tive você comigo, o que, com toda certeza, fez muita diferença em minha vida. Então, se alguém tem que agradecer, esse alguém sou eu. Obrigada por sempre estar comigo.
- De nada. Conhecer Os Vingadores foi incrível né? Tipo, uau! – ele riu virando seu rosto para me fitar – eu tive um “xis um” com o Capitão!
- E você apanhou pra caramba! – zombei segurando a risada o fitando.
- Alguém me distraiu… A segurança dela era mais importante… – ele arqueou a sobrancelha defeituosa, mas imensamente charmosa, me fitando – E… Era o capitão! – Peter levantou os braços em forma de protesto enquanto se virava em minha direção – Você sabia que ele é do Brooklin? Ele deve gostar do Nets… Tô quase mudando de time.
Gargalhei o fitando – Não faço ideia do que você está falando, mas, se não fosse por mim, você seria esmagado por aquele contêiner – brinquei – E eu posso me virar sozinha, cabeça de teia – sussurrei de modo que ele não ouvisse – mas obrigada, sério.
- Mas olha, temos uma heroína aqui! Uma que batia no peito para falar que não era uma e, espera um pouquinho – ele ergueu as mãos olhando para seus dedos como se estivesse fazendo contas – essa “não-sou-uma-heroína-como-você-Parker!” me salvou quantas vezes? Ah, sim – ele sorriu mantendo quatro dedos levantados – quatro vezes!
Ri o fitando – Pare com isso.
- E ela até tem um traje, senhoras e senhores! – ele ergueu os braços em minha direção como se estivesse me mostrando para uma plateia inexistente.
Andei até ele começando a ficar sem graça, dei-lhe um tapa de leve no ombro e ri ainda mais de sua cara de protesto.
- Ela está me batendo, é uma heroína maluca! – ele falava alto olhando para os lados enquanto ria, passou seus braços em volta de minha cintura voltando a me fitar – e agora está presa!
Gargalhei fechando os olhos brevemente – Você não se cansa de ser engraçado?
Ele balançou a cabeça negativamente me fitando nos olhos com um pequeno sorriso nos olhos – Nem um pouco.
- Que bom – respondi olhando em seus olhos castanhos – não pare.
- De te beijar? Nem pretendo.
Sorri com sua resposta e mais uma vez aproximamos nossos rostos, mas antes mesmo que pudéssemos beijar um toque telefónico fez com que nossas atenções deixassem de ser o beijo. Olhávamos ao nosso redor procurando pelo toque e então Peter apontou para o meu pescoço, abaixei o olhar até minha roupa e não vi nada além de algo brilhando, Peter sorriu me soltando.
- Você é tipo um notebook da Apple.
- Que? – o fitei confusa tentando olhar para o que ele tanto olhava.
- Juro que não estou olhando para… – ele ergueu o olhar até meu rosto ficando sem graça e então compreendi do que se tratava – é que tem uma lua prateada piscando ai.
Passei as pontas dos dedos de minha mão direita acima de meus seios, mais precisamente entre a garganta e eles, senti algo em alto relevo e como se fosse um botão, pressionei os dedos e então a voz de Capitão se tornou sonora, ele chamava meu nome:
- Luna?
Olhei para Peter quem me fitou maravilhado com a tecnologia, ele colocou a máscara no instante em que respondi ao Capitão.
- Sim?
- Homem-Formiga e Pantera Negra estão de volta antes do esperado – ele falava – o plano se iniciará mais cedo, não temos tempo a perder. Preciso de você e Homem-Aranha aqui.
- Estamos a caminho, Cap – Peter recarregava seu lançador de teias – por aqui, tudo em ordem.
- Certo, Homem-Aranha. Vejo vocês em breve.
- Tchauzinho, Cap.
Peter bateu continência mesmo sabendo que Capitão não estava vendo-o.
- Pronta, lunática?
- Quando você vai parar com os apelidos? – perguntei me aproximando dele.
Ele passou seu braço esquerdo em volta de minha cintura novamente – Não sei. Até você escolher um codinome.
- É – balancei olhando para cima – conto com sua ajuda.
- Lulu? – ele perguntou lançando a teia no prédio a nossa frente.
Fiz uma careta – Certo. Vamos continuar pensando.
Peter apenas riu e lançou a teia no prédio mais próximo, meu cabelo, como de costume, voava para trás por causa do vento e eu apenas sorria aproveitando as sensações daquele momento que sempre parecia como a primeira vez. Escutava a respiração de Peter abafada por causa da máscara e então levantei meu rosto de modo que o fitasse, pude vê-lo virar seu rosto em minha direção e eu não precisava de ver seus lábios para saber que ele sorria.
- O que foi? – ele perguntou soltando uma risada abafada – você está atrapalhando minha concentração aqui, se formos... Essa não!
Escutei uma explosão segundos antes de perceber que não estávamos mais no alto, Peter não lançava mais sua teia no alto do prédio e nem mesmo me segurava firme em seu braço, eu estava caída ao que achava ser um chão, mas na verdade me esforçava para levantar da cobertura de um prédio, do mesmo tipo em que estávamos antes de sermos chamados por Capitão. Com os braços trêmulos tentava me erguer sentindo uma pontada em minha barriga, provavelmente tinha me machucado com o tombo, mas, na verdade, tudo o que me importava era com Peter.
Meus olhos encontraram a silhueta de Peter se levantando na outra ponta do prédio, ele estava encostado no parapeito e, pelo visto, se não houvesse um por ali ele teria vazado e caído, mas se ergueria com sua teia. Me levantei tomando impulso para frente pronta para ir até ele, mas senti algo puxar-me para trás através dos cabelos, senti uma pontada de dor incômoda em minha nuca, já que, quem quer que fosse, me puxava com força a ponto de, de jeito maneira, me deixar alcançar Peter.
- Onde pensa que vai, garota brilhante?
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iacervo-meu-blog · 8 years ago
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XIX: “Aluada”.
- Isso é incrível.
Olhei para Peter quem esticava o uniforme, novo em folha, maravilhado com quem tinha feito aquele milagre.
- Como… – ele gaguejava – como fizeram isso?
- Não é só o Stark quem faz coisas incríveis – Barbara sorriu encostada na maca.
- Definitivamente não! – Peter virou-se para ela sorrindo – Obrigado.
- De nada – ela sorriu o fitando e logo em seguida me lançou um olhar – e então?
Sorri a fitando. Bem, não tinha como dizer que estava insatisfeita, afinal, fizeram um uniforme específico para mim e era incrível, se tratava de um traje branco com detalhes prateados o que mostrava minha essência como A Filha da Lua. Olhei para Peter quem sorria me fitando, ele e a doutora me olhavam esperando uma resposta positiva e eu, definitivamente, tinha uma:
- Eu amei pra cara…
- Ok, entendi – ela riu se desencostando da cama – Se vistam logo que estaremos esperando na sala do lado.
- Certo – Peter assentiu.
- Separados – ela apontou para ambos com um sorriso estranho nos lábios – ali atrás tem um cômodo vazio, por favor, se vistam separados.
Ri sem graça sentindo meu rosto queimar. O que ela achava que éramos? Jesus. Nem tinha pensado em tal hipótese e pelo que conhecia do Peter nem ele. Eu acho. A médica abriu a porta de metal passando pela mesma e indo de encontro aos demais na sala ao lado, olhei para Peter quem sorriu ainda com seu uniforme em mãos, estava realmente incrível.
- Caramba, ficou ótimo – ele me fitava segurando seu uniforme como se fosse seu maior tesouro – como ela conseguiu?
Balancei o ombro rindo – Ficou realmente bom.
- E o seu – ele apontou para o uniforme em cima da maca – ficou incrível também. Mal posso esperar pra te ver nele.
Antes que eu pudesse falar algo, Peter logo se explicou:
- Não de um jeito pervertido, não, jamais. Eu jamais te imaginaria assim, sério, me desculpa se pareceu, realmente não foi com essa intenção, nem sei se você pensou isso e se não pensou só faça de conta que…
- Peter…
Ele me ignorou ainda se explicando – Tudo bem que você realmente vai ficar incrível no uniforme, mas do jeito que eu falei pareceu que eu estava sendo completamente e totalmente…
- Peter! – aumentei o tom de voz fazendo com que ele se calasse – alguém já falou que você fala demais?
- Muita gente – ele balançou a cabeça positivamente – sim.
Apenas ri o fitando, ele me olhava nos olhos com um sorriso alegre em seus lábios, desviei o olhar incomodada com o silêncio ao nosso redor, peguei minha roupa em cima da cama enquanto observava os detalhes na mesma com um pequeno sorriso nos lábios, o traje parecia ser justo, não tanto quanto o de Peter, era completamente branco com detalhes prateados na gola, nas mangas curtas e na cintura. Peter logo entendeu que eu queria ir primeiro, sorriu sentando-se na cama enquanto esperava sua vez, acho que o compreendia agora com toda aquela animação sobre o uniforme, era algo realmente bom, por mais que fosse apenas uma roupa, era engraçado a sensação que tal ato causava dentro de mim.
- Ei! – Peter segurou minha mão com a tala, tinha percebido só naquele momento – o que aconteceu?
- Um soco – ri sem graça com a resposta.
- Um soco? – ele perguntou rindo enquanto arqueava as sobrancelhas.
- Sim – ri parada na sua frente – foi na hora da raiva.
- Como isso aconteceu? – ele olhava para minha mão esperando que eu contasse a história.
- Te conto mais tarde – sorri enquanto olhava em seus olhos castanhos – algo me diz que teremos muito tempo juntos, parceiro.
Ele sorriu balançando a cabeça enquanto soltava minha mão – Sim, parceira.
Apenas sorri lhe fitando por alguns segundos antes de caminhar até o outro cômodo, como era bom tê-lo ali. Sorri comigo mesma enquanto entrava no cômodo escuro, procurei pelo botão da luz e a mesma acendeu iluminando todo o local rapidamente, encostei minhas costas na porta enquanto analisava o uniforme mais uma vez, praticamente me sentia mais incluída no grupo e, enquanto desencostava da porta, ria de mim mesma me sentindo patética por pensar que um traje me deixava mais incluída no grupo de Capitão América.
Retirei as peças de roupa que usava ficando apenas de roupa íntima, colocava a roupa nova, que era apenas uma, ou seja, como se fosse um macacão com mangas e gola alta. Não foi uma das coisas mais fáceis e me dei conta que o traje era mais justo do que imaginei quando me fitei no reflexo de um vidro quebrado, que estava apoiado no chão levemente sujo. Me sentia incrivelmente maravilhosa e, em uma crise de satisfação repentina, comecei a rir me olhando pelo reflexo. Virava em todos os ângulos observando cada pedaço de mim antes mesmo de fechar o zíper nas costas.
Caramba, eu era considerada uma heroína. Aquilo era tão louco e, ao mesmo tempo, tão satisfatório, parecia loucura como tudo tinha mudado e em como me sentia no lugar certo, sempre tive tal sensação desde o exato instante em que decidi procurar Capitão, mas naquele momento com aquela roupa e sabendo que Peter estava na sala ao lado, era como se uma paz tivesse tomado conta de mim e o sorriso largo não conseguisse mais sair de meus lábios. Sorrir tão feliz em um momento tenso como aqueles porque estava satisfeita parecia algo muito egoísta, o mundo estava se encaminhando para se tornar um caos completo onde heróis fugiam e se escondiam, outros eram presos e mantidos na prisão sem direito a um julgamento ou coisa parecida, outros tomavam uma surra por não obedecerem às ordens e tentarem fugir. O sorriso sumiu de meu rosto enquanto me fitava no vidro, como eu conseguia sorrir?
Tentei fechar o zíper enquanto pensava no que Stark tinha feito a Peter e em como ele parecia bem em relação a isso, estava com medo dele não estar bem realmente e não ter dito nada por não ter conseguido, afinal, Tony Stark foi a figura mais próxima de um pai que ele teve, nesses dias loucos, desde a morte de seu Tio Ben, que era algo que eu não sabia muito, mas com certeza sabia o sentimento de não se ter um pai.
- Merda! – resmunguei abaixando as mãos desistindo de subir o zíper sozinha.
Caminhei na direção da porta abrindo-a logo em seguida, chamei por Peter, mas travei no instante em que compreendi a cena que estava vendo. Quis me esconder, de imediato, mas foi tarde demais porque um Peter Parker seminu, com seu uniforme até a cintura, me fitava com cara de assustado e o cabelo bagunçado.
- Eu não… Merda!
Ele pegou a roupa em cima da cama colocando-a na frente de seu peitoral, certo, Peter Parker tinha um peitoral bem definido que eu jamais imaginaria pertencê-lo, não que eu ficasse imaginando como era seu corpo. Droga, estava complicando a mim mesma em meus próprios pensamentos.
- Eu não… Eu não sabia que você ia sair… Você foi rápida – ele se explicava desengonçado com a camisola na frente do corpo.
- Tudo bem… – eu desviava o olhar sem graça – eu só vim pedir ajuda no zíper, mas eu não sabia… Desculpa, Pete.
- Tá tudo bem – ele respondeu chamando minha atenção novamente enquanto se debatia colocando a camisola novamente. Desengonçado, Peter tentava colocar a camisola completamente nervoso, eu podia ver isso, desviei o olhar, mais uma vez, enquanto esperava ele se ajeitar o suficiente para me ajudar, mas eu queria rir daquela situação. Tornei a fitá-lo enquanto ele se mantinha enrolado com a camisola e foi quando caminhei em sua direção rindo abafada. Toquei sua barriga de modo que ele se sobressaltasse perguntando o que estava acontecendo, gargalhei e ele compreendeu que eu estava ali para ajudá-lo, Peter então parou de se debater e desembolei a camisola me perguntando como ele tinha conseguido colocá-la de um modo tão errado.
Puxei-a para cima retirando-a mais uma vez, Peter colocou as mãos na frente do corpo e eu evitei olhar para seu corpo, por mais que eu quisesse. O que eu estava pensando? Lancei um breve olhar para Peter quem me fitava como uma criança esperando a mãe lhe dizer o que fazer, sorri nervosa desembolando a camisola. Aquilo estava sendo imensamente constrangedor de um modo que não fazia sentido, por que ele estava tão envergonhado de seu corpo e porque eu desviava tanto o olhar como se fosse algo errado? Quero dizer, éramos amigos, certo? Mais do que amigos? A camisola caiu de minha mão e logo abaixei para pegá-la afastando os pensamentos. Porém, Peter fez o mesmo e com o toque de nossas mãos ficamos sem graça um com o outro.
Ele riu se levantando com a camisola em mãos enquanto vestia-a rapidamente, aproximei-me dele o ajudando e nos fitamos quando ele se encontrava já vestido, sorri sem graça e ele coçou a nuca, mas ambos sem desviamos o olhar.
- O zíper – falei atraindo seu olhar para meus lábios.
- Sim, o zíper – ele balançou a cabeça positivamente fechando os olhos brevemente – o zíper. Claro… O zíper.
Ri me virando de costas para ele enquanto segurava meu cabelo curto, Peter demorou alguns segundos para me tocar, mas logo segurou o zíper o subindo completamente por minhas costas, o zíper era extenso e ia de minha nuca até minha cintura. Peter o fechou por completo dizendo que estava tudo certo, agradeci me virando para ele quem sorriu me elogiando:
- Você está incrível.
Sorri mais ainda com o elogio – Você também.
Ele abriu os braços se mostrando – Claro que estou, como um cara como eu não ficaria bom com uma roupa de hospital tão chique como essa?
Gargalhei andando de costas para o cômodo que tinha acabado de sair – Verdade, como não? – rimos juntos – vou te esperar trocar de roupa aqui dentro.
- Ok – ele sorria balançando as mãos – não demoro.
Fechei a porta do cômodo esperando que Peter se trocasse para que eu saísse e pudéssemos, juntos, ir até Capitão e os demais. Olhei para meus pés descalços e logo pensei em que calçado colocaria, mas logo vi que um par de botas brancas, de cano longo, estavam encostados no canto. Ou esqueceram de me dar as botas ou elas foram colocadas ali propositalmente, por alguém que já sabia que me trocaria ali dentro. Calcei as botas e escutei a voz de Peter perto da porta enquanto fechava o zíper do pé direito, avisei que já ia e então me fitei no vidro com o traje completo e devidamente fechado, ele tinha ficado perfeito em meu corpo e me recusava a acreditar que era eu mesma ali, em frente aquele vidro, como uma heroína.
Sai do cômodo o fitando, ele estava parado perto da cama ajeitando seu lançador de teias e apenas ergueu o olhar quando me viu, ver Peter surpreso não era a coisa mais comum do mundo já que ele sempre tagarelava algo ou fazia alguma de suas piadas, mas não posso negar que vê-lo surpreso só não era melhor do que vê-lo tímido.
- Acho que já falei que você está ótima, certo?
- Acho que falou incrível – brinquei segurando a risada.
- Incrível, sim – ele balançou a cabeça positivamente – incrível.
Ri andando até ele – Não parece comigo.
- Assim que me senti quando pus o traje pela primeira vez – ele abriu os braços se mostrando – daqui a pouco você se acostuma.
Apenas sorri – Vamos?
- Claro, claro – ele deu alguns pulinhos balançando as mãos e estalando os braços em seguida, como se fosse um lutador – pronto para minha primeira reunião com Capitão e o time.
- Nossa primeira reunião – sorri o fitando.
- Você nunca…?
Balancei a cabeça negativamente – Conheci Capitão no Aeroporto na Alemanha, o Stark estava chegando com seu time e o máximo que fizemos foi conversar.
- Eu não sabia disso – Peter colocou a máscara e escutei sua voz abafada – caramba, estou nervoso.
Segurei suas mãos enquanto ele abaixava a máscara e então o beijei, foi um beijo simples e breve, apenas selei nossos lábios na tentativa de acalmá-lo ou pelo menos ajudar em algo. Logo soltei suas mãos e o vi abaixar as suas deixando a máscara pela metade, enrolada na região nasal.
- Ok – ele gaguejava – agora estou… Caramba… Estou mais… É, mais calmo.
Ri abaixando sua máscara – Vamos, Parker.
Saímos pela porta central e logo nos encontramos de frente para a mesa de reuniões, Capitão estava sentado conversando com Luke Cage e Falcão, Sue e Johnny Storm estavam sentados à mesa apenas observando, me perguntei, pela primeira vez desde que os tinha visto onde estava o restante do Quarteto Fantástico. Jessica Jones estava em uma conversa com Natasha, Clint e Wanda e sorri ao vê-los, estava contente que Wanda estivesse bem.
As atenções se voltaram para Peter e eu, e tudo o que fiz foi sorrir, Peter disse um olá para todos levantando a mão direita em um aceno simpático. Capitão ficou de pé andando até nós e ergueu a mão na direção de Peter apertando-a, logo em seguida fez o mesmo para mim com um sorriso simpático desejando que fôssemos bem-vindos. Ele nos direcionou até duas cadeiras vagas, sentei entre Peter e Luke Cage e o grandão ajeitou-se na cadeira ao lado de Jessica Jones quem olhava para frente completamente séria, com cara de poucos amigos, literalmente. Capitão sentou-se na ponta da mesa e logo perguntou à Peter como ele estava se sentindo, Peter respondeu que estava melhor apesar da fumaça de Halloween tê-lo afetado tão fortemente.
- Fico feliz em saber disso, Homem-Aranha – Capitão ficou de pé e uma tela 3D surgiu em cima da mesa, observei o desenho que parecia ser de uma planta, era um desenho bem detalhado e não me parecia, de tudo, estranho. Me ajeitei na cadeira enquanto ele prosseguia – Certo, vamos direto ao assunto: o Justiceiro conseguiu todos os dados sobre a prisão e a estrutura pode ser vista nesse esquema de três dimensões. Estive lá soltando alguns de vocês e sei como funciona, mas agora creio que a segurança esteja muito mais eficaz.
Olhava para o tal esquema em 3D compreendendo que o local em que ficaram presos era ainda maior do que imaginava, parecia uma grande fortaleza com diversas celas e corredores.
- Aparentemente – Capitão prosseguiu – era uma prisão para supervilões de alto risco, mas como vocês sabem super-heróis rebeldes também estão sendo mantidos lá.
Começava a compreender do que se tratava, primeiro comecei a me perguntar porque iríamos dentro do local em que Stark desejava que estivéssemos, mas agora tudo fazia muito mais do que sentido. Iríamos para a prisão de modo que libertássemos os heróis presos ali, injustamente, assim como Wanda, Clint, Scott e Sam estiveram, eu apenas não sabia de quantos se tratavam, mas confesso que achava uma excelente ideia liberta-los, afinal, sabia como era ficar presa e números são importantes em Guerras. Infelizmente.
- Um de nós, o Demolidor, foi pego recentemente pelas ruas de Hell’s Kitchen. Homem-Formiga e Pantera Negra estão em uma missão, no momento, e assim que voltarem, o que estimo ser pela manhã, partiremos para o nosso plano que será, absolutamente, nossa última oportunidade.
Silêncio total, Capitão esperava para ver se alguém o contrariaria ou então discordaria de algo, mas ninguém o fez. Creio que estávamos ali com o mesmo propósito e soltar os demais que, injustamente, estavam presos. Aquilo era algo da vontade de todos. A imagem então sumiu de cima da mesa branca de mármore, Capitão apoiou sua mão boa na mesma e olhou na direção de Peter se dirigindo, mais uma vez, diretamente a ele:
- Homem-Aranha sabemos que você não está na sua melhor condição neste momento, então ninguém irá julgá-lo se você preferir ficar aqui.
Os rostos se viraram para Peter na espera de uma resposta, o fitei podendo perceber o reflexo dos demais em suas lentes de Homem-Aranha. Ele respondeu de imediato:
- De jeito nenhum, Cap. Preciso fazer algo pra compensar todas as atitudes ruins que tomei recentemente – ele fez uma breve pausa levantando sua mão direita de modo que começasse a gesticular – além disso, números são o que são e acho que vocês vão precisar de todos os pares de mãos extras possíveis.
- Certo – Capitão sentou-se em sua cadeira de frente para todos atraindo nossas atenções – alguém tem algo a dizer?
Alguns se entreolharam na mesa, virei-me na direção de Peter e percebi que ele estava com a mão esquerda levantada como se fosse uma criança querendo tirar uma dúvida com o professor. Capitão apontou na sua direção apenas esperando que ele dissesse o que queria. Ele logo prosseguiu:
- Tony Stark conhece e sabe onde minha família vive, e não que eu esteja querendo dizer que ele fará algo contra as pessoas que me importo, mas… Bem, ele fez contra mim, então creio que tenho todo o direito de duvidar. Gostaria de ir até minha casa, não para entrar lá ou contatar minha tia, apenas me certificar de que está tudo bem.
- Certo – Capitão pareceu pensar por alguns segundos – vá. Mas precisamos de você pela manhã.
Peter ficou de pé assentindo - Sim, senhor.
Senti meu coração acelerar, mais uma vez ficaríamos distantes e teria que me preocupar com ele balançando por ai, mas seria algo constante não? Apenas esperava que quando tudo aquilo terminasse as preocupações diminuíssem, pelo menos um pouco, afinal estávamos em uma Guerra e com Peter sendo considerado um traidor por Stark tudo parecia muito pior.
- Capitão – o chamei atraindo seu olhar e de todos à mesa – eu gostaria de ir com ele. Caso não seja problema.
Capitão permaneceu em silêncio apenas me fitando, escutei a voz de Peter atrás de mim – Não precisa. Certifico que seu pai está bem também. É perigoso lá fora.
Apenas o encarei sem ter o que dizer, sim, claro, era perigoso lá fora e por isso mesmo gostaria de acompanhá-lo, sei que não atrapalharia em nada e que estava sendo teimosa, mas também gostaria de saber se meu pai estava em casa, se estava bem ou se simplesmente tinha saído do país como disse que faria.
- Bem, não precisaríamos de você aqui para nada – Capitão deu de ombros ao lado de Falcão – mas creio que seja algo positivo ter alguém para acompanhá-lo, Homem-Aranha, já que não está cem por cento livre do gás de Halloween.
- Não, Cap, eu tô bem… Mesmo, não pretendo demorar – ele se virou para mim quando ergui o olhar até ele ainda sentada na cadeira – não é que eu não queira que você vá é só…
O interrompi ficando de pé – É só que não cabe a você decidir.
- Toma essa! – Johnny Storm falou com excitação na voz, virei-me para fitá-lo e apenas vi Sue, sua irmã, cutucá-lo com o cotovelo, ele reclamou sussurrando um “ai” para a irmã e tornou a me fitar – desculpa.
Dei um fraco sorriso achando aquilo engraçado, agradeci à Capitão passando por Peter enquanto o perguntava – Pronto, cabeça de teia? - Sim, claro – ele me acompanhou – vamos nessa.
Lancei um sorriso parada a porta de entrada enquanto esperava Peter – Acho que vou precisar de uma carona.
Escutei uma breve risada e Peter segurou minha mão o que fez com que eu me perdesse por alguns segundos – Vamos nessa, aluada.
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iacervo-meu-blog · 8 years ago
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XVIII: Resistir.
O barulho do aparelho bipava em compassos lentos e normais, a médica, conhecida como Barbara, tranquilizou a mim e aos demais dizendo que não havia necessidade de colocá-lo em tal aparelho, mas que o faria apenas por precaução e para poder pegar os batimentos cardíacos dele.
Peter.
Quem agora, desde o momento em que chegou sendo carregado nos braços por um homem enorme com uma blusa de caveira e armas nos coldres, estava desacordado com ferimentos por todo o corpo, provavelmente ficaria roxo e machucado por alguns dias, mas ele arrumaria alguma desculpa para sua Tia May, como sempre conseguira fazer. Peter agora se encontrava deitado na maca espaçosa, com uma roupa hospitalar: uma camisola grande e larga de algodão com bolinhas azuis pintadas na mesma. Seu uniforme tinha sido estraçalhado por Halloween e Polichinelo – outros que não conhecia e que faziam parte daquilo tudo – juntamente com seu corpo, e eu nunca tinha visto-o daquela maneira. Ok que não o conhecia há muito tempo e sabia que ele era o Homem-Aranha há menos tempo ainda, mas aquela parecia ser a maior surra que ele tinha levado até então, afinal, ele estava desacordado na sala improvisada da enfermaria do QG de Capitão. Seu uniforme havia sido levado para outro lugar onde a médica disse poder dar um jeito nos furos, rasgos e buracos enquanto o despia e eu permanecia na sala de costas para tudo aquilo.
Me recusei a sair de perto. Como um cão que senta e espera seu dono voltar do trabalho todas as noites – a la filmes que fazem a gente chorar desgovernados –, permaneci sentada na enfermaria o tempo todo desde que ele havia sido colocado na maca e imediatamente atendido. Foi a primeira vez que vi o pavor no rosto de Capitão enquanto ele gritava Barbara para socorrer Peter, a mulher loira de cabelos longos veio correndo com seu jaleco branco balançando e, assustada, conseguiu tomar controle da situação pedindo que o Justiceiro levasse Peter até a maca onde lá foi deixado pelo brutamontes.
Justiceiro, outro cara que não conhecia e nem tinha ouvido falar sobre, mas aparentemente era a única dentre todos. A exaltação de Falcão ao vê-lo sem acreditar de quem se tratava e a pergunta de Luke Cage se ele permaneceria ou não por ali me fez ter a breve sensação de que ele não era muito idolatrado entre os heróis. Mas ele não era meu foco, até poderia perguntar do que se tratava toda aquela surpresa e desconfiança com relação a ele, mas, honestamente, tudo o que eu queria era ver Peter acordado e bem logo para que depois pudesse pensar em outras coisas.
Minha atenção virou-se diretamente para a porta assim que a mesma se abriu, a médica entrava com uma caixa branca em mãos enquanto sorria me fitando. Ela parecia estar com pena de mim e eu me perguntava o porquê, mas não necessariamente gostaria de saber, pelo menos não naquele momento. Ela então parou ao lado da cama de Peter e próxima a cadeira confortável em que eu estava sentada, a fitei sem entender o que ela queria já que me fitava com a caixa em mãos como se estivesse esperando alguma ação de minha parte. Visto que eu me mantinha com as sobrancelhas erguidas sem falar nada, ela, gentilmente, pediu:
- A mão.
- O que? – perguntei confusa.
- Natasha disse que você quebrou a mão.
Então abaixei o olhar para minhas mãos. Uma delas estava inchada e foi quando me recordei que tinha machucado terrivelmente ao desferir um soco em um dos agentes da S.H.I.E.L.D. antes de entrarmos no QG do Capitão. Olhei para a mão direita de modo que observasse o quão inchado estava no canto direito, apenas ali, era como se tivesse um ovo de codorna por dentro da minha pele e foi quando me lembrei de como estava doendo.
A fitei dando um fraco sorriso esticando a mão para ela esperando pelo curativo, assim como quando uma criança espera pela mãe passar remédio após um arranhão. Ela sorriu amistosa e puxou outra cadeira de plástico em minha direção sentando-se na minha frente, olhei para Peter quem ainda estava inconsciente e tornei a olhar para a médica quem colocava suas luvas azuis claras descartáveis.
- Ele ficará bem – ela disse chamando minha atenção – ele se recupera muito mais rápido que uma pessoa normal e apesar de ter chegado completamente machucado, os hematomas já não aparecem tanto mais.
Fiz uma careta quando ela segurou minha mão apertando, levemente, o hematoma. Ela me fitou ao perceber minha respiração mudar e então perguntou se estava tudo bem. Balancei a cabeça positivamente, mentindo, porque só de encostar na mão ela doía.
- Como eu suspeitava você sofreu uma Fratura do Colo do Quinto Metacarpo, ou seja, uma fratura do boxer. Não é nada prejudicial, quero dizer – ela soltou uma fraca risada enquanto analisava minha mão – vamos fazer um raio x pra verificar, mas não creio que precise de cirurgia. Vou buscar a máquina.
Assenti em silêncio enquanto ela se afastava, mais uma vez olhei para Peter na esperança de que ele acordasse. Mas ele ainda estava inconsciente e parecia estar tão tranquilo, não era possível que ele tinha tomado toda uma surra com aquela cara. Ele parecia tão tranquilo e pacífico, o Peter amigável e tímido que eu conhecia. E, caramba, mais uma vez lá estava eu com medo de perdê-lo, por puro drama, talvez, já que a médica havia dito que ele estava bem e se recuperando rápido.
- Não se atreva a não acordar, Parker – sussurrei em um tom de voz audível.
A porta se abriu novamente, a médica voltava com algo em mãos que logo me explicou dizendo ser a máquina de Raio X, fitei a pequena caixa que mais parecia uma câmera e me surpreendi quando ela apertou um botão e um clique fora ativado, exatamente como uma câmera. Mantive minha mão inchada e esticada em cima de minha perna enquanto a observava ir até uma pequena mesa branca e azul em frente à cama de Peter retirando algo de dentro da suposta câmera que, na verdade, era uma máquina ultra moderna de raio x. Ainda a observando, olhava ela retirar o resultado do meu raio x ali na hora, ela puxava o papel escuro com meus ossos e o observava em silêncio e atenciosamente, se virou para mim com um sorriso dizendo que estava tudo bem:
- Você não vai precisar operar, como suspeitei – ela soltou uma risada breve e abafada – o que é ótimo porque eu não sei onde te operaríamos e com que material.
Sorri a fitando – Obrigada.
- Por nada – ela respondeu sorridente abrindo uma gaveta larga – vamos apenas colocar uma tala na sua mão porque deixa-la exposta assim não é muito bom, querendo ou não temos que voltar esse ovo pro lugar.
Assenti mais uma vez em silêncio, ela estava sendo atenciosa e simpática e era admirável que ela conseguisse manter a calma e tranquilidade com tudo aquilo que estava acontecendo. Mas também não era para se apavorar e perder o controle, eu estava um tanto quanto “desequilibrada” porque minha preocupação com Peter estava sendo maior do que minha preocupação com a Guerra ou de sermos pegos a qualquer momento.
Talvez a calmaria dela fosse o que as pessoas ali precisassem e eu estava, de certo modo, me mantendo distraída com ela pegando algumas coisas na gaveta, as coisas para enfaixar minha mão que eu observava se me atrapalhariam ou não, mas não importava, eu tinha que usar então era isso que o faria para melhorar logo. Não tinha lembrado do machucado, mas agora que estava sob cuidado sentia a dor incomoda e o latejar do mesmo.
A médica sentou-se na minha frente, na mesma cadeira de antes, colocando gaze, álcool e alguns outros materiais em cima da cama de Peter, pois não havia nada além da cama para ela apoiar as coisas. Ela limpou a pele com alguns produtos e o auxílio da gaze e então começou a enfaixar, bem apertado, minha mão o que fez com que eu fizesse algumas caretas em alguns momentos. Certo momento, enquanto ela apertava em uma das últimas voltas, ela puxou assunto e eu sabia que era no intuito de me distrair:
- Acho que sabe que eu sou a Barbara, e sei um pouquinho sobre você quando Capitão me contou que Natasha estava te trazendo.
- Achou que ele era louco por envolver uma menina de quinze anos nisso?
Ela riu com a cabeça abaixada enfaixando minha mão – Um pouco, sim. Mas não sou eu quem arrisco minha vida, então – ela me olhou brevemente – a decisão é de Capitão.
- Mas você não concorda.
- A partir do momento em que aceitei apoiá-lo, concordo com tudo o que ele diz. Ele sabe o que é bom para nós – mais uma vez, ela me olhou, aparentemente procurando a fita para colar um pedaço no outro – Stark está errado e agora... Bem, agora após esse garoto...
Ela fez uma pausa, a fitei percebendo que ela não queria falar do ocorrido com Peter por mais que ele estivesse ali, na minha frente, completamente esfolado. Em contrapartida ela puxou outro assunto:
- Você o conhece, certo?
Olhei para Peter enquanto ela pegava a tala para colocar em minha mão – Sim.
- Vocês são amigos?
- Melhores amigos – desviei o olhar sentindo uma pontada quando a tala reta fora colocada em minha mão de modo que cobrisse de meu dedo mindinho até o pulso.
- E como melhores amigos ficam em lados opostos?
- Bem – soltei uma fraca risada – quando tem ideias opostas, eu acho. Isso é o mais óbvio, não?
Ela riu assentindo – Claro.
- É só... Sei que ninguém devia julgar ninguém. Quero dizer... Tony está fazendo coisas que ele acredita ser o certo e que, de certo modo, não é tão errado – a fitei enquanto ela finalizava o fechamento a tala – não me entenda errado, jamais iria para o lado dele, estou certa do que acredito.
- Entendo o que quer dizer. Estamos no meio de uma batalha louca e não há lado certo ou lado errado, estou ciente disso – ela então encostou as costas na cadeira e sorriu – mas creio que o essencial é o que realmente acreditamos. E porque acreditamos em algo em comum, nos encontramos no mesmo lado.
Forcei um sorriso a fitando – Não poderia concordar mais.
Ela, então, ficou de pé arrastando a cadeira para onde tinha pego-a, sorriu de volta e guardou o restante de coisas na gaveta dizendo que estava tudo certo, explicou que eu tinha que manter minha mão em repouso o máximo de tempo em que conseguisse e que, apesar de saber que estava no meio de uma Guerra entre super-heróis, eu não podia desferir nenhum golpe com a mão recém-machucada. Olhei para minha mão, agora envolta em uma tala branca da metade para o lado, e apenas respirei fundo. De fato, aquilo não seria problema, afinal, eu sempre preferi utilizar meus poderes de longe porque, mesmo treinando com Peter, nunca fui sequer boa em artes marciais, só sabia o básico para o caso de precisar me defender se fosse pega por alguém. Mas nunca foi meu estilo de luta, mão a mão, golpes bruscos e pesados, como Natasha arrasa ao fazer.
Barbara apontou para a porta ao lado dizendo que voltaria a seus estudos enquanto Peter não acordava, mas pediu para que a comunicasse quando ele abrisse os olhos, pois ela tinha que analisá-lo ao acordar. Assenti em silêncio me perguntando o que ela estudaria na pequena sala ao lado da enfermaria improvisada, mas me dei conta de que, na verdade, não me importava, apenas a observei entrar na sala e puxar a porta metálica me deixando sozinha com Peter, mais uma vez.
O fitei, novamente, com os esparadrapos no rosto inchado, seus olhos estavam fechados e o supercílio do olho direito estava machucado com o sangue já seco em volta, a médica tinha conseguido estancar o sangue, mas como era uma área muito sensível ele voltou a coagular-se, seus lábios estavam cortados, tanto o de cima quanto o debaixo, em cortes um pouco fundos e que, com certeza, ficariam marcados por um tempinho, sua maçã do rosto esquerda tinha um corte ainda maior, tanto de espessura quanto de largura, precisou de cerca de cinco pontos antes de tampá-lo, também, com o esparadrapo. Seus braços estavam machucados, suas mãos, que ainda mantinham o lançador de teias preto, e parte de seu pescoço, ele tinha tomado uma surra realmente enorme. E vê-lo daquela maneira, todo machucado, me machucava também. Mas aquele era um péssimo momento para ficar de drama.
Fiquei de pé sentindo minhas costas e minha bunda doerem por permanecer tanto tempo sentada, estava ali desde que ele chegou, há algumas horas. Esticando-me como um animal qualquer caminhei em direção à uma prateleira ali presente, dentro dela haviam algumas fotos de agentes, algumas medalhas e certificados, tudo exposto como se fossem prêmios e, provavelmente, eram. Em todas as fotos havia um homem com um tapa-olho em um dos olhos, em nenhuma das fotos ele sorria e estava sempre com as mãos para baixo.
- Aposto que é um sujeito muito carismático – ironizei sussurrando para mim mesma.
Mudei meu olhar de direção para a porta metálica e pesada que se abria automaticamente ao meu lado, era a porta pelo qual Peter havia entrado às pressas e que mantinha a enorme mesa da sala de reunião do outro lado. Capitão América, com sua máscara, sua roupa patriota e o braço suspenso por um pano, entrava na enfermaria improvisada que, aparentemente, era a sala de alguém no passado.
- Olá Luna – ele me cumprimentou sério andando em direção a maca de Peter – como ele está?
Virei-me em sua direção me mantendo parada perto da estante – A médica diz que ele está estável e se recuperando rápido.
- Aparentemente o fator de cura dele é avançado.
- É – sussurrei cruzando os braços enquanto sentia um pouco de frio – cara sortudo.
Capitão então se manteve em silêncio enquanto observava um desmascarado Homem-Aranha. Para a médica cuidar de seus ferimentos ela teve que despir Peter e vesti-lo com roupas de hospital e isso incluía retirar sua máscara para fazer curativos. Aparentemente Capitão não o conhecia, pois olhava para cada parte de Peter com seus olhos azuis como se estivesse tentando decifrar um enigma.
- Vocês são amigos?
- Sim – respondi balançando a cabeça positivamente enquanto o fitava observar Peter – estudamos juntos e somos vizinhos.
- Queens – Capitão virou-se até mim com um pequeno sorriso.
- Isso – confirmei forçando um breve sorriso – eu não acredito que Stark fez isso.
- Não diretamente. Dois vilões fizeram isso, e estão com total apoio e suporte do Governo e do Stark – Capitão andou em minha direção – as coisas estão se intensificando.
- Então agora os vilões estão do lado da lei?
- Me parece que há uma espécie de redenção para aqueles que optarem por assinar o Tratado.
- Você só pode estar zoando comigo – resmunguei descruzando os braços completamente incrédula.
- Gostaria de estar – ele parou na minha frente completamente sério – aparentemente Homem-Aranha foi encurralado por Halloween e Polichinelo. Dois bandidos que estão no programa de restauração do Governo.
- Como eles podem pensar que isso é uma boa ideia? – perguntei furiosa e surpresa – sério, como…?
- Eu sei, eu sei – Capitão me interrompeu – é loucura e, de maneira alguma, representa quem somos. Mas, infelizmente, este não é o nosso maior problema.
- Há algo errado?
- Não ainda – ele respondeu – Stark agora estará atrás do garoto o tempo todo. Ele viveu com Tony, conhece seus planos, suas táticas, seus movimentos. Por mais que Tony modifique tudo e seja precavido ele ainda assim não desistirá dele, porque ele o traiu. Não interessa se ele lutará conosco ou não, Stark irá atrás dele.
- A troco de que? – perguntei lançando um breve olhar para Peter – vingança? Justiça?
- Pelo que ele julgar necessário – Capitão respondeu – Homem-Aranha agora é, oficialmente, um fugitivo da lei, assim como nós, mas por razões pessoais Stark o caçará para prendê-lo com mais força do que ele nos caça.
- Droga – sussurrei preocupada – droga!
- Vim para aconselhar o garoto, caso ele quisesse ouvir meu conselho, mas ele ainda está inconsciente – ele fez uma breve pausa olhando para Peter e em seguida me fitou – Vocês dois cuidavam do Queens a noite, certo?
- Bem… Eu meio que o acompanhava. Nada demais. Ele quem sempre fez tudo, desde prender os bandidos a ajudar os velhinhos – dei um fraco sorriso tornando a olhar para Peter – ele é a pessoa mais corajosa que conheci, sem falar no bom coração. Não é justo o que fizeram com ele.
Capitão pousou sua mão boa em meu ombro chamando minha atenção para seus olhos azuis – Você também é corajosa e de bom coração, garota. Seu amigo ficará bem rápido e faremos justiça à essa ação, assim como lutaremos por nossos direitos. Te prometo.
Sorri o fitando – Obrigada, Capitão. Por tudo.
- Eu quem agradeço, criança – ele sorriu andando em direção a porta – fique com seu amigo. Ele vai precisar ver alguém conhecido quando acordar.
Assenti em silêncio o observando sair da enfermaria com um pequeno sorriso no rosto. Capitão havia dito algo que não tinha pensado antes: e se Peter preferisse lutar e fugir por si só? Sem querer a ajuda de ninguém ou se juntar ao grupo do Capitão? Sei que ele sabe o que é melhor para si e o apoiaria em sua decisão, mas era algo realmente egoísta desejar tê-lo por perto?
E o que eu estava pensando? Por que queria tanto Peter por perto? Sei que éramos amigos e que agora, ainda mais após sua surra, minha preocupação estava a mil, mas sabia que não estava tudo normal. Pelo menos não dentro de mim e não após aquele beijo que fez com Jullie nos odiasse. E ainda odeie. Mudando meu pensamento, sobre como compreender que diabos estava acontecendo dentro de minha cabeça e coração em relação à Peter, lembrei de Jullie. Mesmo com todo ódio e palavras que me machucaram me preocupava com ela, longe de ser algo relativo à essa Guerra que estava inclusa, mas como ela estava se sentindo. Sei que ela tem outras amigas como Liz Allen, Maria Leon e Amanda Justice, mas também sei que para nenhuma dessas ela conta dores pessoais como contava para mim, ou segredos, ou acasos da vida. Éramos melhores amigas e consegui arruinar isso também. Mas, diferentemente de antes, não me culpava mais, estava em um momento pouco propício para me rebaixar e, por mais mesquinho que isso possa soar, estava pensando em mim naquele momento. Meus pensamentos sobre Jullie foram interrompidos quando escutei uma voz muito familiar fazer uma piada:
- Você anotou a placa do caminhão que passou por cima de mim?  Por favor, diz que sim.
Virei-me imediatamente na direção da maca e meu olhar encontrou o de Peter de modo que o visse já sentado na cama, com as pernas para baixo, me fitando com sua roupa hospitalar. Ele tinha um sorriso no rosto machucado, seu sorriso amigável de sempre, ainda se mantinha ligado aos aparelhos e ao recipiente de soro que caía direto em sua veia braçal, e coçava a cabeça deixando seu cabelo ainda mais bagunçado do que já estava.
Impulsivamente corri em sua direção parando na sua frente, por uma fração de segundo, me perguntando se o abraçava ou não. Mas isso não era algo digno de dúvida e então joguei meu corpo para cima do seu o abraçando fortemente.
- Uau! – escutei sua voz abafada em meus cabelos enquanto passava meus braços em volta de seu pescoço, Peter apoiou uma de suas mãos na maca quando seu corpo fora forçado para trás, devido ao impacto do abraço, e logo senti sua mão direita envolver minha cintura de modo que o abraço ficasse ainda mais completo.
Ficamos em silêncio e eu conseguia escutar tudo ao nosso redor, Capitão falando com Luke Cage sobre o Justiceiro, Jessica Jones conversando com Sue e Johnny Storm sobre não ser uma boa ideia mantê-lo por perto, Natasha conversando com alguém sobre manter algum local fechado para evitar a entrada da S.H.I.E.L.D., as teclas do computador da médica sendo batidas à medida que sua voz saía baixa ditando o que escrevia – algo sobre fraturas expostas. Mas o que mais me chamava atenção era como nossos corações estavam acelerados, quando o coração de Peter começava a saltar em seu peito sempre me distraia e me pegava escutando-o porque, na maioria das vezes, como acontecia naquele exato momento, nossos corações batiam em compassos iguais.
Eu queria beijá-lo. Mesmo sabendo que aquilo machucaria Jullie, mesmo sabendo que aquele não era um momento apropriado para isso, mesmo não sabendo se ele queria também. Eu queria beijá-lo. Soltei-me do abraço e encontrei seus olhos alegres, Peter tinha algo naqueles olhos castanhos que eu não conseguia explicar, por mais que tentasse. Olhei para seus lábios de modo que observasse seu sorriso que tanto gostava. Estávamos perto o suficiente. Na verdade, estávamos perigosamente perto. Podia sentir sua respiração próxima aos meus lábios e escutava nossos corações baterem acelerados, parecia até combinado.
O beijei tão rápido que mal deu tempo de Peter reagir, mas mantive os lábios juntos, em um beijo, pronta para que ele me empurrasse e dissesse que éramos amigos e nada mais. Mas ele não o fez. Apenas afrouxou sua mão na minha cintura levando-a para meu rosto fazendo com que eu arrepiasse com o toque gélido de seus dedos. Em seguida ele iniciou o beijo fazendo com que nossos lábios se abrissem e se movessem em sincronia.
Com as mãos em seus ombros relaxei o corpo de modo que aproveitasse aquele beijo que tanto queria. Sem pensar em nada e nem em ninguém, só em como era bom tê-lo ali e em como isso me afetava positivamente. Me recusava a admitir para mim mesma o que sentia, por mais que eu já soubesse, mas aceitava o fato de ser uma sensação boa, um sentimento bom que sempre fugia ao encontrá-lo em outras pessoas.
- Luna, quando você…
Nos soltamos bruscamente. Parecia que estávamos fazendo a coisa mais errada do mundo, mas sabíamos que também não era algo certo por causa de Jullie. Virei-me na direção da voz de Capitão quem estava parado à porta com um pequeno sorriso.
- Ei, Capitão! – Peter o cumprimentou visivelmente nervoso, mais uma vez fez a bateu continência colocando a mão direita aberta na cabeça, como um soldado – olá!
Sorrindo, Capitão entrou no local e pude perceber que atrás dele, Natasha, Jessica e Luke Cage sorriam com a mesma feição, o que indicava que eles também haviam visto o beijo.
- Desculpa atrapalhar eu realmente… – ele fez uma breve pausa pigarreando, ele olhava para nós dois alternando o olhar – não pensei… Acabei de sair e você estava desacordado ainda.
- Acabei de acordar – Peter sorriu abaixando a mão – obrigado por não me chutar daqui.
- Jamais faria isso, filho – ele parou ao meu lado ficando de frente para Peter – Como se sente?
- Bem – Peter coçou a nuca sorrindo – me sinto ótimo, na verdade.
Capitão me fitou sorrindo com o comentário de Peter. Senti meu rosto queimar e eu não sabia onde enfiar minha cara tamanha vergonha. Ele então virou-se para Peter puxando a máscara azul para cima e deixando-a ao lado dele, Peter ficou sério com as sobrancelhas erguidas e Capitão ergueu a mão para ele para um cumprimento.
- Meu nome é Steve Rogers e eu sou o Capitão América.
Peter então voltou a sorrir ao apertar a mão dele – Oi Capitão Rogers. Eu sou Peter Parker e sou o Homem-Aranha.
- Prazer em conhecê-lo, Peter – Capitão soltou as mãos – precisamos falar sobre você. Sobre o que aconteceu no esgoto.
- Sim, claro, eu...
- Não precisa ser agora – Capitão sorriu pegando sua máscara – na verdade vim falar que suas roupas estão na sala ao lado – ele me lançou um breve olhar e tornou a colocar a máscara.
- Suas roupas? – perguntei confusa com o plural da frase.
- Sim – ele assentiu sorrindo – todos temos uniformes para os momentos de ação e pensei que pudesse ser uma boa ideia se unir à nós com a roupa nova e um codinome.
Sorri o fitando – Uau, isso é… Obrigada.
- Você é uma heroína, Luna. E uma de nós da Resistência – Capitão então lançou um breve olhar para Peter – quando estiver preparado estarei aguardando-o do lado de fora.
- Sim, Capitão! – Peter engrossou a voz mais uma vez batendo continência.
Capitão apenas riu saindo da sala mais uma vez, parecia estar de bom humor apesar da situação em que nos encontrávamos, esperava que Peter lhe contasse algumas coisas, mas Peter estava certo de querer um pequeno tempo para se recuperar e colocar as ideias em ordem. A porta se fechou e tornei a virar-me em direção de Peter completamente sem graça, tínhamos sido pegos por Capitão fazendo algo que, normalmente, já nos deixaria sem graça quando parássemos.
- Isso foi… – Peter riu fazendo uma breve pausa.
Antes que ele pudesse retomar o interrompi – Como se sente?
Ele sorriu me fitando – Bem. Só algumas dores pelo corpo, mas nada que não melhore rápido.
- Fator de cura avançado, certo? – perguntei sorrindo.
- Você falou com palavras bonitas que eu nunca tinha pensado – ele riu – mas sim, isso ai.
- Palavras de Capitão – justifiquei apoiando as mãos na cintura mantendo o sorriso nos lábios – estou feliz que está bem.
- Eu também – ele balançou as pernas – e tô feliz porque tô aqui.
- Acredite, eu também.
- Eu estava errado, Luna – o sorriso amigável sumiu de seus lábios e ele abaixou a cabeça fitando suas mãos – eu estava errado e demorei para perceber isso. Por mais que você tenha dito e exposto as coisas para mim, eu não quis acreditar ou aceitar. Tony para mim foi como… Sei lá, os conselhos, a roupa, a visita à minha casa, parece bobeira, mas ele foi o mais perto de um pai que eu tive desde que o tio Ben morreu e…
Ele fez uma pausa engolindo seco, andei em sua direção pronta para afagá-lo porque ele parecia que iria chorar, mas então ele ergueu sua cabeça sorrindo novamente, mas não tão confiante quanto antes.
- Eu estava errado e agora vou lutar pelo que é certo. Não importa o que isso me custe.
- Eu sei que vai, Pete – sentei ao seu lado na maca olhando para meus pés – e não se culpe por ter errado. Todo mundo comete erros, o importante é o que fazemos após percebermos que estamos errados.
- Obrigado, Luna – ele sussurrou virando seu rosto para me fitar.
Fiz o mesmo fitando nos olhos – Estarei do seu lado, não importa o que decida. Jamais estarei contra você, Pete.
Ele sorriu respondendo a pergunta que, talvez, todo mundo estivesse fazendo naquele momento. Ele respondeu-a com seu sorriso amigável me olhando nos olhos:
- Estou do seu lado agora, Luna. Vamos lutar contra Stark juntos. Vamos resistir.
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iacervo-meu-blog · 8 years ago
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XVII: Caveira
Caminhávamos rapidamente na direção em que Natasha me levava, segundo ela Capitão havia mudado seu QG de lugar porque estava sendo perseguido como os demais, ela disse que me explicaria todos os detalhes ao lado de Capitão, pois, assim como minha tornozeleira possuía um dispositivo que captava e reconhecia a voz dos fugitivos ela não duvidava ter mais desses pela cidade prontos para serem ativados, ou seja, era melhor que caminhássemos em silêncio.
Eu tinha tantas perguntar para fazer a ela, mas naquele momento só conseguia pensar em Peter e que tinha ido embora sem sequer me despedir dele, eu iria de qualquer maneira, isso é óbvio, mas pelo menos queria ter falado com ele, em algum momento, após sumir com Tony Stark pedindo para que o cobrisse na aula, e, principalmente, após me mandar aquelas duas mensagens sentimentais e completamente estranhas.
Com minha visão privilegiada eu olhava ao nosso redor o tempo todo a procura de alguma coisa estranha ou agentes da S.H.I.E.L.D. que estariam atrás de nós duas, a rua estava deserta e um pouco escura sendo iluminada apenas por alguns postes e a luz do luar que, como de costume, agradecia por estar me acompanhando mais uma vez. Passávamos por becos escuros e não via ninguém lá por dentro, nem mesmo os homens e as mulheres que moravam nas ruas, a situação estava tão violenta que até eles acharam locais para se esconderem das revistas constantes do Governo.
Passamos em frente à uma das poucas lojas abertas, era uma loja de conveniência como outra qualquer. O rapaz permanecia atrás do balcão do caixa branco lendo uma revista onde a manchete era sobre Capitão América, as letras coloridas me chamaram atenção e pude perceber que o mundo o via como uma ameaça e a mídia apenas enchia mais ainda suas cabeças com afirmações absurdas. Ao lado do homem entediado pude ver uma fileira de celulares, provavelmente, de ligações únicas, ou seja, que podiam ser usados apenas uma vez e, muito provavelmente, não eram rastreados. Puxei Natasha pelo pulso fazendo com que ela se virasse para trás rapidamente pronta para atacar.
- Preciso de fazer um telefonema – sussurrei olhando para dentro da loja.
- Um telefonema? – podia sentir seu olhar em cima de mim – você está louca?
- É importante.
- Estão atrás de nós... – ela fez uma breve pausa respirando fundo, senti suas mãos em volta de meus braços e, bruscamente, fui virada com força de modo que a encarasse – seu pai ficará bem. Ele sabe que precisa fugir, ele é esperto e está do nosso lado, ele jamais...
- Não é pra ele – a interrompi me encolhendo – preciso contatar um amigo.
- Amigo? – ele me encarava surpresa – você pode contatá-lo depois, Luna.
- Não, você não entende... Eu... Ele... Nós...
Ele então me soltou enquanto me fitava nos olhos – É o Homem-Aranha, não é?
Não respondi. Por mais que agora ela já soubesse, mesmo com meu silêncio onde não negava nem afirmava nada, tinha medo. Peter e eu éramos de lados opostos e isso provavelmente era visto como algo negativo.
- É Peter, certo?
A fitei surpresa tentando enganar – Peter?
- Eu sei o nome dele, estava do lado de Tony quando ele o chamou. O garoto é talentoso pra quem tem dezesseis anos.
A fitei – Posso telefonar?
- Não – ela repetiu – ele está bem. Só te libertei porque ele pediu.
Olhei em sua direção confusa – Como...?
- Ele veio até mim, através de uma localização que a S.H.I.E.L.D. tinha conseguido, fui descuidada e me acharam, acho que eu não estava levando tudo isso tão a sério até ele aparecer onde eu estava escondida – ela cruzou os braços parada na minha frente – ele não estava tagarela como sempre, ele simplesmente disse que me deixaria ir se eu o ajudasse com uma coisa – ela fez uma breve pausa erguendo as sobrancelhas – e essa coisa era você. Ele disse que você não merecia estar presa com uma tornozeleira sendo tratada como uma criminosa, que não adiantaria o quanto você fosse “disciplinada”, as coisas não melhorariam para você nem para ninguém.
- Ele pediu que você tirasse a tornozeleira de mim?
- Sim – ela balançou a cabeça positivamente – então falei com Capitão e aqui estamos. Então, não precisa se preocupar com ele, ele está bem.
- Quando vocês conversaram?
- Mais ou menos quando o Sol estava se pondo – ela descruzou os braços – não podemos ficar falando tanto... Vamos! Temos que ir.
- Certo, desculpa.
Ela apenas me fitou e tornou a caminhar pedindo que eu a acompanhasse ao seu lado sem falar mais nada ou parar, assenti em silêncio pensando no que Peter tinha feito. Mesmo sabendo que Natasha era uma fugitiva e podendo entregá-la para Tony de modo que fosse ovacionado por ele e pelos demais, ele optou por se tornar cúmplice dela em troca de um pedido: que ela me tirasse da tornozeleira e, automaticamente, me abrigasse com os demais no lado que realmente acredito. E ele nem precisava ter feito nada disso, mesmo.
Peter me surpreendia de maneiras que eu não conseguia explicar. Se Tony sonhasse em saber disso, em saber que ele sabia onde eu estava e que deixou Natasha fugir propositalmente, ele estaria morto. Claro que no sentido figurado da palavra, mas ele praticamente seria qualificado como um fora da lei por ter-nos ajudado o que seria uma grande merda já que ele não tinha feito aquilo por acreditar em Capitão, mas sim para me proteger e me ajudar, como ele sempre vinha fazendo, desde que nos tornamos realmente amigos e confidentes.
Seguindo Natasha silenciosamente ela me avisou que não estávamos longe, que, no máximo, em dez minutos estaríamos no QG do Capitão e eu apenas assenti em silêncio caminhando o mais discretamente possível. No meio do caminho segurei Natasha pelo pulso, pois escutei vozes e, se não estava louca, barulho de arma sendo recarregada. Natasha me fitou rapidamente e quando percebeu minha feição de assustada parou de andar, na mesma hora. Apontei para a direção em que as vozes vinham, como sussurros, e mais à frente pudemos perceber que havia um beco, estava quase certa de que era dali que escutava algumas vozes masculinas enquanto recarregavam suas armas.
Pedia mentalmente para que nos escondessemos ao invés de irmos verificar o que estava acontecendo, mas caso fosse alguém pretendendo botar o caos na cidade não podíamos simplesmente ignorar e caso fosse alguém da S.H.I.E.L.D. acho que a melhor opção era enfrentá-los ao invés de aguardá-los virem até nós.
Natasha fez um sinal para trás com a mão esticada o que indicava que deveria esperar por ela exatamente onde eu estava, confusa acabei aceitando e permanecendo parada no meio da calçada da rua. Ela caminhou furtivamente em direção ao beco enquanto, aparentemente, se esforçava para escutar os homens de modo que os pegasse de surpresa, provavelmente. E então ela sumiu ao entrar no beco escuro, abaixei-me de imediato quando escutei um dos homens gritar um sonoro “Ei!” com sua voz que aparentava estar furiosa. Uns barulhos ocos fizeram com que, impulsivamente, eu andasse até o beco o mais rápido possível, sem correr.
Acompanhei com o olhar um dos homens da S.H.I.E.L.D. voar em direção a rua deserta parando em cima de uma das faixas no meio da rodovia, por sorte do coitado nenhum carro passava no local e nem mesmo havia previsão. O primeiro tiro ecoou seguido de mais alguns o que me fez perceber que quem quer que fosse que Natasha estivesse lutando contra estava com uma metralhadora, abaixada apenas desejava que ela estivesse bem, mas não podia simplesmente ficar ali, parada, enquanto podia ajudá-la – por mais que seja impossível pensar que Viúva Negra precise da ajuda de alguém. O que, obviamente não era o caso. Olhando pelo beco, ainda abaixada no chão, pude vê-la lutando contra três homens ao mesmo tempo, assim como o cara desacordado no meio da rua, eles usavam o uniforme azul marinho com o emblema da S.H.I.E.L.D. no peito.
Natasha segurava a metralhadora de um, com o cano apontado para o alto, o impossibilitando de se mover enquanto acertava em cheio um, dos outros dois, no peito. O terceiro tentava acertá-la com socos, mas ela desviava enquanto batia ferozmente nos outros dois. Um deles caiu incosciente no chão e ela logo arrancou a arma das mãos do mais desajeitado, com o cano da arma acertou seu queixo o que fez com que o cara tomasse um solavanco para trás com tanta força que a fivela que estava em volta de seu corpo, que prendia a arma branca, arrebentou dando então à ela autonomia total da metralhadora.
O homem colocava ambas as mãos em volta do nariz recém quebrado e uma quantidade significativa de sangue escorria por seu nariz, Natasha jogou a arma para a porta do beco onde, consequentemente, eu me encontrava e apenas a fitei há centímetros de mim pensando se deveria ou não pegá-la, acho que Natasha jogou-a naquela direção não porque tinha me visto, mas sim porque ela preferia “trabalhar” mano a mano, afinal, ela era uma expert em artes marciais. Ergui meu olhar para ela quem, novamente, batia ferozmente no homem à sua frente, ele tentou sacar as armas, mas ela foi mais rápida o desarmando e passando o braço em volta de seu pescoço enquanto montava em suas costas pronta para abatê-lo também. Ele se debatia apavorado ficando cada vez mais sem ar, ele cambaleou para trás disposto a acertá-la na parede de tijolos sujos do beco e assim o fez fazendo com que Natasha soltasse um gemido abafado, mas não pestanejasse e mantivesse seus braços o sufocando, ele repetiu o movimento duas, três, quatro vezes e ela aguentava firme apenas fazendo breves caretas.
O homem que se recuperava do nariz quebrado tomava ciência do que estava acontecendo, Natasha derrubou o homem quando ele perdeu sua consciência e, desacordado, caiu de cara no chão como uma porta, mas ele ainda respirava. O único que restou de pé correu até Natasha com as mãos erguidas e ambos travaram um combate de artes marciais que eu mal conseguia acompanhar. Aparentemente, mesmo com a demora para se recuperar do nariz quebrado, Natasha estava lutando com um oficial ou de algum nível mais elevado, pois ele sabia muito bem se defender dos movimentos dela e atacá-la quando necessário. Natasha, mais uma vez, bateu com as costas na parede, mas dessa vez foi arremessada pelas mãos do homem quem sequer esperava ela se recuperar, caída com os braços apoiados no chão, ela tentava se levantar, mas algo não parecia certo para ela.
Ergui as mãos em sua direção e senti o calor emergir de meu corpo, senti o escudo expandir de meu corpo longe o suficiente para envolvê-la por completo, nenhum dos dois percebeu, pois estava invisível, mas assim que o agente bateu bruscamente contra algo que não conseguia ver ele começou a procurar ao seu redor, procurava por mim quem, naquele momento ficava de pé o encarando na entrada escura do beco, mas assim como eu conseguia vê-lo nitidamente, agora ele também me enxergava. Natasha ficou de pé e aproveitou que o homem me encarava para atacá-lo, no instante em que a vi se mover para frente, abaixei as mãos desativando o escudo ou ela bateria a cara no mesmo, assim como o homem.
Mais rápido que nós duas juntas o homem se esquivou do golpe de Natasha vindo em minha direção, estiquei as mãos novamente e antes que pudesse atingi-lo ou com o muro transparente que conseguia criar ou com os jatos que saíam de minhas mãos fui atingida em cheio no rosto, havia acabado de tomar um soco e bati minhas costas bruscamente na parede sentindo a dor no mesmo instante, resmunguei um palavrão entredentes enquanto me recuperava do golpe. Que mania imbecil que as pessoas tinham de surpreender as outras daquela maneira. Não era a primeira vez e eu sabia que não seria a última.
Desencostei-me da parede indo em direção a este homem que também utilizava uniforme da S.H.I.E.L.D., ele parou em uma posição de luta e apenas o fitei revirando os olhos, eu não sabia lutar tão bem, apenas desferi alguns golpes em um bando de idiotas que tentavam assaltar o Queens durante a noite, e mesmo assim me ferrava algumas vezes, imagina só o estrago que um agente da S.H.I.E.L.D., constantemente treinado, poderia causar em mim.
Ele cerrou os punhos e veio em minha direção tentando me dar um soco, esquivei-me para trás desajeitada enquanto procurava um meio de tentar pará-lo sem utilizar meus poderes. Senti algo passar por meu braço tão perto que os pelos se arrepiarem devido ao raspão, olhei na direção e então vi Natasha segurar as mãos do cara de nariz quebrado enquanto ele me fitava há míseros centímetros, ele me acertaria e Natasha tinha me ajudado. Com um impulso irreconhecível acertei um soco em sua barriga, com a mão direita, usando a força bem no estômago como Peter havia me ensinado. Segundo ele aquele golpe desmontava um. Senti minha mão latejar, mas já estava me acostumando com as dores.
O homem urrou de dor curvando o tórax para frente, isso fez com que Natasha tivesse mais facilidade para empurrá-lo contra a parede na minha frente, olhei na direção do outro homem, no momento certo, pois ele já estava com a mão erguida vindo e minha direção para, então, me acertar. Rapidamente, sem ver direito o que estava fazendo, ativei o escudo pela metade que foi o suficiente para me proteger do soco, mas não da potência com que foi dado, afinal, voei para trás sem conseguir controlar meus pés ou meu corpo. Bati bruscamente contra um pequeno muro nos fundos do beco, fiz uma careta, porque aquele golpe tinha doído mais que o anterior e eu havia sentido muito mais.
Com dificuldade puxei o ar para meus pulmões e pude observar que Natasha, ainda segurando o homem que se debatia, desviava dos golpes desferidos contra ela e, ao mesmo tempo, acertava o cara, que havia acabado de me atingir, com os pés. Fiquei de pé sentindo minhas costas fisgarem, mas ignorei a dor porque era impossível eu não sentir nada após dois golpes pesados, ergui minhas mãos enquanto andava na direção da briga, e sentindo o calor em meu peito pensei no dia em que os jatos saíram de minhas mãos pela primeira vez e então, em questão de segundos, o cara que me acertou duas vezes voou para trás caindo inconsciente no passeio de modo que quebrasse o chão de cimento em certos locais.
Natasha me fitou assustada e em seguida olhou para minhas mãos que cessavam todo o brilho que haviam expelido, o homem também me fitava assustado enquanto não parava de se mexer nos braços da Viúva Negra. Tentando não parecer surpresa comigo mesma e sem tempo para aqueles homens estúpidos caminhei em direção a Natasha quem agarrava o homem por trás tentando desmaiá-lo da mesma maneira que o anterior, mas este estava aguentando muito mais que o outro já que ele não aparentava nem mesmo estar com dificuldades de respirar enquanto o outro em menos de um minuto já estava caído no chão. Andei na direção de ambos parando na frente do homem com as mãos erguidas para seu rosto:
- Você quer ter sua fuça derretida? – perguntei mais alto que o necessário o ameaçando com meus poderes.
Ele não respondeu, ainda mais apavorado mexia seu corpo de modo que Natasha se esforçava para se manter nas costas dele.
- Se você mexer mais uma vez eu derreto sua cara! – berrei fazendo com que minhas mãos brilhassem novamente – não tô brincando, cara!
Ele então parou imediatamente quando viu minhas mãos brilharem, Natasha soltou-se do homem me fitando desconfiada, ela provavelmente achava que eu o machucaria feio - para não ser rude e dizer que ela pensava, mesmo, que eu o mataria com meus poderes. Mas obviamente eu não faria nada disso, talvez o machucasse um pouco, mas a ponto de lhe deixar inconsciente, porém não precisava de meus poderes para isso. Reunindo todas as forças que possuía cerrei os punhos e acertei um soco certeiro e direto no rosto do homem que muito cambaleou antes de cair aos pés de Natasha. Mantive minha expressão séria e furiosa, coisas que eu não estava, até Romanoff abrir a boca para dizer algo.
- Uau.
- Puta merda! – choraminguei sentindo minha mão doer como nunca antes – puta merda!
- O que foi? – ela andou em minha direção séria, assustada e confusa.
- Puta que pa… –  segurava minha mão direita enquanto acariciava-a com a esquerda – caramba!
Natasha segurou minha mão pedindo para analisá-la. Ao mesmo tempo em que queria manter minha pose séria e durona, também queria chorar por ter machucado a mão ao desferir o soco no homem e rir porque aquilo era mais do que óbvio de acontecer comigo, não sabia dizer como não tinha acontecido antes.
- Foi o soco?
- Sim – respondi a fitando – merda…
- Não se preocupa, no QG tem uma médica nos ajudando. Vamos, não podemos ficar muito tempo por aqui.
Assenti em silêncio, mais uma vez, a acompanhando. Saímos de perto daquele beco com muita pressa, afinal, os homens da S.H.I.E.L.D. estavam caídos por ali e além de chamar atenção de quem quer que passasse por ali, reforços deveriam estar a caminho, visto que eles, em algum momento, pararam de responder as ordens e coordenadas pelo comunicador. Natasha me explicava como tais coisas funcionavam na S.H.I.E.L.D. enquanto tudo o que eu queria era chegar logo ao QG do Capitão América para ver o que tinha acontecido com minha mão. Obviamente não só por isso, mas, no momento, era a razão maior.
Então agora tinha uma médica ajudando? A troco de que? Talvez fosse uma amiga de Capitão ou conhecida, mesmo assim parecia uma ideia estranha, porém ótima, afinal, caso algo acontecesse não poderíamos ir para o hospital, primeiramente porque os heróis evitam hospital desde sempre porque não há como explicar para o médico como tomou um tiro no peito e não morreu, por exemplo, seja de hemorragia ou por atingir uma artéria importante. Peter não me levou quando teve a chance, logo após usar meus poderes na loja de conveniências há um mês atrás, e eu nem parte daquele mundo era, ainda.
Peter. Como será que ele estava? Sei que bem porque ele sabe se cuidar, mas como estava sendo para ele permanecer ao lado de Stark após me ajudar? Após fazer um acordo com Natasha para me retirar daquela “liberdade” condicional? Não tinha como eu saber então tudo o que podia fazer era torcer e desejar que ele estivesse bem e que Tony ou o Governo jamais desconfiassem de nada em relação à ele.
Meus pensamentos foram interrompidos quando Natasha entrou em um beco largo e logo pensei que mais agentes estivessem por ali, mas ela apenas empurrou algumas caixas encostadas à parede revelando uma porta prateada suja, ela bateu duas vezes fazendo um barulho oco e a porta se destrancou automaticamente de modo que pude ouvir o mecanismo das fechaduras, supostamente silenciosas para audições comuns, se destrancando. Ela empurrou a porta e então parou na mesma encostando-se na beira enquanto abria um pequeno sorriso convidativo. Acho que tínhamos chegado ao QG do Capitão e a Viúva Negra me convidava amigavelmente para entrar.
Caminhei em direção ao local escuro com um pouco de receio, mas entrei mesmo assim pensando em alguma piadinha para fazer enquanto via Natasha, no escuro total, fechar a enorme e pesada porta. Ela parou ao meu lado e disse alguma palavra que não compreendi e então as luzes se acenderam indicando que estávamos em um elevador prateado e pouco iluminado que, em questão de segundos, começou a se mover para baixo. Então iríamos para o subterrâneo.
A porta do elevador se abriu indicando um corredor pouco extenso, porém com as paredes sujas, os canos do teto enferrujados e o chão respingado de substâncias que talvez fosse melhor nem saber do que se tratavam. Viramos a esquerda ao nos encontrarmos de frente para a parede, ficando de frente para outra parede. Arqueei uma sobrancelha e Natasha apenas colocou as mãos na parede fazendo com que ela se abrisse se tornando outro corredor, mas esse era pequeno e seguia em frente com uma única virada para a direita, assim que passei pela nova porta disfarçada de parede ela se fechou atrás de mim como a boca de um caminhão triturador, porém sem fazer um mísero barulho. Natasha me chamou ao perceber que eu encarava a porta já fechada, ela tinha tornado a ser apenas uma parede e aquilo pareceu excepcional para mim.
- Vamos – ela insistiu.
Virei-me na sua direção balançando a cabeça positivamente enquanto voltava a andar – Onde estamos?
- Essa é um antigo e desativado galpão subterrâneo da S.H.I.E.L.D. – ela respondeu virando para a direita de modo que déssemos de cara com outra porta prateada e fechada.
- Nós não… – pigarreei para desengasgar, estava confusa – não estamos fugindo da S.H.I.E.L.D.? E de Tony Stark? E do Governo?
- Sim – ela respondeu tranquilamente parada em frente à porta enquanto aguardava algo.
- E agora estamos em um dos locais deles?
Ela virou seu rosto para me fitar – Nick Fury nos cedeu este local. Ele está do nosso lado.
- Nick Fury? – perguntei com as sobrancelhas erguidas ainda mais confusa com o novo nome que tinha acabado de surgir na história.
- Sim, ex-diretor da S.H.I.E.L.D., atual aliado e responsável da iniciativa Vingadores.
- Parece ser um cara legal – falei virando meu rosto para a porta que abria um pequeno quadro de luzes vermelhas com um teclado numérico de um a nove.
Ela não me respondeu, em uma velocidade absurdamente rápida digitou a senha no painel e a porta se abriu fazendo um barulho metálico e robótico. Uma sala grandiosa surgiu em nossa frente e uma mulher parada perto da porta nos fitava séria, ela ergueu uma das mãos falando em voz alta para uma direção que não conseguia ver, mas a medida em que ela falava para manterem a calma que era apenas Viúva Negra voltando de uma missão, pude ver para quem ela se redigia.
Uma mesa enorme estava no centro do cômodo que era pouco iluminado, exceto onde a mesa estava, acima dela haviam lâmpadas fluorescentes que permitia ver os rostos e as feições de todas as pessoas ali sentadas e reunidas. Capitão se encontrava na ponta da mesa retangular como um chefe de família e eu demonstraria mais minha felicidade e gratidão por estar presente se não tivesse me assustado com o fato dele estar usando uma tipoia no braço direito e diversos curativos no rosto. O que tinha acontecido com ele?
Ele ficou de pé imediatamente andando até mim e por mais que eu quisesse perguntar o ocorrido não conseguia esconder o sorriso, estava livre para lutar pelo que acreditava, o que seguia a mesma ideologia de Capitão e, provavelmente, de todos ali presentes. Foi quando percebi que não conhecia algumas pessoas ali, como a moça na porta que agora tornava a sentar-se ao lado de um homem forte e sério, mas que parecia ter um bom coração. Estranho ter essas sensações repentinas de alguém. Desviei o olhar quando Capitão parou na minha frente estendendo a mão e me fitando com seus olhos azuis.
- Bem-vinda de volta, Luna.
Sorri apertando sua mão boa – no caso a que não estava pendurada na tipoia –, no caso a mão esquerda – Obrigada, Capitão.
- Não foi uma decisão fácil te trazer de volta. Espero que entenda o porquê.
Balancei a cabeça positivamente – Sou só uma garota, certo?
- Você tem quinze anos e não deveria estar em uma briga dessas – ele confirmou soltando minha mão – mas a verdade é que precisamos de você. Você é poderosa Luna e quer lutar e estar conosco. Neste caso, eu quem agradeço por não desistir.
Capitão América estava me agradecendo e eu me segurava para não surtar – Sempre a disposição, Capitão.
Fiz uma reverência levando a mão direita aberta até a testa de modo que me portasse como um soldado. Capitão riu retribuindo o sinal e então abaixei a mão tornando a fitar as pessoas na mesa, confesso que estava contente em ver Sam e Clint livres, me peguntava onde estava Scott e Wanda, mas  me perdia olhando os rostos novos um pouco confusa porque não os conhecia.
- Na porta você já conheceu a Jessica, Jessica Jones – Capitão pareceu ler meus pensamentos, pois começou a apresentá-los.
- E aí. – ela me cumprimentou séria acenando com a cabeça enquanto se ajeitava na cadeira.
- O grandão ao lado dela é Luke Cage.
Ele apenas deu um fraco sorriso seguido de um aceno de cabeça.
- Os dois loiros sentados ali – ele apontou para ambos que sorriram – são Johnny e Sue Storm, mais conhecidos como Tocha-Humana e Mulher-Invisível.
- Do Quarteto Fantástico? – perguntei surpresa – ouvi falar deles algumas vezes e… – fiz uma pausa desviando meu olhar de Capitão para eles – oi!
- Oi! – Sue respondeu simpática, mas um pouco desanimada.
- Como que vai? – Johnny perguntou forçando um sorriso.
Apenas sorri de volta por educação e Capitão prosseguiu:
- Temos Demolidor que se…
Outra porta se abriu, não era a que Natasha e eu tínhamos acabado de entrar, mas era igual tanto no tamanho, quanto nas cores e nos barulhos. Olhei na direção da porta que se abria lentamente, junto com Capitão e os outros e por suas feições preocupadas percebi que não esperavam mais ninguém naquele momento, então me manter em posição de ataque, pronta para usar meus poderes se necessário, foi algo além de uma ação impulsiva.
Um homem enorme estava parado com uma feição séria enquanto segurava outro alguém nos braços. Meu coração acelerou na mesma intensidade que meu estômago havia embrulhado, ambos devido ao nervosismo atual que apenas piorou ao ver aquela cena. Ao ver o que estava acontecendo. O homem, com sua voz grossa, sua camisa de caveira e botas brancas sujas de sangue, ordenou que precisava de um médico com urgência.
“Agora!”
Ele deu ênfase na palavra enquanto parecia estar segurando uma mercadoria simples, mas importante. Mas não era uma mercadoria, não era um desconhecido, não era uma pessoa qualquer. Eu não sabia quem aquele homem enorme, forte e cabuloso era, mas eu sabia que a pessoa, inconsciente, ensanguentada e com o uniforme rasgado por toda parte, em seus braços era meu melhor amigo.
Peter Parker.
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iacervo-meu-blog · 9 years ago
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XVI: Arma.
Natasha passava por minha janela majestosamente como se fizesse isso sempre, e provavelmente fazia, afinal, ela é uma espiã e agora fugitiva da S.H.I.E.L.D. A fitava um pouco receosa de prosseguir, de sair do meu quarto, de me tornar uma fugitiva por completo, mas, especialmente, a fitava receosa por meu pai. Estávamos tentando colocar as coisas no lugar, agir como pai e filha, talvez ter a relação que nunca tivemos e, com certeza, eu estava prestes a estragar tudo nesse sentido.
Será que ser considerada uma heroína e lutar pelo que considera certo sempre vem decepcionar aqueles que ama no pacote? Será que as decisões seriam sempre tão difíceis e diretas como aquela estava sendo? Eu queria permanecer, queria acertar as coisas com meu pai, mas queria estar livre para fazer isso. O Acordo de Sokóvia ainda parecia uma loucura do Governo que me tinha em suas mãos na hora em que bem entendesse.
Fitei Natasha ainda parada no centro do meu quarto, entre a cama e a escrivaninha, ela estava em cima de meu telhado, que cobria a varanda o andar debaixo, me fitando com o corpo curvado de modo que me visse através da janela. Sua expressão mudou no instante em que me viu ali, parada. Eu queria ir, sabia que devia ir, mas pensava nas consequências que tive da primeira vez em que fui individualista. Era mesmo tão errado ser individualista enquanto a minha vida, por possuir habilidades, estava em risco?
Natasha se moveu para entrar em meu quarto novamente, mas estiquei a mão em sua direção, ela me deu alguns segundos para colocar a roupa mais discreta que conseguisse achar, optei por meu casaco preto, uma calça jeans e tênis. Andei até a janela, sentando-me na mesma e, sem um pingo de graciosidade, pulei até o telhado azul marinho apoiando meus pés nas telhas.Viúva Negra, como era chamada pela mídia e pelos demais, balançou a cabeça com as sobrancelhas erguidas enquanto me fitava, era como se ela perguntasse se estava pronta. Realmente pronta.
Assenti balançando a cabeça em silêncio e ela apoiou a mão direita na calha do telhado cuidadosamente de modo que não a quebrasse ou fizesse algum barulho que pudesse nos comprometer. Caminhei até a beira do telhado quando ela, em um único movimento, sumiu de minha vista. Escutei um barulho abafado pela grama do jardim e então a fitei parada, de pé, e com as mãos na cintura enquanto olhava para cima me procurando, assim que me viu cruzou os braços acenando com a cabeça enquanto me esperava pular. E eu sabia que ela me esperava, sem auxilio algum, pelo modo como me fitava. A distância entre meu telhado e o chão não era grandiosa, mas para quem mal conseguia pular um muro, aquilo era um pouco demais.
Sentei-me na beira do telhado mais próxima à ponta que conseguia, minhas pernas balançavam no ar enquanto eu me esforçava para não soltar meu peso por inteiro na calha de metal. Meu coração estava disparado devido a adrenalina e hesitava, mais uma vez, na hora de pular, estava realmente nervosa, mas não tinha muito tempo e Natasha, educadamente, apontou para seu pulso como quem indicava um relógio, ou seja, o símbolo universal para “anda logo, que não temos tempo”. Impulsionei meu corpo para frente caindo com ambos os pés grama, que amorteceu a queda, mas não me impediu de cair de bruços, senti as mãos frias e finas de Natasha em meus braços me ajudando a levantar rapidamente, provavelmente eu tinha feito muito mais barulho que o esperado.
- Você está bem? – ela sussurrou enquanto me ajudava a levantar.
- Sim – sussurrei ficando de pé enquanto batia as mãos em minha roupa – para onde vamos?
- O Capitão está com um esconderijo por baixo da cidade, precisamos...
Natasha parou de falar quando, assim como eu, escutou o barulho de uma arma sendo destravada e carregada, o barulho vinha por trás de ambas e me virei primeiro pronta para utilizar o escudo, caso fosse necessário. Claro que Tony Stark não me deixaria em casa sem um segurança para me observar de longe. Mas não era um segurança, não era Tony Stark e nem mesmo alguém do governo, era meu pai quem segurava uma arma enorme com as duas mãos enquanto nos fitava sério, com sua calça de pijama de patinhos, parado na varanda de casa.
Natasha se virou logo em seguida e ameaçou avançar na direção de meu pai, mas no instante em que ele se mexeu apontando a arma em nossa direção, ela parou ao meu lado com a feição furiosa. Sei que se ela o pegasse, o deixaria inconsciente.
- Pai? – o chamei percebendo que ele mantinha os olhos fixos em Natasha.
Natasha virou seu rosto em minha direção – É seu pai?
- Sim – respondi ainda o fitando.
- Onde você pensa que vai, Luna? – ele apontou a arma em minha direção, enfim, me olhando.
- Pai, você sabe o que...
- Eu não sei de nada! – ele gritou.
- Diga a ele para parar de gritar – Natasha disse entredentes – estamos debaixo da janela do seu quarto e a tornozeleira está ativada.
- Não grita, por favor, pai – o pedi calmamente enquanto tentava me aproximar, mas no meu primeiro passo em sua direção ele sacudiu a arma em mãos.
- Não importa se é minha filha ou não, se você der mais um passo, eu atiro.
Parei no mesmo instante enquanto o fitava. Me sentia imensamente culpada por estar fazendo-o passar por essa situação mais uma vez, desta vez ele presenciou minha fuga sem sequer lhe dizer uma mísera palavra e era visível o quão chateado ele estava. Mas eu não o temia, mesmo com uma arma apontada na minha cara eu não o temia.
- Quem é você? – ele olhou na direção de Natasha.
- Não importa – ela respondeu.
- Eu sou o cara com a arma aqui.
- Já vi maiores – ela soltou uma breve risada – nada surpreendente.
- Você é aquela mulher, certo? – ele desceu as escadas da frente da casa em nossa direção – aquela que luta ao lado daqueles monstros. Dos monstros que mais aterrorizam a cidade do que a ajudam.
Natasha não o respondeu dessa vez. Mas ele prosseguiu:
- Vocês acham que são tão superiores aos demais... Vocês só estragam as coisas por aqui! Olha aquelas pessoas inocentes que aquela bruxa matou – ele se referia a Feiticeira Escarlate – pensei que vocês pudessem nos proteger, mas ao invés disso, vocês invadem minha casa para levar minha filha embora... De novo!
Ela se mantinha em silêncio, séria e focada no cano da arma, provavelmente pensava em algum movimento rápido e só não o tinha feito até então porque era meu pai.
- Ela estava bem! Estava com aquela tornozeleira e, automaticamente, eu estava mais tranquilo! Estava sofrendo com a ideia de ter minha filha na cadeia, mas... Ao menos eu saberia onde ela estava! – ele parou na frente de Natasha com a arma apontada para sua cabeça – ao menos...
- Pare – impulsivamente me coloquei entre ele e Natasha o fitando com o cano apontado para minha cabeça – pare, pai.
- Saia da frente, Luna.
- Não, não sairei – olhei na direção do cano que estava a centímetros de meu rosto.
- Farei o que for possível para não deixa-la ir – ele falou olhando em meus olhos com os seus marejados – não duvide.
- Eu não duvido – falei sentindo o calor emergir em meu corpo, estava com medo e, como um espasmo, o escudo queria sair de dentro de mim para me proteger, mas o controlava – sinto muito.
- Você sente? Porque eu, sinceramente, acho que não. Acho que não sente nada nesse seu coração de pedra.
- Eu sei como se sente, sei que...
- Não, você não sabe! – outro grito saiu de seu lábios enquanto ele balançava a arma na minha frente, afastei meu corpo percebendo que tudo tinha ficado mais claro, o escudo estava quase sendo ativado, mas pisquei os olhos diversas vezes tentando evitar que ele visse que já estavam prateados, um pouco tarde demais – Isso. Libera seu poder, não é assim que chamam? Libera sua habilidade para me manter longe de você porque eu não vou deixar você ir, Luna!
- Pai...
- Saia da minha frente, Luna.
- Pra quê? – perguntei mesmo já sabendo a resposta.
Ele repetiu – Saia da minha frente, Luna.
- Não. – respondi de volta.
Ele então disse, furioso, entredentes – Saia. Da. Minha. Frente.
- Não. – respondi novamente certa do que estava fazendo.
- Diana! – ele berrou meu antigo nome – saia da minha frente.
- Não! – gritei fazendo com que minha voz ecoasse – eu não vou sair da sua frente, você não vai machucar Natasha ou à mim!
- Não...
- Sabe por quê? – o interrompi sentindo a fúria tomar conta e mim – porque você já fez o suficiente saindo da minha vida quando eu era pequena! Não importa o quanto você tente consertar as coisas, nada vai ser como antes! E sinto muito por não ser a Diana que você costumava conhecer, porque aquela Diana morreu quando você foi embora!
Foi quando ele se calou. Pela primeira vez desde que havia apontado essa arma para nós duas foi que ele ficou em silêncio, mas arma permanecia ali, com o cano apontado diretamente para minha testa, era só um tiro certeiro que ele acabaria com tudo e se veria livre de mim novamente. Mas eu sabia que isso não era o que ele desejava, tinha medo dele fazer algo para tentar nos atrasar, mas eu sabia que ele não era do tipo assassino que mataria para me manter ao seu lado. Mas também sabia que ele não aceitaria fácil a ideia de que teria que ir embora, mais uma vez, para fazer o que julgava certo. Talvez, se fosse com qualquer outra pessoa, ele teria perdido total confiança e amor do filho por apontar uma arma em sua cabeça, mas mesmo com medo compreendia o porquê de ele estar fazendo isso, por mais inaceitável que fosse.
- Você tem que nos deixar ir – sussurrei o fitando – caso não faça isso, eu, um monstro, como você diz, terei que forçá-lo.
- Você não faria isso – ele disse com a voz trêmula.
- Você não me conhece.
- Porque você não me permite.
- E apontando uma arma na minha cara, me obrigando a ficar, vai mudar alguma coisa?
Ele não respondeu.
- Você sabe a resposta – sussurrei o fitando – agora abaixa a arma.
- Não – ele, mais uma vez, a balançou me ameaçando.
- Eu tenho que ir, pai. Eu quero ir. Eu preciso. Você pode pensar que sabe o que é melhor para mim e que o melhor se baseia em ficar em casa e viver como uma adolescente normal, mas eu não sou uma adolescente normal. E não quero ser. Tony Stark apareceu em casa naquele dia para me chamar para seu time, e eu disse não porque não quero ser controlada de novo – balancei a cabeça negativamente com um breve sorriso nos lábios – e adivinha só? Ele colocou uma coleira em mim onde eu só podia fazer o que fosse mandado. Ele e o Governo. Eu não quero isso para minha vida, eu quero liberdade para mim e para os outros, eu quero que o Governo cuide de seus próprios negócios ao invés de nos mandar para limpar seus podres, quero que os verdadeiros criminosos sejam colocados na cadeia ao invés e heróis que ajudaram a cidade por mais que ninguém reconheça isso. Quero tantas coisas que, se pudesse, lhe falava aqui e a agora. Mas não tenho tempo.
- Você não é uma heroína, Luna – ele sussurrou abaixando a arma alguns centímetros enquanto me fitava com os olhos marejados.
- Mas também não posso ficar parada enquanto o mundo desmorona.
- Não tem nada desmoronando, você não precisa ir.
- Eu preciso, pai – andei em sua direção quando percebi que ele abaixou a arma mais um pouco, impulsivamente ele levantou a arma mais uma vez até minha cabeça e então pude ver que ele estava chorando. Era a primeira vez que o via chorar, mas também foi a primeira vez que o vi em desespero a ponto de atirar em mim se assim julgasse necessário. Pensando bem, era a primeira vez que o via demonstrar sentimentos.
Ele então abaixou a arma por completo virando seu cano para a grama úmida, era como se ele tivesse se rendido e compreendido o que eu realmente queria. Escutava sua respiração pesada enquanto ele desviava o olhar de minha direção e, rapidamente, secava as lágrimas que escorriam com o peito da mão esquerda. Como se fosse um adolescente querendo esconder de seus amigos que chorava por alguma razão. Exceto que ali eu sabia a razão, e ela era duas em uma: ele não queria me perder. Não de novo. E eu conseguia reconhecer isso nele, mas não era com uma arma que ele conseguiria me manter em casa, e ele percebeu isso. O que era, de certo modo, bom o suficiente para podermos iniciar uma conversa, por mais curta que fosse, já que eu não podia ficar por ali muito mais.
- Pai, eu ia te dizer, em algum momento, o porque estava partindo, eu só não…
- Vá.
Escutei-o com a voz bem baixa, se não tivesse meus poderes, talvez nem tivesse escutado. Talvez fosse um comentário que ele fez para si mesmo sabendo que eu escutaria. Olhei para Natasha quem mantinha os braços cruzados enquanto olhava diretamente para meu pai, ela estava desconfiando dele e não a culpava.
- Prometa que ficará bem.
Virei-me para frente novamente ao escutar sua voz. O fitei sem responder e ele largou a arma no chão fazendo um barulho oco e abafado.
- Eu preciso que prometa que…
- Ficarei – o interrompi respondendo.
- Então vá.
- Você precisa sair daqui o mais rápido possível, caso contrário será…
- Não se preocupa comigo – ele me interrompeu desviando o olhar – só vai.
Novamente olhei para Natasha quem descruzou os braços, a expressão em seu rosto não era mais a séria que ela costumava estar, ela estava tão surpresa quanto eu, pensei que talvez se ele me desse sua permissão – por mais que eu não a precise, propriamente dizendo – seria tudo mais fácil. Mas ali, em frente a meu pai, devastado e de acordo com minha vontade, parecia muito mais difícil partir. Natasha fez o mesmo sinal de antes mexendo sua cabeça na direção em que devíamos ir, assenti balançando a cabeça positivamente e virei-me na direção de meu pai quem, agora, nos fitava novamente. Ele tinha uma expressão seria a qual camuflava todos seus sentimentos, já estava acostumada a conviver com essa sua feição.
- Vai embora – ele disse mais uma vez e então olhou para Natasha – por favor, traga-a de volta.
Natasha não o respondeu e nem esperava que fosse, apenas o fitei de modo que nossos olhares se encontrassem e eu pudesse perceber que ele, realmente, estava ao meu lado. Pelo menos daquela vez. Andei em sua direção e ele estremeceu tentando se manter parado e sério, não sabia dizer se ele estava com medo de mim ou apenas assustado, mas não me importava, não importava o que ele tinha acabado de fazer e como tinha agido. O abracei com todas as forças que tinha comigo naquele momento. Passei meus braços em volta de seu corpo, de modo que seus braços ficassem presos em meu abraço já que ele não os moveu, e depositei meu rosto em seu peito escutando seu coração que acelerava gradativamente. Fechei os olhos sentindo aquele abraço, o abraço que tanto desejei por anos enquanto estávamos distantes e que, com o passar do tempo fui deixando de desejar simplesmente por não crer que o sentiria de novo. Abri os olhos com a respiração pesada enquanto segurava o choro, soltei-me dele, mas não sem antes sussurrar algo que, para mim era difícil de dizer diretamente para ele:
- Te amo, pai.
Abrindo os braços e me afastando olhei em seus olhos, ele mantinha a respiração pesada enquanto me fitava assustado. Me perguntava o porquê de sua expressão ter mudado tão repentinamente, mas antes que pudesse perguntar ou simplesmente ir embora, suas mãos, ainda tremulas seguraram meus braços fortemente, o que fez com que eu me assustasse, mas então me tranquilizei quando ele me abraçou. Pela primeira vez, desde que me recordo, meu pai me abraçou. E tudo pareceu diferente, tão de repente, naquele momento eu quem não sabia o que fazer ou como proceder, era como se eu não conseguisse erguer meus braços para poder abraçá-lo porque eram pesados demais. Mas ele não parecia se importar, me abraçava com força e tudo o que eu queria fazer era chorar enquanto o escutava sussurrar:
- Me desculpa. Me desculpa. Sinto muito. Me perdoa. Não queria apontar a arma pra você. Me perdoa. Por tudo. Por ter deixado você, por tentar te forçar a algo, por ameaçar atirar em você. Só… Me desculpa.
Senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, o nó em minha garganta começou a se formar a medida em que tentava segurar o choro. Levantei meus braços o abraçando de modo que tentasse acalmá-lo, aquele estava sendo meu modo de dizer que estava tudo bem. E estava. Pela primeira vez desde que ele tinha deixado a mim e minha mãe, estava tudo bem.
Soltei-me de meu pai no instante em que escutei vozes desconhecidas, ele me fitou e então olhei para Natasha quem me fitou sem entender.
- O que foi? – ele me perguntou preocupado.
- Tem alguém aqui – respondi sussurrando.
Natasha então caminhou até nós olhando para meu pai – Temos que ir.
Ele assentiu se virando em minha direção.
- Tenho que ir – repeti o que Natasha disse o fitando – eu ficarei bem. Mas me prometa que você sair daqui e se perguntarem você não me viu fugir.
- Você precisa voltar para dentro – Natasha o fitou – vai.
- Te amo, querida - ele me fitou dando um beijo em minha testa.
- Te amo, pai.
- Se cuida, Moonlight.
O fitei com um fraco sorriso, o escutando, ao mesmo tempo em que achava esquisito, achava imensamente bonito. Parei de pensar em qualquer coisa que não fosse “fugir” quando Natasha me puxou pelo pulso indicando que devíamos partir, lancei um último olhar para meu pai quem retribuiu antes de fechar a porta de casa silenciosamente.
- Preciso que me siga, ok?
Assenti em silêncio vendo Natasha seguir na frente a poucos centímetros de mim, caminhava atrás de si furtivamente, ambas andávamos abaixadas e íamos na direção oposta das vozes que se tornavam mais longínquas para mim. Ela me perguntava o tempo todo se estávamos mais longes dos homens que, naquele exato momento sussurravam algo como “A garota gritava não” e “Temos ordens para verificar”. Claro que tinha alguém por perto pronto para checar quando algo parecesse “fora de controle” e é claro que estavam falando de mim, não havia nexo estarem se referindo à um outro alguém.
Foi quando Natasha esticou seu braço em minha direção indicando que eu deveria parar, não escutava mais voz alguma e ela parecia ter percebido algo enquanto estávamos paradas em frente á uma casa esverdeada no Queens, não estávamos muito longe de minha casa, afinal, estávamos andando lentamente e com cautela, mas eu não sabia quem morava naquela casa e a quem ela pertencia, e, honestamente, aquilo não importava nem um pouco naquele momento.
As vozes masculinas que estavam distantes agora pareceram perto o suficiente para que eu me apavorasse, um deles sussurrava perguntando se o parceiro estava vendo ou ouvindo algo e a resposta foi um breve “shh” que foi obedecido imediatamente. Puxei o braço de Natasha, mas ela se soltou rapidamente assentindo em silêncio enquanto balançava a cabeça positivamente, claro que ela sabia, ela estava apenas esperando o momento certo para agir, afinal, ela era a Viúva Negra.
Tudo aconteceu tão rápido que minha reação foi cair de bunda para trás como uma imbecil, mas no instante em que vi Natasha esticar sua perna de modo que desse uma rasteira em um homem careca vestido com um terno preto e sapatos sociais, fiquei de pé sentindo o calor dentro de mim emergir, estava com medo, mas, ao mesmo tempo, estava concentrada no que poderia acontecer, já que Peter havia me ensinado isso milhares de vezes há algumas semanas.
Natasha, após derrubar o homem, partiu para cima do mesmo pronta para lhe imobilizar, mas ele foi mais rápido derrubando-a para trás com um chute forte o suficiente que a fez cair para trás, quando ergui minhas mãos para travar o homem no chão ou evitar que ele desferisse mais algum golpe nela, enquanto ela se recompunha, escutei o barulho de um galho de quebrando atrás de mim, alto o suficiente para que eu me virasse para trás. Com um reflexo absurdo dei um salto para trás no instante em que outro homem, dessa vez um magrelo de cabelos pretos, também de terno, desferiu um golpe em minha direção com um cassetete ou algo parecido, mas era prateado e eu não queria que aquilo me encostasse para saber do que se tratava.
O fitei assustada enquanto respirava fundo, ergui minhas mãos em sua direção enxergando tudo ao meu redor ainda mais claro, sabia que meus olhos estavam prateados e foi quando percebi que estava sob a luz do luar, o que tornava tudo mais favorável para mim. Desde o instante em que sai de meu quarto não tinha percebido que estava sob a luz do luar, como tinha desejado mais cedo naquela noite, estava tão preocupada em fugir que não percebia que meu ponto forte estava favorável, simplesmente porque era noite e a lua iluminava toda a rua em que estávamos.
Uma rajada saiu de minhas mãos, e por mais que aquilo me assustasse, foi eficiente o suficiente para que o homem voasse para trás com o impacto. Ele não parou muito longe, mas foi tempo mais do que necessário para que eu pudesse ver Natasha ficar de pé e partir para cima do outro homem. Me sentindo completamente capaz andei em direção ao outro homem, o que havia acabado de derrubar com o jato de luz, enquanto ele se contorcia no chão tentando levantar, parei ao seu lado o fitando enquanto ele tentava me acertar, apavorado, com o cassetete.
- É, é, todo mundo tenta. Mas é potente, não é? – forcei um sorriso parando seu cassetete enquanto ele tentava me acertar pela milésima vez – bons sonhos, MIB.
Com força o acertei em cheio fazendo com que ele ficasse inconsciente de imediato, joguei o cassetete ao seu lado, no chão, certa de que ele só acordaria depois de um tempo e com uma tremenda dor de cabeça, mas aquilo não era problema meu. Observando Natasha desmontar o outro homem fui caminhando em sua direção enquanto a observava ser incrível e dominar o cara apenas com as pernas – ela estava em cima de seus ombros deixando-o sem ar a medida que apertava seu pescoço e ele se debatia como um animal tentando tirá-la de cima de si, mas aquilo só esgotava mais o ar de seus pulmões.
O homem caiu de joelhos com o rosto roxo, podia escutá-lo tentar puxar o ar para seus pulmões, mas em vão, pois Natasha permanecia apertando-o com sua feição séria e concentrada até ele desmaiar, o que não demorou muito tempo, após ele apoiar as mãos na grama. Ela então rolou para o lado ficando de pé de imediato, passou as mãos na roupa me lançando um breve olhar e tornando a andar na direção em que seguíamos antes dos homens aparecerem. Sem hesitar a segui também em silêncio, porém atenta a tudo que eu pudesse escutar, mas estava tudo quieto, por mais incrível que isso pudesse ser.
- Quem eram eles? – perguntei sussurrando quando Natasha se endireitou colocando seu capuz de volta.
- Tente parecer normal – ela colocou as mãos nos bolsos da jaqueta – somos apenas cidadãs andando pelo bairro de madrugada.
- Certo – a imitei sentindo o forro quente de meu casaco.
- Eram homens do Governo. Não da S.H.I.E.L.D., o que é estranho – ela sussurrava – mas se esses caras tão sabendo que algo tá errado, a S.H.I.E.L.D. já sabe e é só questão de tempo até começarem a te procurar e colocar seu rosto com anúncios pela cidade.
- Ótimo – ironizei bufando – o que faremos agora?
- Agora encontraremos o Capitão para acabar com essa palhaçada.
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iacervo-meu-blog · 9 years ago
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XV: Pudim.
— Bem-vinda.
Olhei na direção da voz de meu pai no instante em que entrei em casa trancando a porta com minha chave. Era estranho ele estar ali naquele horário já que eu chegava da aula, mais ou menos, seis da noite e ele chegava do trabalho às dez, era uma diferença significativa.
— Oi – o cumprimentei confusa – o que faz em casa tão cedo?
Ele apenas sorriu tornando a virar-se de frente para o fogão cinza, ele vestia um avental xadrez que nunca tinha visto antes, segurava a frigideira pelo cabo e o cheiro estava incrivelmente bom, o que quer que fosse que ele estivesse fazendo, que estalava sob o fogo alto, parecia estar delicioso. Ter meu pai cozinhando para mim já era algo relativamente difícil de ocorrer, ele recorria a comida congelada ou dinheiro para que eu comesse fora o que desejasse, mas lá estava ele, quatro horas mais cedo, vestido com um avental enquanto cozinhava algo maravilhoso. E eu simplesmente não entendia o porque.
— Sua diretora ligou.
Fechei os olhos brevemente sussurrando um palavrão para mim mesma. É claro que a diretora tinha entrado em contato com meu pai e não que eu me importe, eu apenas não queria falar sobre o ocorrido com Jullie naquele momento, não depois do tapa que levei e das palavras que ela proferiu para Peter e eu no hall da sala da direção. E agora tudo fazia sentido, meu pai veio mais cedo para casa para conversar com a filha que, em menos de uma semana tinha se mostrado alguém diferente de quem ele costumava conhecer.
— Sinto muito – pedi o fitando de costas para mim quando abri os olhos novamente.
— O que houve?
— Ela não te contou? – perguntei deixando a mochila em cima de um dos bancos.
Ele balançou a cabeça positivamente, pegou a frigideira em mãos e virou a carne em um prato de porcelana branco que estava na bancada ao seu lado, confesso que vê-lo cozinhando não era mais assustador do que ver que ele sabia, de fato, cozinhar algo.
— Estou quase terminando o jantar, se você quiser trocar de roupa ou algo antes de comer, eu espero.
O fitei sem ter o que dizer, apenas balancei a cabeça positivamente pensando no quão bom seria afastar-me dele para ingerir todas aquelas informações de família feliz que jantava junto à mesa. As únicas vezes em que comemos juntos foi quando me mudei e ele fazia questão de sair do trabalho mais cedo para jantar comigo, mas isso mudou logo em seguida onde suas desculpas de não poder deixar os funcionários na mão se tornou frequente. E eu não me importava, até gostava de ficar com a casa só para mim até as dez da noite e na maioria das manhãs já que ele saía de casa bem mais cedo do que eu – isso quando voltava.
Confesso que estava um pouco surpresa com tais atitudes repentinas de meu pai, mas aquilo não me afetava muito, era compreensível ele querer estar por perto depois de descobrir, com um telefonema de madrugada, que a filha “lutou” ao lado de Capitão América por vontade própria e agora era considerada uma criminosa que possuía uma tornozeleira elétrica a monitorando. Talvez a princípio ele tenha feito o “bom pai” e estado mais presente porque sentia que era sua obrigação, mas, de fato, não era. Sua obrigação era não ter fugido quando as coisas pareceram complicadas, mas ele não o fez e agora não importava o que ele fizesse, ele não recuperaria o tempo perdido.
Não o odiava por isso, minha mãe nunca deixou que eu pensasse que ele era um homem ruim, e, com o tempo, e as palavras de minha avó fui vendo o abandono como minha culpa e de mais ninguém, mas guardava isso para mim mesma até que minha mãe, no seu leito de morte, pediu que eu me afastasse de minha avó, mas que não a odiasse nem a abandonasse por completo e me fez prometer que eu jamais me culparia pelas coisas ocorridas até então. E foi o que fiz. Não odeio odeio minha avó, apenas não tenho a coragem de falar com ela, pelo menos não por enquanto e lembrar dela estava me deixando ainda pior porque suas frases de maiores efeitos – e que ela mais repetia – pairavam em minha mente com sua voz rouca:
“Você é uma aberração”.
“Tudo o que você toca, é destruído”.
“Nada de bom permanece com você”.
E então lembrei de Jullie dizendo que me odiava. Nada de bom permanecia comigo. Não podia deixar minha avó ter razão, mas não podia evitar de sentir a culpa em meus ombros mais uma vez. Por causa de um impulso, que até agora não sei de onde surgiu, beijei Peter e ele retribuiu de modo que, sem conseguir esconder, contei para Jullie. Ela me odeia agora. A única amiga que fiz desde que cheguei à Nova Iorque me odiava e todas as garotas que com ela andavam, também, mas este era o menor dos problemas. Não me sentia mal por perder sua amizade, por ter escutado diversas coisas ruins, por mais que ambos tenham sido impactantes, não me sinto mal por ter beijado Peter, por ter aceitado o beijo e gostado. Mais uma vez, me sentia mal pelo modo que fiz ela se sentir e, provavelmente, ela estava bem pior agora.
Ela estava suspensa por minha causa, mesmo que o tapa tenha saído de si mesma, ele só aconteceu porque resolvi falar alguma coisa no banheiro enquanto ela e Maria me fitavam como se eu fosse a pior pessoa do mundo e talvez eu fosse, pelo menos no mundo das amizades ou sei lá como posso chamar o que estava acontecendo. Sentia muito por Maria e ela não precisava ter sido arrastada até toda aquela bagunça e briga, mas pelo menos me confortava o fato de que ela não tinha sido advertida e muito menos suspensa, ela não tinha culpa alguma e, provavelmente, sequer sabia de tudo aquilo até Jullie contá-la.
Subia as escadas para meu quarto enquanto pensava em inúmeras coisas de modo que evitasse parar de pensar em como Jullie me odiava, pensar em tudo aquilo não adiantaria nada e por mais que devesse fazer alguma coisa nada parecia ao meu alcance já que ela realmente não me queria por perto. Deixei a mochila em cima da cama e fui até o banheiro, na esperança de que um banho frio fizesse com que eu me sentisse melhor, parei em frente ao espelho me observando enquanto retirava o tênis e a calça jeans. O lado direito do meu rosto estava visivelmente inchado, Jullie tinha realmente me batido com força e aquilo provavelmente ficaria marcado, o que piorava minha situação. Retirei as peças de roupa abrindo o chuveiro e entrando debaixo do mesmo de olhos fechados.
Enquanto a água caía e molhava meu corpo pensava em Peter e o que ele estava fazendo naquele momento, se ele ainda estava na prisão vendo-a como, praticamente, ordenou à Tony, se ele já havia chegado em casa e estava fazendo o dever de casa ou algo relativo à escola ou se ele já estava pela cidade balançando pelos prédios com sua teia pronto para parar qualquer bandido que cruzasse seu caminho. Abri os olhos quando escutei alguém bater na porta, provavelmente era meu pai e ele confirmou quando perguntou alto se eu já estava saindo porque o jantar estava pronto e posto à mesa, gritei que sim, mesmo tendo acabado de entrar, e terminei meu banho mais rápido que o previsto, trocando de roupa e descendo as escadas.
Assim que cheguei no primeiro andar dei de cara com a mesa posta na sala de jantar que fazia divisão com a cozinha, meu pai estava sentado em uma das cadeiras da mesa oval e apenas sentei na sua frente forçando um sorriso sem mostrar os dentes. Aquela situação era realmente estranha, ele me fitava sorridente mesmo depois de tudo o que vem acontecendo em nossas vidas. Sem que eu pedisse ele pegou meu prato me servindo com os pratos que ele havia feito, sorri agradecendo quando ele abaixou o prato na minha frente pedindo para que eu provasse sua carne com molho apimentado. Eu detesto coisas apimentadas. Mas, obviamente, comi e disse que estava ótimo, realmente não estava ruim.
— Então – ele perguntou após um tempo em que ficamos em silêncio apenas degustando – o que aconteceu na escola?
— A diretora não lhe disse? – perguntei mastigando a carne.
— Ela disse que você brigou na escola hoje – ele pegou o copo de água fazendo uma breve pausa para beber um gole – com Juliet, nossa vizinha e sua melhor amiga. O que aconteceu, Luna?
— A gente teve uma discussão.
— Peter Parker estava no meio – ele me fitava sério até que um pequeno sorriso surgiu em seus lábios – quem o beijou?
O fitei um tanto quanto nervosa. Sério? Eu teria mesmo que falar com meu pai toda a história incluindo a parte em que Peter e eu nos beijamos, que foi onde toda aquela confusão começou?
— A diretora disse que a briga começou por causa de um beijo – meu pai prosseguiu partindo a carne – e como ele era o único garoto presente, presumi que fosse por causa dele. Mas está tudo bem também se vocês duas...
— Não! – o interrompi antes que ele sugerisse que eu fosse lésbica – Não, pai, Jullie e eu... Nós... Não – fiz uma breve pausa respirando fundo enquanto soltava meus talheres lentamente – eu realmente não quero falar disso. Pode ser?
— Claro – ele assentiu levando o garfo com o pedaço de carne recém partido para sua boca – eu só queria entender.
— Não foi nada demais, acredite – tornei a pegar os talheres forçando um sorriso – Jullie, Peter, eu. Um beijo. Uma briga. É isso.
Ele então desviou o olhar para a comida. Realmente não queria falar sobre o ocorrido na escola e nem mesmo o que originou tal briga entre Jullie e eu, por vergonha, por não querer repetir a história, por apreensão, diversas eram as razões que me travavam de falar sobre durante aquela janta que, apesar de apimentada, estava deliciosa. Não demorei a terminar de comer e meu pai me surpreendeu quando pediu para que eu não me levantasse que ainda tinha sobremesa. Perguntei algo sobre ele saber cozinhar e ele apenas riu dizendo que, desde que cheguei, não passamos muito tempo juntos a ponto de realmente conhecê-lo e que ele mudaria isso a medida que conseguisse.
Então compreendi o que estava acontecendo, como um estalo a resposta para minha pergunta pertinente estava respondida: ele se culpava. Mais uma vez ele se culpava por minhas escolhas que, muito provavelmente, eram péssimas escolhas em seu ponto de vista. E eu compreendia, afinal, estava com uma tornozeleira elétrica que poderia me eletrocutar a qualquer momento caso eu não seguisse as ordens e os conselhos a mim dados. E agora, fui advertida na escola por ter brigado com a única amiga que ele conhecia, até porque Jullie era realmente a única amiga que eu tinha,  mas não mais. Não sei se vê-lo se esforçando para ser um pai mais presente, comunicativo e simpático era algo bom, afinal, sempre convivi tranquilamente sem sua presença, mesmo depois de vir morar com ele nos Estados Unidos.
Ele voltou para a mesa com um sorriso enquanto carregava dois pratos menores, deixou o meu na minha frente e pude perceber que era pudim de leite condensado, meu favorito. Ele sabia? Se lembrava? Ou havia sido apenas uma coincidência?
— Você se recorda, no Natal de 2005, que você pediu ao Papai Noel uma casa feita de pudins? – ele riu me entregando uma colher antes de sentar-se novamente na minha frente.
Balancei a cabeça negativamente porque realmente não me lembrava, mas ri achando a história engraçada.
Ele me fitava enquanto comia e abafava sua risada com os lábios – Você chorou na hora de abrir os presentes porque tinha ganho apenas alguns pudins. Você ficou com raiva do Papai Noel por algumas horas até esquecer do que tinha acontecido.
Ri o fitando – Minha mãe nunca me contou isso.
— Não? – ele arqueou a sobrancelha me fitando – que estranho, era uma das histórias favoritas dela. Passamos a noite rindo sobre isso.
O fitei com um sorriso menor. Era estranho para mim falar de minha mãe após sua morte porque, obviamente, eu sentia muita falta dela. E aparentemente não era a única.
— Eu fiz a maior merda quando deixei vocês duas – ele fez uma breve pausa com a voz tremula – e não me perdoarei por isso nunca.
— Qual o sentido, pai?
Ele ergueu o olhar do pudim até mim – O que?
— Por que tudo isso? – perguntei tentando parecer o mais dócil possível – por que o jantar? A sobremesa? A história feliz?
Ele soltou a colher em cima do pudim afundando-o levemente – Porque eu quero que as coisas mudem.
— Que coisas?
— Entre nós. Quero que me veja como pai, assim como quero te ver como filha. Me arrependo de tê-las deixado e agora não posso voltar atrás porque sua mãe… Ela… Ela se foi. Eu fui um covarde que fugiu e não quero ser assim de novo. Por isso fiz tudo isso, porque quero ser mais presente na sua vida e te quero mais presente na minha. Como família.
O fitei soltando a colher. Era um pouco estranho escutar tudo aquilo, mas se havia algo que aquele dia não estava sendo era normal, emoções a flor da pele estavam marcando meu dia onde eu parecia ser a única a receber golpes sentimentais bem no meio da cara – e isso não foi um trocadilho. O fitava séria e forcei um sorriso onde, imediatamente, fui capaz de ver um pingo de alívio no rosto de meu pai, ele parecia estar realmente tentando. E sim, ok! Podemos ser uma família, a que nunca fomos já que ele esteve ausente dez anos de minha existência, mas claro, podíamos tentar e por mais que eu não acreditasse que aquele comportamento, de pai presente e comunicativo, duraria muito, apenas deixaria acontecer.
Meu celular vibrou em cima da mesa bem ao lado do prato e o peguei enquanto terminava de comer o pudim maravilhoso que ele havia feito. Na tela aparecia um aviso de que duas novas mensagens tinham chegado em meu celular e as abri quando percebi que eram de Peter, estava aliviada por ele dar notícias, mas no instante em que li a primeira mensagem a preocupação apenas aumentou.
“Preciso que me prometa uma coisa”
Abri a segunda mensagem fitando o celular completamente séria, tentava disfarçar de modo que meu pai não percebesse a preocupação, e então li a mensagem em silêncio para mim mesma:
“Me prometa que nada mudará entre nós dois independente do que aconteça.”
Que diabos ele estava falando? Por que algo mudaria entre nós dois? O que estava acontecendo? O que Peter planejava? Levantei-me bruscamente da mesa fazendo com que o sorriso de meu pai sumisse e ele parasse de contar alguma história sobre como seu melhor amigo do ensino médio havia enganado um professor no último dia de aula deles. Forcei um sorriso dizendo que precisava ir ao banheiro e imediatamente subi as escadas correndo, fechei a porta do banheiro apertando o número da discagem rápida que ligava diretamente para Peter. Sentei-me na privada, com a tampa fechada, enquanto escutava os sinais no telefone.
— Oi, aqui é o Peter. Peter Parker. Deixa seu recado depois do sinal que se eu conseguir, te ligo! Até!
Desliguei o telefone optando por não deixar recado e sim tentar novamente, liguei uma segunda, terceira e quarta vez. Todas chamaram igualmente e caíram na caixa postal após alguns “tus” de sinal, e então, na quinta vez não houve sinal, pensei que pudesse ser alguma falha de sinal do meu celular e tentei uma sexta vez acontecendo o mesmo: caindo direto na caixa postal sem sinal ou “tus” indicando que estava chamando.
— Oi, aqui é…
Desliguei o celular e então me levantei guardando-o no bolso, ia até sua casa para saber se sua tia May tinha alguma notícia ou ideia de onde ele estava. Parei na porta enquanto segurava a maçaneta. Minha respiração estava falha e apenas piorou quando percebi algo de extrema importância: não havia nada que eu pudesse fazer. Abaixei a cabeça na direção do meu tornozelo olhando para a tornozeleira com o fio de eletricidade verde por dentro. Não podia nem mesmo ir a casa ao lado perguntar para May se ela sabia de Peter para me tranquilizar. Pisquei os olhos diversas vezes levantando o rosto para fitar a porta. Nunca havia me sentido daquela maneira, realmente preocupada com alguém, preocupada com Peter Parker que era o Homem-Aranha e arriscava sua vida todas as noites para proteger as pessoas da cidade. Parece estupidez apavorar por causa de mensagens e ligações não atendidas, talvez ele estivesse ocupado demais para me responder. É, era isso.
Só podia ser.
Desencostei-me da porta apoiando as mãos na pia enquanto me olhava no espelho, minha feição não era das melhores e meus olhos arregalados indicavam que a minha tentativa de acalmar a mim mesma mentalmente havia falhado miseravelmente. Mas o que eu não entendia era todo aquele pavor. Peter estava do lado da lei, não era considerado um criminoso, tinha Stark e o Governo ao seu lado e era um excelente herói, o que podia dar errado? Nada, claro.
Fui até meu quarto apoiando as mãos na janela enquanto curvava meu corpo para fora da casa de modo que eu conseguisse uma boa visão da janela do quarto de Peter, do meu quarto eu conseguia ver apenas um pedaço se colocasse a cabeça e parte do corpo para fora. Às luzes estavam apagadas assim como o restante de sua casa onde apenas a luz da sala estava acesa. Olhei em direção ao horizonte onde apenas uma minúscula parte do Sol iluminava deixando o céu em um tom abstrato, a noite já estava praticamente inteira pela cidade e eu não sabia se isso era algo bom ou ruim.
Talvez fosse algo bom já que Peter me visitava de noite após uma ronda atrás de bandidos ou após uma batalha bem sucedida em um dia calmo. Talvez fosse só esperar que ele apareceria com seu novo traje e suas piadinhas, entrando pela janela de meu quarto com muita cautela para que meu pai não o escutasse.
— Você não vai terminar?
Virei-me bruscamente para trás retirando as mãos da janela completamente assustada. Meu pai, por sua vez, se assustou com meu susto enquanto se mantinha parado à porta aberta do meu quarto.
— Você está bem?
Forcei uma risada sentindo meu coração acelerado devido ao susto – Sim! Eu… Devo estar com o “vento virado” hoje.
— “Vento virado”? – ele perguntou confuso.
— É – forcei um sorriso colocando as mãos na cintura enquanto o fitava respirando fundo – é uma expressão que minha avó usava para definir quem se assustava com coisas bobas. Soa mais legal em português, mas igualmente sem sentido.
Ele riu – Tudo bem então. Posso guardar o pudim?
— É, pode. Eu como amanhã – sorria forçada – recebi uma mensagem de uma colega de classe que falou sobre um exercício valendo ponto para amanhã, por isso subi correndo, pra ver se tinha aula de Algoritmos amanhã, ai parece que ouvi alguém me chamar na janela e fui…
— Tudo bem – ele riu erguendo a mão em minha direção de modo que me calasse – está tudo bem. Você não precisa me explicar tudo na sua vida. Só… Vamos tentar fazer isso dar certo ok?
Balancei a cabeça tantas vezes para cima e para baixo que ele apenas riu dando as costas para mim e descendo as escadas novamente. Poderia ter respirado aliviada, mas não conseguia, não com aquela angustia dentro de mim. Claro que estava sendo dramática e uma tola preocupada, mas por mais que tentasse me distrair era em vão. Tentei mexer nas redes sociais pelo celular, vi algumas fotos minhas com Jullie, Liz e Maria, tentei assistir alguma série em um aplicativo, tentei fazer a lição de casa, tentei adiantar uma resenha para mês que vem sobre “Os animais e seus habitats peculiares”, tentei ouvir algumas músicas, ver televisão, ler um livro, estudar, arrumar a mesa do computador e diversas outras coisas enquanto me mantinha atenta na janela e no caso de escutar o barulho grudento da teia de Peter. Mas não a escutei durante as horas que fiquei enrolando em meu quarto, me dei conta que já estava tarde demais quando meu pai, com a cara amassada, apareceu na porta do quarto dizendo que iria dormir em sua cama já que havia cochilado grande parte da noite no sofá da sala enquanto assistia um programa sobre ovelhas. Ri completamente forçada e fechei a porta do quarto a trancando enquanto fazia de conta que também ia dormir. Mas, obviamente, não conseguiria dormir sem antes saber algo de Peter.
As horas passaram tão rápido que me recordo de olhar no celular, após ligar pela milionésima vez para Peter, e a mensagem ir direto para a caixa postal. Vi que já beirava às duas da manhã e eu estava prestes a pular minha janela, mandar o Governo se ferrar, juntamente com Tony Stark, e procurar Peter pela cidade. Algo não estava certo e eu conseguia sentir isso, conseguia sentir que Peter me avisaria do que quer que fosse, mas agora ele estava indisponível e ele não é do tipo que simplesmente abandona as pessoas, não ele, não o Peter Parker que eu conheço.
Não sei explicar como, em meio a tanta aflição, adormeci. Simplesmente não me recordo nem mesmo de sentir sono pesado a ponto de “pescar” e forçar para manter-me acordada.
— Acorda!
Acordei de supetão me sentindo completamente maluca, jurava que tinha escutado uma voz feminina, conhecida, mas que não conseguia assimilar a dona, estava assustada e então percebi que não havia ninguém em meu quarto, olhei em direção à janela e ainda era madrugada, suspirei um pouco aliviada por ter acordado, mas o alívio desapareceu no instante em que peguei meu celular e não havia uma mísera mensagem ou ligação de Peter. Deixei o celular ao lado na cama, colocando meus pés no chão e esfregando meus olhos, olhava para meus pés pensando em Peter, ele não saia de minha cabeça normalmente, mas, naquele momento, estava ainda pior.
Meu coração acelerou. Fiquei parada olhando para meu tornozelo completamente assustada, não sabia o que fazer, se levantava, se me movia ou se saia correndo já que estava sem a tornozeleira. Sim, eu estava sem a tornozeleira e me perguntava se tudo não tinha passado de um maldito pesadelo, comecei a mexer na cama levantando os travesseiros, lençóis e colchas e lá estava ela, parada, imóvel e ainda fechada embaixo da colcha florida que cobria minha cama. Estava mais assustada do que feliz. Estava livre, mas não sabia como tinha feito aquilo, era um novo poder? Eu podia atravessar as coisas? Desde quando? A Lua me possibilita isso também?
E se fosse um teste do Governo agora que Capitão estava solto? E se eles estivessem desativado a tornozeleira de meu pé para que eu fosse atrás de Capitão e, automaticamente, os levasse até ele? E se eu estivesse sendo usada como isca? Ofegante sequer me mexi, desejava não estar sozinha naquele momento, sabia que meu pai estava em seu quarto, porém a única pessoa que eu queria que estivesse comigo para me explicar o que estava acontecendo estava desaparecido há algumas horas, pelo menos desaparecido para mim.
Talvez eu devesse chamar meu pai e lhe dizer o que tinha acontecido, ou ligar para Tony Stark e perguntar que merda estava acontecendo, mas a ideia de liberdade era mais tentadora do que a ideia de compreensão da tornozeleira não estar mais em volta de meu pé me monitorando e prendendo como uma criminosa. Mas não conseguia me mexer, não conseguia levantar e correr o mais rápido possível para longe dali, estava assustada demais para conseguir me mover e, mais ainda: estava com medo do que aquilo realmente significava.
Estava livre? A preço de que?
Fechei os olhos pensando em qualquer coisa que pudesse me ajudar, em minha cabeça cogitava as possibilidades de terem feito aquilo pro bem ou mal, realmente não sabia quem teria feito aquilo além de Tony Stark e o Governo para me usarem. Era óbvio demais e então eu permaneceria ali até conseguir criar coragem de abrir mão da minha liberdade e ligar para Stark.
Me apavorei quando senti uma mão em volta de minha boca, no mesmo instante abri os olhos e não vi ninguém na minha frente, estava sendo sufocada e impedida de gritar ou pedir por ajuda, mas por que chamaria meu pai se eu podia, provavelmente, me proteger? Pelo menos basicamente. Meu coração, ainda mais acelerado, ajudou a fazer crescer o calor dentro de meu peito de modo que meus olhos já começassem a ficar mais claros, me mexia bruscamente enquanto tentava me soltar para ativar o escudo e então usar meus poderes para poder me proteger de quem quer que fosse.
— Por favor, não use seus poderes.
A voz feminina, e extremamente sexy, sussurrou baixo em meu ouvido. Eu conhecia aquela voz, não era de alguém de convívio habitual, mas sabia que conhecia, porém, a mulher não me deixava virar para trás para vê-la o que me deixava ainda mais desesperada. Ela sussurrou novamente:
— Estou aqui a mando do Capitão e preciso que você fique quieta.
Me debati. Como ela queria que eu ficasse quieta com aquela invasão e aquele momento de opressão onde eu sequer podia ver seu rosto?
— A tornozeleira não está desativada. Ela ficou desativada por um minuto enquanto eu retirava ela de você, eu preciso que você fique quieta ou então vamos as duas pra cadeia.
Parei de me debater enquanto a escutava.
— Sou eu, Natasha Romanoff.
Natasha? Ela não estava do lado de Tony? Tentei me soltar mais uma vez e ela pareceu compreender o porquê de tentar me soltar novamente.
— Eu sei – ela sussurrava rente a minha orelha direita – eu estava do lado do Stark. Queria não ter tido que escolher, mas tive, isso é história para outra hora. Agora eu preciso te tirar daqui, se você estiver de acordo. Estou sendo caçada como vocês porque ajudei Capitão e Barnes a fugirem no aeroporto. Preciso que confie em mim, garota.
Permaneci parada como quando a escutava. E se aquilo fosse um treinamento? Um teste? Estava com medo de arriscar, mas, ao mesmo tempo sabia que não podia viver com medo de “e se?”. Natasha então me soltou enquanto eu me mantinha entretida em meus pensamentos, virei meu corpo lentamente em sua direção e ela pressionou seu indicador nos lábios indicando que eu deveria ficar em silêncio. Ela parecia realmente uma fugitiva, usava um casaco preto com o capuz que tampava seus cabelos ruivos por mais que alguns fios insistissem em cair em seu rosto.
Natasha caminhou lentamente em direção à escrivaninha do meu quarto enquanto observava alguns objetos que estavam jogados ali por cima, eu apenas a fitava com o coração acelerado tentando compreender o que aquilo realmente significava. Então, Capitão me queria ao seu lado? Ele realmente arriscou um dos seus para me deixar livre novamente e levar-me até ele? Natasha virou-se para trás para me olhar e fez um sinal com a mão me apressando, mas apenas permaneci sentada a fitando completamente assustada. Estava com medo.
Pensava em meu pai e em como ele reagiria ao acordar e não me ver ali, apenas a tornozeleira solta em meio aos lençóis, o decepcionaria novamente e dessa vez a probabilidade de ser perdoada seria mínima, eu partiria seu coração e quebraria, de vez, sua confiança em mim. Mas, ao mesmo tempo, queria sair dali e lutar pelos meus direitos e pelo que considerava certo, estava me sentindo em um labirinto sem saída que me machucaria qualquer que fosse a escolha.
Se eu decidisse ficar me arrependeria para o resto de minha vida por reter uma vontade minha por causa de meu pai e, mais ainda, por ter que me portar por tempo indeterminado como uma criminosa que não era. Se eu decidisse ir machucaria meu pai talvez de uma maneira irreparável e, por mais incrível que pudesse parecer, me preocupava com isso.
Natasha então moveu os braços de modo que chamasse minha atenção, a fitei parada perto da escrivaninha e ela segurava meu caderno deitado com uma folha virada para mim onde percebi que ela tinha escrito algo. Fiquei de pé caminhando em sua direção para conseguir ler melhor e então a fitei após ler: “Não posso falar porque caso reconheçam minha voz está tudo arruinado. Prometo te explicar tudo que quiser quando saímos daqui, se assim desejar, mas não posso demorar muito também, porque sou uma fugitiva”
Abri a boca para sussurrar, mas novamente ela colocou o indicador sobre os lábios indicando que eu não deveria falar, esticou o caderno e a caneta em minha direção e, trêmula, resolvi tomar a decisão mais rápida e mais difícil de minha vida ao escrever:
“Qual o plano?”
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iacervo-meu-blog · 9 years ago
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XIV: Esperança.
Caminhei em direção ao pátio ao lado de Peter quem se mantinha em silêncio, estranhei um pouco o fato dele não dizer nada, mas não o forçaria depois de tudo o que passou dentro da sala da diretora e também fora, Jullie tinha sido rude o suficiente com suas palavras para fazer com que ele se sentisse ainda pior.
— Você tá bem? – perguntei logo que ele segurou a porta para mim enquanto forçava um sorriso.
— Sim – ele respondeu – e você?
— Tenho que dizer que tô melhor – o respondi voltando a caminhar a seu lado.
— Acho que ela desabafar foi algo positivo – ele colocou as mãos nos bolsos da jaqueta.
— Também acho – concordei sentindo o vento forte bater em meu rosto bagunçando meu cabelo, me encolhi em meu casaco enquanto colocava as mãos nos bolsos da frente de minha jaqueta. Pisando nas pedras de brita cinza caminhávamos em direção à uma das mesas externas de madeira onde, de longe, conseguíamos ver alguém sentado. A medida em que nos aproximávamos eu desejava que estivesse errada, que meus poderes não estivessem me ajudando a escutar essa pessoa que parecia falar com uma mulher no telefone. Fechei os olhos a medida que nos aproximávamos e respirei fundo atraindo a atenção de Peter.
— O que foi? – ele perguntou.
Abri os olhos o fitando – Você realmente não sabe quem é?
— O cara sentado? – Peter me fitava confuso.
Balancei a cabeça positivamente.
— Não. Eu meio que usava óculos até pouco tempo então… É um pouco normal eu não conseguir vê-lo direito, eu acho.
Dei um breve e fraco sorriso voltando a olhar para frente, olhava fixamente para a silhueta do homem que acabara de ficar em pé percebendo que estávamos nos aproximando. Ele dizia ao telefone rapidamente que tinha que desligar porque estavam a caminho, a mulher assentiu desligando o telefone e então sua atenção era toda nossa, o que não me deixava feliz.
Peter me fitou no instante em que percebi que ele estava enxergando quem era. Tony Stark abriu os braços com um sorriso amigavelmente forçado e logo abaixou os abaixou mantendo um sorriso menor em seus lábios, ele vestia uma roupa comum e óculos escuros, provavelmente só seus óculos valiam mais que minha própria casa.
Dádivas de ser um Stark.
— Ei, senhor Stark – Peter caminhou na minha frente subindo na mesa de modo que passasse para o outro lado para cumprimentá-lo.
— Garoto – Stark sorriu o observando.
Os dois apertaram as mãos como dois sócios e ambos viraram, em sincronia, seus rostos para me fitar.
— Garota – Tony me cumprimentou.
— Stark – respondi sem forçar sorrisos ou expressões.
— Vamos, senta aí, os dois – ele apontou pra mesa.
Peter, novamente, passou por cima da mesa parando ao meu lado, virei o rosto para olhá-lo e ele sorriu amigavelmente me fitando, aquele sorriso era o mais sincero que tinha visto há alguns dias. Revirei os olhos bufando e sentando na mesa da madeira enquanto olhava para Tony, Peter sentou ao meu lado e me empurrou com os ombros na tentativa de me fazer sorrir e chamar minha atenção. Mas apenas lhe lancei um rápido olhar com um breve sorriso e logo voltei minha atenção para Tony Stark quem se sentava a nossa frente.
— Certo – ele esfregou uma mão na outra após apoiar seus cotovelos na mesa – em primeiro lugar: sinto muito por não ter conseguido ir na sua casa ontem, Luna. Gostaria de ter discutido o acordo pessoalmente com você, mas houveram imprevistos.
Não o respondi, apenas o fitava em silêncio escutando o que ele tinha a dizer com aquele olho roxo.
— Ótimo – ele abaixou as mãos sorrindo enquanto desviava o olhar para Peter – ela não ficou chateada por isso.
Peter não disse nada e eu mantive meu silêncio.
— Vamos lá garoto – Stark apontou para Peter – você não cala a boca nunca e agora tá todo em silêncio.
— Só não tenho o que dizer – Peter se defendeu.
— É, não tem nada pra dizer – Tony respirou fundo desviando o olhar de ambos enquanto observava o ambiente à seu redor – queria falar com os dois juntos sobre algo que aconteceu recentemente e que é a razão pela qual não fui discutir o acordo com você, Luna.
— Algo aconteceu? – Peter perguntou.
Stark ficou alguns segundos em silêncio olhando para seu lado direito, talvez para a quadra de basquete, talvez para as arquibancadas, não sabia dizer – Sim.
Peter e eu esperávamos que ele dissesse logo o ocorrido, mas ele ainda fez mais alguns segundos de silêncio e então virou-se para nos fitar prosseguindo:
— Capitão libertou seus amigos da prisão.
— O que? – Peter perguntou assustado se endireitando no banquinho sem encosto – como?
Olhei atentamente para Stark quem me fitava, também atento, como se eu tivesse algo para lhe dizer. Mas, de fato, eu não tinha – a não ser que pular para comemorar fosse o que ele esperava de mim.
Ele olhou para Peter o respondendo – Ele invadiu a prisão, deixou toda a tropa e os vigias inconsciente e liberou seus aliados.
— Quando foi isso?
— Ontem – ele se mantinha sério e então me fitou, um sorriso brotava em meus lábios e por mais que eu tentasse segurá-lo para mim mesma estava sendo em vão.
— Já o localizaram? – Peter mantinha as perguntas a mil – Não tinha câmeras? Eu sei lá… O que…?
— Calma ai, garoto – Tony apontou para Peter o fitando brevemente e então se virou para mim – nem pense nisso.
O fitei com as sobrancelhas erguidas e um sorriso nos lábios atraindo a atenção de Peter.
— Se você entrar em contato com qualquer um deles, você vai pra cadeia, sem direito de julgamento, visitas e perde todos os seus direitos.
Apenas permaneci sorrindo e o fitando.
— Como é que é? – Peter perguntou – perde todos os direitos?
— Eles são considerados criminosos, Parker – Tony o respondeu – conspiração contra o governo e ameaça terrorista não são crimes passíveis de conversa. Ainda mais nessa categoria.
— Qual categoria? Independentemente de quem seja ou do que fizeram, todos tem direito à um julgamento justo e uma segunda chance.
— Você realmente acredita que um assassino possa ter uma segunda chance neste mundo que corrompe até mesmo os mais fortes? – Stark o fitou.
— Eles não são assassinos! – Peter aumentou o tom de voz encarando Tony – nem mesmo o cara do braço de metal.
Olhei para Peter quem, mesmo sem perceber, estava se opondo à Stark e ficando ao lado de Capitão. Me perguntava se ele estava tomando consciência do que realmente estava acontecendo ou se era apenas algo de momento.
— Ele matou muitas pessoas, garoto. Você é jovem demais para entender as circunstâncias disso.
— De um assassinato? Já vi pessoas morrerem ao meu lado, senhor Stark. Pessoas que importavam mais para mim do que eu mesmo.
— A morte de seu tio Ben é diferente – ele soltou tão frio quanto um cubo de gelo – isso é algo maior do que perder um familiar garoto.
Peter não o respondeu. Manteve-se sentado completamente sem sorrisos, se eu não o conhecesse diria que ele estava triste, mas na verdade ele parecia mais irritado do que conformado com o que Tony havia acabado de dizer. O fitava de perfil de modo que o via contrair o maxilar enquanto fitava Tony sem cessar.
— E você! – Tony praticamente me gritou fazendo com que eu retirasse os olhos da feição de Peter e o fitasse, ele apontava o dedo na minha frente – vim aqui especificamente falar com você.
Apenas o fitei esperando o discurso.
— Você não pode trocar uma mísera palavra com qualquer pessoa que estiver envolvida com Capitão. Você sequer está autorizada a falar dele, vai por mim você não vai querer falar dele com ninguém ou essa coisa no seu pé vai te eletrocutar até você perder a consciência.
— É, estou sabendo – falei com um pequeno sorriso.
— Ah, ela sabe falar – Stark bateu a mão de leve na mesa enquanto forçava um sorriso – sério garota. Foi o melhor acordo que consegui para você e não foi fácil, não mesmo. Os caras não dão o braço a torcer com facilidade e sequer queriam te dar uma chance, foi necessário um discurso altamente humanista para que eles entendessem que o local de uma adolescente de quinze anos não é na cadeia.
— Obr…
— Não quero seu obrigado, já disse para agradecer seu amigo tagarela e nervosinho ali – ele apontou para Peter quem o fitava sério.
Permanecemos em silêncio por um tempo, fitava Stark com um sorriso nos lábios que já havia desistido de esconder, Tony olhava para Peter quem também o fitava sério. Eu apenas sorria. Estava visivelmente contente por não ter acabado, por Capitão não ter se dado por vencido e por ter voltado por seus amigos tirando-os das celas que foram postos injustamente.
— Ele sabe que sou grata por tudo – falei lhe lançando um rápido olhar, Peter me fitou de volta ainda sério – e entendi Stark. Sem falar com eles ou deles. Obrigada pela preocupação.
— Acho que você não entendeu – Tony ficou de pé apoiando as mãos na mesa enquanto aproximava seu rosto – pare de ser sarcástica por alguns segundos e pense.
Apenas o fitei ainda sorrindo, o encarava com as sobrancelhas erguidas. Hei de confessar que ver Tony Stark visivelmente impaciente na minha frente era algo que me alegrava.
— Na primeira vez que você escolheu sem pensar nas pessoas ao seu redor seu pai sofreu e inventou mentiras pra não te entregar. Ele ficou tão aliviado quando te teve de volta que afirmou não ter sido você mesma a tomar aquela decisão. E você se lembra de como ele ficou decepcionado quando você disse que não havia ninguém controlando sua mente e que foi escolha sua?
— Como você sabe disso? – perguntei assustada e sem sorrir. O sorriso havia sumido de meus lábios e tudo o que conseguia pensar era em como Tony sabia de tudo aquilo.
— Não seja egoísta porque mesmo que queira você vai machucar a si mesma desta vez – Tony desencostou da mesa endireitando seu corpo – e será fisicamente. Se você acha que é algo nesta luta, você está errada. Você é apenas uma adolescente de quinze anos que ninguém quer atrapalhar a vida. Pense em seu pai dessa vez e pare com esse sarcasmo porque não é nada fofo.
Apenas o fitava enquanto ele falava aquelas coisas no intuito de me machucar, mas apenas as coisas que ele disse referente à meu pai e sua decepção com as minhas escolhas me afetaram. Em contrapartida nada do que ele disse, sobre não precisarem ou me quererem por perto, não me importava, eu não fazia isso por eles ou para agradá-los, eu fazia por causa de minha ideologia e, especialmente, porque aquele babaca de pé na minha frente tinha me enfiado no meio de tudo aquilo.
— Estão avisados do que aconteceu, Parker fica de olho na sua amiguinha por mais que ela já saiba os riscos que corre – Tony olhou em seu relógio apertando um pequeno botão vermelho no canto direito. De imediato um barulho iniciou-se indicando que a armadura começava a se montar em volta de seu corpo, em questão de segundos ele estava com sua tradicional armadura vermelha e dourada e desativou o capacete para nos olhar – até mais.
— Stark – Peter ficou de pé rapidamente o fitando.
— Tem algo a me dizer, Peter? – ele perguntou o fitando – diga logo porque tenho que resolver algumas coisas.
— Quero conhecer.
— Conhecer o que?
— A prisão – Peter respondeu andando na direção de Tony, mas não subiu pela mesa desta vez, ele apenas passou em volta da mesma.
— Você não queria ir para Alemanha por causa de um dever de casa e agora quer matar aula para ir até a prisão?
— Eu quero vê-la – ele dizia firmemente enquanto parava próximo de Tony.
— Peter…
— Com todo respeito, senhor Stark – ele o interrompeu de imediato – sem questionar o ajudei a prender a maioria dos que estavam por lá e o senhor os colocou em uma espécie de centro de detenção que nunca vi. Então agora eu gostaria de ver ele. E já que eu deveria ser sua grande surpresa, isso não é um problema, certo Tony?
— Não – Tony o respondeu – sem problema mesmo.
Peter então se virou em minha direção após uma longa troca de olhares com Stark, me perguntava o que estava acontecendo e porque Peter não estava mais agindo como um manda-chuva de Tony – Você me cobre?
— Claro – respondi um pouco assustada pela vontade repentina de Peter de visitar a prisão que tinha acabado de ser invadida por Capitão.
— Obrigado – ele respondeu sério.
Stark fechou sua armadura enquanto esperava Peter ajeitar seu lançador de teias em suas mãos, olhei ao redor de modo que observasse as janelas e outros locais para ver se alguém os observava, afinal, Peter sairia lançando suas teias por ai, aparentemente sem sua roupa de aranha, e ninguém da escola podia ver tal acontecimento ou sua identidade secreta estaria comprometida.
— Podemos ir? – Tony perguntou parado no mesmo local.
— Sim – Peter balançou a cabeça positivamente me lançando um breve sorriso.
Apenas o fitei com um breve sorriso nos lábios, Tony alçou voo com sua armadura e Peter lançou sua teia no prédio mais alto da escola dando continuidade nos prédios seguintes a medida que seguia Tony quem tomava a frente como bom líder que gostava de ser. E assim o vi se afastar em direção ao Norte enquanto pensava em como conseguiria voltar sozinha para a sala de aula depois de toda aquela confusão.
Mas não podia deixar nada me abalar. Não mais, não depois da notícia que tinha acabado de receber: Capitão e seus aliados mantinham-se de pé na luta e aquilo para mim nada mais era do que um grande sinal de esperança, de que tudo ainda poderia se resolver, de que a liberdade tomaria seu rumo certeiro.
E tudo daria certo.
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iacervo-meu-blog · 9 years ago
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XIII: Morta.
— Oi!
Virei-me na direção da voz já sorrindo, reconheci ser a voz de Peter rapidamente.
— Oi – o cumprimentei sorrindo – bom dia.
— Bom dia – ele segurava nas alças da mochila – é bom te ver do lado de fora.
Sorri dando de ombros – Melhor do que permanecer presa em casa.
Ele apenas sorriu.
— Você está bem?
— Sim, claro – ele me olhou confuso - por quê?
— Você está indo pra escola no horário – brinquei – isso é novo.
Ele riu e coçou a nuca como de costume – Bem, se o senhor Stark precisar de mim, ele chamará.
— Ah – balancei a cabeça sem sorrir – sim.
— Eu sei – ele disse desviando o olhar – parece que sou só um boneco, mas na verdade isso acaba me ajudando muito nos estudos.
— Mesmo se atrasando você sempre tirou as maiores notas da sala, Parker.
— Mas se eu continuar atrasando serei expulso.
O fitei assustada. Jamais pensaria que Midtown High School tomaria uma decisão tão violenta.
— É – ele arqueou as sobrancelhas sorrindo – então, Stark está meio que me ajudando.
— Legal – resmunguei forçando um sorriso.
Não sei se era apenas implicância de minha parte, mas aquela situação eu mais via como um controle do que uma ajuda. Peter sempre avisava o que estava acontecendo para Tony desde que aceitou o Tratado de Sokovia, afinal, isso fazia parte do mesmo. Compreendo que ele não queria ser expulso da escola que, agora, estava com essa nova medida, mas ainda assim não conseguia ver Tony como um bom cara que só quer ajudar.
Tirei tais pensamentos de minha cabeça quando o ônibus escolar chegou, Peter e eu entramos no mesmo dando de cara com Flash Thompson quem me parou para perguntar de Jullie, respondi a verdade: não sabia onde ela estava. Ele não acreditou, mas infelizmente era a mais pura verdade. Mandei milhões de mensagens, liguei diversas vezes e ainda bati em sua casa para saber se ela estava disponível para conversarmos, mas, obviamente ela estava me ignorando e não tirava sua razão.
Passamos grande parte do caminho com Flash desabafando sobre como gostava de Jullie, mas ele sussurrava, no banco ao lado do meu, como quem estivesse com vergonha de assumir seus sentimentos, Peter apenas o ignorava sentado perto da janela, mas eu sabia que ele escutava tudo o que Flash dizia quando soltava uma risadinha abafada ou se mexia incomodado com algumas coisas que ele dizia sobre ser um grande homem.
Muito mal escutei Flash, apenas o deixei falar enquanto, mentalmente, ensaiava o que diria a Jullie, por mais sincero que fosse tinha ensaiado as desculpas em minha cabeça durante toda a manhã e o fato de ainda não termos nos encontrado me deixava mais ansiosa e amedrontada. Jullie era minha melhor amiga desde que cheguei, ela foi a primeira a me acolher e tentar conversar comigo calmamente porque, segundo ela, eu não tinha cara de americana e ela ficou com medo de não compreender nada do que ela falava, mas ela, no instante em que disse falar inglês naturalmente e ser americana, riu sem graça e falou sem parar. Sorri lembrando de como fiquei tímida por muito tempo ao lado dela quem tagarelava sem parar.
— Ei! – Flash me empurrou de leve esticando seu braço pelo corredor do ônibus – o que você acha?
— O que? – perguntei virando meu rosto para olhá-lo.
— Você acha que ainda tenho chance com ela? – ele forçou um sorriso enquanto me olhava.
— Não faço ideia – respondi me ajeitando no banco – mas, você quer um conselho?
— Claro! – ele disse um pouco mais alto que o normal atraindo a atenção das pessoas a nossa frente.
— Cai fora.
— O que? – ele me fitou assustado.
— Você foi um imenso babaca, Flash Thompson – cruzei os braços sentindo o olhar de Peter sobre mim enquanto era sincera com Flash – ela merece coisa melhor que um idiota como você.
Ele então me fitou, pela primeira vez vi Flash Thompson sem seu sorriso largo e vitorioso. Achei que ele fosse se levantar e me insultar de alguma maneira, mas ele apenas se levantou e caminhou em direção aos fundos do ônibus, sentou-se sozinho perto da janela e, momentaneamente, fiquei sem reação e sem entender o que aquilo significava. Olhei para Peter quem mantinha as sobrancelhas erguidas me fitando tão confuso quanto eu me sentia.
— Merda – resmunguei ficando de pé e deixando minha mochila no banco ao lado de Peter quem apenas me acompanhava com o olhar ainda mais confuso do que antes.
Arrastei-me até os fundos do ônibus enquanto observava Flash Thompson completamente cabisbaixo, era até ridículo vê-lo daquela maneira porque me fazia pensar que, a qualquer momento, ele levantaria rindo da minha cara enquanto seus amigos apontariam para mim e me chamariam de idiota por tentar consolar Flash de alguma maneira, mas eu não viveria em paz se não o fizesse. E, em momentos assim, eu me odiava.
— Flash…
— Relaxa – ele disse pigarreando enquanto abraçava sua mochila como um brutamontes indefeso – eu tô bem.
Sentei-me no banco à sua frente virando-me de costas para a frente do ônibus enquanto o fitava - O que foi?
— Nada, latina. Só me deixa em paz – ele olhava pela janela o movimento da rua.
— Eu só não peço desculpas porque não menti, mas – hesitei ao perceber que estava me explicando para o cara mais babaca da escola – poderia ter falado de um jeito diferente.
Ele me fitou – Sei que sou um babaca de vez em quando…
— De vez em quando? – perguntei o interrompendo.
— É, de vez em quando – ele manteve sua postura cabisbaixa – mas eu gosto dela, Luna.
— Sério, Flash – bufei coçando a testa enquanto fechava os olhos, prossegui assim que tornei a fitá-lo – não tem essa de ser babaca de vez em quando. Ou você é ou não é. E cara, você é um completo babaca. E ela gostava de você até você se aproveitar dela, e dos sentimentos que ela foi capaz de te dizer, e começar a sair com Amanda esfregando isso na cara dela e da escola inteira.
O ônibus parou, provavelmente para pegar um dos alunos, mas nem eu, nem Flash olhamos. Ele tornou a ficar cabisbaixo olhando para o asfalto morno da rua e eu o fitava falando sem parar:
— Ela é a garota mais incrível que um cara pode querer ter, e, misteriosamente, acredite em mim eu nunca entendi o que ela viu em você, você a tinha e simplesmente jogou tudo fora e não dá pra entender o porquê. Por medo? Por susto? – ele abriu a boca para falar, mas não o deixei – não quero saber o porquê, mas você machucou a garota mais legal e confiante que eu conheço. E ela é maravilhosa! Ela é divertida, bonita, inteligente e se eu gostasse de mulheres, com certeza, já teria me apaixonado por ela porque ela é incrível e não merece um cara como você quem vai fugir na primeira oportunidade ou pisar na bola logo na primeira semana. Por isso eu falei que você devia cair fora – fiz uma breve pausa o fitando – mas isso não cabe a mim, Thompson. A escolha é dela e se ela te quiser de volta não tem quem tente atrapalhar porque ela é uma garota de opinião e você estragou com tudo quando teve a chance.
O ônibus inteiro estava em silêncio e percebi isso apenas quando parei de falar sobre o quão espetacular Jullie era. Provavelmente estava parecendo estar interessada nela e despachando Flash para poder ficar com ela só para mim, mas eu sabia que não era isso e então isso bastava. Flash ergueu o olhar até mim e então olhou para além de onde eu estava sentada esboçando uma reação incompreensível. Não sabia se ele estava feliz ou triste.
Virei-me para frente do ônibus e então dei de cara com Jullie, com seus cabelos ruivos envoltos em duas tranças jogadas para frente por cima de seus ombros, me fitando com os braços cruzados. Ela me fitava completamente séria e se eu não soubesse a razão pela qual ela estava daquela maneira comigo, diria que ela estava com ciúmes de Flash.
— Obrigada por me defender, Luna – ela disse sarcástica e completamente fria – mas posso fazer isso sem você.
— Julles, eu…
— Agora se me dá licença – ela me interrompeu – gostaria de falar com Flash, ou você vai querer beijá-lo, também?
Não respondi, apenas lancei um olhar para Peter quem me fitava no banco completamente perdido e sem saber o que fazer. Jullie olhou na mesma direção que eu e Peter ergueu seu olhar até ela quem, rindo, se virou para me fitar.
— Precisamos conversar – sussurrei em meio ao silêncio do ônibus, todos prestavam atenção no que estava acontecendo.
Ela não me respondeu.
Fiquei de pé segurando nas barras de metal enquanto me aproximava dela – Sério Julles, me dá a chance de explicar o que aconteceu.
— Sério Luna, sai da minha frente – ela fazia questão de falar alto o suficiente para que todos escutassem – eu odeio você.
Foi como se alguém tivesse me apunhalado sem dó nem piedade. De imediato senti uma vontade absurda de chorar enquanto ela passou por mim me esbarrando de modo que me afastasse de seu caminho. Olhei para frente e metade das pessoas olhavam discretamente enquanto a outra metade empoleirava em seus bancos para ver a confusão nos fundos. Segurando nas barras fui andando em direção a meu assento, peguei minha mochila e sentei-me ao lado de Peter tentando normalizar minha respiração enquanto dizia a mim mesma que não choraria. Era muito mais difícil segurar o choro com o peso da culpa tão forte nos ombros.
Aos poucos, os alunos foram se virando para frente e voltando a conversar entre si sobre seus assuntos pessoais, futebol, novela, algum filme e sobre o que tinha acabado de acontecer. Mesmo concentrada em não chorar dentro do ônibus por causa das palavras de Jullie, podia escutá-los e, inconscientemente, os assuntos que mais me prendiam eram aqueles que especulavam sobre o que tinha acontecido com nossa amizade.
“Não acredito que ela estava dando em cima do Flash” reconhecia a voz de Gina Jeawlery sussurrar para alguém.
A resposta vinha de imediato: “Parece que ela tava defendendo a Jullie de algo que o Flash falou. Você sabe como ele é, deve ter falado besteira e a amiga foi defender.”
“Algo me diz que elas não são amigas mais” Billy Crawford sussurrava em outro canto.
A voz de Masie Kyle se tornou audível como resposta: “Acho que ela está a fim da Jullie e tentou beijar ela a força.”
A risada de Billy saiu abafada “Que falta de sorte! Mas quem não é a fim da Jullie também?”
“Só quem não pegou… Ainda!”
Ambos riram juntos e eu apenas fechei os olhos tentando isolar todas aquelas vozes dentro da minha cabeça. Abri os olhos ao sentir algo em minha mão direita fazendo cócegas, as pontas quentes dos dedos da mão esquerda de Peter encostavam no peito de minha mão apoiada em minha perna. Virei meu rosto para olhá-lo e ele recolheu sua mão enquanto me fitava com um pequeno sorriso amigável. Por um instante esqueci todas as vozes ao nosso redor e me senti mais tranquila, mas assim que o ônibus parou e todo mundo começou a levantar me dei conta de que havíamos chego na escola.
— Você está bem? – Peter perguntou andando atrás de mim em direção a saída do ônibus.
Balancei a cabeça positivamente como resposta enquanto descia as escadas. Caminhamos lado a lado, mas em silêncio, em direção a entrada da escola.
— Pete, oi!
Assustei-me com Harry Osborn chegando ao lado de Peter completamente ofegante, ele apoiou as mãos nos joelhos enquanto puxava ar para seus pulmões tentando falar com Peter.
— Você tá bem, Harry? – Peter perguntou desanimado pousando a mão no ombro do seu amigo.
Harry me fitou ainda curvado – Posso falar com você?
Compreendi a indireta forçando um fraco sorriso – Vejo vocês depois.
— Ok – Peter balançou a cabeça positivamente completamente confuso se me deixaria ir mal ou se ficaria para escutar o que o amigo afobado tinha para lhe dizer.
Mas antes que ele pudesse dispensar Harry ou se preocupar comigo, caminhei em direção a entrada segurando as alças de minha mochila, escutei Harry perguntar o que tinha acontecido comigo e Peter apenas respondeu que era uma longa história logo mudando de assunto. Foquei meus pensamentos em outros locais de modo que não escutasse o que Harry tinha a dizer para Peter, afinal, ele queria falar a sós com o amigo não era a toa.
Fui em direção à sala de aula deixando minha mochila em cima de minha carteira enquanto me dirigia em direção ao banheiro que ainda estava vazio. Parei em frente ao espelho apenas me fitando, ultimamente, especialmente em um único dia, as coisas tinham dado tão errado que eu mal poderia prever tudo isso acontecendo de uma vez só: as condições de estar em liberdade condicional, o momento em que contei para Jullie que Peter e eu havíamos nos beijado, a briga com meu pai sobre ter sido minha escolha ter ficado do lado “errado” da Guerra, dentre outras pequenas coisas que me mantinham abalada. Apoiei as mãos na beirada da pia respirando fundo, mesmo com tudo isso acontecendo eu não podia me deixar abalar e ficar mal com tais situações.
A porta do banheiro se abriu fazendo um barulho um tanto alto, que indicava que a porta precisava urgentemente de óleo. Olhei na direção da mesma e vi Jullie entrando ao lado de Maria Poddam ambas riam de algo e assim que me viram fecharam a cara como se eu fosse a pior pessoa do mundo. E, honestamente? Estava me sentindo. Caminhei em direção à porta, mas parei no exato instante em que ela me chamou pelo sobrenome com o sotaque americano:
— Mouraes.
Virei-me para fitá-la sem ter o que dizer.
— Você sabia que a Maria gosta de um dos garotos de nossa sala? – ela cruzou os braços sorridente.
Novamente, não respondi.
— E que uma das razões de termos nos aproximado tanto é porque gostávamos do mesmo cara?
Fechei os olhos compreendendo o porquê daquela conversa repentina. Meu coração disparou enquanto eu tentava não me sentir ainda pior.
— Sim. Peter, Peter Parker – Jullie prosseguiu – mas de que adianta, não é mesmo?
— Jullie – sussurrei abrindo os olhos para fitá-la – me desculpa.
— Tá tudo bem, Luna – ela deu de ombros andando em direção a pia – estou lidando melhor do que Maria, na verdade.
— Por que está fazendo isso? – perguntei.
— Isso o que? – ela perguntou abrindo a torneira – você não queria conversar? Aqui estamos. Mas eu inclui Maria porque ela sabe e, mais do que isso, ela está realmente chateada com você.
Olhei para Maria quem cruzou os braços após Jullie falar.
— Sinto muito, Maria.
— Mas sério, não vamos brigar por causa de homem – Jullie fechou a torneira sacudindo as mãos – isso é ridículo. Não estamos aqui pra puxarmos nossos cabelos por causa de Parker.
A fitei novamente em silêncio.
— Estamos aqui para falar de amigas que traem umas às outras.
— Julles…
Ela me interrompeu – Certo, você não sabia dos sentimentos de Maria por Peter, mas se soubesse, isso impediria você de beijá-lo e jogar na cara dela?
— Eu não joguei na sua cara – falei andando em direção as duas.
— Claro, só saiu - ela forçou um sorriso olhando para Maria – quem beijou primeiro, Luna?
Não respondi novamente.
— Vamos, é uma pergunta bem simples: quem beijou primeiro?
— Você quer conversar? – perguntei cruzando os braços enquanto a fitava – para de esconder a merda dos seus sentimentos primeiro.
— Eu…
A interrompi – E Maria, eu sinto muito, eu não tinha ideia que gostava do Peter e se quiser conversar estou disponível, mas não vou ficar nessa palhaçada no banheiro da escola respondendo a porcaria de um interrogatório.
Andei em direção a porta quando escutei Jullie berrar – Como você pode?
Parei, mais uma vez, com a mão na maçaneta da porta. Virei-me na direção de Jullie pegando fôlego o suficiente para soltar tudo de uma vez:
— Apenas aconteceu, Jullie. Sei que essa é a pior coisa pra se ouvir, mas você já parou pra pensar que eu poderia estar escondendo isso de você até agora se não estivesse me sentindo a pior pessoa do mundo por ter beijado o cara que minha amiga gosta? Eu beijei primeiro, Jullie – respondi sua pergunta sem sussurrar – fui eu, tá legal? Depois Peter me beijou de novo e eu não me afastei, não parei o beijo quando pude e isso me faz a pior pessoa e amiga do mundo, eu sei disso. Não me interessa o que falem porque estou me sentindo uma idiota e não posso consertar isso de maneira alguma. E eu realmente sinto muito. Me desculpa por ter beijado Peter e por não tê-lo parado quando pude, sou realmente uma traíra porque eu beijei Peter e gostei – fiz uma breve pausa observando a respiração de Jullie ficar cada vez mais ofegante – não tem jeito de escolher o que sentimos e não estou dizendo que gosto de Peter, mas também não vou mentir ao dizer que não estou vendo-o de uma maneira que nunca tinha visto antes. O beijo, para nós dois, foi algo impulsivo e, ao mesmo tempo, surpreendente porque nunca sequer pensamos nisso. Então, eu realmente sinto muito por ter feito você se sentir dessa maneira porque eu sei que você não está bem, mas não sinto muito pelo beijo. E honestamente? Carregar Maria com você foi a pior coisa que você podia ter feito. Sinto muito por fazê-las se sentirem dessa maneira. Mesmo.
O silêncio só foi preenchido pelo sinal da escola tocando, o que indicava que devíamos ir para a sala. Tudo pareceu cronometrado. Apesar de ter dito tudo o que eu queria, e mais um pouco, para Jullie – porque eu estava realmente chateada com sua atitude de contar para Maria o que aconteceu, mesmo sabendo que em minha atual situação não tenho direito algum de me sentir de alguma outra maneira que não seja culpada –, ainda me sentia culpada e com o peso nos ombros. Respirei fundo abrindo a porta e andando em direção a sala entrando junto com o restante dos alunos na sala onde Peter e Harry já estavam sentados como bons alunos. Caminhei em direção a minha carteira vendo minha bolsa da mesma maneira que havia deixado anteriormente.
— Luna!
Virei para trás ao escutar meu nome e, antes mesmo que pudesse me dar conta do que tinha acabado de acontecer senti meu rosto arder em uma intensidade um tanto quanto exagerada. Olhava para o chão ao meu lado esquerdo e sentia minha bochecha direita queimar e latejar. Havia tomado um tapa na cara com tanta força que meu cabelo curto estava bagunçado em grande parte de meu rosto.
— Você beijou ele primeiro! – Jullie berrava furiosa.
Virei meu rosto para fitá-la enquanto a sala se situava do que estava acontecendo.
— Você beijou Peter Parker primeiro e gostou? Como você pode fazer isso comigo? – ela chorava possessa na minha frente enquanto ainda me mantinha surpresa com o tapa forte – você sabia que eu gostava dele!
— Senhoritas! – a professora de Gestão Científica berrou na frente da sala.
— Você sempre soube que eu gosto do Parker e não é de hoje! Eu tentei não ficar com raiva de você e sim dele, porque somos mulheres e devemos nos apoiar, mas você percebeu o quão babaca você acabou de ser comigo?
Eu não conseguia me mover ou falar algo e muito menos olhá-la.
— Jullie – escutei a voz de Peter atrás de mim, mas sequer virei-me para ouvi-lo.
— Você cala sua boca, Parker, antes que eu te dê um tapa imenso nessa sua cara de nerd. Eu não…
— Senhorita Anders! – a professora gritou furiosa agora entrando no meio de Jullie e eu – você acha que está na sua casa? Quero as duas fora da minha sala agora! Pra diretoria as duas.
Permaneci parada ainda olhando para Jullie quem, agora, era segurada por Liz e Maria.
— E você também senhor Parker – ela tomou a frente gritando como nunca havia visto antes – Agora! Vamos! Os três!
Caminhando em direção a porta atrás da professora quem, delicadamente, empurrava Jullie mantendo-a distante de mim o suficiente para que outra briga não se iniciasse. Mas eu não faria nada contra ela, assim como não o fiz quando tomei o tapa. Estava surpresa até aquele momento e, honestamente, jamais esperaria tal atitude de Jullie e por mais que eu ache que mereci estava começando a me sentir um pouco farta de tentar ajustar as coisas e receber, em troca, apenas a raiva e o deboche dela.
Era compreensível o modo como ela se sentia, mas por mais que a pessoa me machucasse eu não a machucaria fisicamente de volta e Jullie também era defensora dessa ideologia até então. Para mim aquela não era a Jullie minha melhor amiga, mas acho que esta Jullie antiga jamais voltará porque ela estava magoada o suficiente comigo para não me perdoar e isso fazia com que eu me sentisse uma pessoa terrível. Mas aquela Jullie eu não reconhecia, me dando um tapa na cara, brigando por causa de Parker, por mais que seus sentimentos estivessem aflorados jamais esperaria isso dela, por isso a surpresa.
Caminhávamos em silêncio em direção ao hall de entrada que era a espera da sala da diretora, sentamos nas cadeiras azuis e acolchoadas enquanto a professora, visivelmente nervosa, andava de um lado para o outro no pequeno cômodo recém reformado. As paredes estavam pintadas de branco e as telas enormes com suas molduras artísticas tomavam conta do local. Sentei-me ao lado de Peter e Jullie fez questão de se sentar longe de nós, porém, ficamos os três cara a cara: de um lado eu e Peter, ambos surpresos e em silêncio, e do outro Jullie quem, visivelmente, ainda se encontrava irritada respirando fundo e eu sabia que quando ela respirava daquela maneira era porque ela estava segurando o choro.
A professora sentou ao lado dela resmungando:
— Eu podia esperar isso de qualquer outra pessoa, menos de você Juliet – ela cruzou os braços encostando as costas no encosto da cadeira – o que deu em você?
Jullie colocou as mãos no rosto encostando os cotovelos nas pernas e tampou seu rosto, queria levantar e abraçá-la, mas estava assustada o suficiente para fazê-lo. Vê-la daquela maneira fazia com que minha vontade de chorar aumentasse ainda mais a ponto de mal conseguir segurá-la, mas tudo o que eu conseguia fazer era ficar em silêncio, parada ao lado de Peter enquanto mentalizava que não era para chorar. Não ali. Não agora.
Queria falar algo, queria me explicar, queria defender Jullie para a professora quem proferia perguntas como se ela estivesse aplicando uma prova para um aluno, mas simplesmente não conseguia, minha garganta queimava e formava um nó de modo que eu me mantinha em silêncio apenas ouvindo a professora enquanto olhava para Jullie. Olhei para o lado quando escutei uma voz feminina:
— Professora.
A diretora, com toda sua classe, chamava a professora enquanto a esperava parada na porta.
— Não podemos deixar esses três sozinhos – a professora disse ficando de pé – acabaram de brigar em minha sala e eu não aconselharia.
— Eles são grandes o suficiente para saberem que, caso abusem novamente, serão expulsos – ela olhava um por um e então parou seu olhar no Peter – olá senhor Parker.
— Oi. – ele levantou a mão a cumprimentando.
— Você por aqui por causa de algo que não seja atraso na aula é algo inédito – ela desviou o olhar de Peter estendendo a mão para dentro de sua sala de modo que a professora entrasse – vamos.
A professora, hesitando enquanto nos fitava, assentiu em silêncio entrando na sala da diretora antes de nós. Abaixei o olhar até meus pés visto que Jullie não se movia ou fazia algum barulho indicando que ela estava chorando, apenas escutava as coisas a meu redor evitando escutar a conversa de ambas, dentro da sala da diretora, por mais que quisesse.
— Jullie.
Olhei para o lado, mas dessa vez encontrei Peter de pé andando em direção à ela. Jullie não respondeu e eu apenas observava o que ele faria. Ele sentou-se ao lado dela e ela sequer se moveu.
— Jullie – ele a chamou novamente inclinando seu corpo para frente de modo que falasse em seu ouvido.
Novamente ela não respondeu.
— Tudo bem, você não quer falar – ele endireitou o corpo encostando as costas na cadeira – eu sinto muito. De verdade. Realmente sinto muito por estar fazendo você se sentir dessa maneira – ele me fitava enquanto falava – eu sabia desde o princípio que você estava a fim de mim e não fui um cara legal pra te dizer que não sentia o mesmo. Na verdade, fui bem covarde – ele desviou o olhar para o chão – mas, por favor, se você tem que ficar com raiva de alguém, este alguém sou eu, não a Luna. Sei que parece que estou defendendo ela, mas na verdade – novamente nos fitamos enquanto ele falava – ela não precisa que ninguém a defenda.
Dei um fraco sorriso o fitando.
Após uma breve pausa ele prosseguiu – A pior parte é que vocês costumavam ser melhores amigas. Eu poderia ser o maior babaca do mundo, não que eu seja incrivelmente perfeito e legal, porque não sou, mas... Eu podia estar me sentindo o cara mais incrível do mundo porque, tecnicamente, vocês estão brigadas por minha causa, mas eu não me sinto nem um pouco bem com isso. Sei que nada que eu falar vai adiantar porque você está realmente chateada – Peter olhou para Jullie quem mantinha sua cabeça abaixada – mas não desconte nada na Luna. Eu sou o culpado e o covarde que você tem que odiar.
Balancei a cabeça negativamente quando ele me fitou mais uma vez. Apesar dos apesares discordava do fato dele ser inteiramente culpado, como havia dito eu quem o beijei primeiro e quando tive a oportunidade de parar simplesmente não quis porque estava gostando. E isso se tornou no que estávamos ali agora: em um triângulo amoroso onde a mais machucada era Jullie.
— Me desculpa – Peter sussurrou ficando de pé e voltando a se sentar no lugar anterior. Lancei um olhar para ele com um fraco sorriso enquanto ele sorria de volta logo desviando o olhar para seus pés. Escutava as vozes da diretora e da professora dentro da sala e no instante em que escutei a professora falar que simplesmente não entendeu nada, que estava arrumando suas coisas quando escutou Jullie gritar algo sobre um beijo e Peter Parker, virei minha atenção para a voz afagada de Jullie quem, finalmente, dizia algo:
— Não estou com raiva de nenhum dos dois.
A fitei enquanto ela retirava as mãos do rosto e erguia o corpo encostando as costas na cadeira. Ela prosseguiu sem nos fitar, olhava para o piso branco do chão:
— Estou muito chateada – ela fez uma breve pausa – muito. Nunca pensei que minha melhor amiga pudesse fazer isso comigo. Não importa o que falem, eu nunca vou te perdoar, Luna.
— Ela não...
— Por favor, Parker – Jullie o interrompeu calmamente – pare de defendê-la porque isso só me faz perceber o quão idiota eu sempre fui.
— Você nunca foi idiota, Julles – sussurrei com a voz embargada.
Ela ergueu o olhar até mim – Eu acreditei que vocês não tinham nada. Mas claro, os dois iam embora juntos, sumiam juntos e viviam de segredinhos.
Fechei os olhos. As únicas razões pelas quais vivíamos juntos era por causa das nossas tentativas como “dupla do bem” pela cidade. Mas claro que ela não poderia saber disso. Jamais.
— Gosto de você mais do que pensei, Parker – ela prosseguiu – achei que seria uma coisa passageira, mas eu devia saber quando voltei a sentir algo por você. Nunca senti algo por um cara duas vezes e muito menos antes de beijá-lo.
Abri os olhos tornando a fitá-la, ela olhava fixamente para Peter com os olhos cheios de lágrimas, seu lábio inferior tremia a medida que ela tentava segurar o choro e então, mais uma vez, ela afagou as mãos no rosto na tentativa de não nos mostrar que chorava. Mas desta vez foi rápido, pois ela logo levantou o rosto com as lágrimas molhando suas bochechas, ela olhava diretamente para mim:
— Não importa quem beijou primeiro, quem gostou mais, se aconteceu mais de uma vez...
— Não aconteceu mais de uma vez – a interrompi enquanto a fitava.
Ela sorriu visivelmente triste – Não importa, Luna. Não mais. Não importa se ficarão juntos, se já estão...
— Nós...
Ela interrompeu Peter fechando os olhos enquanto mais lágrimas escorriam – Não importa, Parker. Não mesmo. Porque os dois estão mortos para mim.
— Jullie, o que tá acontecendo? Você não...
— Isso mesmo – ela me interrompeu abrindo os olhos novamente – “o que está acontecendo?” Nem eu sei, Luna. Me sinto mal por ter brigado por causa de homem, por ter agido como uma louca... Porque... Eu acho isso tão ridículo. Mas, assim como você não sente muito pelo beijo e sim por ter feito eu me sentir dessa maneira, eu não sinto muito pelo tapa que dei na sua cara, mas sim pelas circunstâncias que o dei.
Senti o olhar de Peter sob mim enquanto eu fitava Jullie sem ter o que dizer.
— Você merece muito mais do que um tapa, mas não vou fazer isso por causa de Parker – ela coçou o nariz e olhou na direção da porta da sala da diretora que se abria lentamente, me lançou um último olhar antes de se calar – Eu realmente odeio você.
Desviei o olhar para a diretora quem nos chamou para entrarmos em sua sala, a obedecemos de modo que Jullie foi a primeira a entrar e eu a última, Peter se virou para trás para perguntar se eu estava bem e apenas assenti em silêncio, realmente me sentia melhor depois de Jullie soltar tudo o que queria dizer por mais que isso me machucasse. Talvez até ela estivesse se sentindo melhor naquele momento, o que eu acreditava fielmente já que ela parou de chorar, apenas permanecia de braços cruzados sentada na poltrona que lhe foi destinada.
Sentei ao lado de Peter quem separava ambas de nós. A professora permanecia de pé encostada na parede de braços cruzados, a diretora olhou para ela dizendo que era melhor ela dar continuidade à aula já que os alunos estavam na sala sem supervisão e sem terem o que fazer, ela assentiu saindo da sala e então o questionário começou. A diretora perguntava o que tinha acontecido, o porquê de Jullie ter me atacado, a razão pela qual ela tinha feito isso, como eu me sentia, o que Parker tinha a ver naquela história, entre outras perguntas que não foram respondidas, obviamente, por nenhum de nós. Não queria falar de algo tão pessoal por mais que fosse necessário naquela situação.
A diretora prosseguiu insistindo e então disse que a professora tinha lhe contado um pouco o que tinha acontecido, mas que não era o suficiente já que algumas coisas simplesmente não faziam sentido. Eu apenas olhava minhas mãos, apenas me mantinha em silêncio como Jullie e Peter quem pareciam não querer falar nada, também. A diretora, então, se dando por vencida, disse que suspenderia os três se ninguém falasse nada e foi quando seu telefone tocou tirando nossa atenção. Ela o ignorou até que parasse de tocar seu “trim” em volume baixo, mas ele tornou a tocar assim que ela ameaçou a pegar os papeis em sua gaveta.
— Sim? – ela atendeu rudemente e então sua expressão mudou – ah, oi senhor! – ela forçou um sorriso para o telefone enquanto nos ignorava – como vai? Ótimo... Sim, claro... – e então sua expressão mudou novamente, ela olhava para Peter e eu confusa – Eles estão... Como...? Claro! – ela rodou sua cadeira nos fitando com as sobrancelhas erguidas – Mando-os para o pátio em cinco minutos... De nada... Tchau.
Nós a fitávamos sem compreender o que estava acontecendo, mas ela não foi capaz de dizer e retirou três folhas de papel impressas de dentro de sua gaveta. Olhou para Jullie e a perguntou:
— Nome completo?
— Juliet Haus Anders.
— Juliet – ela rabiscava o papel com sua caneta dourada – você está suspensa por tempo indeterminado e apenas...
— O que? – perguntei a interrompendo.
Peter fez o mesmo – Não é culpa dela.
A diretora ergueu o olhar do papel olhando para Peter com as sobrancelhas arqueadas – Você tem algo a dizer, senhor Parker?
— Eu... – ele fez uma breve pausa respirando fundo.
A diretora abaixou a cabeça novamente – Como pensei.
— É algo pessoal – falei a fitando.
— Deixou de ser pessoal quando sua amiga aqui – ela apontou para Jullie enquanto levantava o rosto para me fitar – acertou em cheio um tapa em seu rosto dentro da sala de aula.
— É algo que aconteceu entre nós três – Peter soltou ainda incerto se era algo certo a se fazer ou não – relacionado a um beijo. Jullie... Juliet ficou chateada e o resto você sabe.
A diretora endireitou as costas na cadeira nos fitando em silêncio. Era um tanto quanto errado ela nos fazer falar de algo pessoal, mas compreendia seu lado de quem tinha que resolver um problema e para isso devia compreendê-lo. Depois de um tempo significativo em silêncio, enquanto no analisava, ela disse:
— Juliet Anders você está suspensa por três dias.
— Ela...
— Cala a boca, Luna – Jullie me interrompeu antes que eu sequer começasse a falar algo.
— Fique quieta – a diretora ordenou a fitando – e cuidado com a boca.
Ela então se calou.
— Diretora, a Jullie...
— Você também, Luna – ela ordenou se virando em minha direção – você e Parker ganharão uma advertência.
— Ela apanhou e ainda vai ser punida? – Peter perguntou de imediato retirando uma risada abafada de Jullie.
— Quer ser suspenso, senhor Parker?
— Relaxa, Peter – sussurrei lhe fitando.
— Vocês dois são patéticos – Jullie sussurrou rindo.
— Calados! – a diretora ordenou – se não querem ser suspensos ou que eu aumente o tempo, fiquem quietos. Isso é tudo o que tenho para dizer. Juliet você espera aqui porque entrarei em contato com seus pais para buscá-la, Peter e Luna vocês estão liberados, mas quero que vão de imediato para o pátio externo, pois tem alguém querendo falar com ambos lá.
Assentimos em silêncio e então saímos da sala, mas antes lancei um olhar para Jullie quem me ignorava. E confesso que estava com medo de estar realmente morta para ela, para sempre.
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iacervo-meu-blog · 9 years ago
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XII: Se cuida.
Escutei o barulho grudento da teia e abri meus olhos para fitar a janela dando de cara com a silhueta de Peter no escuro e em sua posição clássica de aranha. Ele era iluminado apenas pela luz do poste que vinha do lado de fora e um pouco da luz do luar, que começava a entrar por minha janela em meu quarto.
Sentei-me na cama dando um breve sorriso e ele saltou para dentro do meu quarto silenciosamente enquanto retirava a máscara deixando-a em cima de minha cama, ele se manteve de pé e permanecemos em silêncio por alguns instantes quando falamos juntos:
— Você falou com ela? – perguntei.
Ele respondeu de imediato – Falei com ela.
Soltamos uma risada abafada e cruzei as pernas de modo que ele se sentasse na minha frente e ele assim o fez sentando na cama de costas para a janela.
— Como foi? – perguntei o fitando com medo da resposta.
— Não foi muito legal – ele me fitava um pouco tímido – ela tava chorando quando cheguei lá. Ela nem queria falar comigo, mas eu insisti. Ela falou algumas coisas sobre você e acho que as duas tem que conversar – abri a boca para hesitar e mostrar a tronozeleira, mas ele rapidamente balançou a cabeça positivamente – eu sei, eu sei, não é como se pudesse. Ela falou sobre os sentimentos dela, como se sente em relação à mim e tudo o que eu fiz foi pedir desculpas.
— Falarei com ela amanhã. Tentei falar com ela por telefone, mandei mensagens e liguei, mas, obviamente, foi em vão.
— Sinto muito – Peter sussurrou desviando o olhar para suas mãos- mesmo.
— Não é culpa sua, Pete.
— Como não? – ele soltou uma breve risada sem me fitar – eu sabia do que ela sentia e… – ele fez uma breve pausa – beijei a melhor amiga.
— Apenas porque eu beijei primeiro – sussurrei me sentindo culpada, ele não respondeu nada, ergueu seu rosto e me fitou sem sorrir, sabia que ele também se sentia culpado e isso me deixava ainda pior. Eu quem realmente tinha sido a imbecil por ter traído a confiança da amiga, não por tê-lo beijado, não me arrependo do beijo, de ter gostado e nada disso, mas sim de ser a maior culpada por ter deixado Jullie magoada. E com toda a razão, não podia culpá-la.
Nos fitávamos fixamente em silêncio e senti meu coração disparar enquanto olhava nas íris castanhas de Peter, mesmo com a pouca luz podíamos ver um ao outro nitidamente. Desviando o olhar, visivelmente nervosa, comentei algo, rindo, sobre sentar-me para sentir a luz do luar já que não estava mais permitida a sair de casa, pelo menos não após o horário estipulado.
Peter apontou para o meu lado gentilmente perguntando se podia se sentar ao meu lado, sorri balançando a cabeça positivamente e ele então sentou na outra parte iluminada pela lua, no chão do meu quarto. Ficamos mais um tempo em silêncio enquanto olhávamos o céu através da janela aberta, meu coração estava acelerado o suficiente para que eu ficasse me perguntando o porquê. Estava começando a acostumar com meu coração dando saltos repentinos com Peter ao meu lado. E foi quando puder ouvir seu coração, batia tranquilamente enquanto ele, com as mãos apoiadas nos joelhos e as pernas entreabertas na direção dá parede, olhava para as estrelas pensativo.
Queria perguntar o que passava por sua cabeça, mas temi ser algo particular o suficiente para que ele não quisesse compartilhar, afinal, tínhamos o costume de contar um para o outro tudo o que desejássemos, por mais que não tenhamos feito acordo algum para decidirmos isso, apenas acontecia. Com Peter eu sempre me sentia segura para expressar e falar o que desejasse e sei que ele era da mesma maneira.
Ele retirou suas luvas de aranha mantendo os atiradores de teia que pude perceber serem novos também, esticou a mão até minha tornozeleira passando as pontas dos dedos por cima da faixa fina de luz verde. Olhei para a tornozeleira e em seguida ergui meu olhar para ele quem, fixado na mesma, pensava em algo que o incomodava, podia afirmar já que sua testa estava franzida.
— O que foi? – sussurrei tentando ver seus olhos.
— Parece incômodo.
— Na verdade, se não fosse pelo peso emocional que ela tem, eu mal perceberia que ela está ai – sorri o tranquilizando.
— Eu realmente sinto muito.
— Peter – virei meu rosto para olhá-lo – Por favor, pare de se desculpar. Toda vez que você diz que sente muito ou se desculpa após se culpar eu fico pior. Olha, você se lembra de quando me contou sobre seus poderes? – ele virou seu rosto para me olhar, ele esboçou um pequeno sorriso em seu rosto triste – lá você disse que não queria que me envolvesse nessa vida de heroína, que não queria que eu ficasse com medo toda vez que colocasse a roupa e fosse prender caras estúpidos pelo centro da cidade – fiz uma breve pausa sorrindo – você me avisou como isso era e mesmo assim eu fui. Não queria de princípio por causa da falta de controle dos meus poderes e ainda sim tenho medo de machucar alguém ao tentar ajudar, mas… Nada disso é sua culpa. Você tem que parar de se culpar por algo que eu escolhi, foi minha escolha e você não tem nada a ver com isso.
— Eu deveria ter negado quando você veio – ele jogou as luvas no chão desviando o olhar mais uma vez – não devia ter deixado…
— E desde quando você decide por mim? – perguntei em um rápido sussurro enquanto o fitava ainda sorrindo – compreendo sua preocupação e entendo, mas as escolhas que faço cabem apenas a mim. Se não quero algo, não farei, não importa o que aconteça. Então, eu escolhi ajudar as pessoas ao seu lado e mesmo que você tivesse me afastado eu faria assim mesmo, mas sozinha e, honestamente? Ainda bem que tive e tenho você por perto – sorri abertamente quando ele virou seu rosto para me fitar no instante em que agradeci por tê-lo – porque foi tudo mais fácil, divertido e legal ao seu lado.
— Posso dizer o mesmo – ele sorriu novamente me fitando – é meio chato sem você por ai comigo.
Deitei meu rosto em seu ombro enquanto olhava a janela a nossa frente – E é chato ficar trancada em casa, sozinha. Obrigada por vir.
Ele deu de ombros – De nada.
Ficamos em silêncio novamente, escutava seu coração ainda mais próximo e com o auxílio da minha audição avançada pude perceber que estava, mais uma vez, acelerado. Mas desta vez não fiz nada e nem mesmo Peter, permaneci com meu rosto repousado em seu ombro sentindo a textura fina da roupa nova contra minha pele, era incrivelmente bom tê-lo ali por mais que eu soubesse que deveríamos estar dormindo para a aula que iniciaria daqui há algumas horas. Mas eu não dormia muito pela noite mesmo e minha maior preocupação deveria ser Peter, mas não queria ficar sozinha pensando nas milhares de coisas que atordoavam minha mente então, eu estava sendo completamente egoísta.
— Como ela está funcionando? – Peter, novamente, apontou para a tornozeleira.
— Das sete da manhã às seis da noite posso me locomover de casa para a escola. Se passar desse horário sou eletrocutada até ficar inconsciente e então sou levada para a prisão.
— Isso é sério? – ele perguntou virando o rosto para me olhar.
Enxerguei um pouco de seu rosto – Sim.
— Por que eles fariam isso?
— Não posso usar meus poderes também, não sem a autorização deles – sorri olhando para frente – ou sou eletrocutada. Tudo acaba em choque e prisão.
— Isso não é...
O interrompi – Obrigada.
Ele arqueou uma das sobrancelhas – Por te colocar nessa situação?
— Não – ri levantando meu rosto de seu ombro enquanto o fitava – já te disse que isso não foi sua culpa. Obrigada por falar com Stark.
Ele balançou a cabeça negativamente – Pelo visto não adiantou muito.
— Mas você tentou – dei de ombros – isso que importa.
— Tentarei falar com ele de novo, eles não podem simplesmente te eletrocutar.
Sorri olhando para a parede – Não. Não precisa falar com ele. Meu pai assinará o maldito acordo e me tornarei uma escrava deles.
— Não acredito que estão fazendo isso com você – ele passou as mãos no cabelo o bagunçando por completo.
— Relaxa, Parker – virei um pouco de frente para ele enquanto segurava suas mãos impedindo que ele arrancasse seu próprio cabelo – estou apenas pagando pelo o que fiz.
— Ou seja – ele me fitou enquanto parava de mexer as mãos – por nada.
Sorri o fitando – Não para eles.
— E quem se importa com o que eles pensam?
— Você – respondi de imediato – Tony Stark, Visão, o homem na outra armadura de ferro, e todos que estão do lado do Governo.
Peter fechou os olhos, soltei suas mãos subindo-as para seu cabelo enquanto o abaixava e arrumava, Peter manteve os olhos fechados e, naquela proximidade, pude ver o quão seus cílios eram avantajados, suas maçãs do rosto combinavam com o formato de sua face e, por um instante, parei de mexer em seu cabelo observando cada traço de seu rosto: seus lábios finos, seu nariz mediano, seus cílios avantajados e curvos, suas sobrancelhas, especialmente a esquerda que era levemente bagunçada no meio, sua testa que não era nem grande, nem pequena.
Peter abriu os olhos e então fitei seus olhos castanhos de imediato, não queria que ele notasse que estava observando seus traços porque, até para mim, isso parecia psicopata demais, mas foi algo tão involuntário que só havia percebido o quanto estranho era, naquele momento onde eu estava com medo dele perceber que o observava. Mas ele nada disse. O silêncio, mais uma vez, era preenchido por nossas respirações e batimentos cardíacos, meu coração estava tranquilo e o dele também, pelo menos pelo pouco que conseguia escutar, afinal, estava vidrada em seus olhos castanhos escuros de um jeito que nunca tinha ficado antes. E então meu coração disparou fazendo com que minha respiração se tornasse falha novamente.
Peter me fitava nos olhos sem se mover, sua respiração também estava falha no mesmo compasso da minha e, por um instante, tudo o que eu queria era beijá-lo sem me importar com Jullie ou qualquer um ao nosso redor. Mas eu não podia e ele sabia que não podíamos, tanto sabia que sequer se moveu para dar o primeiro passo. Não podíamos beijar por mais que quiséssemos, e quando Peter fechou os olhos novamente, se soltando de minhas mãos, pude perceber que ele sabia tanto quanto eu o quanto aquilo era errado.
— Desculpa, Pete – pedi virando-me na direção da janela mais uma vez.
— Desculpa, Luna, eu... – ele começou a falar respirando fundo antes de se virar na mesma direção que eu de modo que mantivéssemos nossos ombros encostados.
— Tá tudo bem, Pete – o interrompi mais uma vez encolhendo meus braços evitando o contato – eu não... Não o beijaria.
— Eu sei – ele sussurrou sem me fitar – eu realmente sei.
Permaneci em silêncio sem o fitar, meu coração se acalmava lentamente.
— Como se sente?
— Sobre o que? – perguntei confusa.
— Não sei... Sobre... Isso.
— Nós? – perguntei virando meu rosto em sua direção.
Ele não respondeu, virou seu rosto me fitando.
— Não quero dizer nós de... Nós... Como um casal ou algo assim – senti meu rosto arder e sabia que estava ficando corada – eu quero dizer... O beijo... E outras...
Ele soltou uma breve risada abafada – Relaxa, Luna. Eu entendi. E sim, sobre nós.
— Eu honestamente não sei, Pete – respondi me encolhendo ainda mais – realmente não sei.
Ele balançou a cabeça positivamente ainda me olhando – Nem eu.
— Não? – perguntei mudando meu olhar de direção.
— Não – ele respondeu – eu... Não sei.
Soltei uma breve risada abafada, ambos estávamos confusos sobre nossa relação, erámos amigos bem próximos e agora somos como duas pessoas atraídas uma pela outra, mas não podemos falar sobre isso ou beijarmos porque Jullie gosta de Pete de verdade. Talvez apenas eu esteja atraída por Peter recentemente, talvez por beijá-lo na cozinha ele tenha retribuído mais por impulso do que por vontade. Tinha uma série de perguntas para fazer à ele, mas pelo visto estas ficariam para depois já que seu celular chamava, preso em seu novo cinto que também portava seus fluidos de teia recarregáveis.
— Tenho que ir – ele disse segurando o celular na mão esquerda enquanto colocava a luva na mão direita.
— Claro – falei ajudando-o pegando o celular e segurando-o na sua frente – roubo na joalheria no centro. Tão previsível.
— Eles adoram as madrugadas, não é? – ele bufou colocando a outra luva – obviamente faz sentido, mas ainda sim é uma droga.
Ri o fitando – Eles acham que são espertos – pigarrei forçando minha voz a ponto de deixa-la mais grossa – “eu sou um bandido bundão que vou assaltar a joalheria de madrugada porque a rua está vazia, não tem ninguém na loja e sou esperto o suficiente pra dar um jeito nas camêras! Uh! Há!”
Peter riu abafado enquanto ficava de pé, engrossou a voz imitando o mesmo bandido quem quer que fosse – “Mas eu não contava com a presença do incrível e espetacular Homem-Aranha! Oh, droga!”.
Segurei o riso também ficando de pé – “E mais uma vez o dia foi salvo pelo espetacular Homem-Aranha!”.
Ele pegou a máscara em minha cama virando de frente para mim enquanto a colocava – Acho que isso pertence à outras heroínas.
Ri andando em sua direção o ajudando a colocar a máscara, ele obviamente não precisava de minha ajuda, mas queria me sentir útil nem que fosse no auxílio do traje de Peter.
— Você ficará bem? – ele abaixou as mãos me deixando arrumar a máscara em seu pescoço.
— Eu quem devia perguntar isso – falei me afastando com um pequeno sorriso no rosto – pronto, Homem-Aranha, seu traje está incrível.
Ele gesticulava com as mãos enquanto balançava a cabeça positivamente – Irado, não é?
Assenti sorrindo – Definitivamente.
Ele soltou uma breve risada por baixo da máscara enquanto caminhava em direção à minha janela, pronto para ir atrás dos homens que assaltavam a joalheria.
— Pete – o chamei quando ele já estava quase saltando janela a fora.
Ele virou parte de seu tronco e rosto me fitando, esperando que eu dissesse algo.
— Se cuida, ok? – pedi o fitando completamente vestido como Homem-Aranha.
Ele então levantou a máscara me fitando com seus olhos castanhos e seu tão conhecido sorriso nos lábios que, para mim, era uma de suas marcas registradas. Antes de saltar pela janela e lançar suas teias nos prédios a caminho do centro da cidade, ele me respondeu:
— Sempre me cuido por você.
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iacervo-meu-blog · 9 years ago
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XII: Beijo.
- Isso foi… – me afastei de Peter parando nosso beijo de uma única vez.
- Eu…  – ele gaguejava enquanto coçava a nuca visivelmente nervoso – Luna eu…
- Isso…
Ele me fitou sem entender, seu rosto já estava corado o suficiente para que eu pudesse afirmar que ele estava tão desconcertado quanto eu.
- Desculpa? – ele perguntou completamente confuso.
- Não – respondi de imediato sentindo meu rosto corar – não precisa pedir desculpas, é só…  –  fiz um a breve pausa respirando fundo – é complicado.
- Não, tudo bem – ele pigarreou batendo as mãos na calça – eu acho melhor eu ir.
- Não, Pete – caminhei até ele ainda sentindo meu coração acelerado – não precisa de ir, eu só… Não é uma coisa minha, não posso falar.
- Relaxa – ele sorria se afastando – mesmo, eu não devia… Eu sei que Jullie…
- Você voltou!
Assustei com o grito explosivo atrás de Peter que logo reconheci ser a voz de Jullie, ela sorriu para Peter o cumprimentando antes de correr em minha direção e quase me derrubar com um abraço forte. Assustada e completamente amedrontada, enquanto me sentia a pior pessoa do universo, tentei abraçá-la de volta fazendo de conta que estava tudo bem. Ela logo me soltou e eu sorria forçadamente a fitando enquanto tentava acalmar a mim mesma mentalmente.
- Você voltou! – ela bateu as mãos sorridente – fiquei preocupada com você, Luna! Você não respondeu minhas mensagens, não retornou as minhas ligações, pensei que algo tinha acontecido com você.
Ri coçando a nuca percebendo que estava pegando uma das manias de Peter. O fitei onde ele sorria nervoso enquanto olhava para Jullie quem lhe contava sobre como tinha se preocupado comigo à toa e, ao mesmo tempo, pedia desculpas por tê-lo feito ficar preocupado também já que ela não conseguiu falar com outra pessoa a não ser ele.
- Ele nem sabia onde você estava! – ela ria enquanto apontava para mim.
Eu estava visivelmente desconfortável com a atual situação, afinal, tinha acabado de beijar o garoto que minha melhor amiga gosta enquanto ela mostrava o quão feliz se mantinha por eu estar de volta depois de dois dias. Olhava para Peter, mas quando nossos olhares se encontravam eu mudava de direção para Jullie quem havia parado de falar e sorridente olhava para Peter e em seguida para mim percebendo que algo não estava certo.
- Bem, eu já tava de saída mesmo – ele riu sem graça me fitando – então, te vejo por ai.
- Espere – Julie o puxou pela manga da camisa – o que está acontecendo?
- O que? – Peter perguntou me lançando um olhar e em seguida voltou a olhar para Jullie – não tem nada acontecendo. Por que teria algo acontecendo? – ele apontou para mim visivelmente nervoso - tem algo que eu não sei rolando, Luna? Acho que se tivesse algo rolando falaríamos não é? Tem algo...?
Balancei a cabeça negativamente forçando um sorriso – Não. Não tem nada rolando, não sei… O que foi, Jullie?
Ela riu me fitando – Não sei, vocês dois estão estranhos. Estão escondendo algo de mim?
Ela riu relaxada, e se fosse em qualquer outro momento eu riria tranquila a certificando de que ninguém estava escondendo nada dela, mas naquele momento eu me sentia ultra culpada por ter beijado Peter e, mais ainda por ter gostado. Gostado bastante.
- Tem algo que eu não possa saber? – ela cruzou os braços arqueando as sobrancelhas.
Eu e Peter nos entreolhamos, eu implorava mentalmente por seu auxílio porque não sabia mais o que falar com ela para tentar convencê-la de que estava tudo bem e nada tinha acontecido. Mas, ao mesmo tempo, achava mais do que justo ela saber o que realmente tinha acontecido enquanto aceitava as consequências. Não havia sido nem um pouco legal da minha parte e estar escondendo isso dela parecia ainda mais babaca.
- Não tem nada que…
- Nós nos beijamos – interrompi Peter soltando a frase enquanto fitava Jullie.
- O que? – ela perguntou rindo.
Olhei para Peter quem se mantinha estático ao lado de Jullie quem, agora, me fitava sem seu sorriso largo. Meu coração estava acelerado novamente, mas por uma razão completamente diferente. Não suportava ver Jullie triste por coisas simples e saber que, naquele momento, eu havia machucado ela era ainda pior.
- Jullie, eu…
- Cala a boca – ela sussurrou me fitando e então virou-se em direção a Peter o fitando por poucos segundos.
- Jullie, eu…
- Cala a boca! – ela berrou se virando em minha direção, sua respiração estava falha e eu podia dizer que ela queria chorar – eu disse para você calar a boca!
E então se virou de costas me deixando completamente sem ação, ao mesmo tempo que queria correr até ela e pedir desculpas pensava em Peter no meio de tudo aquilo sem compreender. Se alguém pedisse para que eu me explicasse dizendo o porquê havia beijado Peter e gostado, simplesmente não saberia explicar, afinal foi algo que aconteceu, e quando percebi me afastei dele sendo puxada novamente e daquela vez não resisti, apenas aceitando o fato de que queria beijá-lo. E isso soava tão ruim quanto a sensação que estava sentindo. Como pude fazer isso com ela?
- Jullie, espera - andei em direção a porta enquanto ela saia em passos largos e rápidos de minha casa - sério, Julles, espera eu…
Ao chegar na porta a tornozeleira tremeu em uma intensidade ainda maior do que quando eu me aproximava da janela de meu quarto, com o susto repentino encostei-me na parede olhando para meu pé e ao ver a luz vermelha piscar intensamente, no meio da transparência da tornozeleira, bufei furiosa com tal situação: não poderia sair de casa para tentar pedir desculpas à minha melhor amiga, pois havia me tornado uma criminosa.
- Puta que pa…
Senti a mão de Peter em meu ombro e virei-me para olhá-lo, também me sentia mal por tê-lo colocado naquela situação onde ele provavelmente estava confuso, mas, na verdade, eu quem fiquei completamente confusa.
- Vou atrás dela – ele disse com um pequeno sorriso...
- Não, você não entende – o fitei com os olhos marejados – ela… Merda!
- Ela gosta de mim – Peter falou me fitando, mas desta vez sem seu sorriso amigável, foi quando percebi que ele também se sentia culpado pelo que tinha acabado de acontecer.
- Como você…?
- Eu devo falar com ela, afinal, eu quem te beijei e…
- A culpa não é sua – falei bagunçando meu cabelo enquanto olhava para a rua – merda… Eu só… Merda.
- Eu meio que sempre soube – Peter colocou as mãos nos bolsos da calça enquanto andava em direção a porta aberta bem a minha frente – eu só sempre fui covarde pra dizer que não era recíproco.
O fitei sem responder, não sabia o que lhe dizer e a culpa estava bem clara em seu rosto, mas não tanto quanto no meu onde eu me segurava para não cair aos prantos mais uma vez.
- Pelo menos não com ela – ele levou uma mão a sua nuca enquanto desviava o olhar do meu – vou falar com ela – ele apontou para meu pé rindo forçado enquanto seu rosto ficava cada vez mais vermelho – não é como se você pudesse ir a algum lugar mesmo.
Ele então lançou um fraco sorriso e saiu de cabeça baixa em direção à casa de Jullie, apenas permaneci parada na porta o fitando caminhar até a porta da casa dela, ele ficou um tempo parado em frente a porta da casa de Jullie após bater dando duas breves batidas fortes. Ele entrou e eu não conseguia mais ouvir sua voz ou a de quem quer que tenha atendido e não sabia explicar porque, afinal, se eu conseguia ouvir meu pai brigar ao telefone da esquina de minha rua ouvir Jullie e Peter conversarem não era um problema. Mas de certo modo era melhor assim, afinal, era a conversa de ambos e eu não deveria dar uma de curiosa e me meter.
Novamente, assustei com o barulho estridente do telefone tocando, caminhei até o sofá o pegando na mesinha de vidro ao seu lado, atendi escutando uma voz levemente conhecida do outro lado da linha.
- Quem fala? – perguntei quando perguntou se eu estava.
- Aparentemente você está em casa. É o Stark.
Não respondi, apenas esperei que ele falasse algo e ele logo veio com uma piadinha.
- Bem quieta ultimamente, mas tudo bem. Estou ligando pra avisar que não poderei ir a sua casa hoje, mas estou enviando alguém de confiança para lhe apresentar o acordo.
- Certo.
- Conversarei com você depois pra saber se tem alguma preferência ou cláusula pro acordo. Quero que saiba que estou do seu lado e que não guardei mágoas.
- Devo agradecer? – perguntei olhando na direção da porta quando a mesma fez um estalo e se abriu mostrando meu pai entrando em casa com algumas sacolas em mãos.
- Não à mim. Mas Peter. Eu prometi que tudo se ajeitaria pra você e isso é o que estou tentando fazer, mas preciso que confie em mim.
- Não confio – respondi de imediato.
- Certo, então teremos momentos difíceis – ele pigarreou – tenho que ir. Entro em contato em breve.
- Tchau.
Desliguei o telefone e meu pai me encarou como quem quisesse saber quem era, apenas o ignorei subindo as escadas para meu quarto sem conseguir parar de pensar em Jullie e no quanto eu queria lhe implorar perdão e dizer que o beijo entre Peter e eu não voltaria a acontecer. Queria abraçar ela e pedir desculpas por ter sido tão traíra. Estava me sentindo a pior pessoa do universo, e mesmo que não houvesse justificativa alguma para o que fiz, não sabia explicar como tudo aconteceu, de onde surgiu a vontade de beijar Peter e de deixar acontecer enquanto eu gostava e aproveitava o momento do beijo.
Sequer tinha pensado em Peter daquela maneira, jamais tinha desejado beijá-lo ou qualquer coisa do tipo, apenas reparava em sua beleza, mas nada demais, então estava tão assustada quanto culpada. E quando vinha a imagem de Jullie me mandando calar a boca meu coração doía de modo que eu me sentia realmente mal por dentro, que tipo de amiga eu sou? A pior do universo, claro. Havia beijado o menino que ela estava gostando e investindo seriamente e não tive escrúpulos para parar quando tive a oportunidade.
Não culpava Peter, nem sentia raiva dele ou qualquer coisa. Nada tinha mudado entre nós, pelo menos de minha parte. Obviamente estava confusa porque não sabia o que aquilo significava para mim ou para ele, mas não estava furiosa, ele não tinha culpa. A maior culpada de todas era eu e isso não ia mudar, talvez fosse algo que me assombraria por um bom tempo, especialmente por não poder ir atrás de Jullie. Ela, com certeza, deve estar pensando que não estou me importando sobre como ela se sente já que não tive a chance de pedir desculpas ou ir atrás dela em sua casa.
- Droga! – resmunguei enfiando o dedo indicador entre meu tornozelo e a tornozeleira enquanto a puxava levemente para o lado e ela sequer se movia. Andei em direção a cômoda pegando meu celular e mandando mensagem para Jullie, mandei uma, duas, três, quatro e em todas pedia desculpas pelo que tinha feito, e eu realmente sentia muito.
- Luna – a porta de meu quarto abriu indicando que meu pai me chamava – estão te esperando lá embaixo.
De imediato pensei que era Jullie, mas quando perguntei a meu pai quem era e ele disse que era a representante de Tony Stark do governo, desci um pouco mais devagar porque, honestamente, não estava a fim de encarar um acordo naquele momento. Ou em momento algum, mas especialmente naquele onde minha cabeça estava apenas em Jullie e em como ela devia estar se sentindo.
- Senhorita Cabbot – uma mulher de cabelos curtos estendeu a mão direita em minha direção – olá, meu nome é Gabriella Flowers e estou aqui para conversar com você sobre o acordo ofertado.
- Oi – resmunguei estendendo a mão em sua direção.
- Por favor, vamos conversar na sala – meu pai, todo simpático, apontou em direção ao sofá de casa sorrindo.
A mulher assentiu em silêncio forçando um sorriso como agradecimento, fui logo atrás dela e de meu pai sentando no sofá menor enquanto a observava sentar no sofá de três lugares ao lado de meu pai, ela retirava uma pasta de sua bolsa e então a colocou em cima da mesa de centro que ficava em frente aos sofás.
- Luna Cabbot, o Senhor Stark sente muito por não poder comparecer, mas ele teve alguns problemas pessoais e estará presente assim que possível – ela esfregou uma mão na outra me fitando.
- É – falei emburrada – ele ligou.
- Você aceita alguma coisa? – meu pai perguntou a fitando com um fraco sorriso.
Ela virou o rosto para fitá-lo – Obrigada.
- Podemos ir direto ao ponto? – perguntei cruzando os braços.
- Luna... – meu pai me advertiu.
- Claro – Gabriella assentiu pegando de volta a pasta e abrindo-a enquanto meu pai me fitava nervoso devido à meu imenso desinteresse no assunto. Mas ele não entendia o que aquilo significava, o quanto eu me sentia ofendida por estar naquela situação – preciso que confirme algumas informações sobre você.
- Certo – assenti.
- Seu nome completo é Luna Morais Cabbot – ela iniciou com o básico – tem quinze anos e está sob guarda do pai, americano, de nome Harrison Peters, trinta e nove anos, divorciado, natural dos Estados Unidos da América.
Ela me lançou um olhar esperando minha confirmação – Correto.
- Há cerca de nove meses você alterou seu nome juridicamente deixando de se chamar Diana Morais Peters e se tornando Luna Morais Cabbot.
Mais um olhar e demorei um tempo para confirmar, como eles sabiam disso? Assenti em silêncio, e balançando a cabeça positivamente, fazendo com que ela voltasse a olhar para seu papel.
- Morou no Brasil por dez anos com a avó Márcia Morais Santos Penha e a mãe, já falecida, Leona Morais Penha. Aos oito foi acusada de cegar um garoto, Marcos Ferreira Do Valle, acidentalmente com seus poderes.
Assenti, mais uma vez em silêncio, apenas balançando a cabeça positivamente enquanto me olhava fixamente, ela prosseguiu:
- Aos treze foi internada em uma clínica psiquiátrica de saúde mental, ainda no Brasil, de nome “Viver Bem”, por transtorno dissociativo de identidade e transtorno afetivo bipolar.
- Vocês fizeram o dever de casa – sorri forçada quando ela me olhou – tá certinho.
Ela tornou a abaixar a cabeça para as informações na pasta – Mudou-se para o Queens há sete meses, é estudante da escola Midtown, também no Queens, e está no penúltimo ano.
Balancei a cabeça arqueando as sobrancelhas entediada.
- Ótimo. Podemos prosseguir – ela virou a página.
- Ótimo – resmunguei bufando.
- Luna Cabbot, você está sendo acusada de conspiração contra o governo ao lado de Steven Grant Rogers, James Buchanan Barnes, Samuel Thomas Wilson, Scott Edward Harris Lang, Wanda Maximoff, Clinton Francis Barton e Natasha Alianovna Romanoff.
- Natasha? – descruzei os braços a interrompendo – Por que ela? Ela estava do lado de Stark o tempo todo, o que ela...
- Não sou permitida a falar sobre outra coisa a não ser você e o acordo – ela me interrompeu ríspida levantando o olhar até mim novamente.
Fiquei em silêncio mais uma vez a fitando enquanto pensava no que a Natasha tinha feito para, agora, ser uma criminosa também procurada.
- O Governo, ao lado de Anthony Edward Stark, está disposto a oferecer um Acordo para você, em troca de algumas condições. Está disposta à ouvi-lo?
Olhei para meu pai antes de responder. Gostaria de soltar um sonoro “não”, mas por pensar apenas em mim que me encontrava na atual situação onde fiz meu pai passar por alguns bons bocados relacionado a preocupação e outras sensações. Respirei fundo fechando os olhos e completamente desconfortável respondi:
- Sim.
Ela então começou a falar do acordo após, novamente, virar a página – Daremos cerca de dois dias para a resposta definitiva e análise do Acordo antes das assinaturas, você não tem direito à um advogado e caso você negue o Acordo irá para a prisão de máxima segurança onde todos os foras da lei estão sendo mantidos.
- Ela tem apenas quinze anos – meu pai a fitou desviando o olhar de meu rosto – ela não pode ir presa e advogado é um direito...
- Não neste caso, senhor Peters. Sua filha foi acusada de conspiração contra o governo e estava ciente do que estava fazendo e de suas escolhas – ela olhou para meu pai – considere um milagre ela estar tendo uma segunda chance.
- O que é o certo para todos, não?
Ela não respondeu minha pergunta, apenas prosseguiu falando do Acordo – O Acordo não tem muitas restrições e é irreversível, uma vez aceito e quebrado você se tornará, oficialmente, uma prisioneira do Estado. A primeira condição para que você fique em liberdade condicional é de jamais tirar a tornozeleira ou sequer tentar, ela contém um receptor que reconhece quando há tentativa de retirada, um sinal é mandado para nós e, imediatamente, uma carga alta o suficiente é ativada para lhe deixar inconsciente.
Soltei uma risada a fitando. Ela me fitava séria e então perguntou:
- Contei alguma piada?
Apontei em sua direção – Esta não foi uma?
- Luna! – meu pai mais uma vez me advertiu.
- Não – ela respondeu o ignorando – se eu puder continuar com meu trabalho para poder ir para a minha casa após nossa pequena conversa, ficaria muito grata.
A fitei em silêncio, levantei as mãos deixando-a prosseguir e assim ela o fez:
- A tornozeleira possui um GPS que nos mostra sua localização vinte e quatro horas por dia, você tem uma distância máxima que consistirá em sua casa até Midtown High School de sete da manhã até seis da tarde, qualquer distância transpassada ou hora excedida um sinal será enviado para o centro de comando onde sua prisão será decretada imediatamente, as câmeras e os áudios serão ligados de modo que nos inteiremos de onde se encontra e o que faz.
- Isso tem uma câmera e microfones? – perguntei erguendo a perna enquanto fitava a tornozeleira com a luz verde.
- Sim, mas permanecem desligados, estes dispositivos apenas são ligados neste caso que acabei de citar – ela respondeu sem tirar os olhos de mim, virou a página mais uma vez – o uso de seus poderes ativa, imediatamente, uma carga elétrica de média intensidade que, caso permaneça em contato com seu corpo por muito tempo, pode lhe deixar inconsciente.
- Vocês gostam dessa coisa de deixar inconsciente, não é? – debochei sorrindo – eu pude perceber que a tornezeleira eletrocuta.
- Bom, – ela disse – você só poderá fazer uso de seus poderes com a permissão do Secretário ou de Tony Stark quem são os únicos capazes de desativar a tornozeleira caso necessário.
- Ótimo! – ri, mais uma vez, debochada – deixe-me adivinhar: vocês me dirão quando eu posso usar meus poderes ou não, certo?
- Correto.
- Isso faz parte do outro Acordo.
- E agora deste – ela limpou a garganta pigarreando e prosseguindo – todo e qualquer contato, direto ou indireto, com quaisquer dos nomes citados mais cedo será encarado como cumplicidade e, imediatamente, será enviada para a cadeia.
- Nada disso será necessário – meu pai ficou de pé sorrindo sem graça.
- Será ótimo, senhor Peters – a mulher o fitou ficando de pé após fechar sua pasta, virou-se para mim segurando um chumaço de papeis em mãos – dentro de trinta minutos após minha saída daqui a tornozeleira ficará roxa por dez minutos, neste tempo ela estará sendo coordenada com a localização atual e as novas distâncias: você só pode ir para Midtown High School, a partir das sete da manhã até seis da noite, dado este horário você deverá estar em casa sem autorização para sair novamente.
- Certo – fiquei de pé balançando a cabeça positivamente – posso fazer uma observação?
- Sim – ela respondeu séria como sempre.
- Por que você está me dizendo tudo isso como se eu fosse aceitar o acordo?
- Porque quem assina o acordo, em seu nome, é seu pai – ela deu um pequeno sorriso – você tem quinze anos, não responde por si mesma.
- O que? – perguntei assustada – não! Claro que não!
- Luna... – meu pai andou em minha direção.
- Deixe-o fora disso! – berrei furiosa indo na direção da mulher, porém fui segurada por meu pai, a mulher já se dirigia a porta com um fraco sorriso nos lábios – deixe-o fora disso! Ele não tem culpa de nada! Deixe ele fora disso! Você me ouviu? Deixe ele fora disso!
A mulher parou com a mão na maçaneta da porta de vidro virando-se em minha direção – Você devia ter pensado mais ao invés de escolher o lado errado.
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