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sebastian não duvidava que seria perceptível o quanto a pergunta dela o pegou de surpresa — não porque ele não estivesse esperando alguma resposta espirituosa (e, sendo honesto, a forma como amelia lidava com embaraço era um charme a parte), mas porque a pergunta soou diferente vindo dela. sebastian riu baixo, um daqueles risos abafados que mais parecem um sopro de ar pelo nariz, e olhou pra baixo por um instante, como se precisasse mesmo pensar na resposta. “yeah,” ele disse, a voz tranquila, mas sem hesitação, voltando o olhar pra ela. “i do.” simples assim. sebastian nunca compreendeu a necessidade de manter verdades escondidas nas entrelinhas, ou quaisquer drama adolescente desencadeado por falta de comunicação. daisy costumava fechar a cara quando mais nova, o bico em seus lábios claramente destacado, por sebastian se recusar a engajar em cenários hipotéticos que geralmente criavam desconforto em sua ex. sim, ela é bonita. não, eu não quero ficar com ela, porque eu namoro você. não, nem mesmo se você fosse uma lesma. com o passar dos anos, até mesmo daisy passou a desgostar do comportamento, sendo sincera até demais. de qualquer forma, bash não era o tipo que jogava charme por jogar — se dizia que achava alguém bonita, era porque achava mesmo. ponto. “but i didn’t say it hoping you’d blush and flirt back,” ele completou, com aquele meio sorriso que aparecia quando ele tentava amenizar algo que poderia parecer intenso demais. “i said it so you’d know. só isso. achei justo você saber o que me passou pela cabeça antes da daisy meter o bedelho.” deixou a cabeça cair ligeiramente para o lado, como se aquele pequeno flerte tivesse sido a permissão que ele precisava pra largar, ainda que por poucos minutos, o peso de sempre fazer tudo certo. “então… que tipo de café você toma quando não é um encontro falso?” ele perguntou, genuíno. “porque se for aquele mocha de quinze libras com chantilly e glitter comestível, acho que já posso considerar isso um investimento.” sebastian levantou-se, pronto para fazer o pedido para amelie. "de qualquer forma, é o mínimo que posso fazer. don't deny me this pleasure."
ok, ela precisaria admitir, ele tinha um trunfo forte ao seu lado. sebastian era engraçado. e aquilo, bom... aquilo a ganhava com uma facilidade. bastou ele começar a falar, tão direto, com aquela honestidade desconcertante, para que algo nela travasse. como se uma chave tivesse virado dentro da cabeça. ele sabia. claro que sabia. ela havia comentado com daisy — por cima, em confidência, num daqueles dias em que a cabeça estava mais leve que o coração — e agora aquilo havia feito o caminho inteiro de volta, em forma de uma quase-desculpa de um estranho que nem deveria saber seu sobrenome.⠀⠀❛❛⠀⠀ela insistiu com você também? ah, ótimo....⠀⠀❜❜⠀⠀foi tudo o que conseguiu dizer, num tom que misturava incredulidade e uma vergonha difícil de nomear. não era por ele, exatamente. era pelo absurdo de toda a situação. mia nunca havia contado aquilo para ninguém, não com todas as palavras, não com aquele peso. e justo na única vez que abre um pouco da armadura... acaba nos ouvidos do ex-namorado de uma conhecida com quem trocou, talvez, meia dúzia de frases na vida. destino tinha um senso de humor péssimo. quando ele tocou no assunto com aquela leveza que só quem se importa de verdade consegue ter, ela sentiu o rosto esquentar. não era fácil deixá-la sem graça. mas ali estava, desejando se transformar em avestruz e enfiar a cabeça no chão do café.⠀⠀❛❛⠀⠀right, so... first of all, i didn’t... i can’t quite believe she told you about… you know.⠀⠀❜❜⠀⠀seus olhos saltaram para o teto por um segundo.⠀⠀❛❛⠀⠀it was dead personal. like... really. so... thank you for not making it weird.⠀⠀❜❜⠀⠀ela mordeu o canto da bochecha, tentando controlar a vontade de mandar uma mensagem bem pouco amigável para daisy ali mesmo. porque em momento algum ela dissera que era ok compartilhar suas vulnerabilidades, muito menos com ele. e então ele disse que a achava bonita. e foi como se o tempo tivesse dado uma leve tropeçada. não era a primeira vez que ouvia isso, mas vinda dele — com aquela voz meio grave, meio baixa, meio sem querer causar impacto — teve um efeito estranho. sua testa criou um vinco e ela desviou o olhar para o chão, disfarçando com um sorriso contido. o convite disfarçado para o café arrancou outro sorriso dela. um desses que escapa antes de qualquer racionalização. não deveria, não mesmo. mas havia algo na forma como ele estava tentando consertar o que nem era culpa dele, que... bom, merecia.⠀⠀❛❛⠀⠀yeah, coffee!⠀⠀❜❜⠀⠀confirmou, agora com um sorriso abertamente divertido nos lábios. e então, inclinando levemente o rosto, com um brilho malicioso nos olhos, completou⠀⠀❛❛⠀⠀so… you think i’m pretty, do you?⠀⠀❜❜⠀⠀
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"que sorte a minha, então, que a daisy certamente não vai aparecer." seria fácil ignorar todas as circunstâncias que os trouxeram ali, sorrir para amelia e receber a risada alheia de volta. fácil até demais, ele diria, considerando que bash não era o tipo de pessoa acostumada com autoindulgência. mas a culpa de ter descoberto a intimidade de alguém, mesmo que sem ter a intenção de, o consumiria o completo. não estava tão sem graça; na verdade, sebastian estava um pouco desanimado em cortar as asas de sua imaginação antes que ela voasse livremente demais. ele umedeceu os lábios e levantou o olhar. "eu não quero te deixar desconfortável, porque imagino que ela tenha insistido no tópico com você tanto quanto fez comigo," bash balançou a cabeça negativamente. "de que deveríamos conversar sobre... bem, a nossa intimidade. mas eu queria deixar claro que você não precisa se preocupar comigo; i won't bother you or make you do anything, okay?" sua expressão transparecia uma tranquilidade e confiança, na tola tentativa de reverter aquilo que sua ex causara. "não sei o que passa na cabeça da daisy. okay, great, we have similar... interests and i find you pretty. that's all it is, now." dando de ombros, sebastian bebeu mais um gole de seu esquecido café superfaturado. "eu só não quero que você sinta alguma responsabilidade ou obrigação comigo, não importa o que ela te diga. e que você tome um café comigo apenas porque quer, e não por conta de um encontro falso." bash reclinou-se na cadeira, um pouco mais confortável de ter colocado em palavras o que vinha pensando desde que daisy iniciou sua tramoia. "so. coffee?"
amelia sabia que estava atrasada – mas quem poderia culpá-la, quando o clima na inglaterra parecia ser mais imprevisível do que qualquer outra coisa? ela trocara de roupa três vezes antes de finalmente sair, já ciente de que daisy provavelmente a esperava há mais tempo do que ela normalmente levaria. não se orgulhava disso, não mesmo. daisy, como sempre, pontuara que o café seria o lugar perfeito para conversarem – o que amelia achava um tanto estranho, já que, por mais que compartilhassem o gosto por cafés superfaturados e livros sobre geopolítica, elas não eram nem de longe grandes amigas. poderia ser visto mais como uma coincidência do que qualquer outra coisa. assim que atravessou a porta e ouviu o sinete característico, um aroma familiar a invadiu, quase como uma viagem rápida de volta à irlanda. ela varreu a cafeteria com os olhos, buscando por daisy, mas, ao invés dela, se deparou com ele. ele. a expressão dele não deixava dúvida – estava ali, e ele sabia exatamente o que estava acontecendo. o que fazer? sair correndo? ignorá-lo e sair pela porta, como se nada tivesse acontecido? mas amelia sabia que isso não era educado. havia sido bem criada e sabia que aquela não era a maneira certa de agir. se aproximou, com um sorriso de canto impresso em seus lábios. quando ouviu a pergunta dele, não conseguiu conter a risada e balançou a cabeça, divertida, mas sem perder o tom provocador.⠀⠀❛❛⠀⠀se você veio buscar o the end of the world is just the beginning... sinto te informar, mas só tenho uma cópia para emprestar.⠀⠀❜❜
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sebastian odeia atrasos. quase tanto quanto odeia surpresas; talvez a origem de tamanho desejo por controle, daisy havia comentado previamente em tom de sarcasmo, mas bash genuinamente havia considerado a ponderação. o lugar tinha aquele cheiro incômodo de café doce demais e uma trilha sonora de indie pop que irritaria qualquer pessoa com gosto musical decente — o que, para sua surpresa, incluía a própria daisy. ele suspirou três vezes antes de cogitar que daisy se atrasaria. não era de seu feitio, afinal. talvez um novo hábito da fase "vivendo experiências diferentes". e se ela o desse um bolo? mas ela havia sido clara na mensagem: "só quero conversar. como amigos. fechar esse ciclo." e ele, como bom idiota leal que era, acreditara. de qualquer forma, todos os seus devaneios e questionamentos se desvaneceram ao perceber os cabelos ruivos adentrando o local. um sorrisinho surgiu sorrateiro no canto de seus lábios; não era uma completa surpresa, para falar a verdade, considerando a insistência de daisy em conectá-los pelo interesse em comum. só... uma daquelas confirmações silenciosas de que ele havia sido enganado. não por maldade, é claro. daisy não era cruel a esse ponto, mas gostava de brincar de cupido com vidas que não eram a dela. ele encarou amelia antes que ela pudesse procurá-lo com os olhos. talvez ela soubesse da realidade de seu encontro, mas ele suspeitava que não, e que também tivesse sido pega de surpresa. mas havia algo nela — sempre houvera — que fazia sua pele tensionar como se esperasse por um comando. ele levantou uma sobrancelha, um meio sorriso sem ironia surgindo nos lábios. e disse, com a voz baixa, rouca: "deixa eu adivinhar." suspirou mais uma vez, ligeiramente sem graça pela posição em que estavam. "daisy está desesperada por um café e precisou marcar com você no lugar favorito dela?" @bdschem @kcleidoscope
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