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kriok-w · 8 years
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Novo na estante: K-RIOK
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Título: K-RIOK Publicado: 29/12/2016 Gênero: Ficção Adolescente Autor: Tony Woods Status: Escrevendo Sua história é: Original Capítulos: 03 (por enquanto) Sinopse: Vamos do luxo do Leme até a decadência da Lapa. Não temos regras nessa cidade. Dente por unha, barba a mercê da cega navalha. Com um baseado e dois amigos, faço do Pontal a minha segunda casa. Não me importo. É tudo feito de banalidade, não percebe? A casualidade não existe na Zona Oeste. Tenho em mim algo muito forte que chamo existencialismo. Foda-se Sarte e os filósofos. Viver, viver: eu é que não quero morrer por nada. Link para ler: Wattpad ♥
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kriok-w · 8 years
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kriok-w · 8 years
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sim, o Pistão existe! 
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Spock Half Pipe de Campo Grande
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kriok-w · 8 years
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PROLOGO
É por volta das quatro da manhã. Esse é o horário que os homens de bem e as moças de família estão dormindo. Eles acordariam, provavelmente, às seis. Tomariam o café da manhã assistindo o noticiário e dirigiriam até o trabalho em algum carro com aromatizante e cintos de segurança.
Nós acordaríamos depois do meio dia de ressaca. Nós somos o que eles chamam de escória e, em seguida, de mau exemplo. Futuros limpadores de privada. Seríamos os empregados que encerariam seus carros. Teria sempre alguém que esfregasse o chão. E eles se sentiriam felizes por isso.
Gostam de usar gravatas. Gostam de andar alinhados. Nós, escórias, não ligamos. Quando se está chapado, você não liga pra nada. Você consegue sentir a vibração de uma guitarra na sua mente. Vê ondas sonoras colorindo o ar. Até mesmo sente a fumaça densa do cigarro, como se evaporasse pelos seus poros.
Quem se importa com gravatas, bons salários, tevês de última geração e carros encerados?  
Viver, viver: eu é que não quero morrer por nada.
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kriok-w · 8 years
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os famosos Arcos da Lapa...
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kriok-w · 8 years
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youtube
Finalmente esse trailer saiu! Vou deixar a sinopse da história aqui em baixo, pra quem ainda não leu. Se possível, reblogue para a divulgação e deixe uma ask me dizendo o que achou <3
Quando a mãe de Australia Velibor deixa sua família e vai embora de casa, seu irmão gêmeo, Caribe, tenta cometer suicídio e é internado em uma clínica psiquiátrica. Sem permissão para vê-lo e decidida a reencontrá-lo, Australia conhece Iraque, paciente do hospital e sua única chance de conseguir o que quer. 
Uma pesada bagagem emocional, pedaços de dois corações e um pouco de psicologia podem aproximar Iraque da Australia mais do que qualquer avião jamais poderia. Iraque é primeiro país a declarar guerra contra si mesmo. Australia é a primeira ilha-continental politicamente válida a se perder em seu próprio oceano de pensamentos autodestrutivos. 
Como isso seria geograficamente impossível, os dois se forçam a buscar respostas em algo maior. Maior que a geografia. Maior que o Iraque, maior que a Australia. Em estrelas, em metáforas, em provérvios latinos, em abismos, em tudo que os olhos possam alcançar. Afinal, um abismo atrai o outro. 
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kriok-w · 8 years
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Li todos os capítulos de uma vez e já tô querendo mais, amei
olá
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kriok-w · 8 years
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lhes apresento Gustavo Bueno, mais conhecido como Gus. ♥
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kriok-w · 8 years
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II (PT. II)
Me levantei, Arthur também. Tirei a blusa, de frente pra ele. Ele se alongou e me chamou com os dedos, sorrindo. Cerrei os punhos, sorri de volta, e acertei a maçã do rosto dele. Meus ossos encaixaram com grosseria na concavidade entre a bochecha e o maxilar.
Ele segurou o rosto e deu uma risada alta.
"Outro", ele pediu e eu fiz sua vontade.
Ele me socou na maçã, de surpresa. Eu o acertei no maxilar, depois na clavícula. O som dos ossos contra a carne ecoavam pelo quarto. Com meus músculos trabalhando ao meu favor, como se tivessem nascido com vocação pra violência, me senti danificando algo bonito e saudável. E me senti bem.
Arthur me acertou no estômago e eu revidei. Nisso nós dois nos contraímos de dor, com as mãos na barriga, e desabamos sentados na cama.
"Porra", murmurei, ofegante.
"Foi do caralho", ele sorriu, esgotado. "Temos que fazer isso mais vezes".
Bebi goles de uma garrafa de água que achei ao lado da cama e passei pro Arthur, em silêncio. Foi como se a água gelada descesse, agradavelmente, em um choque térmico contra a temperatura do meu corpo internamente em ebulição.
Ficamos nos encarando, sem dizer nada, enquanto nossas respirações não se normalizaram. O rosto de Arthur estava rosado e algumas mechas finas de cabelo grudaram ao suor na testa. Um sorriso malicioso e sutil arqueava uma ruga no canto da boca. Minha visão estava meio embaçada devido ao álcool e a pouca iluminação do quarto não colaborava, mas eu via um corte pequeno no supercílio, o olho esquerdo inchado com um círculo escuro ao redor e um filete de sangue escorrendo pelo nariz. Como extinto, tateei meu rosto à procura de algum ferimento.
"Você me machucou, Gus", ele abriu um sorriso. "Mas você não saiu tão bem assim, também...".
Aproximou o rosto do meu e passou o polegar no canto da minha boca. Eu sentia o hálito quente contra o meu pescoço.
"Tá sangrando? Conseguiu limpar?", perguntei e ele murmurou algo como um sim, balançando a cabeça.
E então, ele ergueu o rosto e me olhou nos olhos. Colou a testa úmida à minha, nossos narizes se roçaram e seu hálito soprou contra o meu. Meus malditos pulmões falharam.
"Arthur...", eu murmurei mas ele me ignorou.
Dedilhou minha coxa coberta pela calça jeans. Minha mão então foi parar no seu maxilar e, como se eu não tivesse auto controle dos meus movimentos, meu polegar acariciou a maçã do rosto que minutos antes eu havia socado. Senti meu dedo indicador sendo espetado pelo cabelo recém cortado.
"Você quer", ele disse, convicto. Sua mão avançou a minha coxa e pressionou meu pau. "E eu também".
E nem que eu enfiasse cinco garfos numa tomada de mil e quinhentos volts me dariam aquele mesmo choque.
Ele tentou me beijar mas algo dentro de mim hesitou e eu me afastei. Aquele algo tinham muitas definições: meu pai devoto, Deus, o pecado, a fé, meu pai devoto e meu medalhão com a imagem da Virgem Maria no pescoço. Arthur soava como a serpente maliciosa.
"Eu não sou viado. Não quero isso", eu disse com um certo desdém. De alguma forma eu sabia: aquilo tinha sido mais pra mim mesmo do que pra ele.
Arthur engoliu seco, parecendo meio decepcionado, mas logo voltou ao seu sorrisinho prepotente.
"A vida é só uma", ele insistiu, tentando me convencer. "Você nunca beijou um garoto antes, não é?".
Mordeu meu lábio, pra me provocar. Ambas não foram uma tentativas em vão. Avancei sobre ele como uma fera, perdendo o domínio de mim mesmo. Sua mão me agarrou a nuca enquanto a outra me comprimia o prazer sob a calça.
O mesmo homem que é capaz da violência também é capaz do amor, pensei.
Seus lábios beliscaram os meus com delicadeza enquanto suas mãos me percorriam. Eu o beijei no pescoço, a pele salgada de suor, e enrosquei meus dedos na sua nuca. Em seguida, um barulho alto da porta do banheiro se abrindo foi o suficiente pra que a gente se distanciasse. Coloquei um travesseiro no meu colo e, ao ver isso, Arthur riu baixinho. Jhone entrou no quarto, se arrastando em pé como um zumbi, e acendeu a luz. Encontrou uma almofada no chão, deitou e, sem proferir uma palavra, dormiu instantaneamente. Eu improvisei uma cama no chão e Arthur jogou um travesseiro e um cobertor fino pra mim que talvez eu nem usasse, devido ao calor. Arthur apagou a luz e nós deitamos: ele na cama e eu no chão, sem comentar nada a respeito do que havia acontecido.
Eu não consegui rezar, nem dormir. Eu tinha me transformado numa espécie de Anticristo e me sentia tão triste a ponto de não conseguir ser capaz de chorar. Encarava o teto com um olhar carregado de misericórdia enquanto me sentia envergonhado de falar com Deus. Mesmo não tendo a fé ou a devoção de meu pai, orar algum Salmo antes de deitar era como um ritual desde criança. E, naquela noite, pela primeira vez eu o quebrei.
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kriok-w · 8 years
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II
"Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim? [...]". (Genesis 3)
Na minha vida sempre houve muito extremismo: nasci numa família em parte cristã, por conta do meu pai, e em parte espírita, pela minha mãe. Meu pai era cheio de opiniões e autoritarismo enquanto minha mãe era a pessoa mais apática que eu já tinha visto. Talvez as diferenças que completaram à primeira vista Thomas Bueno e Patrícia Velloso que, anos mais tarde, virou Patrícia Bueno.
Além de ir à missas, meu pai trabalhava durante a semana, pescava aos feriados e bebia e jogava escondido todos os dias. Já minha mãe, fazia plantões de segunda a sexta, cozinhava em casa e ia secretamente à reuniões espíritas em centros kardecistas já que, afinal, a original família Bueno descriminava qualquer coisa que não se passasse dentro de uma Igreja. Ele exalava suas concepções aos sete mares enquanto ela vivia à sombra de um véu.
Thomas, sendo o inflexível arrogante que sempre foi, me fez crescer dentro da Igreja mesmo contra a minha vontade. Eu estava nas missas de sábado, mesmo passando a madrugada na rua sem que meus pais soubessem, e chegava cheio de sono na missa de domingo. Às vezes, ia pra pista e caía do skate milhares de vezes, anestesiado de álcool, e às oito da manhã do domingo, meu pai sempre me perguntava sobre as olheiras de ressaca e os hematomas mas eu desconversava.
Além da chatice usual das cerimônias, eu também estava no Grupo de Coroinhas da Igreja - obrigado, é claro, por que meu pai sempre me ameaçava de alguma forma. Ele se esforçava muito para ter um filho à serviço do altar e do próximo para exibir nos almoços de família.
De qualquer forma, todo o empenho do meu pai de me fazer um segundo Santo Agostinho foram inúteis, afinal, eu nunca fui como as outras crianças da Igreja. Se alguém dissesse que pondo o dedo na tomada eu levaria uma descarga elétrica, eu mesmo teria que ir lá pra por pois só assim eu me convenceria. Na verdade, teimoso como eu era, colocaria o dedo várias vezes e só aprenderia no décimo sexto choque.
Amante da rua como sempre fui, eu fazia o máximo pra passar o maior tempo possível fora de casa por que, no fundo, eu nunca soube encarar a confusão problemática dos meus pais. Eles raramente brigavam por que mesmo que bebesse todos os dias, Thomas chegava geralmente quando já estávamos na cama. Uma vez ou outra ele dava um show de porre, mas não era parte do cotidiano. O maior problema era mesmo a falta de diálogo e comunicação.
A questão é que quando se está na oitava série e se tem os hormônios da puberdade florescendo como tiros de revólver, a desconexão com os próprios genitores é só um pequeno gatilho pra rebeldia. Com quatorze anos, qualquer colega de rua é parente. E, antes mesmo daquela época, eu havia descoberto um mundo muito além da sombra dos meus pais, da Igreja e dos valores morais. Ter a presença de Jhone Martins e Arthur Lacerda naquela fase libertária só me simplificou o percurso.
"[...] E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais.
Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. [...]"
Um dia voltávamos do Beco da Teí por volta das quatro da manhã: o horário que os homens de bem e as moças de família estariam dormindo. Eles acordariam, provavelmente, às seis. Tomariam o café da manhã assistindo o noticiário e dirigiriam até o trabalho em algum carro com aromatizante e cintos de segurança. Nós acordaríamos depois do meio dia de ressaca. Nós seríamos o que eles chamam de escória e, em seguida, de mau exemplo. Futuros limpadores de privada. Seríamos os empregados que encerariam seus carros. Teria sempre alguém que esfregasse o chão. E eles se sentiriam felizes por isso. Gostam de usar gravatas. Gostam de andar alinhados. Nós, escórias, não ligavamos.
Bêbados, mas não o suficiente, acertamos o trajeto e fomos cruzando as pernas até a casa dos Lacerda. Os pais de Arthur não se importavam. Assim, dormir lá depois de qualquer festa virou uma tradição só nossa nas sextas-feiras.
Tiramos o sapato antes de entrar pra evitar barulho. A cautela não adiantou muita coisa pois Jhone pisou numa boneca. Quase escorregou. Xingou, como se adiantasse. Arthur acendeu a luz e Jhone chutou a boneca, puto, acertando um botão. Ela começou a repetir, alto e numa voz fina: "Eu sou a Beth e estou com soninho. Me coloque pra dormir?".
Jhone olhou Arthur desesperado, pegou Beth no colo e correu pro quarto com ela nos braços.
Arthur me encarou e fomos atrás dele. O encontramos ninando Beth, com a luz do quarto desligada, completamente convencido de que ela era um bebê de verdade.
Me apoiei no batente da porta, de braços cruzados, e disse: "Jhone precisa de um banho. Lembra que ele disse que hoje precisa estar em casa antes das seis?".
Concordando, Arthur escondeu a boneca. Deu uma toalha limpa e roupas lavadas à Jhone e o empurrou até o banheiro. "Você se lembra como abre o chuveiro, né?" o ouvi perguntar. A porta se fechou e Arthur apareceu, sem camisa, e me perguntou, rindo: "Será que ele vai sobreviver lá dentro?".
Não tinha tanta graça, mas rimos daquela ideia até gargalhar. O álcool faz mesmo a vida parecer menos desastrosa e mais cômica, pensei.
Arthur ligou o ventilador, colocou The Cure pra tocar e se deitou ao meu lado na cama.
"Minha cara tá meio...", ele demorou a completar a frase, como se estivesse procurando pela palavra certa. "Anestesiada".
"Você bebeu sete doses de tequila", falei, com a voz arrastada. "Normal".
Ele ouviu e permaneceu em silêncio, concordando.
"Me dá um soco", ele pediu, de repente.
Eu demorei um pouco pra levá-lo a sério.
"Me dá um soco!", repetiu.
Ergui o tronco, me sentando na cama.
"Tá falando sério?".
"Tô".
"Aonde você quer?".
"Me surpreenda".
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kriok-w · 8 years
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I (PT. II)
Coloquei o pente na máquina e a liguei na tomada. Encarei meu reflexo e me lembrei de uma fotografia antiga do meu pai, de uns trinta anos atrás. Bastava trocar o cabelo castanho encaracolado por um ralo e grisalho e adicionar algumas rugas de preocupação, manchas na pele e uma barriga proeminente e sedentária. Desse jeito, você veria meu pai atual.
Filho do pecado, fruto podre. A maldição do homem de Deus. Uma das pragas do Egito. A Eva enganada pela Serpente do Éden. Viciado e doente, transbordando falhas. A desgraça corria pelas minhas veias e me atingia o sistema.
Num ato de desespero, eu deslizei o pente pela cabeça. Segurei a orelha e passei primeiro pela lateral, de baixo pra cima. Desse jeito, finalizei o resto.
"Puta merda" Jhone me deu um tapa na careca.
Eu pulei de susto. Ele riu da minha reação, segurando uma lata aberta de cerveja. Deu um gole longo e empurrou pra mim.
"Você passou de Bob Dylan pro irmãozinho skinhead do Edward Norton em A Outra História Americana".
Eu olhei as mechas na pia. Alguns cachinhos estavam úmidos e num preto quase azul por conta da torneira pingando. Deixei que a água passasse e os levasse pelos canos. Aquilo me confortou. Foi como se eu assistisse uma parte do meu pai indo embora. Me senti menos pior.
"Muito foda ter ganhado um amigo skinhead e tal, mas..." ele dizia enquanto mexia nos bolsos. "Eu tô muito pilhado ainda...".
E tirou um saquinho de erva do bolso. O balançou na frente dos meus olhos.
"Seus vizinhos não se importariam, né" pegou uma seda e continuou: "Afinal, você não quer no seu quarto um hiperativo que só deseja dormir".
Peguei um cigarro no meu bolso e o entreguei. Ele o tomou da minha mão, já sabendo o que fazer. Balançou a cabeça.
"Derby?!" grunhiu, indignado. "Isso é um soco no peito, Gustavo".
Reclamou mas bolou o balão do mesmo jeito. E bolou com maestria, diga-se de passagem. Parecia que o beck era grudado no cigarro desde a fábrica, feito um canudo.
"Eu sou um artista, fala!" ele rodou a escultura nas mãos e ascendeu.
Uma. Duas. Três tragadas.
Na quinta ele soltou a fumaça pela janelinha do banheiro, e disse: "Você pode ter essa máquina pro resto da sua vida se me deixar dormir na sua cama".
Dei ombros.
A gente terminou, limpou as cinzas do chão e jogou a ponta no lixo. Eu fui quase rastejando de sono até a cama e, antes de apagar, vi Jhone logo atrás de mim, mancando.
Os Martins moravam na rua de cima e eram famosos pela melhor confeitaria da Avenida Marconi. Era como uma lojinha pequena, com uma calçada mal cuidada, cheia de bolos na vitrine. A combinação fora o suficiente pro negócio ter fluído e passado, de geração em geração. Jhone tinha um irmão mais velho e algo me dizia que, se aquilo parasse nas mãos de Jhone Martins, deixaria de ser uma confeitaria e viraria um boteco. Mas não que isso fosse uma ideia ruim...
Jhone Martins sempre foi do tipo que fodia com tudo e, em anos de convivência, poucas vezes o vi acertar. Mas naquele momento, após acordar, quando ele decidiu que iríamos pra casa dele eu ainda estava com sono demais pra raciocinar como aquilo era, de longe, uma ideia genial.
A senhora Martins me deu um abraço quando me viu entrar, logo atrás de Jhone.
"Você está mais alto cada vez que eu te vejo!", ela disse, me esmagando num abraço.
Mesmo que eu aparecesse lá quase toda semana, ela sempre dizia a mesma coisa. E eu, fazia bem meu papel: fingia estar surpreso e logo desaparecia pra cozinha.
"Você cortou o cabelo! Está tão lindo... Jhone, você devia fazer o mesmo", ela continuou falando, enquanto andávamos pra cozinha. Jhone me deu um tapa na cabeça, sem que ela visse, e eu revidei.
Naquela noite, a mesa estava cheia e o cheiro estava ótimo. O senhor Martins estava em uma das pontas. Na outra, a mãe. No meio, Tiago Martins: a versão mais velha, malhada e responsável de Jhone. O senhor Martins que havia cozinhado, então ele que nos serviu a melhor panqueca de carne de todos os tempos. Talvez eu estivesse exagerando mas é que, após fumar erva, qualquer coisa absurdamente comestível.
Eu repeti algumas vezes, como todo mundo. Enquanto eu mastigava, eles comentaram sobre como estava sendo a honrosa vida de Tiago sofrendo enquanto servia ao Exército, as notas vergonhosas no boletim de Jhone, alguma coisa sobre uma viagem de fim de ano, como andava a confeitaria e outros problemas familiares que não me interessavam. Por fim, quando já estávamos na sobremesa, Jhone disse, entusiasmado: "Mãe, conta pro Gus o que você estava me contando mais cedo". A senhora Martins abriu a boca pra falar mas Jhone a interrompeu antes, ansioso: "Lembra do Arthur Miranda que andava com a gente?".
Jhone falou um monte em milésimos de segundos enquanto eu me sentia inebriado com lembranças distantes. Ele falava e batia com os punhos na mesa, vibrando. Era impossível acompanhá-lo. Fiquei o encarando, assistindo sua língua agindo mais rápido que o pensamento, e me questionei como alguém fuma tanta erva na vida e age como se fosse uma criança hiperativa usando cocaína.
"Morava na sua rua, lembra? Andava com a gente na segunda série até a oitava série e blá blá blá", Jhone gesticulava exageradamente. Ele era o centro das atenções na mesa.
Eu balancei a cabeça como um sim. Como eu poderia me esquecer? Na verdade se eu pudesse, esqueceria. Não fazia tanto tempo assim a ponto de me falhar na memória, mas eu desejava mais que tudo que o Arthur e aquela fase se apagassem da minha mente. Ou, ao menos, gostaria de manter o passado no passado.
"Então, cara, os Lacerda que vão passar as férias aqui!", ele sorriu e abocanhou uma colherada de sorvete. Voltou a falar ainda com a boca cheia. "Oitava série vibes, mano".
Mordi a colher mais forte, tentando não pirar.
"É" balancei a cabeça e sorri. "Vai ser legal".
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kriok-w · 8 years
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I
"No princípio criou Deus o céu e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. E disse Deus: Haja luz; e houve luz." (Genesis 1)
Eu sempre quis morrer e sempre gostei de dormir por que existir nunca me pareceu agradável. Dormir, de certa forma, se assemelha muito com a minha ideia de morte: silenciadora e prazerosa. Minha língua então estaria muda, meus ouvidos finalmente surdos e minhas artérias já não teriam mais com o que se preocupar: meu cérebro seria desligado assim como as luzes de um salão após uma festa ruim e cansativa.
Meu pai sempre leu a Bíblia e, inclusive, comungava desde ainda quando garoto. Que faltasse biscoito no armário de casa, mas o dízimo indo pra Igreja era de lei. Beata, conservador e homem de Deus em público. Secretamente, um alcoólatra infiel e viciado em nicotina e jogo de máquina. Ao invés de me ajudar com as lições de matemática, me fazia gravar algumas passagens, ainda criança, na marra.
''Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Todo-Poderoso descansará. Direi do Senhor: Ele é o meu refúgio e a minha fortaleza...", eu recitei, assim que o aprendi.
Uma vírgula errada e eu ganharia um tapa, em nome de Poderoso Criador.
Na catequese, eu nunca contei pra ninguém como que adquiri a habilidade de recitar o Salmo 91 até do avesso.
Apesar de orar assiduamente, acredito que meu pai nunca foi bom em Redação na época da escola. Sempre interpretou muito mal a Bíblia e, talvez, por isso, eu sempre acreditei naquela história do "sono da alma". Dormir seria só uma forma de descrever a morte, porque um corpo morto aparenta estar dormindo enquanto sua alma está no Paraíso ou Hades.
Assim, quando criança, eu me cobria até os ombros, à noite, e ficava mentalmente me fustigando com a ideia de que talvez eu não fosse bom o suficiente para os Céus. Pois, no oposto, provavelmente encontraria meu pai. Então, eu rezava mais.
Assim, a ideia do Sono me confortava. E meu pai, bêbado na maioria dos dias, alimentava ainda mais o meu desejo.
Uma noite aleatória de sexta, eu saí e voltei só pela manhã do sábado. Eu tinha bebido o suficiente pra me sentir enjoado só de ver uma acetona na minha frente e tinha fumado mais maconha que Cheech & Chong juntos. Meus olhos pesavam e provavelmente estavam tão vermelhos que eu devia ter no rosto duas cerejas com sobrancelhas.
Entrei pela sala e o encontrei afundado na poltrona velha, segurando um copo de vinho barato.
"Eu queria que sua mãe tivesse me dado uma filha decente, não um maldito vagabundo desobediente", murmurou, com escárnio.
Bebeu o resto em um gole e empurrou o copo. As lascas de vidro rolaram pelo tapete coberto por uma nata de poeira, cinzas e respingos de vinho.
"Limpe essa sujeira".
Eu me ajoelhei, evitando que ele reparasse nos meus olhos. Recolhi os cacos que consegui encontrar.
E, então, continuou: "Maldita hora que fodi sua mãe sem camisinha".
Eu senti algo dentro de mim congelar.
"Você é um bêbado", eu disse como se cuspisse as palavras.
Ele me deu um tapa.
"Não pense que não sinto de longe o seu cheiro de álcool e fumo, maldito."
Segurou meu rosto, me obrigando à olhá-lo nos olhos.
"Me vejo toda vez que olho pra você. Não pode fugir do seu pai, garoto."
Ele se levantou e foi deitar.
Não pode fugir do seu pai, garoto. Não pode fugir do seu pai, garoto. Não pode fugir do seu pai, garoto.
Aquilo ecoou na minha mente. Encarei como um desafio.
Eu também deitei, só que no tapete. Fiquei encaranto o ventilador e as rachaduras no teto até que senti meu celular vibrando no bolso. Ah, lar doce lar e o wi-fi que conecta automaticamente. Tinha umas cinco mensagens do Jhone Martins logo nas notificações. Haja paciência.
Jhone: GUSTAVO - (08h21)
Jhone: como cheguei em casa?? - (08h21)
Jhone: MEU DEUS - (08h23)
Jhone: pq meu olho ta ficando inchado???? - (08h23)
Jhone: ????????????????? - (08h25)
Senti algo me incomodando nas costelas. Cheguei pro lado. Era a carteira e o maço do meu pai. Abri: cartões e mais cartões, a imagem Jesus Cristo branco e loiro de olhos azuis, dinheiro e uma nota fiscal de alguma compra numa joalheria. Como assim ele andava comprando jóias?
Meu celular vibrou de novo.
Jhone: me responde seu porra - (08h28)
Deixei a carteira de lado e guardei a nota fiscal e uma cédula de vinte. Com Jesus me encarando daquele jeito, não me senti bem pegando uma de cinquenta. Peguei também quatro cigarros do maço.
Eu: mais respeito, moleque - (08h29)
Jhone: foda-se - (08h29)
Eu: pra começar, você disse ter dinheiro pro táxi mesmo a gente tendo combinado diferente - (08h30)
Eu: mas você não tinha dinheiro - (08h30)
Eu: e a gente tomou uma coça do motorista - (08h30)
Jhone: HAHAHHHAHAHA - (08h30)
Jhone: quando isso???????? - (08h30)
Jhone: cade meu dinheiro cara - (08h30)
Jhone: porra eu ainda to chapado - (08h30)
Eu passei a mão pelos cabelos e suspirei.
Eu: espera eu terminar de falar - (08h30)
E então eu tive uma ideia.
Eu: merda - (08h31)
Eu: foda-se - (08h31)
Eu: você tem máquina aí?- (08h31)
Jhone: rude - (08h31)
Eu: te dou exatos onze minutos pra aparecer aqui com o pente de um e fazer as honras - (08h31)
Jhone: HAHAHAHAH será um prazer - (08h31)
Jhone: eu sempre te odiei com esse cabelo bob dylan - (08h31)
Jhone: só deixar a janela aberta, rapunzel - (08h31)
Jhone Martins surgiu na janela e praticamente voou pra dentro do meu quarto. Com ele, surgiu um cheiro forte de erva. Típico.
"Você demorou..." eu olhei no relógio antes de continuar. "Dezessete minutos. Muito além do prazo, sendo que você mora na rua de cima".
"Que apaixonado!" ele debochou. "Sentiu minha falta, baby?".
O ignorei.
"Seu olho tá horrível", o ofendi antes de ir para o banheiro.
Jhone veio atrás de mim com a máquina na mão, desembolando o fio. Ele se olhou no espelho, tocando o olho inchado e roxo.
"Isso que dá inventar de pegar táxi sem ter dinheiro pra corrida" eu disse, rindo.
Ele fingiu me ignorar e perguntou, puto:
"Por acaso tem gelo nessa porra de casa?".
"Porta de cima. No freezer".
Ele me entregou a máquina nas mãos como se entregasse uma espada chinesa de honra.
"Quando eu voltar eu quero te ver sem esse ninho de passarinhos em cima da cabeça".
Eu balancei a cabeça. Ele se virou e saiu. Foi mancando até a cozinha.
"Esses taxistas de hoje... Brigam melhor que o Mike Tyson" Jhone murmurou.
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kriok-w · 8 years
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PROLOGO
É por volta das quatro da manhã. Esse é o horário que os homens de bem e as moças de família estão dormindo. Eles acordariam, provavelmente, às seis. Tomariam o café da manhã assistindo o noticiário e dirigiriam até o trabalho em algum carro com aromatizante e cintos de segurança.
Nós acordaríamos depois do meio dia de ressaca. Nós somos o que eles chamam de escória e, em seguida, de mau exemplo. Futuros limpadores de privada. Seríamos os empregados que encerariam seus carros. Teria sempre alguém que esfregasse o chão. E eles se sentiriam felizes por isso.
Gostam de usar gravatas. Gostam de andar alinhados. Nós, escórias, não ligamos. Quando se está chapado, você não liga pra nada. Você consegue sentir a vibração de uma guitarra na sua mente. Vê ondas sonoras colorindo o ar. Até mesmo sente a fumaça densa do cigarro, como se evaporasse pelos seus poros.
Quem se importa com gravatas, bons salários, tevês de última geração e carros encerados?  
Viver, viver: eu é que não quero morrer por nada.
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