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O grande salão do parlamento estava impregnado de um silêncio carregado, como se até os vitrais temessem trincar sob o peso do que ali se desenrolava. Leonhard Ashwell, antes general, herói e protetor de fronteiras esquecidas, estava algemado diante de uma corte encharcada de pompa e corrupção. O julgamento era uma farsa — ele sabia. Desde o primeiro instante em que pisou naquele solo frio, os olhos dos inquisidores evitavam os seus. Haviam ensaiado tudo. As acusações, os depoimentos comprados, os sorrisos satisfeitos daqueles que venderam suas almas por ouro ou poder.
Eram dias de tortura psicológica. Cada sessão um novo teatro de mentiras, onde palavras afiadas lhe feriam mais do que aço. Chamavam-no de traidor, de herege, de assassino. Calúnias plantadas com precisão. Testemunhas falsas o apontavam sem sequer conseguirem sustentar o olhar. O peso da farsa era monstruoso, mas Leonhard carregava em silêncio. Não para suportar — mas para observar. Absorver. Sentir cada trinca na estrutura da hipocrisia que o cercava.
Na última audiência, as provocações atingiram um ápice. Um inquisidor lhe cuspiu aos pés enquanto o juiz proclamava, com teatralidade, a iminência do veredicto. Leonhard, imóvel, olhos mergulhados numa sombra sem fundo, parecia ter deixado de ouvir. Uma quietude antinatural o dominava, como o céu que antecede uma tempestade bruta. Então, veio o estalo. Um lampejo interno — um grito que não soou, mas rompeu todas as represas dentro dele.
A explosão foi instantânea.
Com um movimento fulminante, Leonhard desarmou um guarda que passava próximo demais, tomando-lhe a espada com tamanha precisão que parecia parte dele. O aço reluziu uma vez antes de ganhar cauda — um cometa escarlate cortando o salão. O primeiro corpo caiu antes que alguém entendesse o que acontecia. O segundo sequer teve tempo de gritar.
O caos se instalou. Pessoas tropeçavam umas sobre as outras, desesperadas por escapar. Mas Leonhard era o portão — e agora, a única saída era a morte. Postou-se à frente da porta principal, transformando sua silhueta ensanguentada num monumento de fúria e julgamento. Um por um, os que se aproximavam eram dilacerados. Sua técnica era impecável — cada golpe estudado, letal. Mas as lâminas tinham seu preço. Carne e gordura entupiam as bordas do aço, embotando o corte. Quando isso acontecia, ele simplesmente tomava outra arma dos corpos ou dos guardas que ousavam desafiá-lo. Cada transição era fluida, como uma dança infernal.
O juiz, que até pouco antes inflava o peito para proferir sentenças, agora tremia atrás do púlpito. As vestes alvas estavam manchadas de urina e fezes. Sua voz havia desaparecido — restava-lhe apenas o horror mudo.
Quando o último inquisidor caiu, o salão tornou-se um cemitério de respirações suspensas e sangue quente. Leonhard andava como uma estátua viva, o rosto coberto de estilhaços vermelhos, os olhos enterrados em ódio puro.
Restava apenas um.
Sem pressa, ele caminhou até o juiz. Este implorava sem palavras, os lábios trêmulos e o rosto desfeito em pânico. Leonhard largou a espada. Não era suficiente.
Pousou a mão sobre o martelo de ferro negro — o mesmo com que o juiz condenava, inexpressivo, homens e mulheres à morte ou à tortura. Um símbolo da justiça distorcida. Com esse martelo, Leonhard trouxe a verdadeira sentença.
O primeiro golpe quebrou-lhe o nariz. O segundo arrancou-lhe um grito desumano. O terceiro afundou-lhe parte do crânio. Ele continuou — impassível, cego de fúria. O olho do juiz saltou da órbita como uma uva esmagada. Ao fim, a cabeça não era mais reconhecível como humana. Apenas massa pulsante, inútil e justa.
Leonhard soltou o martelo, agora mais pesado do que antes. Respirava fundo. Não por cansaço, mas porque, por fim, havia silêncio. Um silêncio legítimo.
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