—Sleep on and smile, thou little, young inheritor of a world scarce less young: sleep on, and smile! And innocent! —Must the time come thou shalt be amerced for sins unknown, which were not thine nor mine? But now sleep on! His cheeks are reddening into deeper smiles, and shining lids are trembling o’er his long lashes, dark as the cypress which waves o’er them; He must dream— of what? Of Paradise!
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Sky adentrou à arena, postando-se no meio dela. Sentiu os vários pares de olhos ali pressentes olharem-no, desconcertantes e ansiosos, talvez até mais que o próprio garoto, que demonstrava em sua face nada mais, nada menos que indiferença. Mas por dentro dele, o medo caminhava e abria espa��o entre seus tecidos vivos, como um verme que come a carne já apodrecida, fazendo embrulhar o estômago; ele, o medo, queria aparecer.
A sensação interior fez o caçula da Chapeuzinho pensar que acabaria vomitando a essência principal da simulação, o motor que fazia aquele fim de festa rodar. Seria até meio desanimador se isso realmente acontecesse; logo, Sky estava torcendo para que não fosse assim que a simulação acontecesse, mesmo já tendo visto algumas outras anteriormente.
Porém a arena mudou num piscar de olhos, de forma inesperada mas fortuna para o Céu em Terra, que felizmente não haveria que passar pelo papel desgostoso de ter que por tudo o que havia comido e bebido ao ar novamente.
O que antes era vazio e aberto, deu lugar a um espaço fechado cheio de cadeiras, mesas e vitrines que expunham diversos doces e massas. Ele, agora, sabia muito bem onde estava: numa das docerias de Avgí, o que o fazia sentir-se de volta à sua casa, o que de fato era (em partes).
Uma mulher, então, saiu de dentro de algo que parecia a cozinha e andou, com uma cesta em mãos, na direção do menino. O cheiro quente, fresco e levemente doce emanado pelo embrulho de papel amarronzado era acolhedor, quase como um carinho de alguém especial. Sky ergueu os olhos do entrelaçado de palha e mirou o rosto da pessoa que o iria lhe entregar:
Os cabelos dela estavam cobertos por uma rede, mas isso não impedia a cor dourada das mechas de mostrar-se, viva e imponente. Ao percorrer o olhar pelo rosto, o que antes eram especulações vagas quanto à identidade da moça tornaram-se verdades.
— Você poderia entregar isso à Sra. Avis? — Perguntou a mulher de expressões calmas a primeira vista. Apesar do pedido, o tom de voz dela soava mais como uma ordem, o que, de certa forma, era o esperado por Sky.
— Tudo bem, Capitã. — O menino disse enquanto ajeitava a postura, quase como um soldado na presença de um superior, mesmo que a condição fosse momentânea e o corpo dele logo voltasse a relaxar. — Mas ela mora do outro lado do reino e...
— Você é rápido, consegue.
— Certo. Eu posso pegar um pãozinho doce?
— Você sabe que não.
— O proletariado sofre.... — Ele disse em suspiro dando meia volta, girando em seu eixo com a ajuda dos calcanhares. — Na volta eu vou querer, pelo menos, quinze fios de ouro para compensar a caminhada e a...
— Não se preocupe. Vai ter um grande copo de limonada pra você retomar as energias.
— Limonada não é fio de ou...
— Mas vai ter que ser.
— E novamente o proletariado sofre... Tudo bem, tudo bem. Vou ficar no aguardo do dia em que tudo que eu produzir, a mim pertencerá. — O garoto, então, avançou contra a porta da doceria, abrindo-a com a mão livre estendida e deixando-a bater num barulho surdo assim que saído do lugar. Conseguiu, porém, escutar ao fundo a mulher dizendo “Dias de luta, meu filho.”
...
Agora ele andava pelas ruas de paralelepípedo, cuja superfície lisa de pedrinhas retangulares justapostas fazia parecer que aquilo não era de fato paralelepípedo, o que até dava um charme a mais aos bairros e ao próprio reino, com o acinzentado dos blocos contrastando com o azul celeste e o verde floral dos canteiros. Por um vago instante, Sky lembrou-se que estava numa simulação e não na vida real, ainda que tudo fosse tão vivo.
E, no meio do caminho, o rapaz de corpo esguio seguiu indagando à si mesmo como era possível algo ser assim... vívido e vivido. Algo que não é, mas é. Poderia ser chamado, até, de ilusão coletiva. Histeria que abrangia todas as mentes perdidas naquele lugar. Era no mínimo estranho, louco e sur-re-al. O caminho era longo e esse não era um assunto tão extenso quanto, embora de fato fosse passível de ramificações e teorias, mas que a mente de Sky não estava com ânimo para propô-las e desvendar-las.
Felizmente os pés dele eram ligeiros. Num piscar de olhos, quando o assunto já havia se esvaído por completo dos pensamentos aleatórios dele, fazendo-o esquecer que estava em meio a uma ilusão, já se despedia do meio urbano e dava olá à floresta. Havia corrido e nem se dado conta disso. Parando para analisar, agora, bem que ele de fato ouvira gritos de senhores e senhoras que também andavam pelas ruas de paralelepípedo e que foram surpreendidos pelo vendaval que era Sky. Tudo tinha sido abafado pela misteriosidade.
Porém agora não era hora de refletir sobre a possibilidade de ter ou não derrubado cestas de frutas e não ter pedido desculpa. A imensidão de árvores que se projetava na frente de Sky era assustadora, ainda que convidativa e seduzente.
Ele estava tentado.
Into the woods it’s time to go, I hate to leave, I have to go.
Sky, por fim, meteu-se a explorar o inevitável. Bendita era a Sra. Avis, que possuía tanto lugar próximo a ela para pedir doces e ela pediu justo no outro lado do reino.
O Sol que brilhava no céu servia como um guia e como um acalentador de corações para Sky. Ele já havia ido tantas vezes ao outro lado do reino, à casa da Sra. Avis, pela floresta, mas dessa vez parecia que iria haver algo de diferente (e de fato iria). Enfim, era melhor passear agora pelo bosque enquanto o seu lobo não vinha.
A trilha de terra e galhos secos se bifurcava em meio àquele matagal denso. O menino não se lembrava muito bem dela, contudo, de tanto ficar parado observando, encontrou escondida atrás de uma cortina a resposta em seu subconsciente. Seguiu o caminho da direita.
E não bastou ele andar muito para que chegasse em outra bifurcação. Essa realmente existia? Ele julgou que sim. Seguiu o caminho da direita mais uma vez.
Outra bifurcação. Esquerda. Mais uma. Direita. E novamente outra.
Bendita simulação. O que era aquilo? Um jogo? Sky sentia-se num labirinto. Olhou para o céus, a procura de seu guardião-mor daquela jornada, a ponto de suplicar a ele, a todas as árvores, flores, animais e fadas daquele lugar a lhe indicarem o caminho certo. Parecia estar perdido, sem tempo para se achar e prosseguir.
Fitou instintivamente para a cesta que, por um milagre, ainda carregava nos braços. Queria pegar um único pão dali, mas não podia. Ou será que sim? Era difícil saber o que é correto e o que não é naquela situação. Se ele assim pegasse o pão, poderia ser o ponto de partida para, quem sabe, a fome,num tufão ou um maremoto do outro lado do mundo real.
E justamente nesse momento de dilema íntimo que Sky sentiu em seu pescoço uma lufada, úmida porém abafada. Ah não, o tufão havia começado ali mesmo e não do outro lado do mundo, o que era muito pior. O jovem temia virar para trás, temendo mais ainda o que quer que estivesse em suas costas. Pelas condições atuais, ele tinha um palpite.
— O Seu Lobo está? — Ele disse em tom zombeteiro, ainda que temeroso.
Sentiu novamente a respiração de outrem no seu dorso. Essa era a resposta que ele teve e, talvez, a que ele menos queria. Um “Não, aqui é o Seu Coelho” talvez fosse o que ele mais ansiava. Até um “Sim” também serviria, pois significaria, ao menos, que o Seu Lobo tem bom senso de humor.
— Espero que não esteja pondo as calças, porque eu vou virar... — E assim Sky o fez.
Era uma figura híbrida, não somente um lobo. Era um lobisomem? Se bem que, para Sky, de fato era assim que ele deveria ter aparecido para a Chapeuzinho Vermelho no conto, se é que realmente apareceu. Sky não sabia muito bem como funcionava essa coisa de história e também não queria saber, por hora.
— Nossa, que nariz grande... — Ele engoliu em seco, dando um passo para trás. — Você quer brincar na floresta? Mas o Seu Lobo j-já tá aqui... no ca-caso.
— Estou com fome e vou comer to...
— MEUDEUSDOCÉUNÃO!!!! — Sky interrompeu o lobo, antes mesmo que ele pudesse terminar o que queria dizer.
— Você se acha o próprio bobo da corte, não é? — A voz rouca e desacelerada do meio-animal trovejava no céu agora nublado e melancólico que era o corpo de Sky. Ele tremia todinho.
— O quê? Magina. — Disse tentando dar mais um passo para trás, pronto para correr, mas era impossível. As pernas estavam paralisadas, não tinham sangue e muito menos vida. O sistema nervoso parassimpático havia se prontificado no lugar do simpático. Mas por que justo agora?
— Bom... Eu só queria os pães. — Os dedos peludos da criatura apontaram a cesta guardada com muito esmero por Sky.
— Oi? — Ele engoliu em seco novamente. Sua fala trêmula soou quase como uma britadeira. — Ah, eu... eu não sei. Mas se vo-você quiser... a gente faz... um piquenique. Li-lindo, né?
— Um piquenique? Tudo bem, mas não quero mais os pães.
— Na-não? Nossa, quer frutas? A-a gente colhe.
— Também não. Eu quero... você!
— Oh, Seu Lobinho...
— Sua petulância só me dá mais fome.
As garras do lobo saltaram em direção ao rosto de Sky, que gritou de forma vil e desnaturada, ninguém iria lhe ajudar. Ele sentiu, em seguida, um líquido quente tomar conta de seu rosto, bem como uma ardência na fonte do rio vermelho que acabara de ser criada nele.
As mãos juvenis do moçoilo, então, brilharam num vermelho bravo, raivoso. Posteriormente, foram apontadas para aquele ser maldoso projetado à sua frente. Todavia, o efeito da luminosidade escarlate tomou um caminho contrário e se estendeu por toda a estrutura do que antes a dominava, fazendo-o ficar mais frágil e débil, desprovido de vontade até para correr dali, ainda que suas pernas voltassem a obedecê-lo.
O garoto tornara-se um saco de pancadas vivo. A cada segundo, um pedaço diferente da carne dele era levada pelo animal que aparecera ali, por mordidas ou arranhões. A cada segundo, um pedido de socorro desgastado diferente.
Uma sensação mais horrível que a dor e que a fraqueza tomou conta do corpo putrefato. Nesse instante, o próprio lembrou-se que era tudo um jogo de mente e que ele poderia sair facilmente dele.
— Desisto... — Foi a última palavra proferida por ele naquela circunstância.
Into the woods It's time, and so I must begin my journey.
Imediatamente após o fim da cerimônia de seleção, os alunos começaram a se despedir de seus pais. Logo que o último rei e rainha, bonum e malum, cruzaram as portas da hospedagem - onde acontecia a cerimônia, o salão começou a se alterar. Aos poucos, uma espécie de anfiteatro se formou ali, as folhas deram lugar à um chão cinza, estranhamente sem textura e as paredes do lugar ficaram mais e mais amplas, ao fim, caberiam cerca de 30 salões dentro daquele inicial. Até que, em um piscar de olhos, todos estavam acomodados em poltronas ao redor do que seria o simulador. Nas proximidades deles, um grupo de professores (tanto bonuns quanto malum) controlavam as engrenagens do simulador, para ter certeza da segurança dos alunos - graças à acidentes do passado.
Então, nome por nome, os alunos começavam a ser chamados, começando dos mais velhos e partindo para os mais novos em seguida. Aqueles que sabiam dos riscos envolvidos em entrar no simulador, tremiam da cabeça aos pés, mas os novatos pareciam mais tranquilos. Os acidentes ali ocorridos não chegaram a sair das paredes de Paramýthia, assim como qualquer um que se passasse no Outono, que anunciava com glórias sua chegada.
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Sky ultrapassou os limites do portão, chegando enfim no átrio onde ocorreria a famigerada cerimônia que decidiria, em partes, o seu futuro. Em sua mente, acostumada a ter pensamentos vastos e rápidos, ecoava apenas a frase dita por sua mãe antes dele sair de casa: Não desvie do seu caminho. Ainda que fosse um meio descontraído de se despedir dele, ele própria sabia que haviam e quais eram os conselhos intrínsecos contidos naquele verbete.
“Mantenha-se calmo e em segurança.”
O garoto adentrou mais no local, admirando as formas e a simplicidade das figuras e objetos que ornavam o salão. Os pés dele, que estavam cobridos por tênis All Star pretos, brincaram, por um instante, com o tapete laranja natural que cobria todo o lugar, dissipando ao ar algumas folhas secas que compunham-no. Ele estava tentando procurar a segurança em sua calmaria momentânea e vice-versa.
“Siga a trilha e ela te levará ao teu destino.”
Ele continuou a explorar o sítio, ainda tomando para si, com os olhos, todos os adornos das paredes e das mesas. Porém, dessa vez, também passou a prestar atenção nas pessoas que também faziam parte da decoração da festividade, com todas aquelas vestimentas e adereços. Então, por uma brevidade no espaço temporal, o corpo dos Céus se sentiu menor que o da Terra.
Mas aquilo não abalaria o tão esplendoroso véu que cobria a cabeça dos Homens. O Céu, ou, melhor dizendo, Sky, também era capaz, mesmo que não demonstrasse em seus trajes limpos de enfeite e com cores sóbrias. As pernas estavam vestidas por jeans pretos e o tronco, por uma camisa de manga curta de botões branca. Talvez, o mais que mais destoava de todo aquele conjunto all black misturado com “off-white”, era a bandana vermelha que segurava os cabelos do noviço. Aquele havia sido um presente de sua bisa e de sua avó e servia como forma de levar o legado de sua mãe por onde quer que fosse. Ele preferiria amarelo, mas vermelho também servia.
Ao final de sua exploração, o menino passou por perto do imponente salgueiro que chamava para si quase toda a atenção. As mãos magras dele tocaram na madeira suberosa da árvore, como se sentisse uma conexão por aquele ser vivo imóvel. Após tal ação naturalesca, o cordial Sky tratou de juntar-se aos outros novatos, mesmo que não conhecesse sequer o nome de ninguém.
A Ilha Bonum Malum estava em pavorosa, aguardando ansiosamente pelo baile de outono que também era o principal evento do ano. Apesar do foco ser nos novos alunos de Paramýthia, todos na ilha haviam sido convidados e encheram o salão no instante em que as portas dele se abriram. O ambiente estava glorioso! Os reis e rainhas fizeram questão de comparecer em seus vestidos de gala, animados para a seleção de seus filhos, e a decoração do lugar não decepcionava nem mesmo o mais crítico da realeza.
Camadas de folhas de outono foram espalhadas por todo o chão, criando um grande carpete que estralava e se arrastava para lá e para cá com os grandes vestidos. Bem na frente do salão, em uma parte mais distante, um salgueiro estava posicionado, exibindo seus melhores tons de laranja. Seus galhos se alongavam e arrastavam pelo teto e paredes do grande salão. Aos pés do salgueiro estava um mini palco, acompanhado de um púlpito com o livro e a pena que reluziam naturalmente. Ao fundo, um grupo de cello e piano ensaiavam notas que lembravam da estação homenageada e pequenas fadas voavam em plenos pulmões e velocidade, fazendo de tudo para garantir que a noite transmitisse o outono com glórias.
Aos cantos, comidas e bebidas típicas a essa época do ano foram espalhadas pelo ambiente, enquanto o meio do salão seria usado para as possíveis danças. Os membros do corpo docente (diretores, professores e coordenadores) já estavam nas proximidades do palco, uma vez que precisaram chegar primeiro ao espaço. Apesar de poderem também se divertir com as atividades dispostas no salão, era possível sentir a ansiedade dos convidados em relação ao pequeno palco, como o que acontece em aniversários a espera do parabéns, mas neste caso esperavam que a direção, composta pelos irmãos Hexenjäger (João e Maria) fosse até o palco e iniciasse a cerimônia.
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dipper pines; you know, on my first day here, if you had asked me what i wanted, i would have said… adventure, mystery, true friends. but looking here at all of you i realize that every wish came true. i have everything i wanted.
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