Verão!
Dizem que seus olhos são girassóis.
Eles me são vulcões em erupção.
Já disseram que seus cabelos são vendavais.
Eu digo que são o mais terrível furacão.
O que nunca me foi dito que pude perceber
É que num dia você é cerimônia
e no outro coroação
num você é nem outono, inverno ou primavera. Verão!
mas os dias mais confusos
são os de precipitação
onde sua canção,
que era sincera no início,
agora já é trovão,
que era serena no início,
já não vê nenhum perdão,
não segue nenhum padrão,
de rítmo, de compassos, versos e melodias,
o refrão se esconde na preparação.
O que escondem seus olhos de vulcão?
O que te dá forças, para em si conjurar um furacão?
coração?
Não te leio.
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Carnaval
Quantos rostos são construídos....
E quando olhamos pensamos:
mas como ninguém percebe
o carnaval que te estampa?
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Matemática
ouvimos músicas para brincar
com nossas expectativas.
deixamos ela nos guiar
em sua melodia repetitiva,
no rítmo mais familiar,
para depois
de repente
quebrar esses mesmos padrões criados
mas voltando à ativa
no rítmo mais familiar,
em sua melodia repetitiva,
e deixamos ela nos guiar.
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O canto do Coveiro
Chuva fina ainda caía do céu.
O Coveiro com a sua pá torta
escavava sua cova ao léu.
Pra ele nada daquilo mais importa.
Até mesmo esta fria e fina chuva
que do infinito vem hora o conforta.
E ele ainda cava. Sua pá já curva
em um ritmo lento terra retira
da cova tenra. Sua visão turva
não percebe qual dos corvos crocita,
afinal, neste cemitério são
tantos a te vigiar a maldita
e interminável movimentação
sempre com esse olhar gélido e morto
de olhos pretos, foscos, como um tição,
que com certeza fica mesmo absorto
quem se prende nesse fixo fitar.
mas pro coveiro só cedem exorto
pois já sentira muito aquele olhar,
mas para ele o que é agora novo
é aquele ruidoso crocitar
de algum (bastante impaciente) corvo.
"porque há de ralhar só hoje tão intenso?
maldito corvo!" de ar um grande sorvo
tomou. A pá empunhou, porque um imenso
buraco imaginava ali cavar.
"Como pode uma pessoa tão extenso
acervo de terra movimentar
quando, sem vida, seu grande e maldito
corpo inútil se fizera tornar?"
O coveiro se pergunta inaudito
sempre que sua pá escavar deve
para o definitivo veredito
legar a todo aquele que se atreve
àquele cemitério meter-se
na fatal morte que a vida prescreve.
Enquanto a sua pá ele retorce
o Coveiro constata enfim o peso
desses anos sem fim a dedicar-se
àquela profissão que, com desprezo,
todos ousavam a se referir,
mas mal sabem eles que é o medo
da morte, infalível, que está por vir
é sim a causa real da aversão
pela tarefa executada ali.
O peso da pá, imenso na mão,
parece ser demais ao coveiro
que já tinha anos de dedicação.
A chuva, mencionada primeiro,
parecia em pleno ar se congelar
e os corvos fixos ainda no poleiro,
como sempre, se deixavam estar
só observando-o rigorosamente
quando o coveiro se punha a cavar.
"Há! Olhe só! Digo que se apresente
quem se faz aqui presente na treva.
Sim! Você com o seu véu levemente
posto sobre a tua oculta face. Eleva
o teu rosto para minha visão.
Fugir-me ao olhar por favor não atrevas!"
E, delicadamente, a sua mão
o seu visitante segurou, e num
gesto sublime sua pá no chão
pousou. Fez um movimento comum
ao coveiro como faz quem pede
sua mão pra dançar talvez algum
passo ali. "Meu Deus, mas como se atreve
a me pegar para dançar agora?
Este velho? Como você se atreve?"
Seu vago visitante sem demora
tirou seu longo negro véu do rosto
e revelou, assim, o que talvez hora
te cause repulsa, talvez, desgosto,
mas acredite em mim quando eu te digo:
seu esqueleto era mesmo todo exposto!
O Coveiro previa ali perigo.
Percebeu que a Morte à sua frente
estava. "Mas o que ocorreu comigo?
Eu enterrei aqui nas covas tanta gente
que veio você mesma, a própria Morte,
se fazer nesse mausoléu presente?
É realmente falta de sorte!"
Mas a dona Morte nada falou.
Deu um puxão nem muito leve nem forte
e o Coveiro enfim cedeu e até dançou.
Na verdade com ela já dançara
algumas vezes enquanto cavou
buracos para quem já terminara
sua função aqui no nosso mundo,
mas com ela em si jamais estivera
em um momento talvez tão profundo
no qual a própria Morte o norteava
e ele somente dançava em segundo.
No fim a Morte então o segurou, para,
com certa delicadeza e afeição,
mostrar que a dança ali acabara
e com um singelo beijo na mão
a sua recém escavada cova
se tornou seu imediato caixão.
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