ludensss

[ludensss]

"certa vez alguém disse que as duas coisas mais importantes para desenvolver o gosto são: sensibilidade e inteligência. eu não concordo; diria que é curiosidade e coragem. curiosidade para procurar o novo e o escondido, coragem para desenvolver seus próprios gostos sem considerar o que os outros podem pensar ou dizer. quem se arrisca a ser ridicularizado pelos seus gostos individuais em música (e isso vai acontecer) demonstra coragem."

essa história de gosto musical sempre me pegou. sou filha de músico popular brasileiro e cresci gostando de pop e rock. já me senti muito inválida por gostar de músicas simples e palatáveis embora eu sempre tenha gostado de tudo. quando comecei a estudar canto, em 2020, procurava sempre levar à aula músicas que eu achava que seriam aceitas pela minha professora - algo que parecesse o menos pop possível, o menos americano possível, o mais próximo da música brasileira que eu pudesse encontrar nas minhas músicas estrangeiras, com esse medo de ser julgada se quisesse cantar um k-pop.

o texto do schafer brilhou um pouco os meus olhos porque sempre me vem esse pensamento: afinal, o que é "música boa"?

obviamente, como todo mundo, eu não gosto de todas as músicas que eu ouço. mas isso significa que todas as músicas que eu não gosto são ruins?

eu cheguei a uma conclusão na minha vida de que música boa é aquela que serve o seu propósito para o ouvinte, e para mim, o propósito da música é causar algo na gente, seja vontade de chorar, de dançar, de rir, de rezar, de refletir, de analisar, de distrair, de dar apoio.

já ouvi músicas que achei tão mal feitas que se tornaram divertidas de ouvir, cômicas pra mim (mesmo que a intenção original da música não tenha sido ser cômica, mas é aquela coisa, quando a gente solta uma ideia no mundo ela não nos pertence mais). isso, pra mim, as torna boas. boas porque me causam algo.

em resumo, música boa é um conceito totalmente relativo. mais relativa ainda é a ideia de que existem gêneros musicais melhores e gêneros musicais piores, como se dentro de cada gênero não existisse uma infinidade de artistas e músicas esperando pra ser ouvidas e causar algo em alguém.

por isso, sejamos curiosos e corajosos.

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pra que serve a música?

a música é um meio de se expressar por meio da composição ou interpretação.

é um contexto no qual brincamos e dançamos.

é o que conduz sensações em peças de teatro, filmes, contações de histórias.

é o que toca no churrasco de família, nos nossos fones de ouvido, nas nossas casas, acompanhando nossos momentos do dia a dia.

é o que nos conecta com nossos deuses, com a natureza, com o universo, ao realizarmos rezas e rituais.

eu tive a sorte de estudar em escolas que entendiam que a arte é inseparável da experiência humana, mas nem todos têm. hoje no brasil, as aulas de música muitas vezes são colocadas num lugar secundário, sem valorização pelas gestões e pelas famílias. além disso, são dadas apenas para as crianças - quando se tornam adolescentes, a música perde totalmente a relevância, pois a educação passa a se voltar apenas para o sistema fabril dos vestibulares e resume a experiência humana em dinheiro, trabalho e informações sem multidisciplinaridade nem complexidade. esse foco vem da noção de produtividade do capitalismo: o que vai te fazer passar nesse vestibular pra fazer uma faculdade pra entrar num cargo de liderança numa empresa e ganhar dinheiro e acumular esse dinheiro?

com certeza não é a música que vai te dar tudo isso.

a música não se encaixa no que é produtivo aos olhos do capitalismo. então é descartada.

mas é contraditório, pois a música ainda está presente em todos os lugares - mesmo quem desvaloriza a música ainda ouve música, ainda quer alguém pra tocar no seu casamento, ainda vai pra balada, pro culto, pra missa, ainda utiliza jingles para suas campanhas eleitorais.

isso me traz uma série de reflexões, que vão virar outros textos aqui do blog. a música é parte inerente da experiência humana, assim como toda a arte: ninguém vive sem! mas é muito comum separarem a arte das atividades mundanas, colocando-a como complemento e não como parte essencial. hoje em dia, inclusive, é até feita por IA, esvaziando-a de sentido por completo como se não fosse absolutamente humana.

em resumo, tudo isso é uma questão que guarda muitas outras questões dentro: por que, então, precisamos do fazer artístico-musical?