Tumgik
leebobby · 7 years
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goosungho!!
O ritmo frenético da bateria e as cordas das guitarras tocavam no fone de ouvido plugado as duas orelhas enquanto o par de olhos escuros capturava fio por fio da grama abaixo, picotada pelo cortador vermelho que tinha em mãos e movimentava habilmente. As roupas suadas o incomodavam, pinicavam o corpo e trazia a careta na face do homem totalmente desconfortável, mas queria levar aquele momento como um desafio para quem sabe não perder as estribeiras futuramente em acessos de raiva que surpreendia todos a sua volta desinformados sobre o fardo da doença. O trabalho de uma hora e meia parecia ter chegado ao fim, mas ainda assim agachou-se e observou o gramado por pelo menos dois minutos, tendo certeza de que não havia nenhum fiapo mal organizado, e arrancando com a tesoura os que se encaixavam em tal categoria, mas logo eles se tornaram frequentes e conforme se afastava da própria residência, percebeu que já não se tratava mais do espaço dividido com a esposa. Uniu as sobrancelhas minimamente carregado de frustração, por que os malditos vizinhos não faziam seu trabalho corretamente? Não era uma tarefa tão difícil manter o local ajustado, e se moravam ali, com certeza tinham dinheiro. Apanhou o aparelho novamente, iniciando o novo processo no que parecia estar arruinando completamente seu grande esforço, ninguém se importaria com regras de etiqueta quando o que estava fazendo era na verdade um grande favor.
Mais um longo intervalo de sessenta minutos se passou quando desligou a máquina outra vez, um suspiro satisfeito deixando os lábios carnudos diante a paz de ter as casas próximas devidamente ajustadas, não percebendo quando o portão da segunda foi aberta e dali saiu outro do sexo masculino, as rugas invertidas em preocupação. — Você cortou a minha grama? — Ele perguntou espantado, Sungho apenas confirmou com um aceno simplista. Uma limonada foi oferecida, e o mais novo aceitou da mesma forma que respondeu a pergunta anterior, sendo sufocado por perguntas logo em seguida quando cruzou a madeira da passagem inicial. — A casa do senhor estava horrível, mas eu já arrumei. — Soou baixo e o outro riu, o que só foi ouvido considerando que não o encarava, seguindo as pedras do chão que seguiam um caminho único. A casa era limpa e bem mobiliada, pensou rapidamente, não abandonando qualquer peça de madeira que brilhava ao redor, um sinal de bom gosto. — Obrigado. — Um gole desceu pela garganta assim que o copo foi pego, o canto da boca se repuxando cada vez que a companhia tagarelava para algo que não tinha respostas. Lembrou de como Danbi fazia o mesmo a fim de também saber sobre a vida do Goo, será que isso também se aplicava a ocasião atual? — Não faz muito tempo desde que eu e a minha esposa nos mudamos, ainda estamos conhecendo a vizinhança. — Deixou a informação fluir quando pareceu necessária, se preocupando então com o rumo que tomou ao ter como oferta um jantar com outros moradores. Prestes a negar, outro alguém veio a sua mente. — Danbi passa muito tempo sozinha por culpa do meu trabalho, faria bem a ela. — Assentiu, pronto para agradecer novamente pelo gesto e partir devido o traje irritante, e os passos pela escada ao lado fizeram com que quisesse correr ainda mais depressa. Esperava a visão de uma criança, quem sabe uma jovem de traços semelhantes aos do idoso que parecia ter idade para filhos na fase da adolescência ou adentrando a vida adulta, mas o que viu não foi nada disso, e sim uma figura do passado que quase o fez engasgar.
Os fios haviam ganhado uma nova cor, os traços eram maduros e as peças de roupa totalmente contrárias ao que já havia visto, coçando os olhos com a mão fechada em punho para se garantir de que não se tratava de uma miragem. — S-so-somin? — O nome ficou engasgado na garganta ao mesmo tempo que o coração acelerou no peito, sendo arrebatado por uma sequência de memórias, das mais felizes as mais dolorosas quando soube que a garota havia de fato partido e logo em seguida dado como morta devido ao tempo. Havia desejado tê-la por perto tantas vezes, alguém que estava disposto a ouvi-lo sem julgamentos ou qualquer diferença digna de pena. Era a mesma pequena garota agora a sua frente em um semblante tão adulto? Pela primeira vez naquela parte demonstrou qualquer sentimento, talvez até demais em uma mistura de confusão, carinho e saudade. A amiga que foi seu primeiro amor e ainda o assombrava em alguns sonhos confusos, em toda sua vida não acreditou em destino, mas como por acaso poderiam estar dividindo o mesmo ambiente se não puxado por alguma força maior?
               O andar de cima era preenchido por um som alto de músicas populares tocadas com instrumentais clássicos. A voz era única e exclusivamente de Bobby que sabia a letra de cada música e se divertia enquanto escovava o cabelo e prendia-o para trás em um topete volumoso e divertido. O silêncio da transição de uma música, no entanto, tomou sua atenção quando ouviu vozes no andar de baixo, fazendo imediatamente fechar o notebook. Adorava visitas, adorava todos aqueles que Dongsun trazia para casa que dizia ser de ambos e, portanto, deveria dá-los boas vindas. Por isso ajeitou-se com pressa e com a animação que parecia surgir em seu corpo em reflexo das esperanças recém adquiridas em viver em um lugar onde poderia finalmente ser uma adulta, agindo sem ser somente a menininha adotada por Dongsun, assim como era chamada quando mais nova. Nada importava ali, Bobby deveria ser grata e era assim que pretendia agir dali em diante.
               Descia rapidamente as escadas com os pés tipicamente descalços e somente o antepé tocando o chão. Estava em sua casa e animada como nunca. Sentia que era a primeira visita de vizinhos verdadeiros e não de amigos antigos do mais velho já que estes sempre marcavam horário.
               Assim que chegou no primeiro andar e estava prestes a largar o corrimão, Bobby parou imediatamente ao ser chamada pelo seu nome. Boeun deveria ser algo que esperava ouvir quando Dongsun estava bravo, mas Somin nunca sairia naquele tom da voz dele. Permaneceu imóvel, os dedos compridos fechando-se com força sobre a madeira. Os olhos subiram até encontrar o rosto do visitante e a expressão leve desapareceu dela. O homem que via era alguém que conhecia bem e, infelizmente, alguém que trazia o seu passado à tona. Se o excluísse de todo o inferno que passou, talvez pudesse ter se apagado mais a Boeun e não se sentisse tão afetada com as sílabas de seu nome. Reconheceu-se em uma fração de segundos, quase projetou a imagem completa de Sungho para si; quase se perdeu no passado. E parou. Segurou a madeira do objeto até que os dedos doessem. Não era Somin, não mais. E o homem que não sabia como chamá-la não a conhecia. Depois de tanto tempo não poderia se permitir à isso. Trair-se era proibido quando não tinha nada além dela mesma.
               Havia uma garota agitada e trêmula dentro da carcaça que voltara a sorrir para Dongsun. Soltou finalmente o corrimão e seguiu até onde Dongsun estava. Encolheu os ombros e curvou o pescoço levemente para o lado em uma falsa expressão manhosa de desagrado, entretanto a face já era costumeira para Dongsun. Deixou que os cabelos claros caíssem sobre o rosto e piscou um dos olhos. — Não irá apresentar seu amigo? — Murmurou insatisfeita e virou-se para o visitante. Não o conhecia, olhando de perto; com o coração batendo dolorosamente na garganta, ela não poderia conhecê-lo. Era doloroso olhá-lo. Esticou a mão com firmeza e sorriu para ele da mesma forma que sorria para Dongsun. — Oh! Não. — Soltou uma risada baixa e abaixou a mão que usaria de comprimento como sempre fazia. Os dedos, dessa vez, estavam dormentes. Curvou-se educadamente. — Sempre esqueço como cumprimentar por aqui. Desculpe. — Riu sem jeito e encostou a lateral do corpo em Dongsun, deixando que seu ombro tocasse o braço dele. Embora fosse alta isso não era evidente comparado aos dois homens no ambiente, mas nunca sentia-se intimidada quando estava próxima do mais velho, ele sempre a protegeria. Olhou dele para aquele a sua frente e, antes que Dongsun finalmente a apresentasse, Bobby tomou as rédeas. — Meu nome é Bobby. Lee Boeun, mas jamais me chame assim. Bobby está ótimo! Como você está? Qual é seu nome? — A animação não era diferente de qualquer outra vez, porém a ansiedade em seu corpo causava o tique nervoso no pé que batia sem parar no chão. Respirou fundo algumas vezes, estufando o peito enquanto o sorriso continuava impecável, os olhos sequer conseguiam focar direito no semblante alheio. Esteja enganada, pensou. Diga outro nome. Por favor.
I know I know you ✗— with bobby
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leebobby · 7 years
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temporary bliss
@goosungho
              O corpo passava facilmente pela fresta arrebentada na cerca que separava o terreno da casa de seu tio com a do vizinho. Tudo que precisava fazer para ultrapassá-lo era segurar as roupas grandes para que não ficasse presa entre ele e abaixar um pouco a cabeça. Era menor e miúda comparada aos dois primos mais velhos com quem morava, mesmo assim ainda existia algumas semelhanças na fisionomia como, por exemplo, o nariz levemente achatado e os incisivos centrais superiores que a maior parte das crianças da família tinha. Entretanto, como era filha de sua mãe algumas de suas características a tornavam, com o passar dos anos, diferentes de seus primos. Mais delicados. Como uma forma de evitar que reparassem nisso, Somin mantinha os cabelos ainda mais curtos que os tipicamente usados por garotas de sua idade. Detestava qualquer coisa que a fizesse parecer com garotas e, portanto, algumas vezes cortava ainda mais os cabelos e usava camisas largas como a de seus primos. Infelizmente o uniforme da escola obrigava a usar saias o que, no final das contas, faziam com que a chamassem popularmente de garoto de saia. Incomodava-se com aquilo e corria atrás dos meninos por isso. Usava dos cabelos grandes dos garotos mais velhos querendo imitar os ídolos da televisão ao seu favor e embora fosse moda muitos sentiam-se ofendidos por ela zombar de seus penteados. Para Somin a única coisa importante era poder jogar beisebol e ser tratada como os garotos eram para que assim pudesse se camuflar entre eles.
              Alguns aspectos mudavam à medida que envelhecia e queria crescer mais rápido para que também ficasse forte e pudesse se defender sem que tivesse que correr de tudo como estava fazendo. Suspeitava que os garotos a odiavam por ela ser melhor que eles em tudo que fazia. Menos em ser forte ou mais alta, pensava. Aquelas eram as únicas coisas que perdia em relação a eles, mas continuava sendo mais esperta. Ainda assim queria que fosse mais fácil mudar e se esforçava para não irritá-los, o que não funcionava já que continuava sendo inevitável quando estavam na escola. Não aceitava provocações ou abaixava a cabeça. Esquecia-se por alguns segundos de raiva que morava com eles e que quando o sinal tocasse teria que ir correndo para casa e escondendo-se.
              Agora já tinha um lugar que poderia ficar. Enfiava-se furtivamente para outra casa em função de esconder-se deles, mas o local já havia virado seu esconderijo oficial. Sentava-se ao lado de um grande arbusto, esse que também usava para cobrir a fresta e ninguém a notasse já que odiaria se não conseguisse mais ultrapassá-la. Como não tinha muito o que fazer enquanto estava ali, nem com quem falar, Somin ficava em silêncio, observando cada detalhe novo no local. Quando se distraía muito começava a moldar os arbustos e torná-los uma versão mais divertida deles e conscientemente detalhes de seu recanto. Acreditava que nunca a notaram porque era boa em se esconder e mesmo que isso fosse realidade aquela casa parecia sempre vazia. Não ouvia latidos de cachorro, portões abrindo ou conversa do lado de dentro. Tudo era um pouco sombrio tratando-se dali, mas não importava-se porque não era tão assustador quanto estar dentro da própria casa e, quando o assunto eram desconhecidos, Somin sabia se defender.
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