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BELLA - Cosmic Connection
por Shin Dayeon.
Ao longo dos últimos meses, vimos BELLA trazer seu quinto mini-álbum “Cosmic Connection” de uma das formas mais bem trabalhadas em tempos recentes. Mas será que os três singles representaram o nível de qualidade do EP? Será que vamos precisar apontar alguma b-side como uma hidden gem, ou como algo que deve continuar esquecido? Vamos descobrir juntos nessa jornada especial.
Iniciaremos nossa avaliação do álbum com nosso sistema de Pontuação por Elemento Técnico (PET), atribuindo notas a cada faixa individual, não de forma isolada, mas dentro do contexto da obra.
O "Strawberry Shortcake" que inicia o mini album é… servível. Aparentemente, é uma "recipe that could make your heart beat", mas essa aceleração não leva a nada além do normal para os batimentos cardíacos de uma pessoa jovem em repouso. Os sabores não tem muitas camadas, os morangos não são orgânicos, a farinha e o açúcar não são dos mais refinados, e o chantilly passou um pouco do ponto. Não quer dizer que seja um bolo ruim, só não é nada muito chamativo, ficando só um pouco acima do básico e do esperado. É uma forma inofensiva e justa de iniciar um EP claramente influenciado por sonoridades das décadas passadas, cumprindo seu papel como introdução. E apesar da produção simples até demais em certos momentos, conta com versos até que divertidos, trazendo referência ao hit "Wish", e um refrão com capacidade de se tornar até que um pouco chiclete. Assim, "Strawberry Shortcake" recebe nosso 6.3.
A diferença entre a faixa anterior e o hit "Alien" nos mostra um claro exemplo de faixas que foram feitas para serem deixadas pra trás como b-sides e faixas que foram feitas para se tornarem title tracks memoráveis. Aqui, o som retrô ainda se mantém um pouco minimalista, porém mais cativante, com mais camadas nas vozes e instrumentos, e versos que não precisam de repetições para serem viciantes. A letra não é a que melhor representa o conceito do álbum (falaremos da que merece esse título mais tarde) mas traz ele de forma natural, que nos ajuda a imaginar de forma mais lúdica o relacionamento que está sendo contado. E indo além dos elementos líricos que se repetem ao longo do EP, o questionamento do outro lado da relação, como em “I’m about to start a run / You don’t even wanna ask / Tell me, what’s the truth for you?” ajuda a tornar a faixa um pouco mais real e fácil de se identificar. A title “Alien” recebe nosso 8.2.
O smash do ano passado “Wish” traz a energia que o mini álbum estava precisando, acelerando não só o ritmo mas também as camadas da produção e desenvolvimento artístico dos trabalhos do grupo, puxando referências de hits antigos para criar algo que funciona como homenagem, ao mesmo tempo que é inegavelmente BELLA. O tanto que a música soa como uma celebração com um tom classudo, seus versos soam como um jogo divertido de atração, convidando o ouvinte a ser levado pelas seis gênias e ter a oportunidade de fazer que todos seus desejos se tornem realidade, não em qualquer lugar, mas entre as estrelas que integram a temática da era. Há até uma subcorrente bem leve de sedução, que é algo que imaginamos se o grupo irá explorar mais em lançamentos futuros. De qualquer forma, “Wish” é uma retrospectiva pronto para qualquer pista de dança, e merece nosso 8.6.
Diminuímos um pouco a velocidade mas ainda continuamos com uma versão interessante da sonoridade retrô com “Brighter Days”, faixa que funciona quase como um abraço no final de uma noite. Tudo é confortável e aconchegante, com um tom quase nostálgico. As aparentes intenções de falar sobre um companheirismo entre mulheres parece ter sido deixadas pequenas demais até mesmo nas entrelinhas, mas ainda é uma composição que traz sentimentos quentinhos de amizade e suporte. Porém, foi a partir dela que começamos a notar algo que se repete maia do que só algumas vezes ao longo do EP, principalmente em sua primeira metade - há um certo exagero nas menções de luz e escuro ao longo das letras - como em "I’ll slash the shadows all night / Brighter days will come" ou "Now we’re falling from sky like confetti stars / This light we own is truly ours". Claro, é algo que faz sentido com o conceito especial, mas sentimos falta de ver esses elementos sendo utilizados de formas diferentes, referenciados com outras palavras, de forma que ajudaria até uma composição mais simples se tornar mais diversa e enriquecida. Assim, “Brighter Days” sofre uma penalidade e fica com uma nota 7.0.
Com “Sunflower” chegamos na que é com certeza a produção mais diferenciada e interessante do álbum, e na verdade até abre uma segunda metade mais cativante, sonoramente falando, investindo em elementos mais sintetizados e eletrônicos. Essa também é a primeira composição que consegue fugir do clichê da luz e sombras que mencionamos anteriormente, trazendo uma jogada interessante entre algo tão grandioso e distante como o Sol comparado a algo tão mundano e próximo quanto um girassol, reforçando a relação de superioridade (ou inferioridade) entre as duas figuras da história sendo contada. A incorporação dos efeitos vocais comuns do dreampop acabam caindo como uma luva nas membros, que incorporam essa persona hipnotizante, que merece ser amada e adorada. Da mesma forma, “Sunflower” merece nosso 9.5.
O fim do álbum está chegando e “Electric Kiss” representa bem esse momento, passando os sentimentos de nostalgia com uma leve melancolia, tornando o terceiro single da era em uma música não só dançante e romântica, mas também um pouco dramática, puxando influências de outros gêneros originados em décadas passadas como synthwave e eurodance. É uma base bem forte que, diferente da faixa anterior, sentimos que a composição não consegue chegar à mesma altura. Há bastante potencial nela para puxar um lado mais místico da temática espacial, com trechos como a linda primeira estrofe “The story of secrets locked inside me / The tale of someone who couldn't / Believe in feelings like love […] / I hid a supernatural power”, mas pouco é feito para desenvolver essa ideia, e a maioria da composição acaba caindo na repetição de luzes, escuridão e estrelas que comentamos anteriormente. É uma pena, considerando que a faixa também possui um ótimo hook. Assim, avaliamos “Electric Kiss” com 7.8.
No começo da avaliação faixa-a-faixa, mencionamos que uma música merecia o título da que melhor representa o conceito do EP - essa é a finalização dele, “Orphan Stars”. Ela funciona como um grande e belo laço (referência totalmente não intencional ao “Ribbon Runway”, EP anterior do grupo) que decora e amarra o pacote da obra com as melhores referências ao cosmos de forma geral, e uma produção que soa oitentista ao mesmo tempo que soa quase retrofuturista, uma ideia daquela época de como os tempos atuais e a expansão para o espaço seriam representados. E em meio a toda a grandeza fantasiosa, momentos como “Could you stay a little longer? / I wanna count the stars with you […] / I learn to love you again / We’ll reach the universe” não deixam que a sensibilidade e honestidade romântica sejam perdidas, expressando a intensidade do sentimento nas vozes, composições e instrumentais simultaneamente. “Orphan Stars” facilmente recebe uma nota 9.2.
Agora, retomemos o que foi comentado para falar sobre os aspectos gerais do álbum também, mas como resumo para nosso CRP, passando pelos três grandes tópicos:
“Cosmic Connection” tem uma proposta clara e bem definida, com a temática especial e a sonoridade influenciada por diferentes gêneros populares em décadas passadas. As 7 faixas fazem um bom trabalho em se manterem diversas e ao mesmo tempo coesas, porém, os altos e baixos entre elas são bem perceptíveis, e vemos duas partes até que bem distintas no EP - as 4 primeiras músicas e as 3 últimas - e há até como argumentar que elas talvez deveriam ter sido trabalhadas como dois mini álbuns que desenvolvessem mais cada parte da sonoridade. Mas em geral, acreditamos que o projeto consegue fazer mais sentido como um único EP. A nota por sua construção é 3.5 / 4.5.
Como mencionamos anteriormente, o disco faz um bom trabalho em representar diferentes aspectos do pop retrô, trazendo algo que, no fim das contas, é quase como um equilíbrio entre as homenagens e a vibe puramente BELLA. Porém, acreditamos que, independente de qual seja o artista ou a obra, o que deve sempre se sobressair é a identidade própria, ao invés de ficar no mesmo nível do tanto que puxa de outras fontes. Ou seja, estamos falando do limite entre ser influenciado mais do que fazer algo autêntico o suficiente para influenciar outros de seu nicho. Apesar disso, o conjunto das músicas ainda se mantém bem na proposta do grupo, e oferece algo não muito distante da realidade dos ouvintes, com alguns toques especiais. Assim, nota por sua apresentação é 2.5 / 3.5, e sua nota por impacto é 1.2 / 2.0.
Dessa forma, temos uma PET de 8.2 e um CRP de 7.2, totalizando uma média arredondada de 7.7 para “Cosmic Connection”.
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RAVEN - Ravenous Heart
por Shin Dayeon.
Após uma longa era e muita espera por um lançamento completo, “Ravenous Heart” finalmente chega como primeiro álbum completo do girlgroup RAVEN, demonstrando com maestria o quão artístico o k-pop pode ser, sem ter que deixar de lado seu apelo com o grande público. Iniciaremos nossa avaliação do álbum com nosso sistema de Pontuação por Elemento Técnico (PET), atribuindo notas a cada faixa individual, não de forma isolada, mas dentro do contexto da obra.
Como todo bom full album no kpop, RAVEN traz uma faixa de introdução em “Unnatural”, que representa bem a obra até mesmo em seu nome, mas não revela demais nem se sobrepõe em nível de interesse em relação às outras faixas, cumprindo muito bem a função de apresentar alguns pontos do disco e ainda deixar um “gostinho de quero mais”, que motiva o ouvinte à se aprofundar e descobrir quais são as tragédias que assolam os corações inquietos do quinteto, além de se interessar para ver quais tipos de sonoridades sombrios, influenciadas pelo rock e eletrônico, irão encontrar ao longo do álbum. A única possível crítica que podemos fazer não é sobre o conteúdo lírico num geral, mas pequenas partes dele. Enquanto “That’s unnatural, baby / That my favorite sound / Is the despair of your shout” é tão poeticamente belo quanto as inspirações por trás do nome e primeiros lançamentos do grupo, linhas como “Maybe I’m a lil psycho / Bet you know it now” parecem simplórias, vazias, presas em costumes mais ‘edgy’ sobre relações tóxicas. Em geral, nossa nota para “Unnatural” é 8.2.
A posição de singles lançados anteriormente em um álbum sempre é um tópico que rende algumas discussões e comentários entre nós – nossa, não era melhor ter colocado ao longo do álbum na ordem que os singles saíram? credo, não podia ter separado mais os singles ao invés de deixar tudo junto? – mas apesar de ser o segundo single da era e a primeira faixa completa do álbum, “Into My Spell” não nos causou nenhuma estranheza desse tipo. Até mesmo se não houvesse uma intro, ela seria uma ótima escolha para apresentar as sonoridades e temas do álbum. Trechos como "The moonlight comes in through the window crack / Breaking the pitch black" e "Loving you feels like adrenaline / Underneath a velvet sky, we spin" pintam perfeitamente a imagem das cenas descritas na música e a noção de que em meio a um sentimento tão atraente, há algo prestes a dar errado, um medo, uma urgência, uma escuridão que indica mas não revela as tragédias em seguida. Os belos vocais unidos aos instrumentais contidos até em seus momentos mais cativantes completam a sensação, criando algo semelhante à “romantização” gótica do sofrimento amoroso, digna do nome do grupo. Assim, nossa nota para a incrível “Into My Spell” é 9.5.
A faixa principal para o lançamento do disco, “Plague”, acaba ficando um pouco na sombra do single anterior, mas não deixa de ter seus próprios méritos. Enquanto “Into My Spell” traz elementos mais delicados para criar mais drama e intensidade contida, o minimalismo de “Plague” traz uma noção de afirmações cruas, uma esterilidade vazia – a verdade imutável que não somente o amor das intérpretes é corrompido, mas que suas próprias identidades, seus próprios ‘eus’ são apodrecidos. O trecho do refrão em que cantam “Love it or hate it, but it's too late to save me” é o que melhor encapsula o assunto até agora. É uma ideia que é mais explorada nas faixas seguintes, mas considerando o papel importante que a title track possui no álbum, não pudemos deixar de sentir que talvez haveria espaço para comentar um pouco mais sobre o tema, principalmente na bridge, que é bastante simples. Além disso, a escolha de utilizar uma produção menos intensa foi interessante, mas talvez manter tanto os vocais quanto os instrumentais mais leves talvez tenha afetado o quanto a faixa consegue prender um ouvinte. Então, pontuamos “Plague” com 7.6.
Na sequência, a primeira b-side “The Garden of Misfortunes” traz a continuação esperada dos temas do álbum, não os tratando de forma repetitiva, mas expandindo os tópicos com auxílio de menções à natureza – não à plantas verdes e bem vivas, mas à folhas e flores secas e decrépitas. A produção, talvez a melhor do álbum até agora, traz o dark pop de maneira mais robusta, com instrumentos texturizados e camadas diversas até mesmo nos vocais, dando mais peso e melancolia aos versos principais com trechos uníssonos cantados ao fundo: “I’ve been living through the distortion / (My whole life’s been a twisted distortion) / Grown among thorns that hurt me down”, que ainda funciona como uma incrível referência metalinguística aos efeitos de distorção usados nos backing vocals. Apesar de não ser a mais diretamente cativante do projeto, “The Garden of Misfortunes” provavelmente é a que melhor representa o senso de estar preso na escuridão e o apresenta com um tom contemplativo, merecendo uma nota 8.6.
Não esperávamos que nos distanciaríamos dos elementos eletrônicos nem tão cedo, mas “Claws” foi uma incrível surpresa. A junção de elementos tribais ajuda a construir toda a tensão selvagem que a letra demonstra com maestria. É comendável que RAVEN tenha desenvolvido tanto sua mitologia própria à ponto de poder se autoreferenciarem de forma que soa natural, merecida, e ainda eleva o nível de sua arte, tanto no canto de “I dare you not to fall into the deep Moon’s melody” por Moon Yoon quanto no foco temático principal. gora que finalmente chegaram no tópico da intensidade do desejo, as características mais brutais e predatórias de um lobo caem como uma luva na composição, principalmente durante o grandioso rap de Seoyeon, que também serviu como momento perfeito para mencionar o nome do álbum. Além de tudo, a faixa ainda conta com o melhor uso de repetições de todo a obra, representando a natureza obsessiva e cruel do comportamento relatado em “Got, got, got, got, got, got, got, got, got / I got you in my claws”. Por todos esses motivos, “Claws” recebe uma nota 10.0 – que seria maior ainda, se possível.
A faixa “Savior” possui um conceito extremamente interessante – quem consegue citar algum artista, seja dentro ou fora do kpop, que faria um hino de adoração à uma deusa grega muitas vezes esquecida? Mas por melhor que seja a ideia, não sabemos se a execução estaria totalmente do agrado de Nyx. Grande parte da letra cumpre perfeitamente o papel de exaltar a deusa e mostrar a possível conexão do RAVEN a ela – a partir de “Ooh, daughter of chaos / Feared by the Olympus” a semelhança já era clara, mas essas similaridades continuam se juntando cada vez mais ao longo da maioria do conteúdo lírico da faixa. Foco na palavra ‘maioria’ – por alguma razão, as duas estrofes não se conectam tão bem ao restante da composição. Sabemos da importância de falar de si antes de se referir a outra entidade, para que as motivações fiquem claras, mas a ponte entre essas partes da letra não é tão bem feita e acaba causando um pouco de desconexão. Já na produção, os vocais e melodias continuam ótimos, mas há algo que soa quase… amador no instrumental, talvez o tipo de sintetizador escolhido ou a mixagem feita neles. Isso faz com que a bridge, momento em que há uma sonoridade totalmente diferente, brilhe mais, enquanto o restante da produção fica em sua sombra. Por isso, nossa nota para “Savior” é 7.0.
Já “Drowning” ajuda o álbum a recuperar seu fôlego, ironicamente – ela consegue deixar o ‘clima’ mais leve com o romantismo, mas sem perder o tom eventualmente trágico que permeia tudo ao redor dela. A sonoridade não é nada complexa, mas traz um groove cativante ao mesmo tempo que não se deixa ficar intensa demais, dando mais espaço para os vocais brilharem. Os motifs espaciais são uma ótima forma de fazer essa dualidade se tornar mais palpável e fácil de se identificar, trazendo à tona a luz e beleza que nos deixam maravilhados, assim como a imensidão, o vazio e o desconhecido que nos intimida e nos faz sentir tão pequenos. E até mesmo sem essa base para fortalecer a letra, trechos como “Deeper, please be my solitude reaper, just want to feel whole / If you love me, let me drown into your soul and let me lose control” são alguns dos mais lindos e sinceros de toda a carreira do RAVEN. Ela não fala sobre um amor perfeito, puro, nem mesmo correto, mas é um amor sincero, belo, e que, mesmo que de forma limitada, merece existir, e ser mais do que só um clamor solitário. Assim, “Drowning” ganha uma nota 8.0.
A essa altura, já estávamos sentindo falta do rock que o RAVEN faz tão bem, mas felizmente “Sweet Devil” chegou para saciar essa necessidade, mesmo que de forma diferente do que esperávamos. A sonoridade da faixa é mais leve e melancólica, quase como um soft rock, criando um contraste interessante com o peso emocional dos versos – que apesar de bem escritos e melódicos, não chegam ao padrão que as músicas anteriores nos fizeram esperar. A questão é que, comparada a todo o restante do álbum, essa b-side é como um sorvete de baunilha em meio à uma imensidão de outros sabores. É doce, é gostoso, mas nem se compara aos trufados, pistaches e frutas vermelhas ou vermelhas, que possuem muitas camadas a mais que formam uma experiência mais interessante e diversa. Ou seja, não é uma música ruim, e provavelmente seria avaliada de forma mais generosa se estivesse em um outro álbum, mas considerando como o nível da obra ao redor é tão alto – “Sweet Devil” acaba tendo uma nota 6.8.
O single que começou a jornada até o álbum, “Raven’s Curse”, ganha vida nova no contexto da tracklist e brilha ainda mais em suprir o desejo por uma canção rock mais desenvolvida. O que antes havia funcionado como uma ótima prévia do que estava por vir, agora serve quase como um resumo e explicação da obra, que se aproxima de seu final, e precisa amarrar alguns nós para ser concluída de forma satisfatória. O sofrimento das intérpretes e as imagens que pintam com seus versos são mais claros e intensos aqui, reforçando o amor tóxico em “I cut your wings / Just to hear you scream (so sweet) / Because I love you / In my wildest dream” ao mesmo tempo que deixa claros seus problemas, indiretamente usando versos como “We’re meant to be together / Every step you take, I’ll follow you, I will be there too because / You and I are bound forever” para a noção de que uma relação ‘predestinada’ é ótima e deveria sempre permanecer. Dando prosseguimento aos temas e encaminhando o álbum para seu ato final, “Raven’s Curse” definitivamente merece carregar o nome do grupo em seu título – e também uma nota 8.2.
A última b-side completa do álbum é “Idlewild”, e nos faz acreditar que o álbum foi perfeitamente organizado para possuir suas melhores faixas posicionadas no final da primeira metade e no final da segunda metade da tracklist. Quando pesquisamos o significado do nome da faixa após escutá-la, nossas suspeitas se confirmaram, e tudo fez mais sentido ainda – a ideia de nomear sentimentos extremamente específicos sempre foi peculiar, e a forma como RAVEN destrincha o alívio que poderia ser considerado algo tão simples do dia a dia é admirável. Além disso, sabemos bem como a ‘ballad de fim de álbum’ já é uma tradição do k-pop por mais de décadas, e em meio a tantos exemplos insossos desse estereótipo, o quinteto consegue brilhar indo além do esperado, se aprofundando não somente no conteúdo lírico mas também na sonoridade, que se mantém cativante e vai além de poucos elementos acústicos, se aproveitando de lindos elementos orquestrais que ajudam a refletir a importância que um momento tão mundano pode alcançar. Não existe forma mais satisfatória de terminar uma obra retratando tantas tragédias do que “Aimlessly I wander into the night / In a world devoid of all light / Hopefully I’ll find myself / And I know I’ll end up well” – não é uma garantia utópica de felicidade, mas a esperança de que se encontrar em si mesma será melhor do que sofrer tentando se achar em outros. “Idlewild” conquista uma merecida nota 9.6.
O pósludio “Farewell” funciona quase como uma extensão da faixa anterior, e ao mesmo tempo que nos faz desejar que um instrumental tão belo fosse parte de uma faixa completa, também nos impressiona em ser uma produção extremamente bem feita, que se sustenta somente com seus instrumentos e melodias. Há um misto de sensações etéreas e quase épicas, de alívio e liberdade, que expressa exatamente o que, no fundo, todos nós desejamos sentir após passar por tantos obstáculos e dificuldades. A belíssima conclusão de “Ravenous Heart” merece uma nota 9.0.
Acreditamos já ter indiretamente falado bastante sobre os aspectos gerais do álbum também, mas como resumo para nosso CRP, passaremos pelos três aspectos gerais brevemente:
“Ravenous Heart” é muito bem construído do começo ao fim, podendo ser definido talvez em duas metades, talvez em três atos, mas no fim das contas sendo um trabalho que é já tem partes boas separadamente, e como conjunto completo, se torna ainda mais aprofundado e interconectado, e que apesar de breves deslizes que perdem um pouco do interesse do ouvinte, funciona sempre de forma harmoniosa e que flui bem entre as faixas. A nota por sua construção é 4.0 / 4.5.
Como primeiro full album do grupo RAVEN, ele ainda faz um ótimo trabalho em representar diversos aspectos sonoros, líricos e mitológicos que formam toda a identidade do grupo, contando com diversas referências externas e internas, além de clareza e variedade na execução da maioria de suas propostas. Algumas faixas tendem bem mais a representar algo do grupo do que uma sensação coletiva, mas não quer dizer que seja impossível de interpretar e se identificar com a maioria das faixas. A nota por sua apresentação é 3.0 / 3.5.
E não temos nenhuma dúvida sobre a autenticidade e influência desse álbum – trabalhando com histórias com começo, meio e fim, a ponto de representar aspectos de todos os membros envolvidos – caso não leve outros artistas, seja dentro ou fora do k-pop, a fazerem algo semelhante, temos certeza que deveria. Sua nota por impacto é 2.0 / 2.0.
Dessa forma, temos uma PET de 8.4 e um CRP de 9.0, totalizando uma média de 8.7 para “Ravenous Heart”.
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Nosso método
Olá, somos os redatores da ICERiNK.
Por muito tempo, pensamos em como costuma haver um grande, frio abismo entre os ouvintes de música e os críticos profissionais, que muitas vezes possuem não somente dificuldade de reconhecer a importância um do outro, mas também não veem bem como funciona o processo de análise. Principalmente a definição de valores segundo nossa opinião sobre cada aspecto de uma obra, o que todos sabemos que, se tratando de arte, é algo bem subjetivo.
Após inúmeras reuniões, finalmente chegamos à uma solução para deixar nosso trabalho mais transparente e compreensível, relacionando nossos métodos e a arte que avaliamos à algo tão palpável e visível quanto uma apresentação de um atleta olímpico. E em nossas mentes, somente um esporte poderia representar tão bem a dedicação artística, as dificuldades de se provar, e a importância dos jurados: a patinação no gelo.
Todas nossas críticas irão contar com um sistema de pontuação semelhante aos critérios que um patinador precisa cumprir, sendo traduzidos para as necessidades do mundo da música. Teremos duas grandes notas, que no final, serão somadas e divididas para nos levar à nota final de um projeto musical. Elas são:
o Coeficiente de Realização do Programa (CRP), dividido em três pontuações para aspectos gerais de um álbum: construção, apresentação e impacto.
A nota para construção avalia como o álbum é constituído e organizado em relação à conexão e harmonia entre elementos, nível de padronização e cobertura dos tópicos dispostos. Ela vale 4.5 no total.
A nota para apresentação avalia como o álbum demonstra sua expressividade e projeção; variedade e contraste; sensibilidade musical; e multidimensionalidade, como referências e interpretações diversas. Ela vale 3.5.
E a nota para impacto então, considera a autenticidade e efeitos à longo prazo de um lançamento, o quão bem ele representa os pontos fortes de um artista e se ele é digno de ser chamado um álbum que irá influenciar outros no futuro. Ela vale 2.0.
A Pontuação por Elemento Técnico (PET) então foca em cada elemento do álbum separadamente, ou seja, atribui uma nota considerando quão bem uma faixa funciona sendo considerada separadamente, mas ainda dentro do contexto da obra.
Considerando a produção, conteúdo lírico, proposta e resultado de uma música, ela receberá uma nota, e no fim, todas as notas por faixa serão somadas para formar a PET total.
Esperamos que, de agora em diante, nosso processo seja tão cristalino e transparente quanto o gelo. Ainda nos veremos mais vezes.
Encarecidamente,
Shin Dayeon e equipe da ICERiNK.
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