Tumgik
itsweirdtosay · 2 months
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Anotação de diário - 26/12
26/12
Uma página em branco. Acho que é sempre assim que começa. Uma nota, um livro, uma vida, ao menos para mim. É estranho rever a minha caligrafia e não ficcionalizar. É estranho falar dos dias e não se reconhecer. Ter tudo, aquele toque tão familiar e estranho. Deveríamos ser alguma coisa agora, você entende? Hoje fico aqui pensando. Penso nas linhas divisórias, nos anos que se estendem e se acumulam como os meus livros, cheios de pó. Comecei por eles, pensando neles, tarefa do dia, igual limpar a escrivaninha. Já está mais difícil que no começo.
É sempre tão nostálgico para mim, esses processos. Sei que mais espaço não é necessário, mas levo dias, porque me deixo levar por cada e qualquer papel amassado. Neste quarto, tudo significa tanto, como cada contorno de cada linha. Arrumei a escrivaninha, desapegar significa, pois não, colocar tudo em perspectiva. É para isso que estou aqui.
Estive tanto em falta. Olhei-me tanto e de certa forma ainda não me reconheço. Por mim mesmo larguei tudo. Tenho todo tempo do mundo para me arrumar, colocar tudo em perspectiva. Parte de mim só quer algo “simples” como ler e escrever. Dormir, ler e escrever. Me amar tanto quanto amo Vi, ser o melhor de mim por mim e para ela. Eu me estenderia na minha bagunça e não sairia por dias, talvez tenha dado início a isso hoje. Espero estar certo. Odiaria perder esta parte de mim.
- C.
Anotação perdida de diário, entre 2019 e 2020. 
Sobre o que me resta e também sobre que já não é mais meu.
Escrever sempre ajuda, mas ler por vezes me destrói.
Hoje minha vontade é sumir.
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itsweirdtosay · 4 months
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Vocês não sabem as coisas horríveis que eu digo para mim mesmo.
À primeira vista, não há nada ali. Meu coração é um descampado joviano, radioativo, e nem mesmo sonhar em estar nos braços de alguém me faz sentir esperança. Desesperador, não é? Isso porque vocês não sabem as coisas horríveis que eu digo para mim mesmo.
Estou andando de bicicleta, algo que amo fazer e que venho tentando praticar todo sábado, e há uma parte de mim que me odeia. Há uma parte de mim que carrego pra todo canto e exige tudo, é ríspida comigo não importa o que eu faço, e que tenho quase certeza de que me odeia. Talvez eu a odeie de volta.
Eu me agarro às coisas boas na minha vida como um náufrago (como um náufrago se agarraria a uma bola de vôlei). Me agarro às pessoas como se o amor delas pudesse me salvar. É a verdade que eu mais odeio, saber que não pode.
Há uma parte de mim que me diz coisas horríveis, e eu dou ouvidos (não me orgulho de dar ouvidos, mas dou). Coisas como “não importa o quão gentil você seja, não merece ser amado”.
E o pior é que me parece que ela me trouxe tão longe. Faça chuva, faça sol, quem me faria correr tão rápido? Quem seria meu treinador, meu técnico, quem me faria levantar quando tudo que mais quero fazer é desistir?
Sabe, estou cansado de sentir autopiedade, mas às vezes quero estar triste e não deixar de estar triste, estar triste até o fim dos tempos, deixar toda a luz se apagar. Às vezes quero muito chorar e não consigo. Me agarro às pessoas como se pudessem me salvar, mas elas não podem, como poderiam? Eu não queria odiar essa parte de mim mesmo, mas vocês não sabem as coisas horríveis que ela diz.
Não sei o que seria de mim sem a bola de vôlei. Sem as idas ao parque, sem as cervejas com os amigos, sem as aulas de trompete, sem os esportes. Sem as distrações, o vídeo game, a música. Como um náufrago, estou só me esforçando para que a jangada aguente até a próxima fase da minha vida começar.
Essa parte de mim diz coisas horríveis, mas naquele dia em que saí tarde do trabalho (fui o primeiro a chegar e o último a sair) não havia ninguém lá para me dar um tapinha das costas. Essa parte de mim – eu – ficou orgulhosa, por um ínfimo segundo. (E no segundo seguinte uma outra parte de mim – a mesma? – se perguntou se não seria melhor deixar aquele ônibus enorme que está acelerando nos atropelar.)
Há coisas horríveis, sim. Coisas vergonhosas. Um deserto joviano radioativo.
Há uma bola e há um náufrago. Uma jangada e uma ilha.
Ainda que à primeira vista não haja nada, vocês não sabem as coisas horríveis que eu digo para mim.
-C. S. O.
Primeiro texto publicado neste blog em 2024.
As coisas estão melhores, mas não estão.
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itsweirdtosay · 10 months
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Nada, nunca.
Há um pai tirano dentro de mim, há muito, muito tempo. Eu não faço tudo que ele diz, mas ele é uma parte tão essencial de mim que não sei funcionar de outro jeito. É uma espécie de simbiose.
*
Na quinta-feira acordei às 6h30, como faço todas as quintas-feiras. Me exercitei, tomei quinze minutos de sol, e adivinha: ainda me senti uma merda. Estou sempre com meu copo quase inteiramente cheio. Quase, porque sobra uma bordinha de energia que preciso economizar e deve durar o dia inteiro. Cada um que interage comigo leva uma parte e não há sobras. Não há sobreviventes.
*
A maioria dos meus amigos toma remédio para ficar bem, sabe. E mesmo assim, mesmo medicados, se sentem uma merda em alguma medida. O problema não é se sentir uma merda às vezes, claro, mas o tempo todo. Há quanto tempo você se sente uma merda o tempo todo? Quando você percebeu?
*
Gosto particularmente da parte final dessa música. Quase dois minutos de puro solo. Uma cacofonia muito organizada. Vozes, teclados, piano, pratos, bumbo, baixo, guitarra, sons eletrônicos, estalos, manivelas, e não sei o que mais. Barulho, barulho, barulho, e são dois minutos inteiros de puro transtorno e transbordamento. Chacoalhe a cabeça, é isso aí. Não há sobreviventes, tudo está desolado. Tem fogo saindo da cabeça do macaco. Sim, todos os planetas que alcançamos estão mortos. Curta o som, baby.
*
Continue dirigindo. Vá mais rápido, mais rápido. Agora, mais forte, naquela curva ali. O que mais você poderia dizer além das coisas horríveis que já diz? Como assim? Já é tarde demais, esse é o caminho. Como assim? Aumente o volume e relaxe. O que você fez?! Estou dirigindo. O que está dizendo? O que vamos fazer? Nada. Nós não vamos fazer nada, nunca.
-C.
Every planet we reach is dead.
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itsweirdtosay · 11 months
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Sobre pessoas e máquinas.
Brinco bastante que ultimamente ando por aí com mais ou menos trinta e cinco abas mentais abertas ao mesmo tempo, e talvez seja uma analogia que encaixe bem, porque a minha área de trabalho do dia a dia costuma de fato estar cheia de aplicativos funcionando simultaneamente. Lidar com tanta coisa já é uma tremendo esforço para uma máquina. Para uma pessoa também, só que pior.
Talvez ser adulto seja um pouco estar sempre com os ventiladores ligados. Para garantir máxima eficiência é preciso dissipar o calor do dia, manter a performance pelo maior tempo possível que a carcaça aguentar. Lidar com trinta e cinco mil abas abertas. Cada aba tem o próprio subitem, que por sua vez tem um subitem, que também pode se desdobrar em outros e mais outros subitens. Trabalho, família, amigos, amores, passado, futuro, tudo se desdobra ao infinito se você deixar. 
É um pouco avassalador.
Há pessoas que precisam processar mais dados do que outros nesse mundo. Tudo em todo lugar ao mesmo tempo. Tem (muita) gente que processa dados que nem mesmo gerou, nem mesmo deveria lidar. Que sustenta programas inteiros que exigiriam o dobro, o triplo do armazenamento. Programas que foram construídos defeituosos. 
Apenas cada um sabe o peso que carrega dentro de si. Penso muito nisso quando estou no ônibus, no caminho para casa. Penso muito no que se passa dentro de cada pessoa que divide aquele espaço comigo, pessoas que não sei o nome, embora as veja quase todo dia. Quantas abas abertas será que elas tem? Será que sentem que há espaço livre em seus hardwares? Será que gostariam, urgentemente, de fechar algum programa? Será que há algo que desejam esquecer, reabrir ou mesmo criar?
Quantos dados conseguimos processar num dia, antes de dizer chega? E aquilo que não somos capazes de lidar, que nos travam por completo, como reiniciamos? Onde sequer está o botão de reiniciar?
A analogia é boa, mas não somos máquinas. Eu não sou uma máquina. Minha criatividade, minha adaptabilidade, não pode ser mensurada. Faço o melhor que posso com aquilo que tenho, com aquilo que sou. Tento ser melhor todos os dias. Às vezes eu falho.
Pouco a pouco tento fechar algumas dessas abas. Desligar os ventiladores. Olhar para cima e ver o céu.
- C.
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itsweirdtosay · 1 year
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Qual é a alternativa?
Hoje vi dois pássaros azuis do lado de fora janela do meu banheiro pela manhã. Fiquei fascinado, pois sei o quão raro o azul é na natureza. Os dois cantaram alto, transaram alto e se foram. Mas eu fiquei ali.
A previsão do dia é de chuva. Amo a chuva, apesar de a cidade como um todo odiar.
Fico me perguntando qual é a alternativa. Indo e voltando, voltando e indo, ficando doente e sarando, suando e me refrescando, o planeta morrendo graças a nós. Talvez não haja nenhuma.
- C. S. O.
Escrito em 27 de setembro, nas notas do celular.
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itsweirdtosay · 1 year
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Cegueira.
Tem dias que eu acordo cego e mesmo assim insisto em fazer tudo sozinho. Tropeço pelo meu quarto procurando algum interruptor - alguma luz - só para dar de cara com a porta. Enxáguo o meu rosto e não enxergo o vazio dos meus olhos no espelho, vejo apenas sombras. Ajo naturalmente quando as pessoas falam comigo - em casa, no caminho, no trabalho - como se essa cegueira fizesse parte da minha vida, como se eu soubesse conviver com ela. 
Na maior parte das vezes dura alguns dias, e então se dissipa, nem tão de repente quanto veio.
*
Eu queria me amar da mesma maneira que amo meus amigos. Com a mesma lealdade e admiração que tenho por eles. Queria me amar do mesmo jeito que amo minha família, capaz de absolver as imperfeições e buscando conforto naquilo que fala mais alto do que a diversidade de atitudes e opiniões, naquilo que nos mantém unidos através do tempo. Queria me amar da mesma maneira que amo meus ancestrais, sem rosto e com nome, com a presença, a reverência e a gratidão. Queria me amar como consigo amar os outros, como consigo amar a natureza ao meu redor mesmo em seus ambientes mais estéreis. Queria amar meu desequilíbrio tanto quanto amo meu equilíbrio, meu caos tanto quanto minha harmonia. Queria me amar com a mesma dedicação que dedico ao meu trabalho, com a mesma inspiração que derramo em meus textos, com a mesma liberdade da minha criatividade. Queria me amar como eu nunca me amei, tratar com gentileza a minha monstruosidade, tão humana. Queria me amar nesses dias ruins, nesses dias em que acordo cego de mim mesmo. Em que me busco no escuro e tropeço nos meus próprios pés e só sinto que estou vivo por conta do gosto de sangue na boca. Queria me amar nos dias em que quero me render à dor dos meus arrependimentos, nos dias que quero arrancar os cabelos de tanta raiva. Queria me amar na solidão tanto quanto na solitude, na carência tanto quanto na companhia. Queria me amar na preguiça e quando não sei o que dizer, quando não digo, ou quando digo muito, numa honestidade crua que chega a ser rude. Queria aceitar as partes feias de mim como aceito meu corpo, meus longos braços, minhas pernas tortas, meus ossos que estralam demais. Queria me amar nesses dias em que não faz diferença se há sol, lua ou céu. Em que preciso me guiar apenas pelos meus instintos, confiar que sei o caminho mesmo sem ver nada.
Tem dias que a minha cegueira permanece e eu não enxergo um palmo na frente do nariz.
C.
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itsweirdtosay · 1 year
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Ganímedes.
Acho que qualquer texto é melhor do que texto nenhum. Há um tempo que venho tentando falar ao menos um pouco sobre tudo, mas por algum motivo não consigo amarrar os assuntos como quero, e assim eles nunca vem à tona. Me recuso a chamar meu momento atual de "bloqueio" quando sei que se trata muito mais de um tipo de covardia infecciosa. Uma covardia que infectou meu coração e minha alma. Então talvez eu possa falar sobre ser uma lua de Júpiter que observa o universo. Talvez eu possa falar sobre meu vasto nada e a beleza do meu campo magnético invisível. Ou sobre minha completa ausência de oxigênio e minha crosta gélida que recobre todo o horizonte, até onde a vista alcança. Talvez eu possa falar sobre a escuridão que há em mim e que jamais verá a luz do sol. Ou talvez eu possa falar sobre como é ver a imensidão de Júpiter daqui, esse colosso massivo que me rege. Sobre como é girar ao seu redor observando suas mais selvagens tempestades.
Ser um satélite ajuda a colocar as coisas em perspectiva. E a aceitar a esterilidade como parte da criação do universo, afinal o nada só existe em oposição ao tudo. Em minha busca por propósito, acredito mesmo que há mais vida lá fora. Só nenhuma florescendo em mim.
-C. S. O.
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itsweirdtosay · 1 year
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youtube
that's just how i feel
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itsweirdtosay · 1 year
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Prova de química.
Quando eu tinha 16 anos, peguei minha primeira recuperação na escola. É um fato que pode parecer absurdo para alguns, mas eu me encaixava no perfil de aluno com quem esse tipo de coisa nunca acontecia, então foi um duro golpe. Chorei tudo que podia na própria sala de aula, depois que as provas corrigidas foram entregues. Uma amiga querida me consolou. Claro, ficar de recuperação acontece até com os melhores, e eu não esperava grandes retaliações em casa. Não era o depois que me chateava.
Eu nem sequer tinha tirado uma nota verdadeiramente ruim. Era um 6 quando eu precisava mesmo era de um 6,5. 
O que me levou a chorar foi o esforço feito nos meses anteriores. Foi a trajetória desde a devolutiva da primeira prova, essa sim com uma nota ridiculamente baixa, até aquele 6 insuficiente e duramente conquistado. O que me fez chorar de verdade foi a lembrança de todas as tardes que passei na escola estudando e tirando dúvidas, das listas de exercícios extras que peguei para aprender, a sensação de saber as respostas para perguntas que antes eu não sabia e me sentir capaz de respondê-las, de entender o que estava em jogo e confiar em mim mesmo para ser bem-sucedido. E mesmo assim falhar.
Não era como se tudo tivesse sido para nada, e eu sabia disso. Mas o fim foi o mesmo, o que me doeu por dias.
Hoje, mais de dez anos depois, ter passado ou não naquela prova não faz a mínima diferença na minha vida, uma vez que todo aluno eventualmente aprende que os muros da escola não são tudo que há. Mas alguns fracassos, mais do que outros, acabam soando um pouco como uma prova de química. Eles não representam tudo o que você sabe ou aprendeu, nem tudo de que você é capaz em qualquer outra matéria. Não vão te parar de nada, eu espero. Não são instransponíveis. São apenas avaliações e resultados de uma performance específica num determinado momento do tempo. Essas coisas dificilmente representam o todo, em especial porque o todo não pode ser inteiro medido numa frieza objetiva. 
Ainda assim, um fracasso é o que é. Da mesma forma que uma chance desperdiçada consiste invariavelmente em desperdício. Uma crítica dura é uma crítica dura, o que não a torna injusta, e nós aprendemos a lidar com ela ou não.  
Em dias como hoje, me lembro daquela prova de química e do quanto chorei naquela sala. E diante de outros fracassos similares, me permito chorar de novo.
-C. S. O.
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itsweirdtosay · 2 years
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Mil anos de atraso.
Este é o meu jeito de lidar com as coisas: prefiro mil vezes rir de algo do que chorar, então conto piadas. Sou brincalhão, e quando a brincadeira se volta para mim, eu rebato. Retruco, com leveza. E talvez assim as pessoas não percebam o quanto fiquei incomodado.
Este é o meu jeito do lidar com as coisas: prefiro mil vezes sorrir a chorar. E quando a vida fica difícil, eu aciono uma série de microestratégias para aliviar a tensão, como me exercitar até os meus músculos doerem, me drogando com a positividade da endorfina. Ou me ocupando ao máximo, pois a melhor maneira de superar o barulho é fazendo mais barulho ainda, falando mais alto do que ele. Entra em cena uma série de gatilhos, rotas de fuga forjadas por experiência, para situações de estresse e que me parecem naturais a qualquer pessoa. 
Este é o meu jeito de lidar com as coisas: rir para não chorar. E quando o choro não pode ser evitado, eu choro – à minha maneira. Digo, por mais estranho que dizer algo possa parecer.
Aqui estou eu, dizendo, ainda que com mil anos de atraso.
*
Queria ter escrito este texto em dezembro de 2022, quando caçava algo interessante no meu dia a dia para dizer e não encontrava nada. Não queria falar de coisas banais como o cansaço do trabalho ou fazer a retrospectiva retomando o esgotamento mental de um ano tão bom e ruim, de saltos extraordinários para a minha carreira ao mesmo tempo letargia e melancolia completa da minha vida emocional. Eu não queria falar do óbvio, me repetir nos meus assuntos, ser monotemático. Queria escrever um texto olhando para a frente, genuinamente olhando para a frente. E comecei o novo ano com uma boa sensação, além de uma ressaca monstruosa.
Por quase três semanas, meus fardos pareceram um pouco mais leves, as minhas questões um pouco mais flutuáveis, como se pudessem ser naturalmente levadas pela maré em breve, a qualquer hora.
Saí com um amigo para conversar – realmente conversar – sobre todas as minhas questões de gênero, que, é claro, não vão embora. Fui me deixando levar por oportunidades sem perder de vista aquilo que eu já tinha em mãos. Mantive em mente o pensamento positivo, que meus protetores tanto reforçaram da última vez, a vontade de aproveitar mais os dias sem deixar de lado o respeito cada vez maior pela minha solidão.
Já eram dias melhores, e estava tudo bem.
*
Fato: não sei ser gentil comigo mesmo. E não sei tratar os meus defeitos e contradições com real compaixão. Sou muito bom em me punir, e o primeiro a fazer isso. A linha editorial do meu Twitter é a autodepreciação cômica.
Esse é o meu jeito de lidar com as coisas. E percebi que quando a vida fica difícil, eu aciono uma série de mecanismos de autodefesa que basicamente implicam em sentir o menos possível. O que me parece, com uma dose bastante latente de consciência, plenamente antinatural.
Eu, que sinto tanto, bolando planos mirabolantes – mas executáveis – para não sentir.
Certas coisas não acontecem do dia para a noite.
*
Com mil anos de atraso, venho recuperar minhas forças. E testo minhas palavras ao me sentir sendo aberto como um ovo e não fugir. Estou aqui e vou sentir isto. Vou sentir esta dor, esta raiva, este incômodo. Vou sentir esta felicidade. Vou ficar aqui enquanto as ondas batem e se quebram na costa. Vou permanecer aqui para os espasmos. E talvez, se ficar, no fim tenha a certeza de que estou forte novamente, um pouco como Sansão esperando os cabelos crescerem.
E uma vez grandes, quem sabe a iminência do desmoronamento não me pareça tão assustadora assim.
-C.
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itsweirdtosay · 2 years
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Oh, how lonely my heart has been.
Dois dias de sol a cada mês fizeram
com que eu não compreendesse o dia
(não mais).
Uma ida à praia por ano me levou
para tão longe do mar
que a firmeza sob meus pés parece firme.
Não saberia dizer por onde andava, esse tempo todo,
só sei que demorou muito tempo até chegar aqui
(E mesmo aqui…). 
O meu vazio de águas paradas
é o fosso das muralhas construídas para 
autodestruição,
e mesmo a autodestruição, mesmo ela,
não sabe o que fazer de mim
(não mais).
Oh, how lonely my heart has been.
Is it really better to feel something,
is it really better like this?
I don’t think so.
-C.S.O
Ainda bem que o blog é meu e eu posso escrever poesia ruim em paz.
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itsweirdtosay · 2 years
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Desilusão.
O ano se encaminha para o fim e eu me vejo mergulhado num mar de desilusão. A desilusão é uma coisa curiosa.
Creio que passei boa parte do meu ano 9 pesando decisões. Tomei decisões difíceis e secretas, com uma cautela que só pode pertencer ao mundo adulto, em um ano que num geral não me nada senti bem. E agora que consigo dizer que passo boa parte dos dias nem bem nem mal, o que já é um baita avanço, há essa desilusão, como um lago.
Não sei dizer que tipo de espelho a desilusão é. Há um simbolismo oculto nela, de águas turvas. E as minhas decisões passadas, nem boas nem más, se refletem na superfície e falam comigo, em silêncio. Estou aqui, na casa dos meus pais. E estou onde quis estar ou quase. (onde escolhi.) E o nosso mundo está morrendo e só o que consigo pensar é como a última cicatriz parou de doer, enfim.
E será que é mesmo melhor sentir alguma coisa? Não acho que a desilusão não seja um sentimento. Em mim há uma validade comprovada.
E há dias importantes, muito importantes, muito próximos, e a impotência de aceitar o que está por vir. E de querer mudar as coisas de um jeito ou de outro, e de fugir para um passado, e escapar para um futuro... No fundo do lago, há as minhas decisões. E a maior desilusão de todas, talvez, seja comigo mesmo.
C.
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itsweirdtosay · 2 years
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Cê (Nomes).
Hoje me chamaram de Cê no trabalho. Por um meio oficial. Foi um dos meus poucos sorrisos no dia que não foram causados por um vídeo bobo na internet. Toda vez que tenho coragem para pedir às pessoas para me chamarem de Cê sinto um orgulho privado e muito próprio. Que pessoas se sentem orgulhosas por serem chamadas pelo nome que escolheram, pelo próprio nome? É um pouco estranho como trajetória, porque se paro para pensar em como vim parar aqui percebo que sempre estive neste lugar. Ao mesmo tempo que quando sou confrontado pela mesma pergunta -- todas as vezes e talvez eu já devesse ter me acostumado -- não sei se transmito a certeza. Tento explicar para as pessoas, da melhor maneira que consigo, que sou o processo.
E hoje em dia é como se eu tivesse dois nomes. Duas identidades na carteira. Dois CPFs para um mesmo corpo. E há uma parte tão imensa de mim que permanece oculta de pessoas que me veem e falam comigo todos os dias. E cada vez mais me olho no espelho e penso que queria ter a liberdade de apenas tentar outras formas. Sem precisar dar certeza. Apenas ser o processo. E talvez mudar de ideia, não sei.
Acho que tenho dois nomes hoje. Amanhã talvez tenha três.
C.
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itsweirdtosay · 2 years
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Diários.
Eu tenho diários desde criança. O primeiro que escrevi eu devia ter sete ou oito anos talvez. Comecei escrevendo em um caderno cor-de-rosa da Hello Kitty que queria ser muito radical e ter uma girafa de estimação. Que queria ter um irmãozinho e que meus pais eram meus super-heróis da vida real. Escrevia sobre meus presentes no Natal e sobre meus primos.
No Ensino Médio tive diários também, esses eu ainda guardo. Eu escrevia muito naquela época, sentado numa cafeteria depois da escola, porque estava tentando entender, como todo adolescente, quem eu era e o que estava me tornando. Meus diários me ajudaram muito a pensar sobre as minhas relações, a suportar a agonia e o medo do primeiro amor, a dar nome para tudo que eu estava sentindo e especialmente a me aceitar como LGBTQ+. Meus diários foram o primeiro lugar onde eu me aceitei, acho.
Na universidade foi difícil continuar com eles. Tanto na primeira quanto na segunda graduação. Era um começo e meio de ciclo, e eu estava dentro do turbilhão, muita coisa me afastou da escrita nesses anos e não necessariamente de uma forma ruim. A vida está aí para ser vivida, e às vezes precisamos tirar a cara da página para que ela aconteça.
Retomei o hábito no intercâmbio. Escrevi o máximo que pude, nunca menos de uma vez por semana, sobre tudo o que eu estava vivenciando, porque eu queria capturar a essência daquele momento da minha vida, o qual seria tão breve e tão especial, como de fato foi e eu sabia que seria. Foi um diário calculado, mas tudo que veio no meio não.
Hoje comecei um novo diário. Vai me ajudar a escrever menos por aqui, num vazio mais particular. A mergulhar um pouco mais fundo, ser propositalmente menos poético e vago, mais cru. É do que eu preciso agora. Vai me ajudar nesta transição de ciclos, a sair deste interlúdio e a virar a página. A ser um pouco mais eu de propósito, como sempre ajudou.
C.
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itsweirdtosay · 2 years
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A vida que segue.
Oi. Como você está?
Rolei pela galeria de fotos do meu celular e vi um monte de coisa que me dói o coração toda vez. Eu vi um ‘nós’ que nunca existiu, o início de alguma coisa que foi breve e intensa e acabou e foi confusa mas foi bem boa, pelo menos para mim. Esperei tanto e aconteceu e aí eu estraguei tudo. Ou estragamos, tanto faz. Continuei rolando a galeria de fotos e vi tudo que veio depois, e estou aqui mais uma vez tentando aprender a grande lição deste ano 9. Há sempre um depois. Há todos os amigos que fiz. E todas as pequenas coisas que tentei fazer para ficar bem. Todas as vezes que levantei, vagaroso, todas as vezes que tentei amar as pessoas ao meu redor. Todas as vezes que amei, ao menos um pouco. Todas as vezes que fui gentil e tentei ajudar, e todas as vezes que fui ignorante, mesquinho e mal-humorado. Todas as vezes que estive sem você e com você, em silêncio. Todas as vezes que quis estar e estive com outras pessoas. Todos os meses que contei, e os dias. Todas as vezes que me peguei me perguntando como você estava. Todas as vezes que quis estar em Newcastle. Todas as vezes que quis só estar em outro lugar. As conquistas. As coisas que eu queria tanto, mas tanto te dizer. Todo amor que eu tenho e não puder te dar. O filme a que eu assisti ontem. O tédio do trabalho. Toda cerveja e todo uísque. O tanto que eu quis dormir enquanto tudo nesse interlúdio acontecia. O quanto eu quis, o quanto eu quero, deixar o meu passado para trás.
Eu ainda não me perdoei. Em geral não sei o que fazer com tudo isto. Mas. Mas...
Eu só desejo o melhor para você, para todos. E ainda tenho dificuldade de entender que mereço algo além de punição (felicidade?), mas vejo a vida acontecer quer eu queira, quer não. E parte de mim reluta. Eu não me entrego, mas ainda compareço. Ah, o amor está aí, não é? Espero que ele esteja. Espero que você esteja amando tudo e todos. Um lugar, uma pessoa. Principalmente onde você está agora, um tempo. Espero que você continue amando apesar do tempo. 
Talvez não pareça, mas ainda estou aterrorizado. E tenho medo de ceder e desmoronar porque não sei se tenho forças agora, sabe. Despertar leva o dobro do que adormecer etc. Se me delongo no assunto, volto novamente aos meus erros e erros, e não sei como explicar o quanto eu queria que nada disso tivesse acontecido. Não há nada que perdoar, não há nada a ser feito a não ser seguir em frente, continue a nadar, continue...
Olha, eu desejo tudo de bom para você, mesmo. Não tenho condições de me aproximar, mas nossa... Que Algo me ouça: eu espero que você esteja bem. Que você seja amada. Que você ria. Que você viva. Desejo isso a todos os meus amores. Que todos caibam em tudo.
Por Deus, ainda bem, ainda bem que a vida segue, não é?
C.
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itsweirdtosay · 2 years
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Casa.
Dizem que um lar é muito mais sobre o sentimento de se sentir em casa do que o espaço físico em si. Acho que é verdade. Penso em sair da casa dos meus pais desde que tenho 16 anos. Não tinha motivo algum para isso, é claro, e quase 10 anos depois talvez eu ainda não tenha. Afirmo com todas as letras que meus pais são duas das melhores pessoas que conheço. Eu não pago aluguel e tenho comida, conforto e roupa lavada. Moro há 10 minutos do metrô e de um terminal de ônibus. E ainda assim eu não aguento mais morar com eles.
Tudo piorou com a viuvez do meu avô e a mudança dele para nossa casa. No fim todos acabamos em fraldas etc.
Mas não é culpa do meu avô. Ou de ninguém, para falar a verdade. É só o curso natural das coisas. Um passarinho tem asas para que afinal?
Talvez eu me mude em breve, quem sabe.
C.
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itsweirdtosay · 2 years
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youtube
Here we are Just floating with the moon and stars Just waiting for something, a little spark I don't know what it is, but when it comes I'll know it when it comes
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