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idtkmn · 5 months ago

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eu chego ao restaurante, cumprimento o garçom parado na entrada, ele se oferece pra guardar meu casaco e eu nego com a cabeça e vou em direção ao salão depois de dizer que já tenho uma mesa, sem explicar muito. sinto que o garçom me segue e isso me causa uma leve coceira na nunca, é como se ele não acreditasse que alguém como eu pode ser esperado por alguém, e bem, eu entendo.

quando avisto os olhos alegres do meu padrasto, percebo seu filho entusiasmado falando a mesa, sua mulher sorridente brincando com a criança que dá altas gargalhadas e abraço cada um dizendo que "estou com saudades", mas estou apenas com o bom e velho frio. o menino tem dificuldade de lembrar meu nome e sempre antes de dizer dá uma leve pausa e faz uma careta enrugada, antes de falar o apelido que não usam comigo desde meus seis anos de idade, bem, foi o que a esposa dele disse pra me chamarem, a criança me cutuca e me olha como se eu fosse a parte nojenta de uma carne, ele ama a mulher e vê nela as mesmas expressões que vê em mim, mas se eu a encaro demais ela me levanta a sobrancelha como se não tivesse gerado meus olhos.

o meu padrasto me pergunta da faculdade, do namoro, do trabalho e da bicicleta, sinto que naquela relação posso relaxar porque pelo menos ele esta no exato lugar que deveria estar. mas a criança chama a esposa dele de mãe, e me deparo com essas palavras e repito dentro da minha cabeça com a mesma voz da criança que era quando ainda tinha esse apelido, que ela na verdade era minha mãe. a estranha do outro lado da mesa, que me olhava com o mesmo rosto, brincadeiras e histórias que eu, era minha mãe. mesmo que eu olhasse pra ela muito, eu não conseguia assimilar.

minha mãe sempre teve o cabelo castanho, e amou preto mais do que tudo, ela gostava de saltos extremamente altos e passar chapinha no cabelo o que me fazia quando pequeno, mesmo com o cabelo escorrido, a fazer o mesmo. ela era engraçada, mas sem ser de um jeito maldoso, sempre contava as melhores histórias, fazia as melhores brincadeiras e sempre me fazia sentir que era a criança mais sortuda do mundo, igual o pestinha que aquela mulher na minha frente levantava e dava risadas. a minha mãe ouvia o que tinha a dizer e me abraçava, ela via os clipes dos meus artistas favoritos comigo e me dava fotos deles, e acabava os amando também. ela investia nos meus sonhos mais que em tudo, com o pouco dinheiro que tinha me enchia de livros, plantas e fazia que eu nunca pudesse pensar no estado em que vivíamos.

a minha mãe me criou pra ser gigante. mas acho que em alguma parte disso eu não conheci ela. e agora, que ela é gigante me sinto tão pequeno, porque o frio em mim, vem direto da minha barriga, porque a mulher que sabia cada pensamento meu mesmo que eu me esforçasse ao máximo pra esconder, agora não sabe meu nome. ela não sabe quem são meus amigos, não sabe quais são meus problemas, não sabe minhas amizades do trabalho e bem aquele dia que eu chorei porque minhas sacolas rasgaram e meu guarda-chuva quebrou em uma tempestade.

a mulher que eu olho agora parece que é um resquício da mãe que eu tive e que amava mais do que poderia amar qualquer coisa. e bem, agora sinto que meu amor está disperso, há um lugar frio e vazio no lugar onde reservava pra tudo que vinha dela, e era muita coisa. e não sei o que fazer, não sei o que pensar, mas o garçom chega e novamente pede meu casaco, eu nego com a cabeça enquanto aquela mulher que me vestia com duas roupas me pergunta "você está com frio? nesse calor" negando com a cabeça.

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idtkmn · 3 years ago

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