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Me ouve daí do quarto andar?
No dia de ontem foram oito vezes você me ecoando pelos cantos que percorre meu sangue, pelas vielas da vida infinita, magnitude de existir, seria impossível resistir. Hoje você ainda me faz falta, mas agora sinto tudo isso com maior maturidade. Ontem estive sozinho pelos cantos da cidade, agora penso em mim sendo só nesta imensidão. Dia de ver as flores, é dia de te ver, você continua sendo em mim um grande eco, tua presença me alucina, me anima e me pertence. No dia de ontem foram trinta vezes a minha insignificância perante tantas grandezas deste plano existencial. Não sei quando me perdi, nem me vejo mais como antes, agora me encontro novamente e estou te procurando, não me diz que eu estou lutando em vão, é difícil de perceber a graça na pedra dura que se encontra no meio do caminho.
No dia de hoje eu percebi que não é tarde demais para continuar te percebendo de longo na imensidão de mim, estou expandindo meu ser na sua existência. Hoje ainda ecoa a tua voz por todos os cantos da cidade, por onde andei para não deixar a sua voz se conter só em mim, corroendo meu ego, tua voz deixa de ser mera consciência, estamos imersos em universo coexistente, estamos relatando as impressões do agora. Hoje estou sozinho pertencendo ao ontem de tanta saudade, os instantes ainda estão em assimilação pela minha percepção. No meio da friagem estava ferido, sangrando. Não culpo ninguém além de mim, estou mesmo procurando algo para explicar tamanha confusão.
Você me acalenta pela voz, me toma de mim pelos braços e me remonta como um quebra-cabeça por várias vezes , muda a ordem de encaixe e me faz querer sentir seus dedos me tocarem pelas peças. No seu tempo estou, sempre percebendo a alucinação deste ângulo que te vejo. Não vamos continuar por vezes gritando para o céu, estou procurando pelo seu corpo na multidão. A graça de te ver de longe sem poder tocar me faz querer passar mais tempo contemplando sua presença. Me perdi quando você me encontrou, quando me aceitou na sua vida e me abraçou forte depois de tanta espera. Na dureza da pedra no caminho, estamos apenas conversando em muita resposta do viver, estamos mesmo é esperando algo cair do céu.
Me encontro perto da porta secando como um guarda-chuva depois de um temporal, úmido e cheio de gotas ensopando a napa, pingando no chão, secando a vapor. Estou preso no teu sim, depois de corroer os fios, depois de olhar para trás e correr dos relâmpagos durante a chuva de verão, construindo de galho em galho uma casa de passarinho. Quando você chega e estou sem espaço para falar sobre estar sozinho, deixa a desejar quando me faz companhia em um dia frio. Não conversa, só ouve, depois de tanto silêncio resolve falar sobre seus sentimentos, nem sempre faz sentido, mas quando deixa o zelo entrar, com certeza já me esqueceu no ato de falar.
Não errei ao te pedir uns versos, só que agora me faz bem te ouvir declarar por mim tamanha imensidão. Hoje você me percebeu, não encheu o bico, nem desceu a rua. Ontem você me preencheu, me acolheu, o tempo escorreu. Nunca descobri você em mim, mas quando vi, te quis por aqui. Não desenvolve meu pensamento, estou a mercê da sorte de um dia nublado, será que chove? Não me perdoe se fui rude, mas quando te vi não foi difícil sorrir. Os versos deixados no meio de um texto escrito em prosa me torna de relance algo como um menino tomando leite, chupando o bico da mamadeira, sugando o líquido. Me encanta poder atingir a delicadeza de um amor, me preenche a esperança. Ainda me encontro na esquina da sua casa tocando violino para conseguir um trocado.
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Política dos afetos
O dia começa com você aqui perto de mim, na sala ao lado, sempre à espreita. Não me condiciono mais, estou começando agora, estou disposto a falar para você sobre meus sentimentos. No recreio, quando tocou o sino, vi ele te abraçar de longe. Não me esperou mais como costumava fazer antigamente, as aulas sempre eram mais divertidas quando sentávamos próximo, comentamos sobre as gravatas do senhor Mustafa, estava ensinando como ninguém e conseguia ser engraçado mesmo quando estava sério demais para expressar ânimo pelo ensino.
VOLTANDO ao assunto principal, quando te vi segurando a mão dele na saída,logo em seguida beijou seu rosto. Não me deixei perder para tão pouco, achei que seria impossível conseguir competir neste lugar com ele, mas tentei e arrisquei te entregar uma carta. Nunca sei por onde começar, torne mais fácil e perceba as entrelinhas da minha carta. Nunca finalizo com o mesmo entusiasmo, você deve se perguntar qual o motivo de tanta cerimônia.
Na verdade, hoje foi dia de te dizer a verdade, mas antes vou começar contando sobre o quanto eu senti sua falta durante as férias. Eu estava na casa da minha madrinha quando alguém com seu nome chegou e refez os laços depois de ter gritado com minha tia na última festa. Não conhecia ninguém com esse nome, sempre me perguntei se existia pessoa com esse nome além de você. Pelo visto Esmeralda, você continua a mesma, sua avó me contou da última vez que fui à sua casa. Continua com o mesmo sorriso bobo para novas pessoas, sempre esperançosa e alegre.
VOLTANDO ao assunto principal, sem dar rodopios. A confusão na minha cabeça se formou quando você esqueceu o que tínhamos combinado no baile, em direção ao penhasco perto da árvore que impedia o sol de resplandecer em nossos rostos. Quando ele chegou você agiu de forma estranha, estava pálida de tanto nervosismo e pude perceber seu corpo estremecer. Esmeralda você me mostrou o melhor da vida, nunca pude conhecer nada melhor que você. O dia de contar a verdade chega e hoje me sinto mais florido, mais contente com sua resposta, a carta funcionou, você percebeu que a dona Rufina jamais teria como mentir quando me contou sobre sua infância.
“SOU real quando digo te querer”, você me encantou desde o baile, estou enfeitiçado por você. Nunca tive chance de confessar, mas quando vi ele na hora do recreio te abraçando como eu costumava fazer, pude conceber sensação estranha ao adentrar em mim, minha cabeça parecia explodir. Agora estou em dúvida, será que posso mesmo continuar fazendo isso comigo mesmo? Você me pediu para não me apaixonar, quando percebi estava bêbado de tanto toma-lá. Me controlei por muito tempo, guardei sua amizade em um potinho, seria demais querer mais.
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Compor sob medida e compromisso é:
Componho para ser sempre atual, não me vejo fora de moda e sempre me recuso a ficar por fora daquilo que faz referência ao modelo atual de ser. Não me recuso sempre a ser atual, tanto que posso até procurar algo banal para trazer a tona, nada seria mais demodê que um assunto aleatório. Não me leve a mal, me leve para comer. Não me deixe ser sozinho na altura desse “croped” que me caiu bem no verão. Hoje estou esperando dar um determinado horário para colocar as composições em dia. Digo que sei falar sobre o que pode ser hoje, todavia algo me abraçou pela manhã, sentimento de invalidez perante as determinações do meu jogo literário.
Com toda certeza desaprendi a andar sozinho pelas ruas, lembro de quando você chegou em um carro voador e pousou no campo de areia, com toda certeza não aprendi a me surpreender. Válido mesmo é conseguir terminar algum raciocínio, pois me motiva saber que consigo traduzir seus sentimentos quando te vejo pela primeira vez depois de tanto tempo, mesmo não sendo a primeira vez você parece surpreender algo no meu raciocínio. Os dedos que dançam para te encontrar no manuscrito de alguma situação não muito bem circunscrita data o dia em que eu poderia ter te conhecido. Agora não lembro se foi mesmo naquela tarde que te vi pela primeira vez. Nunca me peça para parar de escrever e ao invés disso parar e ir te encontrar, jamais teria capacidade de cruzar seu destino em esquinas da Lapa, seria errôneo da minha parte te deixar tão desconcertado.
Conduzo as músicas da playlist no aplicativo de streaming ao seu algoritmo quando percebo que não valeu a pena te invadir pelo celular, é um crime contra a natureza ética e moral das coisas. Você que começa com as letras iniciais do alfabeto, termina com os compassos de tango deixados pela saleta em dia de ensaio. A peça teatral que você decidiu montar deixa a desejar no quesito presença, meus textos deixam de ditar o compasso da dança, agora você traduz no palco os desejos circunscritos no enunciado principal de condução da dança. Sou de horas vagas, sou eu quem compõe a melodia da música para a tua dança, não deixe de fazer a lição de casa e ao invés disso parar e desdenhar do tempo. Te encontro no bar de esquina com a faculdade, sempre de calça jeans e all star. Com uma caneca de chope na mão você me sauda de longe para não atrapalhar minha caminhada noturna.
Consoantes são as principais ferramentas para compor, seria difícil de traduzir sem elas, meus textos são sempre para alguém específico demais para não direcionar meus argumentos. Hoje vou dizer para você a verdade que guardei por bastante tempo no peito, vou voltar atrás e deixar os compromissos em dia antes. Hoje as consoantes me fazem voltar para a data de aniversário do seu poeta favorito, eu nem vou citar o nome dele para não especular se esse texto é para a ou b. Não me conduza a mentiras para não trazer a tona falácias, ontem você me ligou de tarde e fez questão de me convidar para um café. Sem total sombra de dúvidas eu não aceitaria. Não aconteceu de verdade. Nada me surpreende tanto quanto você.
Contra a minha vontade te escrevo pois existe sempre alguma violência na minha cabeça, corpo, alma e espectro quando volta e meia percebo que foi tarde demais para te encontrar em algum parágrafo. Não pergunte se escrevo para encontrar algo em alguém, sempre me vem em mente te destruir no compasso daquela dança de tango. Hoje me pergunto se eu seria mesmo capaz de deixar isso mais claro quando desfaço os parágrafos para reencontrar o fio da meada. Longe de mim você fica, perto de mim você desfaz os nós que esqueceram de compor na dança da atualidade. Você volta atrás para buscar no chão as pérolas do colar que se quebrou. Engata o fio de nylon em mim e dança o tango. Agora é tarde demais para te deixar esperando sozinha, vou te encontrar na praça, no bosque, no outono ou mesmo pela rua, sério, isso de te encontrar me fascina. O dia de hoje foi para te celebrar, sua existência é nítida em mim, pois é de dia que o sol resplandece.
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Dia de esquecer é:
No seu posicionamento deixei meus enunciados. A insatisfação não comprova nenhum de seus defeitos perante a demora da sua vinda. O incômodo me faz deixar no passado os erros de hoje, te vejo na esquina e não consigo esquecer, não me falta memória para você. A ideia é deixar para trás, pois não consigo mais escrever os dias em que me deixei esperando esquecer. O dia começa com um calor forte, sempre abafo minhas vozes no travesseiro, deixo para você a conclusão, nunca seria capaz de terminar já que concorda com o fim. Quando você concorda com o fim fica difícil de acabar, não facilita pensar no depois ou em consequências das decisões do agora. Me afastei de ti para me relembrar dos dias felizes, só que quando me forço a esquecer te causo agonia. Não é perceptível a incapacidade de te deixar para trás?
Na certa você fica em dúvida quando os dias de chuva te alcançam, quando você fica cansado de si mesmo e tenta compensar escrevendo sobre os dias difíceis, os dias de lembrar. Na certa vai rimar paz com mordaz e não vai deixar para trás os seus versos, sempre certos para te fazerem crer. Na volta da tua rotina, consigo pensar contigo maneiras de recompensar o tempo perdido nos dias de lembrar. Na dúvida eu conto no papel os desenhos que você deixou por fazer na mesa de pintura, consigo ver as suas raízes serem corrompidas no cultivo da vida. Desejo ver você no instante em que tiro da minha cabeça a ideia que te ver seria crucial para curar minha desistência de apenas escrever.
No seu posicionamento deixei as dúvidas. Será que devo te esquecer ou lembrar é inevitável? Será que os propósitos ficaram vãos demais para serem o motivo para me fazer seguir em frente? Sempre um bom “será”, sempre uma boa dúvida, não deixo de querer deixar para trás os dias difíceis. Na dúvida se te lembro de pegar o ônibus em tal horário para me encontrar consigo prever a sua ira em não conseguir chegar a tempo. Sou dos pés à cabeça ou da cabeça aos pés? No entanto, poderia ser eficaz a memória quando não me programo para te esquecer de vez. Seria muita audácia minha medir o tanto de água no começo do dia para não causar nenhum alagamento em meus pulmões?
Na certa você fica em dúvida quando termina o dia e você deixou de me ligar, seria fácil se fosse menos fraco o meu sinal de rede. Hoje você me pediu, quase implorou que eu fosse embora da sua vida. Na certa você ficou feliz em me ver partir e logo em seguida foi tomado por um esquecimento tão latente que se encheu com tantos doces que no fim o mais ruim não foram os doces e sim a partida. Hoje eu me fiz ser uma lembrança sua, ser lembrança não alcança nenhum objetivo da rotina. Não posso ser fácil quando meu intuito é ser sempre de acordo com os meus dedos que concordam com os meus olhos de tanto sono. No intuito de correr contra o tempo me vi desprevenido e não aguento ser acaso quando na verdade deixar para trás seria programar um novo dia sem tantas lembranças.
Quatro parágrafos atrás eu nem sabia como começar a te contar as coisas difíceis de esquecer quando é dia de esquecer. No dia de sol você foi tempestade de verão. Não me pede para parar de te fazer ouvir as músicas. Às vezes quando você pergunta se vou embora me deixo ser silêncio para não deixar de te preencher dos pés à cabeça. Hoje é dia de te ver feliz, quando é dia de felicidade não existe tempo para memória fora do comum, são sempre os meus enunciados, são sempre os mesmos posicionamentos. Não me pede para ir mais devagar, estou na velocidade de um helicóptero. No entanto te deixo vir a mim sem mais nem menos para contar se seu dia conseguiu ser proveitoso.
No fim do dia você me pergunta se deixar para trás ainda continua sendo tão difícil depois de ter confiado a si o dever de não contorcer o tornozelo na busca por algum novo parágrafo. O desequilíbrio gera danos irreversíveis, pois o tempo passa devagar para os que não desejam voltar atrás em determinadas decisões. No dia em que você curar as suas dúvidas posso te encontrar na parte de trás do campo de futebol para a gente conversar sobre não lembrar. Exige de mim um posicionamento quando não contorna os olhos, exausto de sono, exausto da vida. Só não deixa de lembrar que amanhã é dia de esquecer.
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Crônica de 16:32
Sentado, de capacete branco em hegemonia e situação precária da saúde, do tempo, doença de corroer pele e degenerar o rosto que você cria. desequilibra suas as relações esse ir e vir, não se concentra, você ouve, faz o que escolheu perpetuar na sua vida. não dói nem é tão ruim de aceitar, entretanto quando você sente o peso do corpo sobre o chão se segura no braço da cadeira ou se joga no espaço. o seu peso não lhe faz pensar em nada, quando você pensa na balança, na suposição incestuosa numa transa, no sexo casual. sua voz no fundo de cada espaço percorrido, linhas de fios suspensos e interligados por portes em regiões metropolitanas. quando a chuva resolve inundar os percursos que vem e vão esqueço-me de quando era sol e o dia se fez ser menos desinteressante que a noite, lá vem ela, a poesia sem contexto de estar nesse lugar, porque não combina encarar mais as paredes, arestas, quadros de pintura, janela, consciência pesada e adiar a culpa, continuar pelo cinismo e soltar bolhas de ar pelo espaço. expurgar suas alegrias é possibilidade para contrapor a doença vida.
não nasci de vida, nasci de existência concreta, não posso correr o risco de bater forte nas coxas com os punhos fechados e sinto falta de quando nós éramos o grande nada que ocupava o pequeno vazio.
desesperado por atenção, sem plenitude da sua própria circunstância que trama a sua desenvoltura nessa longa jornada, não se pode afirmar a maneira onde vim parar, vou oscilar entre o fluxo de descrição dos fatos, nunca poderia ser fácil se fosse mais abstrato, paro de escrever quando não temer o clichê contemporâneo hermético, parar de escrever é ato político, apenas pessoas destituídas seriam capazes de entender, depois de determinadas percussões as palavras em combinação no papel sobre qualquer instância já advinda do imprevisível, do observado ou um eco de ludicidade e fábula. não sei dizer, as curiosidades não me faz querer entender pela minha escritura, mas sim pela experiência, pelo consumidor de arsenais e campos de batalha. eu te deixo ser algo que foi meu e que agora não me cabe definir minha territorialidade, não gostaria de me livrar tão cedo da possibilidade advinda da confusão que criou-se durante alguns dias nessa cidade fria de paredes robustas, altas e cheia de perspectiva.
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Veraneio
Ela já não pode mais se culpar, estão rodeando sua casa, seus passos e os seus amigos não conseguem mais alcançá-la depois da meia noite. Não volto atrás para lhe contar sobre as vezes em que consegui ser eu mesmo ao seu lado, a conversa de canto de olho ou os males de outra vida. Contando passos pela rua durante a madrugada, guardo meus sonhos em bolsos de calças de fundos furados e cordões já repuxados pelo tempo.
Ela já não pode mais usar sapatos altos em dias de festa, nem consegue mais contratar o mesmo moço para tocar violino durante seu jantar de aniversário de casamento, porém suas filhas conseguem descrever pelos seus sorrisos a felicidade que poderia ser a crueza da vigília noturna ou do jejum intermitente para completar a dieta e deixar os seus dias mais desaforados após atingir o padrão de beleza estabelecido por alguma revista de fofoca. Volta e meia vai para ver o rio encher, os barcos atracarem no cais em dia de veraneio amazônico. Suas promessas sempre conseguem alcançar as paredes vazias, suas paixões são sempre as mais impossíveis de conseguir realizar.
Ela já não volta atrás para rodear seus passos nem reconhecer seus amigos, depois de conseguir concretizar suas metas e chegar a estados muito serenos, com certeza acalmar seu espírito pode ser ouvir um moço recitar poesia no virtual do cotidiano, enche seu corpo com plenitude de leve da vida, passear de carro por Laranjeiras carregando esses anéis nos dedos de pedras esculpidas é hábito indispensável. Treme suas pernas de saudade do pai, do irmão, do namorado ou de algum homem que consiga preencher o vazio de sua masculinidade embaixo da sua claraboia de suas saias.
Ela volta e meia contorna a beira do rio descalça, com vontade de pedir desculpas pelas escolhas mais corruptas de sua naturalidade de mulher bem vivida, com sangue correndo nas veias. Múltipla é sua variabilidade de sentimentos, faz-se bem distante de sua profundidade, de sua tragédia de mulher feroz de sentimentos fugazes. Vozes ao redor, música instrumental toca no rádio e suas mãos sustentam a taça com alguma bebida aromatizada sem teor alcoólico em manhã de culto dominical.
Ela já é grande o suficiente para desequilibrar por acaso sua estável relação matrimonial, busca sempre algum novo senhorito para contar suas andanças e ensinar seus truques de mágica. Os nervos se contraem para assimilar a jornada desde a infância, contudo poderia esquecer facilmente dos motivos para continuar investindo na relação social devido ser fria demais por algum fantasma do passado.
Ela descobre as pessoas por ser alegre com o esposo, constante é a disposição para a felicidade corriqueiramente desenfreada, convém dizer para as pessoas seu nome, idade e preferência sexual na entrelinha de conversas. Quando ela chega com seu rosto de olhos fundos e coluna alinhada, à perspectiva do baile muda para atrair a atenção das outras moças tão menos descritas que sua avó foi por algum caso mal resolvido na viagem à Holanda, quando precisou superar a si mesma depois de perder um filho espontaneamente na casa de infância.
Ela corroeu os cantos das unhas, passou batom para umidificar os lábios demasiado partidos pelo cansaço mental de ultrapassar a si mesma ano após ano, depois dos flagelos tempos de juventude. Não vou lhe cobrar atenção, nem buscar lhe dizer que eu poderia ter nascido para lhe dar mais orgulho de ser mulher, mais mãe e menos menina. De ouro são os brincos que balançam em suas orelhas, suas pernas cheiram a ameixa depois de um dia de piscina — que mesmo na chuva, pôde-se derramar água das bordas por um mergulho imprevisto no dia de viúva.
Ela conversa sozinha e demonstra emoção, não chora à tona, corrompe suas amarras e faz-se crer em algum ser maior na existência cosmológica de seu organismo vivo perambulando pela terra. Seus dias lhe traem, seu horário é impresso em jornal e sinto seu amor atravessar o peito fazendo balançar as entranhas de estruturas femininas suspensas pela vontade de fazer nada e esperar os dias de primor retomarem sua existência.
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POESIA DE MESA
Na praça em que dormi esperando ela voltar
Descobri força incapaz de ser descrita
Tamborim, cadência no olhar
Sucesso financeiro, veraneio
Em um possível nós, no seu possível sim
No altar te espero em pé, em paz
Em um possível seu, sou todo teu
No altar te deixei feliz, terno e gravata
Escolheu bem o vestido, mas não tem tempo para nós
sapato com a meia calça, batom mate vermelho
Eu tenho culpa que aconteceu entre nós
No pátio do colégio
Escolheu bem sua amiga
Você não tem disposição o suficiente
Seu tênis com jeans apertado
Meu batom vermelho na sua blusa
Eu não tenho culpa de nada
Dor de cotovelos
Caindo pelos espelhos
Preferiu me zoar
Não escolheu me amar
Queria bem minha inocência
Brincar com meu olhar
Eu não tenho culpa de nada
Escolheu bem o vestido
Você não tem tempo para nós
Seu sapato com a meia calça
O seu batom mate vermelho
Eu não tenho culpa de nada
Na sala de estar aguardo ele ficar
Olho em volta só construo se você me cansar
O roteiro do rato que roeu a roupa do rei de Roma
Você ator da viela vazia de São Paulo
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POESIA14
As palavras de sempre
Força dos laços
Conheço suas táticas
Nem vou conjugar os verbos
Deste tempo demodê
Dessa moda fajuta
Expectativa de te encontrar
Expectativa de te olhar
Só se a terra parasse
Para fazer as paredes
Fulminar
Falarem de mim
O embalo da frieza
São as determinações
Só culpe a mim pelos erros do passado
Olha no espelho, vou te dizer o óbvio:
Seus amigos ainda gostam de mim
Eu continuo sugerindo emoções
O jeito que eu achei de encarar os fatos foi
Repetir os mesmos enunciados ao seu gosto
Na real eu gosto, eu gosto, eu gosto
Na mesma vibe eu curto, curto, curto
Não me diga o que fazer
Durante as noites em claro
Você me fez querer morrer
Com seu eu assombrando pesadelos
Na noite anterior nem dormi
Não ficaria tão comum se fosse tão clichê
Quando você voltar na vida passada
Faça as mesmas situações
Eles reverteram as suas atitudes
As quais você não se responsabilizou
Hoje ainda fiz minhas vontades às suas custas
Não vou perder seu no seu jogo
Não vou permitir acontecer em mim algumas guerras
Você foi embora, você foi embora, você foi embora
Agora ainda me cabe olhar ao redor e esperar o tempo não passar
Não presto para convencer os mais antigos
Não presto para confortar corações estranhos
Não presto para contradizer intuitos negativos
Não presto para confiar em medos transitivos
Hoje ainda olho ao redor, me olhe ao redor
Hoje volto a correr atrás da mesma pessoa
Nunca faça isso sem ter em mãos um bom par de luvas
O crime passional da minha história consiste na mesma sujeição
Tarde demais para acreditar no seu roteiro
Tarde de menos para confiar na sua atitude
Tarde seria continuar pisando no mesmo chão
Tarde pra voltar para os braços do meu irmão
Hoje ainda fiz minhas vontades as suas custas
Não vou perder no seu jogo
Não vou permitir acontecer em mim as suas guerras
Você foi embora, você foi embora, você foi embora
Agora ainda me cabe olhar ao redor e esperar o tempo não passar
Só culpe a mim pelos erros do passado
Olha no espelho, vou te dizer o óbvio:
Seus amigos ainda gostam de mim
Eu continuo sugerindo emoções
O jeito que eu achei de encarar os fatos foi
Repetir os mesmos enunciados ao seu gosto
Na real eu gosto, eu gosto, eu gosto
Na mesma vibe eu curto, curto, curto
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RUFINA
A traiçoeira memória cogita converter o passado em matéria de lembrança fora de hora misturando possíveis fatos com aquilo que nunca aconteceu. Os dias em que ficávamos até mais tarde depois das aulas para bater conversa e explorar o viés menos literário da vida, abrindo espaço para a experiência conseguir preencher o vazio da dúvida instaurado no inconsciente.
Não estou de propósito em nenhum lugar que seja divergente ao meu lado confortável de costume. Não estou de propósito na sua vida para conseguir sobressair o aspecto alegre da convivência. Não estou de propósito em seu quarto na noite de faíscas deixadas ao vento na superfície da terra. Estou disposto a esquecer as vezes em que não foram convincentes as minhas chegadas para as partidas do seu coração.
Hoje o dia está feito para sentir o espírito da vida invadir os poros e expelir o suor mais, repelir as gotas que escorrem pela pele é algo suficientemente duro de se fazer em dias de frio. No ontem que permeia a semana seguinte de vielas na rua mais amargurada da avenida menos movimentada, do sentido mais impuro do estabelecimento de vir a ser diversas caminhadas até o lado da calçada mais seco depois de uma tarde chuvosa.
Não gosto de ser o último mas eu não escolheria se pudesse ser o primeiro da fila movimentada de carro em dia e horário de engarrafamento. Não gosto de ser o último mas não deixaria de converter meus passos em longas caminhadas até o vilarejo do coração que partidas atrás estava ganhando o jogo. Olhar o ar entrar e sair do seu nariz em dia de vendaval consiste em descrever naturalmente a ação de complicar mais as coisas entre o céu e a terra.
No ato de eternizar os lances mais discretos entre o ir e vir, considero que você esqueceu da realidade e continua fingindo não me conhecer. No ato de eternizar os lances mais discretos entre o ir e vir, você me deixou no vácuo quando vacilamos de ter perdidamente perdido o respeito entre o deixar rolar e o entardecer. No ato de eternizar os lances mais discretos entre o ir e vir, nunca seríamos capazes de pôr em prática a paixão deixada ao abandono por mais um século deste impuro milênio.
A avó Rufina sempre contava das histórias de quando morava em Codajás, nunca mais a ouvi murmurar sobre o caso de amor mais frustrado de sua vida.
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NOTA 201
Na quadra da rua debaixo encontra-se a luz necessária para trazer à tona as relevantes noções noturnas para a efetivação de um jantar excepcional. Não concordo em trazer para fora daqui o remorso no peito, sobretudo a culpa tem invadido meus ossos ao longo do dia. O alicate de unha com o qual tirou os cantos de couro ainda dependia dos pés de molho para amolecer as cutículas.
Na mesma rima encaro sob o luar as dores de volta e meia que não condicionam o meu coração com tamanha vontade de desafiar moinhos e desbravar mares com ondas turbulentas e florestas noite adentro. No embalo do foguete que partiu em direção a Júpiter no sonho que tive para uma expedição não muito meticulosa encontrei refúgio para continuar encontrando fôlego para remar pelo espaço
Vermífugos pelo apartamento 31 para não deixar a infestação de parasitas do andar de cima alcançarem a tubulação. Os parasitas estão indo em direção ao cano de esgoto para conseguirem escapar do mesmo relevante e excepcional cardápio do restaurante do outro lado da rua. O jeito mais comum é eliminar com a sandália a barata perto da porta da cozinha que dá para o quintal com uma árvore que solta folhas quando o vento bate na garagem.
Não adotaram as minhas ideias na hora de conseguir desmistificar as notícias do ocorrido na última semana. Não conseguiram me decifrar perante os rituais cotidianos que descrevi na última semana. Nunca seria capaz de decifrar com tanta astúcia os ocorridos na última semana, nem seria indispensável refazer os mesmos laços se não fosse a rapidez em conseguir capturar momentos no corre-corre do dia-a-dia. Me faltaram palavras para desmotivar a correria do vai e vem da última semana.
Nunca corro por outros nomes que não o seu, nem consigo ouvir outras vozes sem que sejam as que clamam para reconfigurar a desenvoltura da tua performance do dia inteiro. O teu nome consegue me alcançar os ouvidos, as venezianas da janela fechada ultrapassam os horizontes da vizinhança. Na real escolha de querer você junto ao meu concordiense coração de menino imaculado pelas tias, filhas do pai Bonfim que morrera em um acontecimento a trinta anos antes do meu nascimento.
Na última semana ele se fora, não foi nada convincente aceitar sua partida, na realidade estou fora da galáxia pois não assimilei sua ida com tanta facilidade, foi algo instantâneo, quando percebi seu corpo já estava enterrado e nada mais poderia ser feito para mudar o fato de que sua hora chegou. Me despedir, me refazer, merecer ou não sua longa jornada em mim depois de anos já superando a saudade que você deixou desde que se fora.
Na realidade, quando você se foi deixou saudade por toda a vizinhança, já senhorzinho, já na hora certa estava despedindo-se da pessoa que fui no leito de morte, na mera despedida de um lado para o outro. Na realidade, quando você se foi deixou saudade pela sua concordância plena de sua existência neste plano; foi bem cuidado pelas mãos de quem um dia o senhorzinho mesmo cuidara; foi bem quisto nas reuniões de família pela ida e vinda de suas quimeras.
Na penúltima semana da penúltima vida do último mês seu corpo tornou-se oco sem seu espírito que desincorporar e se tornou poesia mediante os enclaves da vida mundana. O seu corpo conseguiu desvencilhar-se dessa arraigada vida terrena com tantas formas de consolidar a penúria da terráquea concordância verbal da simbiose de profanas vertigens neste enclave terreno sem misturar mais vidas que meras quimeras desta dádiva existencial.
Na correria da última semana o vai e vem desta vida depois de nascer, crescer, multiplicar-se e ser mais vida que outra sensação não passível de conhecimento internalizou-se espontaneamente em dia nublado. O errante particípio verbo corporificar para emanar, vislumbrar e enumerar as sílabas da parábola renascente das trevas em noite de outubro, corro mesmo é o risco de ter me despedido de forma breve, pois caso tivesse me prolongado já seria tarde demais para partimos.
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NOTA 200
A vida sempre arruma um jeito de nos fazer mudar de ideia, desde que voltei a morar com minhas irmãs depois de ter passado uma temporada na casa da avó Rufina em Codajás as ideias não foram mais as mesmas. Olhar para a vida de um jeito torpe sem tanta vontade de continuar desafiando o destino como fazia anteriormente me fez perceber que estou mais oco do que imaginava. O corpo ainda decodifica as mesmas errâncias antigas do pensamento da juventude, nem sei onde fui parar desde que voltei. O peso do corpo sustentado pela coluna dia após dia só liberta ainda mais a ânsia de procurar enquadrar no espírito algum pensamento menos existencial possível para evitar qualquer crise sem respaldo emocional suficientemente capaz de fazer com que meu coração não petrifique.
O pai Bonfim sempre contava que sentia-se perdido na cidade grande, não conseguia enxergar muito longe por causa do ardor do sol do cotidiano. As dores deixam de ser as mesmas quando nos vemos sozinhos diante a tempestade de sentimentos turbinando o coração de sensações hemorrágicas de saudade de algo que não voltará. No olhar sempre carrego os mesmos pesos da consciência de ter deixado minha mãe sozinha em Codajás, meus motivos são consistentes, todavia ainda encontro a saudade corriqueiramente presente no peito quando estou a observar o horizonte na beira do rio ou quando vou buscar alguma encomenda no porto flutuante no centro histórico.
Andando pelas ruas do bairro encontro diversas casas coloridas que ilustram o contentamento dos cidadãos com a tinta na fachada das casas, nem sempre sou tão contente a ponto de conseguir encontrar esperança em pontos no céu a noite como estrelas cadentes ou mesmo no luar. Na dimensão que vivo, a saudade da mãe encontrou no meu peito uma moradia tão fora de época. A luta para conseguir serviço continua a mesma, não é diferente em Codajás, mas na capital deveria ser menos complicado do que a realidade com a qual me deparei.
Na vida sempre busquei olhar o lado bom das coisas ruins para tirar o máximo de proveito da experiência possivelmente negativa. No decorrer do compasso persisto em aprofundar o assunto com tamanha leveza na alma para transpor na fala os devaneios que ainda persistem no meu enredo lento, sem ritmo tão dançante como um frevo por exemplo. No momento as imensidões me empurram para a pista de dança, mas meu corpo quer cama vinte e quatro horas, nem sei se isso é o que podem chamar de depressão, mas acredito na criação do pensamento quando deito para dormir e sinto a cobrança tamanha de ser menor que um dia já fui mediante tantos aprendizados.
Os dias se passam diante meus olhos mais rapidamente do que consigo perceber, quando vejo já chegou o fim de semana novamente e estou a mercê de algumas palavras engasgadas na garganta, sempre prestes a desmoronar e fazendo valer as horas gastas no serviço. Nunca é tarde para tentar reacreditar, sempre me percebo decifrando os mesmos efeitos no estado de ser um só ao longo de diversas horas do dia. Na recriação do meu universo longe da segurança de um lar que estruturou-me por longos anos consigo percorrer os percursos de automatismo no itinerário.
Fiz a análise da minha pele depois de dias debaixo de um sol escaldante, o olhar para a vida já não está prevendo as circunstâncias mais favoráveis para apresentar algo mais latente que a confusão de estar precisando mesmo é aceitar a vida de uma só vez. Exagerando menos em relação ao meu intelecto e toda a emoção contida na expectativa de render por mais tempo dentro de um assunto, fisgo as mesmas pistas deixadas no caminho. Na noite anterior tive um sonho com a menina da casa ao lado, ela estava correndo no meio de um campo de futebol com grama ressecada, me chamava de volta para casa. Nunca sei decifrar o que ocorre de fato, sempre corroendo as unhas dos dedos de tanto nervosismo pensando ser um sinal das aparições dela em meus sonhos que ainda não consegui decifrar. O cansaço talvez tenha impedido de continuar fisgando mais pistas, peguei no sono novamente esperando reencontrar algum pequeno detalhe no possível sonho que eu teria, todavia o acaso não me trouxe mais que uma boa noite de sono sem mais agitação.
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Alvorada, rua 3 casa de número 515
As filhas de Bonfim mudaram-se do interior para o bairro em Manaus, a casa de chão encerado cor vermelha continha um vão onde os cômodos eram divididos por alguns móveis altos e cortinas. O moço vivia na divisa entre Coari e Codajás, sempre que vinha à cidade de Manaus trazia farinha de tapioca e milharina para suas cinco filhas fazerem suas refeições. As mocinhas sempre torravam a farinha do uarini e, com muita esperteza, condicionava-se à moradia ao despacho de alguns utensílios para a bisavó que morava no interior, lugar de terras caídas hoje em dia.
Na beira do Solimões sumia Raimunda em dia de chuva com seu motor a gasolina indo em direção a ilha dos Naufragados, a ítalo-amazônica cuja suas ancestrais a ensinaram a tecer crochê para concentrar a mente longe de pensamentos vindouros da cidade grande manteve seu olhar diante vários anos que se passaram na beira do Rio. O serviço nunca faltava, a preguiça nunca consumia o corpo do seu irmão Bonfim, mas o sol depois do meio dia logo quando chegava a cesta para fazer a digestão do prato de comida feita por Rufina no almoço fazia-se indispensável o descanso no chão de madeira do assoalho.
Nenhuma notícia foi contada sobre a mordida de cobra na beira do Igapó quando Bonfim, o senhor por volta dos quarenta e oito anos que desagua a canoa para voltar a outra margem depois de um passeio que mudaria o rumo de seu destino por longos meses de cuidados em Manaus de suas filhas. A cobra não era venenosa então não houve com o que se preocupar, porém foi tenso saber que ainda existem esses perigos rondando o dia a dia de trabalhadores pecuários na beira de igarapés ao redor do vilarejo.
Na semana de aniversário de Rufina um acidente devastador ocorreu na fábrica de fogos de artifício no bairro onde as filhas de Bonfim moravam. As meninas correram para a rua em direção ao igarapé quando ouviram as explosões vindas da rua debaixo, foi um fuzuê sem fim para os bombeiros conterem o fogaréu que se dispersou rapidamente pelo galpão da fábrica. Os moradores saíram correndo pela rua em busca de saber quais as causas da fumaça que começou a provocar cegueira com tantos pacotes de foguete incendiados.
As moças do bairro chegaram em Codajas de barco para visitar a avó depois de muito tempo sem vê-la, foi indispensável contar sobre o incêndio na fábrica, o assustador barulho de pacotes de foguetes explodindo assim como maços de caixa de fósforo deixaram alguns vizinhos intoxicados com tanta fumaça. Os moradores mais antigos já haviam presenciado algo similar no bairro, não deixaram de contar seus relatos de quando a fábrica da rua quatro tinha entrado em chamas por causa de um fusível que estourou no quadro geral do sistema elétrico da empresa.
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A morte faz o bolo com a calda de chocolate amarga escorrendo pelas beiradas esfriar
Os anos passaram diante dos meus olhos após a morte do Fabiano, nem pude esperar a idade me surpreender com as bodas de prata diante minha filha que tinha completado dez anos recentemente. O Fabiano nunca deu tanta trela para os cuidados necessários para a saúde cardiovascular, seria interessante relatar sua vida em meus diários, todavia preciso mesmo é esquecer a vida a dois para enfrentar a dificuldade de seguir em frente e continuar criando sua filha neste plano. Em noites turbulentas meus clamores aos céus em busca de acalanto após ter sido deixada sozinha com pouco para dar a Rute que completara dez anos recentemente e não conseguira assimilar o falecimento do pai com tamanha facilidade.
Anos mais tarde a filha de Esmeralda envolveu-se com Fabiano, logo após a morte de Afonso Prado, viajante que acompanhou Amaral pelo litoral marítimo até o arquipélago Fernando de Noronha. A Belinha fora aluna no colegiado da irmã de sua mãe, a professora Rufina, que tivera fugido de Santa Catarina para Manaus anos antes da ida do marido a Canasvieiras com vistas a recuperar alguma resquício da cultura pecuária depois da migração para Manaus, foi irreversível a mudança, a única opção mais rápida a ser estabelecida fora passar a impressão quase instantânea de ‘adaptação’ ou ‘intimidade’ com a moradia, como se tivessem nascido no bairro para onde mudaram-se, adiante mais pistas foram sendo lançadas pelo caminho da jornada de Rufina, mãe de Belinha.
O encontro entre Rute e Fabiano foi interrompido pela notícia do atentado de onze de setembro, ambos estavam cientes da frágil relação entre seus parentes décadas antes de terem se apaixonado. Rute ficou viúva de Fabiano quando o mesmo teve um AVC após ter se desafiado aos quarenta e poucos anos a descer em uma tirolesa no decorrer da excursão no estado de Roraima. As causas da morte causaram pânico aos amigos de idade similar a Fabiano no velório, Rute continuou sua caminhada com uma filha pequena para criar, a mesma se tornará professora de Lelinha, filha de Amaral e Isabelle.
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Casca de ferida seca só se arranca no dente de ouro
Hoje o Amaral resolveu acordar cedo para ir ao acaso da manhã de sábado, veja que o término deste relacionamento é adiado já faz bastante tempo. A sua volta pela redoma sobreposta no bolo em cima da mesa com um guardanapo com bordado de croche e o nome da sua senhora escrito na ribana costurada no aparato de cozinha comum em casas pelo Brasil. O Amaral ainda tinha dúvidas sobre a paternidade de sua filha, nunca soube se sua mulher o obrigou a assumir de uma vez a sua familiaridade por terem sido prometidos fielmente desde a maternidade a viverem uma enorme história de amor que tornou-se um golpe no pescoço de uma galinha em dia de matadouro. A história do seu Amaral é tão complicada de escrever quanto de ser dita em voz alta mais de uma vez, alguns ainda falam por meias palavras sobre sua andança pelos dias frios da cidade da pesca no interior de Santa Catarina.
Ontem a Belinha me trouxe a notícia do seu mais novo método de contrariar as verdades inaudíveis pelo grande espaço de fritura da cozinha de forno, antes na Amazônia quando usamos um remo para misturar no forno de lenha a farinha no tacho. Na realidade de toda essa vida longa e difusa pelas nossas entranhas pitorescas, nunca conseguiria reverter o procedimento estético de estar mais magro que o normal, como muito para aliviar a tensão de estar com dores musculares e cabeça oca para inscrever o meu porquinho no concurso de talentos, imagine que o mesmo consegue ficar por cinco minutos sob duas patas. As objeções feitas ao longo do julgamento de Deus no decorrer de uma caminhada mais feita por vieses trágicos que mesmo comicidades, trás para fora do mundo diversas possibilidades de refazer a farinha sem queimar tanto o rosto com a fumacenta.
O presságio sobrevindo de um sonho a exatamente dois meses conseguiu prever o tropeço, precisei apoiar as mãos abertas no tacho com forno tinindo por cerca de dez segundos.O acidente pôde me fazer presumir os estágios mais obscuros no ato de rever conceitos para quê ou como usar devidamente as mãos na cozinha do forno de lenha. Nunca fui tão assombrado pelos demônios noturnos, não tanto quando fui ferroado por uma arraia no raso do igapó a cerca de dois anos quando estávamos neste mesmo período do ano e a vazante começava a rugir na beira do lamaçal. O engate desse amor que senti por ter ido embora cedo demais congestionou a saída diante a perseguição de memórias tão imagéticas, quase inaudíveis no percurso de volta dum sonho não assustador, todavia cheio de delimitações demográficas da vasta geografia amazônida.
O diálogo com Belinha fica profundo demais, consigo chegar ao clímax quando o assunto se torna a infância na casa antiga em um bairro da capital do Estado. Ao perceber silêncios nos arredores da casa de campo, o inconsciente pode sugerir passos ecoando por séculos vó Rufina que desmoronou no dia de seu centésimo quinto aniversário em lágrimas de saudade, profundeza de menina na metade do século vinte. A guerra teria acabado com as esperanças de alcançar o ápice de um amor novelístico, sem repetição com profunda autenticidade de ocorrer com tanta amargura em superação ao passado mais distante. Envelhecer foi o mais profundo poço dessa fossa vida, conseguiu apreciar seus netos apaixonarem-se por transeuntes na capital, com certeza não teriam tanta certeza de seus sentimentos se conseguissem prever o passado de seus ancestrais, tantas superações.
Os dias se passam sem muito vislumbre diante as batalhas domésticas diárias, os exercícios físicos tornaram-se hábitos mediante os dias de florescer com glamour no alcance do entardecer da possível matiz descolorida de refazer os passos de quem já se passou mais distante que Afonso do fogão de lenha. Na saudade quase irremediável do futuro, a dona Rufina conseguiu conter o desespero em sua garganta quando soube da morte de sua amiga mais nova, a Esmeralda. Os motivos do crochê se refazem séculos adentro deste milênio tortuoso, com alma desgarrada e fôlego de mergulhadora avulsa conseguiu desconstruir em si as cifras da orquestra não tocada pela impossibilidade de conseguir esperar o tempo passar devagar para aproveitar a trilha sonora de seu filme mudo com riqueza de sombras.
Esmeralda conseguia traduzir no olhar a riqueza inocente de felicidade que minha mãe tinha no âmago de seu espírito, disse Rufina certa vez, dessa forma nunca me faltaram palavras para continuar compondo a vida diária ao lado do meu marido, o seu querido pai Haroldo. O senhor continua questionando as tamanhas comparações feitas por várias semanas adentro, nada supera o desmanche da tristeza de um homem que abrira mão de seu sonho de ser aviador para segurar uns motores pelo Rio Amazonas. A Rufina sempre olhava da porta da casa de palafitas que ficava submersa até a metade para conseguir traduzir toda a justaposição aos sentimentos feita pelo rio em determinada época do ano. Os sentimentos de Haroldo por Rufina desde a juventude foram suportados pela melhor amiga que odiaria ter que se casar com o irmão do esposo de Rufina para continuar acompanhando pelo carinho sua andança pela terra.
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O atentado de onze de setembro não impediu sua vida cruzar meu destino
A Constância nasceu logo depois do atentado de 11 de setembro, corria sorridente aos cinco anos pela casa, vestiu as nossas construções sociais e engravidou na adolescência. O filho do signo de leão sonhava em tomar as terras de Afonso, seu compadre de viagem que conseguia acompanhar o ritmo de seu pesadelo. Na rua da antiga casa encontrei o carinho da dona Vidinha, olhares desconfiados ainda sem saber dar algum amor, sem saber receber os bons motivos para o regresso de volta ao meu passado com práticas culturais baseadas na cultura ancestral de ciganos na amazônia.
Afonso era de noites boêmias e continuou na sua divergência política com Amaral, não despediu-se da sua enteada Sibila na interação com a casa onde morou por muitos anos depois de ter se mudado para a instância no interior do Amazonas. O tempo não passou em vão, contudo volto a condicionar meus passos ao carro para ir pela estrada noite adentro. Nisso de ser de mero cidadão interiorano do município de Iranduba que recentemente se tornou algo mais acessível por conta do transporte rodoviário.
O privilégio antes para poucos de conseguir expandir as percepções, noções básicas dos arredores da capital amazonense tão sonhada pelas comunidades mais próximas da mata virgem, produziu mais delimitação na forma de encarar o ruralismo proveniente da civilização. O forte dessa maneira de encarar os fatos trouxe em vão a evidência por detrás da ação de Afonso, pois quando decidiu então compadecer-se diante a modéstia de Belinha, esqueceu os pudores e baixou de vez sua atenção aos detalhes da relação amigável com a mesma.
No entanto, Amaral por ter tanto contato com a cidade, mais que os senhores no geral, os moradores do povoado da comunidade de Nossa Senhora da Piedade. A relação entre os dois santos condicionada a dias de espera por terem ficado diversas vezes engatados no lamacento ramal, que dá acesso a comunidade, antes de irem para a costeira do litoral marítimo do Brasil pôde render a separação definitiva da dupla de aventureiros
A desconfiança de Belinha por Amaral na quietude de Afonso diante sua presença antes de embarcarem para o cruzeiro que, certa vez trouxe a tona alguma angústia deixada de lado no momento descrito por alguém no enterro do meio irmão da vida anos mais tarde quando seus filhos choravam porque sequer tinham semelhança com o defunto. Na composição da realidade paralela, seu fantasma me visitara em determinada viagem, já por volta de oitenta anos de vida, ouvi sua voz surgir de uma orca no meio oceano pacífico, quando o cruzeiro tivera partido do Chile a algum país da Nova Zelândia.
No momento em que Afonso descreveu sua chave para que eu pudesse ajudá-lo a encontrar, isso antes de ir em direção ao arquipélago Fernando de Noronha. Foi possível conduzir o pensamento no ato de entrega deste grande parceiro a aventuras marítimas inesquecíveis diante a multifuncional máquina movida a combustível fóssil mar adentro, seguindo as linhas da bússola no painel de controle do barco, a força para lembrar da morte de Fabiano, filho de Afonso me deixou desnorteado por ter sido pego com tamanha surpresa diante o fato da idade de Fabiano ser pouquíssima em comparação a idade em que morrera o pai.
Na volta ao Amazonas, foi indescritível a sensação de rever a cidade por tanto tempo ter se passado desde a partida para o Sul da Amazônia em busca de baixas temperaturas, além da calmaria da vida campestre em casa de madeira e água da bica. O almoço sem acompanhado da puba, farinha do urani com caldo de peixe, vez ou outra fazia-se aos domingos o sarapatel com carne de tracajá, os pescadores ainda tinham permissão para a pesca do bicho para consumo próprio vez ou outra. Manter tradição cultural no atual momento em que a Amazônia continua sendo vista por ativistas pela preservação da fauna e flora, além de espécies específicas do interior da Amazônia brasileira.
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Chapéu atirado contra o lombo de um viado próximo ao feriado natalino
O Afonso Prado morou comigo durante a ida a Paraty por cerca de três semanas, era para ser um fim de semana e quando me dei conta estava cheio de comodismo pela beira do mar. O Afonso Prado descobriu o seu segredo, não adianta querer esconder as suas demonstrações pelas beiras da praia, ele estaria a postos para entender seus conflitos pescando algum peixe pequeno, mas na verdade o segredo perante a vontade de ficar mais tempo por aquelas bandas estava voltado para o mergulho pelos corais do litoral brasileiro banhado pelo atlântico. O acordo com Afonso Prado constrói entre nós dois a possibilidade de convencer nossas mulheres da vida na cidade grande ser bem conturbada no desenvolvimento dos primeiros anos da criança. Na felicidade de conseguir encontrar amizade que inspirou até o nome de um peixe que resolvi dispor em um aquário no canto da sala de estar, atitude que corroborou na criação de brigas posteriores à temporada na ilha. O Afonso Prado sumiu quando eu tinha vinte e um anos no horizonte, terminei ao seu lado uma expedição até o Arquipélago Fernando de Noronha.
Na fatalidade descrita pela minha triunfante perseguição no espelho por respostas ainda inconclusivas para convencer a dona Vidinha que a neta dela não era a moça mais adequada para ser a madrinha de casamento de Constância, porque a família demorara demais a desconstruir os paradigmas de gênero do bebe. Após alguma explicação super racional vinda de alguém tão espiritualizada como a Vilma o acaso ditaria a regra do dia, afinal a determinação biológica de Lelinha na barriga da mãe com certeza faria sua avó vencer seus dilemas da adolescência adiados pela responsabilidade de conduzir o filho por caminhos tão perigosos depois de certa idade. Algumas mulheres contornaram suas decisões, algumas estéreis outras oportunistas. A vingança mais certa seria a união entre duas famílias tão distintas, com gente tão cabeça dura e homens tão complexos em certos quesitos de sociedade.
A dona Vidinha esteve de olho no meu crescimento preparando sua irmã mais nova que havia chegado do interior para formar casal e conhecer a cidade grande. Agora é tarde demais para ressignificar a minha vida aqui na vila, os demônios pararam de me cercar, recebo pessoas de todos os lugares do mundo. O drama de mulheres que viveram a milhares de anos, ainda hoje se condicionam a voltar atrás sempre que tomam decisões incabíveis mediante a razão do corpo alheio. O meu propósito, ela disse, é fazer um casal conseguir sentir todo o amor que foi tirado de mim na mocidade quando resolvi fugir para outro promulgado e viver vida hippie, feito cigana. Na caminhada descobri os prazeres mais fúteis da vida. Longe da garra da minha família foi indizível a sensação de liberdade.
A Vidinha é assim, disse a Belinha, sempre me surpreende com as atitudes tomadas por impulso, ela continuou. Hoje eu consigo entender melhor a vinda da irmã dela para cá, esteve continuamente em busca de preencher o conforto de viver sem sentir tantas dores nos ossos. A sua história é longa Vidinha, nem ouso pedir muitos detalhes, a memória é falha e traiçoeira, então não se esforce para tentar decifrar o passado, seria suicidio mental atualmente. O meu pai perdeu o irmão, foi assassinado na rua onde morava com meu marido, ele estava em Santa Catarina na época. Foi muito difícil ser a mulher que espera o homem no final do expediente para perguntar “como foi seu dia?”, naquela época a noção racional a mim concedida desmoronara quando tomei conhecimento dessa fatalidade .
A luz da janela de um céu nublado invade o quarto, cheiro de roupa lavada antes da viagem, cheiro indescritível de saudade. Choramos abraçados, depois de tê-lo encontrado sozinho com o rosto engilhado chorando pensando no próximo mês. Agora sua intimidade com certeza faria a diferença na ida ao outro lado da margem, remando de canoa e tirando água com a cuiarana. O lago nunca foi muito perigoso, a ilha ficaria distante se eu demorasse pela impressão causada pelo Afonso quando o mesmo acontecimento desviou meus sentidos para a frieza invadida pelo medo do barco emborcar. Os anos ainda se passam sem seu fôlego de madrugada tomando a noite pelo ronco, seus brônquios congestionados me confortam, todavia quando chego ao ápice de irritabilidade convém fazer você acordar espantado para me tomar em seus braços. A dona Vidinha morou conosco, sua madrasta parou de me procurar para vender lingerie, o meu filho foi embora para longe de mim, me perdi nessa história mais uma vez.
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