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juliafaveromd · 5 years
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DOSSIÊ REFLEXIVO PARA AULA DE MEIOS DIGITAIS
O processo de desenvolvimento das quatro obras surgiu de maneira gradual, conforme os diálogos com o professor eram estabelecidos. E, apesar de termos a liberdade de entregar projetos completamente diferentes e, por assim dizer, polidos, eu me recuso. Me recuso porque o processo não é só parte, o processo é a arte, pelo menos nesse caso, pois nasce do conflito e é a evolução dele que a impulsiona.
O mapa mental foi realizado de forma a cumprir com os que eu julgava serem os requisitos da matéria. Talvez por isso o projeto tenha ido por um viés muito mais comercial e designer do que as obras que costumo produzir. Era uma tentativa de sair da minha zona de conforto no quesito dos usos de ferramentas digitais, já que normalmente trabalho com mídias manuais. Durante a apresentação, o professor fez certos levantamentos acerca da pouca representação brasileira no meu trabalho, que na altura me deixaram muito frustrada. Eu senti minha brasilidade ser questionada por eu decidir não fazer meu trabalho em torno dela. Isso me fez transbordar raiva. Raiva essa que foi o impulso criativo que resultou no próximo trabalho: a minha animação.
O vídeo tinha como pretensão ser uma afronta direta a um discurso paternalista que não me contempla. Eu fui, sou e sempre vou ser mais do que a somatória das minhas partes (visíveis ou não). Eu sou mais que o Brasil e que o meu viés ideológico. Eu sou mais que as experiências e as coisas que eu já disse e ouvi. Eu sou um amontoado de muitas coisas que nenhum mapa mental pode jamais contemplar. Todos nós somos.
Do ímpeto da crítica, surge o meu políptico. Uma tentativa de afogar o professor na mesma subversão que ele exigia. Das diversas discussões que tivemos em sala, eu me neguei a aceitar a demanda revolucionária que vinha de dentro da própria academia. Ao meu ver, nada que anda de mãos dadas ao academicismo pode ser verdadeiramente subversivo. Ou seja, um paradoxo é criado em que, acatar aos desejos do professor é ao mesmo tempo ir contra o que ele esperava de nós. Por conta de todas essas questões que rondavam minha cabeça foi necessário fazer algo como uma anti subversão. Foi apresentando o projeto e retomando a discussão com o professor que eu percebi que a minha raiva estava, de certa forma, mal direcionada.
Quanto ao livro de artista, a ideia me veio ao ler alguns capítulos do livro Sobre a Violência, de Hannah Arendt. Nele, ela fala da violência como uma resposta à perda de poder. É daí que surge o meu projeto sobre a manifestação de raiva como consequência inevitável da vulnerabilidade. Sobre as coisas que caem aos pedaços, coisas que nós despedaçamos e que nunca voltam a ser como eram antes. Sobre as barreiras da linguagem e da cultura como empecilho para uma comunicação não-violenta. É um amontoado de palavras não ditas e palavras que tentamos apagar, sentimentos que queimam o peito e consomem nossa alma. Memórias do que foi e nunca voltará a ser. É, simultaneamente, um repúdio e uma ode à dor.
As obras em conjunto são fragmentos de mim mesma, das mais diversas facetas: a que eu represento para o mundo, a que eu sinto arder do meu âmago, a que os outros escolhem ver de mim e tantas outras. É uma tentativa de fugir e ao mesmo tempo permanecer, fingindo ir e implorando para que alguém me diga para ficar. É um registro da minha sensação de desaparecimento e esvaziamento.
Julia Fávero Leite
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juliafaveromd · 5 years
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Manifesto da raiva como consequência inevitável da vunerabilidade.
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juliafaveromd · 5 years
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Um breve questionamento sobre ser mais do que o meu ponto de partida.
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juliafaveromd · 5 years
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A verdade é que a assimilação de Duchamp e de seus contemporâneos pela Academia, foi a maneira de não se deixar ruir o establishment artístico. Assim como o capitalismo, a Academia fagocita tudo o que vem para desestabilizá-la e o torna parte perpetuador do sistema.  O próprio Urinol era um dedo apontado ao academicismo, rindo às suas custas.  
Há várias formas de se produzir arte e ainda mais formas de subvertê-la. Existem dois caminhos principais pelos quais é possível fazer uma arte verdadeiramente subversiva. O primeiro exige que você tenha pouco ou nenhum conhecimento da Arte e da Academia que a rege. Ele é um processo quase que ingênuo, intuitivo e, talvez, muito mais difícil do que parece à primeira vista. O fato é que, se você não possuiu contato “suficiente” com o sistema artístico acadêmico vigente, a influência dele sob você é infinitamente menor e, portanto, você não é tão regido por suas normas quanto outros. O segundo, mais complicado, se faz da utilização desse próprio sistema para negá-lo. E para isso, é necessário conhecimento profundo do que é considerado arte, a história que a cerca e diversas outros fatores. Meu ponto é, como estudantes de artes, tivemos algum contato com o mundo artístico. Não o suficiente para ter maneiras de subverte-lo por dentro, mas o bastante para termos sido, mesmo que minimamente, moldados por ele.
Exigir subversão, além de paradoxal e anti-revolucionário, é inútil se antes não formos munidos de bases e fundamentos, essenciais para um questionamento à fundo do fazer e pensar artístico contemporâneo. A premissa da necessidade de ruptura que se dá no pós-Duchamp, descontextualizada, cria espaço para uma arte dessignificada que falha inclusive em justificar a sua falta de significância. 
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juliafaveromd · 6 years
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Mapa mental
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