Text
A melhor história da minha vida
Nessa quarentena, o número de anúncios contra violência doméstica tem aumentado bastante. Dentre as campanhas, os vídeos mostram cenas de assédio psicológico/físico ou mulheres ensinando sinais discretos de socorro, fora da visão de seus companheiros. Os números são absurdos, segundo dados do TJRJ (Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro), houve um aumento de pelo menos 50% de denúncias só no Rio. Mas é muito fácil chamá-las de covardes ou, até pior, de burras, por estarem nessa situação sendo que são providas de seu livre arbítrio.
Era uma vez um relacionamento perfeito mas, no fim, tão bizarro que fica difícil explicar o que o cara fez. Aparentemente o nome disso é gaslighting (ou abuso psicológico) e é tão sutil que faz com que você acredite nas piores mentiras sobre você mesma.
Eu servia pra ouvir problemas, mas não para participar ativamente da vida dele: não conheci sua família, e fui à sua casa apenas quando a mãe não estava; se algo me incomodava, minha preocupação era “boba”, porque eu era “besta, coração”; nas vezes em que eu precisava conversar, ele nunca tava disponível.
Sei que, por muito tempo, me peguei exausta por querer deixar tudo perfeito, para ser perfeita, assim, ele não teria do que reclamar. Me sentia um peso, pra ele, enquanto engolia todos os sapos, pois ele fazia parecer que eram besteiras, diante dele, uma pessoa tão resolvida (sqn). Apesar de poucas, as brigas, foram as mais violentas que eu já tive, nos exaltávamos, ele desligava na minha cara, começava a me bombardear de mensagens agressivas e me bloqueava (não queria ser contrariado, né?).
Era cega porque só queria fazer dar certo, afinal, eu não tinha muita experiência em relacionamentos e ele era incrível, não é mesmo??? Pois bem.
Eu tava, de longe, no pior momento da minha vida: revisão para os vestibulares, morando fora de casa porque minha bisa tava mutcho doida das ideias, na minha (acordava gritando de madrugada e talz), e minha avó tendo que cuidar dela e de todo o resto- e eu não podia ajudar em nada (me cobro muito, nesse sentido)-. Era época de eleição- ele tava super irritado com os resultados- e eu só queria ficar de boa (que nem ele quando sumia um dia todo a noite falava que não fez nada durante o dia todo, pq “queria ficar de boa”). Haha adivinhem o que aconteceu? brigamos, foi a briga mais feia. Eu tava cansada e acabei sendo grossa. Tava de saco cheio daquela imagem dele de pseudo santo, apontando o dedo pra tudo e todos. Mesmo assim, liguei pra ele uns 2 dias depois pedindo desculpas, ele chorava e dizia que se fosse pra ser do jeito que eu tava, era melhor nem voltarmos, pois ninguém muda, assim, do dia pra noite, o melhor darmos 1 tempo PRA EU VER SE ERA ISSO MESMO QUE EU QUERIA. Sei que após alguns dias me senti leve, nossa! Mas quando fui terminar tudo, eu não consegui. Me senti mal. Ele me convenceu de que as coisas iam ser melhores- e eu acreditei-. Saí de lá triste e com o aquele sentimento de “poatz, fiz merda”.
Comecei a contar os dias praquilo terminar, mas não sabia como. No entanto, acho que ele pensou que, já que o aceitei de volta, aceitaria qualquer coisa dele, e daí, queridos, foi ladeira abaixo. Brigou comigo porque coloquei o copo de chá sem descanso no móvel, que eu derrubei um pedaço de ruffles no chão (real, um pedaço, mesmo), porque eu tava com gripe e tava lá, enfim... no meu auge do saco cheio, ele percebeu e pediu desculpas “por estar tão chato", em seguida deitou na cama e pediu pra eu deitar com ele. Eu não consegui. Não consegui e disse que não tava certo.
Nesse dia eu falei pra ele sobre termos um mundo nosso, isolado e ele participar do meu e me deixar completamente de fora do dele. Falei o quanto eu achava incrível não brigarmos, mas que percebi que, na real, não queria contrariá-lo; que eu achava demais o fato de eu poder passar 1 mês viajando que e ele não ligar, mas que percebi que era cômodo, já que não teria que lidar comigo; que achava ele compreensivo por me deixar sempre sair com meus amigos sem nenhum perrengue, mas a real era que ele não queria lidar com eles - e então eu sempre acabava trancada no apartamento dele, uma vez que eu só podia vê-lo 1x/semana.
Mas o pior, foi eu ter percebido o quanto eu era menosprezada, diminuída, o quanto nada que eu fazia era importante, o quanto meu sofrimento era sempre uma besteira ou o quanto minhas qualidades pareciam “méh” pra ele. Não, não precisamos da aprovação de ninguém, para sermos nós mesmos, eu sei, mas acredito que, na era dos “reacts”, onde todos precisam ter opiniões sobre tudo, lidar com esse tipo de julgamento, ainda mais de um companheiro, requer uma força estrondorosa. Afinal, pra que você tá com alguém se nada te atrai nela, ou se tudo é defeito? Enfim...
Depois do meu discurso, ele se levantou e agiu como se nada tivesse acontecido: ia me levar pra almoçar e seguir tudo como antes. Quando perguntei se ele não tinha nada para dizer, meus amigos, a resposta foi a melhor que poderia ter sido “não posso fazer nada em relação a isso”. Brigamos feio, ele levantou a voz, não olhava nos meus olhos e distorceu tudo a favor dele, só que dessa vez eu não ia deixar ele me manipular - aquilo estava acabando comigo. Peguei minhas coisas, fui embora, tava frio, chovendo, paguei 90 pau de Uber pra chegar em casa e ler umas 8 mensagens (me culpando, é claro) pedindo desculpas “pelas coisas que eu fiz ele falar” (claro, ele era um fantoche, eu enfiei a mão no rabo dele e manipulei todas as suas falas).
Eu tava com muita raiva, achei melhor não responder nada. 2 meses depois mandei um e-mail pedindo desculpas pelo vácuo, pois não queria falar merda, agradecendo pelas coisas e dizendo que ia lembrar com carinho dos momentos bons, mas que, pra mim, tava tudo resolvido. Recebi 1 ligação malcriada e uns 5 e-mails enormes me xingando de tudo quanto é nome.
E porque essa é a melhor história da minha vida? Moças, ele tentou me pôr pra baixo por algum sentimento doentío, e eu deixei. Mesmo depois de 1 ano e pouco, ainda tento me reconhecer pra poder me reconstruir (é um processo brabo de aceitarmos quem somos). Quando eu me neguei a abdicar minha vida em prol daquela situação, eu descobri que tenho valor. Eu me valorizei diante do desprezo dele. Saibam: vocês são fortes, são incríveis e precisam saber disso. Têm coisas boas e são lindas como são. Ele acabou comigo, eu deixei, o abuso psicológico era sutil, mas vocês não dependem de seus parceiros ou parceiras. Não guardem questionamentos, nem poupem palavras. Eu sei que a todo momento vou encontrar pessoas que vão me contrariar simplesmente por serem diferentes, mas nunca, jamais, ninguém passará por cima de mim novamente.
Eu queria poder pegar meu sentimento com a mão e colocar dentro do peito de vocês, essa sensação de quebrar as correntes e ser dona de mim mesma, não tem valor!
É difícil, mas atitude é a única coisa que pode mudar tudo.
Não se calem nunca!
0 notes
Photo
365 Film Challenge | 092. Medianeras (2011) | ★★★☆☆
314 notes
·
View notes